sábado, 2 de dezembro de 2017

Em Bangladesh, Papa destaca esforços comuns das religiões pela paz


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO INTER-RELIGIOSO E ECUMÊNICO
 EM PROL DA PAZ  EM BANGLADESH

DISCURSO DO SANTO PADRE

Residência do Arcebispo (Ramna, Daca)
Sexta-feira, 1° de dezembro de 2017

Ilustres Convidados,
Queridos Amigos!

O nosso encontro, que reúne os representantes das diversas comunidades religiosas deste país, constitui um momento muito significativo da minha visita ao Bangladesh. Reunimo-nos para aprofundar a nossa amizade e para expressar o desejo comum do dom duma paz genuína e duradoura.

A minha gratidão ao Cardeal D'Rozario pelas suas amáveis palavras de boas-vindas e a quantos me acolheram calorosamente em nome das comunidades muçulmana, hindu, budista cristã e também da sociedade civil. Agradeço ao Bispo anglicano de Daca a sua presença, às várias Comunidades cristãs e a todos aqueles que contribuíram para tornar possível este encontro.

As palavras que ouvimos e também os cânticos e danças que animaram a nossa assembleia falaram-nos eloquentemente do desejo de harmonia, fraternidade e paz encarnado nos ensinamentos das religiões do mundo. Que o nosso encontro desta tarde seja um sinal claro dos esforços empreendidos pelos líderes e seguidores das religiões presentes neste país para viverem juntos no respeito mútuo e na boa vontade. No Bangladesh, onde o direito à liberdade religiosa é um princípio fundamental, que este compromisso seja um apelo respeitoso, mas firme, a quem procura fomentar divisão, ódio e violência em nome da religião.

Constitui um sinal particularmente reconfortante dos nossos tempos o facto de os crentes e pessoas de boa vontade se sentirem cada vez mais chamados a cooperar na formação duma cultura do encontro, diálogo e colaboração ao serviço da família humana. Isto requer mais do que simples tolerância; estimula-nos a estender a mão ao outro numa atitude de mútua confiança e compreensão, para construir uma unidade que considere a diversidade, não como ameaça, mas como potencial fonte de enriquecimento e crescimento. Anima a exercitar-nos na abertura do coração, para ver os outros como um caminho e não como um obstáculo.

Permiti-me explorar, brevemente, algumas características essenciais desta «abertura do coração», que é a condição para uma cultura do encontro.

Em primeiro lugar, é uma porta. Não é uma teoria abstrata, mas uma experiência vivenciada. Permite-nos empreender, não um mero intercâmbio de ideias, mas um diálogo de vida. Requer boa vontade e acolhimento, mas não deve ser confundida com a indiferença ou a hesitação em expressar as nossas convicções mais profundas. Comprometer-se frutuosamente com o outro significa partilhar as nossas diferentes identidades religiosas e culturais, mas sempre com humildade, honestidade e respeito.

A abertura do coração é semelhante também a uma escada que alcança o Absoluto. Ao lembrar esta dimensão transcendente da nossa atividade, damo-nos conta da necessidade de purificar os nossos corações, para podermos ver todas as coisas na sua verdadeira perspetiva. Passo a passo, ir-se-á tornando mais clara a nossa visão e receberemos a força para perseverar no compromisso de compreender e valorizar os outros e o seu ponto de vista. Assim, encontraremos a sabedoria e a força necessárias para estender a todos a mão da amizade.

A abertura do coração é também um caminho, que leva à busca de bondade, justiça e solidariedade. Induz a procurar o bem do nosso próximo. Assim exortou São Paulo, na sua carta aos cristãos de Roma: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (12, 21). Trata-se de um sentimento que todos nós podemos imitar. A solicitude religiosa pelo bem do nosso próximo, que brota dum coração aberto, flui como um grande rio, irrigando as terras áridas e desertas do ódio, da corrupção, da pobreza e da violência que lesa imenso as vidas humanas, divide as famílias e desfigura o dom da criação.

As várias comunidades religiosas do Bangladesh abraçaram de modo particular este caminho no compromisso pelo cuidado da terra, nossa casa comum, e na resposta aos desastres naturais que afligiram a nação nos últimos anos. Penso também na manifestação coletiva de pesar, oração e solidariedade que se seguiu ao trágico desabamento do Rana Plaza, que permanece gravado na mente de todos. Nestas expressões, vemos como o caminho da bondade leva à cooperação no serviço dos outros.

Um novo tempo!


Neste domingo começa um novo ano litúrgico, com o Advento. Palavra oriunda do latim, significando “vinda”, Advento é o “tempo litúrgico da expectativa do Salvador e símbolo da esperança cristã. A salvação que esperamos de Deus tem igualmente o sabor do amor. Preparando-nos para o mistério do Natal, assumimos de novo o caminho do povo de Deus para acolher o Filho que nos veio revelar que Deus não é só Justiça, mas é também e antes de tudo Amor (cf. 1 Jo 4, 8). Em todos os lugares, mas, sobretudo onde reinam a violência, o ódio, a injustiça e a perseguição, os cristãos são chamados a dar testemunho deste Deus que é Amor”.

“O Advento é o tempo para preparar os nossos corações a fim de acolher o Salvador, isto é, o único Justo e o único Juiz capaz de dar a cada um a sorte que merece. Aqui, como noutros lugares, muitos homens e mulheres têm sede de respeito, justiça, equidade, sem avistar no horizonte qualquer sinal positivo. Para eles, o Salvador vem trazer o dom da sua justiça (cf. Jr 33, 15). Vem tornar fecundas as nossas histórias pessoais e coletivas, as nossas esperanças frustradas e os nossos votos estéreis. E manda-nos anunciar, sobretudo àqueles que são oprimidos pelos poderosos deste mundo, bem como a quantos vivem vergados sob o peso dos seus pecados: ‘Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome com o qual será chamada: Senhor-nossa justiça’ (Jr 33, 16). Sim, Deus é Justiça! Por isso mesmo nós, cristãos, somos chamados a ser no mundo os artesãos duma paz fundada na justiça” (Papa Francisco, Catedral de  Bangui, República Centro-Africana, 29/11/2015).

São Cromácio


Hoje a Igreja nos apresenta São Cromácio, Bispo de Aquiléia (Itália). Esta cidade da Europa, por um tempo foi muito importante para o Império Romano, que a tinha como centro político e principalmente para o Cristianismo, pois São Jerônimo a chamou: “Comunidade de santos”. Neste contexto que, no século IV, Cromácio aparece como pertencente do Clero de Aquiléia e ajudante fiel do Bispo Valeriano. Cromácio nasceu em Aquiléia no ano 345.

São Cromácio colaborou na organização da diocese e na luta contra o Arianismo, que semeava a mentira em que Jesus Cristo seria criatura escolhida, e não Deus. A casa de São Cromácio era centro de atividade espiritual, de estudo, oração e encontro de amigos sacerdotes e leigos, dispostos a cresceram para Deus. Quando Valeriano morreu, todos – Clero e o povo – não tiveram dúvida em aclamar Cromácio para Bispo de Aquiléia. Isto em 388.

Como Bispo, foi santo e sábio pastor, culto, enérgico na defesa da doutrina e incansável na evangelização dos povos, o próprio São Cromácio se destacou como pregador e escritor, além de cooperar para que São Jerônimo e Rufino trabalhassem cada um na sua tradução das Sagradas Escrituras. São Cromácio faleceu em sua cidade – Aquiléia – no ano de 408, local que jamais esqueceu deste santo Bispo.


Ó Deus, que aos vossos pastores associastes São Cromácio, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, dai-nos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé, para participarmos de sua glória. Amém.


São Cromácio, rogai por nós!

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Bangladesh: Papa ordena 16 padres em dia histórico para a Igreja Católica local


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

SANTA MISSA E ORDENAÇÃO SACERDOTAL

HOMILIA DO SANTO PADRE

Suhrawardy Udyan Park (Daca)
Sexta-feira, 1° de dezembro de 2017

Irmãos caríssimos!

No momento em que estes nossos filhos, que são familiares e amigos vossos, vão entrar na Ordem dos presbíteros, ponderai com atenção o grau do ministério a que eles são elevados.

É certo que todo o povo santo de Deus se torna, em Cristo, um sacerdócio real. No entanto, o nosso grande Sacerdote, Jesus Cristo, escolheu alguns discípulos para desempenharem na Igreja, em seu nome, o ministério sacerdotal em favor dos homens. Enviado pelo Pai, Ele mesmo enviou os Apóstolos por todo o mundo a fim de continuar, por meio deles e dos Bispos que lhes haviam de suceder, a sua missão de Mestre, Sacerdote e Pastor. Ora os presbíteros são constituídos cooperadores dos Bispos e, associados a eles na missão sacerdotal, são chamados ao serviço do povo de Deus.

Estes irmãos, depois de séria e prolongada reflexão, vão ser ordenados para o sacerdócio na Ordem dos presbíteros, para servirem a Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor, por cujo ministério o seu Corpo, que é a Igreja, cresce e se edifica como templo santo e povo de Deus.

Vós, queridos filhos, que ides entrar na Ordem dos presbíteros, exercereis, no que vos compete, o sagrado múnus de ensinar em nome de Cristo, nosso Mestre. Distribuí a todos a palavra de Deus que vós mesmos recebestes com alegria. Meditando na lei do Senhor, procurai crer o que ledes, ensinar o que credes e viver o que ensinais.

Seja o vosso ensino alimento para o povo de Deus, e o vosso viver motivo de alegria para os fiéis de Cristo, para edificardes, pela palavra e pelo exemplo, a casa que é a Igreja de Deus.

Exercereis também, em Cristo, o múnus de santificar. Pelo vosso ministério se realiza plenamente o sacrifício espiritual dos fiéis, unido ao sacrifício de Cristo, que, juntamente com eles, é oferecido pelas vossas mãos sobre o altar, de modo sacramental, na celebração dos santos mistérios. Tomai, pois, consciência do que fazeis, imitai o que realizais. Celebrando o mistério da morte e da ressurreição do Senhor, esforçai-vos por fazer morrer em vós todo o mal e por caminhar na vida nova.

Ao fazer entrar os homens no povo de Deus pelo Batismo, ao perdoar os pecados em nome de Cristo e da Igreja no sacramento da Penitência, ao aliviar os enfermos com o óleo santo, ao celebrar os ritos sagrados, ao oferecer, nas horas do dia, o louvor com ações de graças e súplicas, não só pelo povo de Deus mas também por todo o mundo, lembrai-vos de que fostes assumidos de entre os homens e postos ao serviço dos homens nas coisas que são de Deus. Realizai, pois, com verdadeira caridade e alegria constante, o ministério de Cristo Sacerdote, não procurando os vossos interesses, mas sim os de Jesus Cristo.

Finalmente, ao exercer, na parte que vos compete, o ministério de Cristo, Cabeça do Corpo da Igreja e Pastor do seu povo, procurai, filhos caríssimos, unidos e atentos ao Bispo, congregar os fiéis numa só família, a fim de poderdes conduzi-los a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Trazei sempre diante de vós o exemplo do Bom Pastor que veio não para ser servido mas para servir e para buscar e salvar o que estava perdido.

Bangladesh: Papa denuncia «grave crise» dos refugiados vindos de Mianmar


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, 
COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Palácio Presidencial (Daca)
Quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades de Estado e Civis,
Vossa Eminência, amados Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

No início da minha presença no Bangladesh, quero agradecer-lhe, Senhor Presidente, o amável convite para visitar esta nação e as suas deferentes palavras de boas-vindas. Seguindo as pegadas de dois dos meus Predecessores, o Papa Paulo VI e o Papa João Paulo II, estou aqui para rezar com os meus irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem de estima e encorajamento. O Bangladesh é um Estado jovem e todavia ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas, que desde o princípio expressaram solidariedade ao seu povo, procurando acompanhá-lo na superação das dificuldades iniciais e apoiando-o na tarefa exigente da construção da nação e do seu desenvolvimento. Agradeço a oportunidade de me dirigir a esta assembleia, que reúne homens e mulheres com responsabilidades especiais na tarefa de dar forma ao futuro da sociedade do Bangladesh.

Durante o voo para chegar aqui, foi-me lembrado que o Bangladesh – «Golden Bengal» – é uma nação interligada por uma vasta rede fluvial e por vias navegáveis, grandes e pequenas. Creio que esta beleza natural é emblemática da vossa particular identidade como povo. O Bangladesh é uma nação que se esforça por alcançar uma unidade de linguagem e cultura com o respeito pelas diferentes tradições e comunidades, que fluem como inúmeros ribeiros vindo enriquecer o grande curso da vida política e social do país.

No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver e progredir no isolamento. Como membros da única família humana, precisamos uns dos outros e estamos dependentes uns dos outros. O Presidente Sheikh Mujibur Rahma compreendeu e procurou incorporar este princípio na Constituição Nacional. Imaginou uma sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata dignidade e igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta visão fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do respeito pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspetivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista divergentes. Uma vez que o diálogo autêntico aposta no futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos desfavorecidos e daqueles que não têm voz.

Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade do Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas.

Ativistas LGBTs criam presépio gay com “dois Josés”


O conflito de ativistas LGBT com grupos conservadores por causa do uso de símbolos religiosos é antigo. Em quase todo o mundo é assim. Alegando liberdade de expressão, as pessoas aparentemente querem “desconstruir” e “problematizar” tudo o que for possível.

Nos Estados Unidos, a frase “Jesus tinha dois pais” já foi usada muitas vezes como argumento de alguns ativistas para falar sobre o casamento gay. A ideia implícita é que se tratavam de Deus e José.

Contudo, na última semana esse argumento passou a designar uma blasfêmia que está sendo imposta por Cameron Esposito, um comediante que apresenta um programa na internet sobre o movimento LGBT.

Após ele publicar uma imagem no Twitter de dois homens com túnicas rosas olhando para o menino Jesus no que chamou de “presépio gay”, várias pessoas começaram a fazer campanha por mais imagens como essa na frente das casas.

O post viralizou, recebendo mais de 3.300 retweets e chegando a 22.000 “curtidas”. Rapidamente surgiram outras imagens de “presépio gay” no Twitter, o que irritou os cristãos.

Sites conservadores como o Bretibart e o Daily Wire teceram pesadas críticas.

Papa celebra missa histórica para multidão em Myanmar


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

SANTA MISSA COM OS JOVENS DE MYANMAR

HOMILIA DO SANTO PADRE

Saint Mary's Cathedral (Yangon)
Quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Quando já se aproxima do fim a minha visita à vossa linda terra, uno-me convosco para agradecer a Deus pelas muitas graças que recebemos nestes dias. Contemplando-vos a vós, jovens do Myanmar, e a todos aqueles que nos acompanham fora desta catedral, quero partilhar uma frase da primeira Leitura de hoje que ressoa dentro de mim. Tirada do profeta Isaías, é retomada por São Paulo na sua carta à jovem comunidade cristã de Roma. Escutemos uma vez mais estas palavras: «Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas!» (Rm 10, 15; cf. Is 52, 7)

Queridos jovens do Myanmar, veio-me a vontade de aplicar a vós estas palavras depois de ter ouvido as vossas vozes hoje enquanto cantáveis. Sim, bem-vindos são os vossos pés, e é bom e encorajador ver-vos, porque nos anunciais «uma boa-nova», a boa-nova da vossa juventude, da vossa fé e do vosso entusiasmo. Claro, vós sois uma boa-nova, porque sois sinais concretos da fé da Igreja em Jesus Cristo, que nos traz uma alegria e uma esperança que jamais terão fim.

Alguns se interrogam como é possível falar de boas-novas quando tantos sofrem ao nosso redor. Onde estão as boas-novas, quando tanta injustiça, pobreza e miséria estende a sua sombra sobre nós e o nosso mundo? Contudo gostaria que deste lugar partisse uma mensagem muito clara. Gostaria que as pessoas soubessem que vós, homens e mulheres jovens do Myanmar, não tendes medo de acreditar na boa-nova da misericórdia de Deus, porque essa boa-nova tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. Como mensageiros desta boa-nova, estais prontos a anunciar uma palavra de esperança à Igreja, ao vosso país, ao mundo inteiro. Estais prontos a anunciar a boa-nova aos irmãos e irmãs que sofrem e precisam das vossas orações e da vossa solidariedade, mas também da vossa paixão pelos direitos humanos, pela justiça e pelo crescimento daquilo que Jesus dá: amor e paz.

Mas gostaria também de vos propor um desafio. Ouvistes com atenção a primeira Leitura? Nela, São Paulo repete três vezes a palavra «sem». É uma palavra pequena, mas que nos faz pensar sobre o nosso lugar no projeto de Deus. De facto, Paulo formula três perguntas que eu gostaria de colocar, pessoalmente, a cada um de vós. A primeira: «Como hão de acreditar sem terem ouvido falar d’Ele?» A segunda: «Como hão de ouvir falar, sem um mensageiro que O anuncie?» A terceira: «Como há de um mensageiro anunciar, sem ser enviado?» (cf. Rm 10, 14-15).

Gostaria que todos vós pensásseis profundamente nestas três questões. Mas não tenhais medo! Como pai (talvez fosse melhor dizer avô!) benévolo, não quero deixar-vos sozinhos perante tais perguntas. Permiti oferecer-vos alguns pensamentos que vos possam guiar no caminho da fé e ajudar-vos a discernir aquilo que o Senhor está a pedir-vos.

A primeira pergunta de São Paulo é: «Como hão de acreditar sem terem ouvido falar d’Ele?». O nosso mundo está cheio de tantos ruídos e distrações que podem sufocar a voz de Deus. Para que outros sejam chamados a ouvir falar d’Ele e a crer n’Ele, precisam de O encontrar em pessoas que sejam autênticas, pessoas que sabem como ouvir. Certamente é o que vós quereis ser. Mas só o Senhor pode ajudar-vos a ser genuínos. Por isso falai com Ele na oração. Aprendei a ouvir a sua voz, falando serenamente com Ele no íntimo do vosso coração.

Mas falai também com os Santos, com os nossos amigos no Céu que vos podem inspirar. Como Santo André, que hoje festejamos. Era um simples pescador e tornou-se um grande mártir, uma testemunha do amor de Jesus. Mas, antes de se tornar um mártir, cometeu os seus erros e precisou de ser paciente, aprendendo gradualmente como ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Também vós não tenhais medo de aprender com os vossos erros! Possam os Santos guiar-vos até Jesus, ensinando-vos a colocar as vossas vidas nas mãos d’Ele. Sabeis que Jesus é cheio de misericórdia. Então partilhai com Ele tudo o que tendes no coração: os medos e as preocupações, os sonhos e as esperanças. Cultivai a vida interior, como faríeis com um jardim ou um campo. Isso requer tempo, requer paciência. Mas como um agricultor sabe esperar o crescimento da seara, assim também a vós, se tiverdes paciência, o Senhor concederá a graça de produzir muito fruto, um fruto que depois podereis partilhar com os outros.

Papa aos bispos de Myanmar: cura, acompanhamento e profecia


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM OS BISPOS DE MYANMAR

DISCURSO DO SANTO PADRE

Complexo da Catedral de St. Mary (Yangon)
Quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Eminência, 
queridos Irmãos Bispos!

Hoje foi, para todos nós, um dia sobrecarregado mas de grande alegria! De manhã, celebramos a Eucaristia juntamente com os fiéis vindos de todo o país e, de tarde, encontramos os líderes da comunidade maioritária budista. Gostaria que o nosso encontro, nesta noite, fosse um momento de serena gratidão por estas bênçãos e de tranquila reflexão sobre as alegrias e os desafios do vosso ministério de pastores do rebanho de Cristo neste país. Agradeço a D. Félix [Lian Khen Thang] as palavras de saudação que me dirigiu em vosso nome; a todos vos abraço com grande afeto no Senhor.

Desejo agrupar os meus pensamentos à volta de três palavras: cura, acompanhamento e profecia.

A primeira, cura. O Evangelho, que pregamos, é sobretudo uma mensagem de cura, reconciliação e paz. Por meio do sangue de Cristo na cruz, Deus reconciliou consigo o mundo e enviou-nos para ser mensageiros daquela graça sanadora, graça de cura. Aqui no Myanmar, esta mensagem tem uma ressonância especial, pois o país está empenhado em superar divisões profundamente radicadas e construir a unidade nacional. O vosso rebanho traz os sinais deste conflito e gerou valorosas testemunhas da fé e das tradições antigas; assim, para vós, a pregação do Evangelho não deve ser apenas uma fonte de consolação e fortaleza, mas também um apelo a favorecer a unidade, a caridade e a cura na vida do povo. A unidade, que partilhamos e celebramos, nasce da diversidade (não esqueçamos isto: nasce da diversidade); valoriza as diferenças entre as pessoas como fonte de mútuo enriquecimento e de crescimento; convida-as a reencontrarem-se umas com as outras, numa cultura do encontro e da solidariedade.

Que o Senhor vos conceda, no vosso ministério episcopal, experimentar constantemente a sua guia e ajuda no compromisso de favorecer a cura e a comunhão em todos os níveis da vida da Igreja, de modo que o santo Povo de Deus, o vosso rebanho, possa, através do seu exemplo de perdão e amor reconciliador, ser sal e luz para os corações que anelam por aquela paz que o mundo não lhes pode dar. A comunidade católica no Myanmar pode-se orgulhar do seu testemunho profético de amor a Deus e ao próximo, que se traduz no compromisso a favor dos pobres, daqueles que estão privados de direitos e sobretudo, nestes tempos, a favor dos inúmeros desalojados que, por assim dizer, jazem feridos na beira da estrada. Peço-vos que transmitais a minha gratidão a todos aqueles que, como o Bom Samaritano, trabalham com generosidade para levar o bálsamo da cura a eles e ao próximo que passa necessidade, sem olhar a religião nem etnia.

O vosso ministério de cura encontra uma expressão particular no empenho pelo diálogo ecuménico e a colaboração inter-religiosa. Rezo para que produzam abundantes frutos, na reconciliação da vida do país, os vossos incessantes esforços por construir pontes de diálogo e vos unir aos seguidores doutras religiões tecendo relações de paz. A conferência inter-religiosa de paz, realizada em Rangum na primavera passada, foi um testemunho importante, aos olhos do mundo, da determinação das religiões a viver em paz e rejeitar qualquer ato de violência e de ódio perpetrado em nome da religião.

E, neste ministério de cura, lembrai-vos que a Igreja é um «hospital de campo». Curar, curar feridas, curar as almas, curar. A vossa primeira missão é esta: curar, curar os feridos.