terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações 2018


MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO 
PARA O 55º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
(22 de abril de 2018 - IV Domingo da Páscoa)

Tema: «Escutar, discernir, viver a chamada do Senhor»


Queridos irmãos e irmãs!

No próximo mês de outubro, vai realizar-se a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que será dedicada aos jovens, particularmente à relação entre jovens, fé e vocação. Nessa ocasião, teremos oportunidade de aprofundar como, no centro da nossa vida, está a chamada à alegria que Deus nos dirige, constituindo isso mesmo «o projeto de Deus para os homens e mulheres de todos os tempos» (Sínodo dos Bispos – XV Assembleia Geral Ordinária, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, Introdução).

Trata-se duma boa notícia, cujo anúncio volta a ressoar com vigor no 55.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações: não estamos submersos no acaso, nem à mercê duma série de eventos caóticos; pelo contrário, a nossa vida e a nossa presença no mundo são fruto duma vocação divina.

Também nestes nossos agitados tempos, o mistério da Encarnação lembra-nos que Deus não cessa jamais de vir ao nosso encontro: é Deus connosco, acompanha-nos ao longo das estradas por vezes poeirentas da nossa vida e, sabendo da nossa pungente nostalgia de amor e felicidade, chama-nos à alegria. Na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de escutar, discernir e viver esta Palavra que nos chama do Alto e, ao mesmo tempo que nos permite pôr a render os nossos talentos, faz de nós também instrumentos de salvação no mundo e orienta-nos para a plenitude da felicidade.

Estes três aspetos – escuta, discernimento e vida – servem de moldura também ao início da missão de Jesus: passados os quarenta dias de oração e luta no deserto, visita a sua sinagoga de Nazaré e, aqui, põe-Se à escuta da Palavra, discerne o conteúdo da missão que o Pai Lhe confia e anuncia que veio realizá-la «hoje» (cf. Lc 4, 16-21).

Homilética: 4º Domingo do Advento - Ano B: "Conceberás e darás à luz um Filho"


Estamos às portas do Santo Natal. Eis o que vamos contemplar nos ritos, palavras e gestos da sagrada liturgia: o Verbo eterno do Pai, o Filho imenso, infinito, existente antes dos séculos, fez-se homem, fez-se criatura, fez-se pequeno e veio habitar entre nós. Sua vinda ao mundo salvou o mundo, elevou toda a natureza, toda a criação. A sua bendita Encarnação lavou o pecado do mundo e deu vida divina a todo o universo! Mas, atenção: este acontecimento imenso, fundamental para a humanidade e para toda a criação, a Palavra de Deus hoje nos diz que passou pela vida simples e humilde de um jovem carpinteiro e de uma pobre menina moça prometida em casamento numa aldeia perdida das montanhas da Galiléia. O Deus infinito dobrou-se, inclinou-se amorosamente sobre a pequena e pobre realidade humana para aí fazer irromper o seu plano de amor. Acompanhemos piedosamente o Evangelho deste Quarto Domingo do Advento.

São Mateus diz que a Mãe de Jesus “estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”. As palavras usadas pelo Evangelista são simples, mas escondem uma realidade imensa, misteriosa, inaudita. Pensemos em José e Maria, ainda jovens. Eles certamente se amavam; como todo casal piedoso daquela época pensavam em ter filhos – os filhos eram considerados uma bênção de Deus. Mas, eis que antes de viverem juntos, a Virgem se acha grávida por obra do Espírito Santo! Deus entra silenciosamente na vida daquele casalzinho. Nós sabemos, pelo Evangelho de São Lucas, que Maria disse “sim”, que Maria acreditou, que Maria deixou que Deus fosse Deus em sua vida: “Eu sou a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38) De repente, eis que uma vida de família, que tinha tudo para ser pacata e serena, viu-se agitada por uma tempestade. Por um lado, a Virgem diz “sim” a Deus e, sem saber o que explicar ou como explicar ao noivo, cala-se, abandonando-se confiantemente nas mãos do Senhor. Por outro lado, José sabe que o aquele filho não é seu; não compreende como Maria poderia ter feito tal coisa com ele: ter-lhe-ia sido infiel? E, no entanto, não ousa difamar a noiva. Resolve deixá-la secretamente. Quanta dor, quanta dúvida, quanto silêncio: silêncio de Maria, que não tem o que dizer nem como explicar; silêncio de José que, na dor, não sabe o que perguntar à noiva; silêncio de Deus que, pacientemente, vai tecendo a sua história de salvação na nossa pobre história humana. E, então, como fizera antes com a Virgem, Deus agora dirige sua palavra a José: “José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo de seus pecados”. Atenção aos detalhes! O Anjo chama José de “filho de Davi”. É pelo humilde carpinteiro que Jesus será descendente de Davi. Se José dissesse “não”, Jesus não poderia ser o Messias, Filho de Davi! Note-se que é José quem deve dar o nome ao Menino, reconhecendo-o como seu filho. Note-se ainda o nome do Menino: Jesus, isto é, “o Senhor salva”! Deus, humildemente, revela seu plano a José e, depois de pedir o “sim” de Maria, suplica e espera o “sim” de José. E, como Maria, José crê, José se abre para Deus em sua vida, José mostra-se disposto a abandonar seus planos para abraçar os de Deus, José diz “sim”: “Quando acordou, José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa!”.

Eis! Adeus, para aquele casal, o sonho de uma vida tranqüila! Adeus filhos nascidos da união dos dois! Agora, iriam viver somente para aquele Presente que o Senhor lhes havia dado, para a Missão que lhes tinha confiado… O plano de Deus passa pela vida humilde daquele casal. Para que São Paulo pudesse dizer hoje na Epístola aos Romanos que é “apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho… que diz respeito ao Filho de Deus, descendente de Davi segundo a carne”, foi necessária a coragem generosa da Virgem Maria e o sim pobre e cheio de solicitude do jovem José. Para que a profecia de Isaías, que ouvimos na primeira leitura, fosse concretizada, foi necessário que aquele jovem casal enxergasse Deus e seu plano de amor nas vicissitudes de sua vida humilde e pobre!

Também conosco é assim! O Senhor está presente no mundo. Aquele que veio pela sua bendita Encarnação, nunca mais nos deixou. Na potência do seu Espírito Santo, ele se faz presente nos irmãos, nos acontecimentos, na sua Palavra e, sobretudo nos sacramentos. Sabemos reconhecê-lo? Abrimo-nos aos seus apelos? E na nossa vida? Essa vida miúda, como a de José e Maria, será que reconhecemos que ela é cheia da presença e dos apelos do Senhor? No Advento, a Igreja não se cansa de repetir o apelo de Isaías profeta: “Céus, deixai cair o orvalho; nuvens, chovei o Justo; abra-se a terra e brote a Salvador!” (Is 45,8). É interessante este apelo: a salvação choverá do céu, vem de Deus, é dom, é graça… mas, por outro lado, ela brota da terra, da terra deste mundo ferido e cansado, da terra da nossa vida.

São Martinho de Dume (Braga)


Oriundo da Panônia, atual Hungria, dirigiu-se ainda jovem para o Oriente, onde professou vida regular: estudou o grego e outras ciências eclesiásticas em que muito cedo se distinguiu, até ser classificado, pelo eminente Doutor Santo Isidoro, como ilustre na fé e na ciência. Também Gregório de Tours o considerou entre os homens insuperáveis do seu tempo. Regressando do Oriente, dirigiu-se depois a Roma e França, onde travou conhecimento com as personagens por então mais insignes em saber e santidade. Sobretudo, quis visitar o túmulo do seu homônimo e compatriota, S. Martinho de Tours, que desde então ficará considerando como seu patrono e modelo. Foi também por essa altura que Martinho se encontrou com o rei dos Suevos, Charrarico, ao qual acompanhou para o noroeste da Península Ibérica, em 550, onde, com restos do gentilismo e bastante ignorância religiosa, se espalhara o Arianismo.

Para acorrer a tantos males, não tardou Martinho em planejar e colocar em andamento seu vigoroso apostolado. Num mosteiro, edificado pelo mesmo rei, em Dume, ao lado de Braga, assenta o grande apóstolo dos suevos suas instalações como escola de monaquismo e base de irradiação catequética e missionária. A igreja do mosteiro é dedicada a S. Martinho de Tours, e foi sagrada em 558. O seu abade foi elevado ao episcopado pelo Bispo de Braga já em 556, em atenção ao seu exímio saber e extraordinário zelo e santidade. Com a subida ao trono do rei Teodomiro (em 559), consumava-se o regresso dos Suevos ao Catolicismo, deixando o Arianismo. Ilustre por tão preclaras prerrogativas, passa Martinho para a Sé de Braga, em 569, quando o Catolicismo nesta região gozava já de alto esplendor, o que tornou possível o 1° Concílio de Braga, em 561, no pontificado de João III. Em 572, foi Martinho a alma do 2° Concílio de Braga. Nesta altura escreveu ele: “Com a ajuda da graça de Deus, nenhuma dúvida há sobre a unidade e retidão da fé nesta província”.

S. Martinho de Dume não esqueceu da importância e eficácia do apostolado da pena. Deixou assim várias obras sobre as virtudes monásticas, bem como matérias teológicas e canônicas, pelas quais foi depois reputado e celebrado como Doutor. Faleceu a 20 de março de 579 e foi sepultado na catedral de Dume; mas desde 1606 estão depositadas as suas relíquias na Sé de Braga. Compusera para si, em latim, o seguinte epitáfio sepulcral, em que mostra a veneração que dedicava ao santo Bispo de Tours: “Nascido na Panônia, atravessando vastos mares, impelido por sinais divinos para o seio da Galiza, sagrado Bispo nesta tua igreja, ó Martinho confessor, nela instituí o culto e a celebração da Missa. Tendo-te seguido, ó Patrono, eu, o teu servo Martinho, igual em nome que não em mérito, repouso agora aqui na paz de Cristo”.


Deus, inspirador dos pastores da Igreja e luz de todos os povos, que chamastes o santo bispo Martinho para ensinar ao vosso povo os mistérios do reino, concedei-nos que, animados pelo seu exemplo e iluminados pela sua doutrina, cheguemos ao esplendor eterno da vossa glória. Por Nosso Senhor. Amém.


São Martinho de Dume, rogai por nós!

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Pedagogia Litúrgica para Dezembro de 2017: "Natal: encontro da humanidade com Deus"


A Liturgia celebra o Natal em três grandes momentos: preparação, solenidade e celebrações natalinas. A preparação consta de quatro semanas, das quais as duas últimas são dedicadas a uma preparação mais próxima e mais intensa. A celebração da Solenidade do Natal consta de quatro Missas em momentos diferentes do dia e da noite e, por fim, as “celebrações natalinas” que constam de festas e solenidades, concluídas com a festa do Batismo de Jesus. Nossa atenção se concentrará no Lecionário proposto para o “Ano B”, que conta algumas peculiaridades, neste ano de 2017.

Tempo da preparação

O tempo de preparação denomina-se Advento, termo que designa espera, expectativa, tempo de preparação de um acontecimento importante. São quatro semanas de Advento, mas neste ano de 2017, teremos apenas três porque — e aqui está a primeira peculiaridade — o 4º Domingo do Advento será celebrado no dia 24 de dezembro. Isto significa que a Liturgia do 4º Domingo do Advento será celebrada somente nas Missas vespertinas de sábado à tarde-noite (23 de dezembro) e nas Missas Dominicais matutitas. As Missas de Domingo à tarde já serão Missas do Natal.

Desde a antiguidade, desde quando a Liturgia introduziu um tempo de preparação ao Natal, os dois primeiros Domingos do Advento são dedicados à 2ª vinda de Jesus Cristo. São Domingos escatológicos que, juntamente com os últimos Domingos do Tempo Comum, completam uma série de celebrações dedicadas à segunda vinda de Jesus Cristo. Nestas celebrações dedicadas à 2ª vinda do Senhor, o Advento é um tempo de preparação marcado pela virtude da vigilância.

O convite para se cultivar a virtude da vigilância, no “1º Domingo do Advento – B” é apresentado com dois símbolos: o caminho e o trabalho do porteiro. Vigilante para não tomar um caminho que não conduza ao encontro com Jesus, em sua 2ª vinda. Vigilância, vivendo atento, como deve ser o trabalho de um porteiro para impedir que algo estranho entre na casa (a vida pessoal) e impeça a preparação do encontro com o Senhor que vem.

O 2º Domingo do Advento do Ano B (Ano Litúrgico em curso) tem a particularidade de apresentar um dos principais personagens do Advento, João Batista, o qual é ligado à primeira vinda de Jesus. Por isso, a dimensão escatológica da preparação da 2ª vinda encontra-se na 2ª leitura e na eucologia. No Ano B, iluminando-se na 2ª leitura, o 2º Domingo do Advento é celebrado nos desertos da sociedade, o local onde João Batista continuando profetizando a necessidade de preparar caminhos que conduzam ao encontro do Senhor que um dia voltará.

A preparação do Natal, propriamente dita, denominada de preparação próxima do Natal, inicia-se no 3º Domingo do Advento, conhecido como “Dominca laetare” – “Domingo da Alegria” —, termo emprestado pela antífona de entrada: “alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos”. Neste 3º Domingo do Advento, a Igreja coloca flores na celebração e a Liturgia celebra a Eucaristia vestida com paramentos cor de rosa. Motivo disso? A aproximação do Natal de Jesus Cristo. Por isso, o 3º Domingo do Advento é o primeiro momento preparatório diretamente relacionado ao Natal; momento que prepara a 1ª vinda do Senhor, no Natal. Para tal, a Liturgia propõe aos celebrantes as figuras de Isaias e João Batista como testemunhas de uma nova esperança para a humanidade.

Por fim, o “4º Domingo do Advento”, Domingo essencialmente mariano, dedicado à Virgem Mãe. Ela está grávida do Menino Jesus e a Igreja proclama alegremente que “Ele está no meio de nós”. É uma celebração que conduz os celebrantes ao acolhimento do projeto divino, que se realiza no Natal, tendo Nossa Senhora como modelo de fé e de disponibilidade, condições indispensáveis para acolher o Menino Jesus. Uma celebração para incentivar os celebrantes a preparar suas vidas e seus corações a ser a casa de acolhida do Menino Jesus, a exemplo da Virgem Mãe Maria.  

Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2018: "Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz".


MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
51º DIA MUNDIAL DA PAZ 

1° DE JANEIRO DE 2018

Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz

1. Votos de paz

Paz a todas as pessoas e a todas as nações da terra! A paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal,[1] é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta. Dentre estes, que trago presente nos meus pensamentos e na minha oração, quero recordar de novo os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados. Estes últimos, como afirmou o meu amado predecessor Bento XVI, «são homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que procuram um lugar onde viver em paz».[2] E, para o encontrar, muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar arames farpados e muros erguidos para os manter longe da meta.

Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental.

Estamos cientes de que não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros. Há muito que fazer antes de os nossos irmãos e irmãs poderem voltar a viver em paz numa casa segura. Acolher o outro requer um compromisso concreto, uma corrente de apoios e beneficência, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações complexas que às vezes se vêm juntar a outros problemas já existentes em grande número, bem como recursos que são sempre limitados. Praticando a virtude da prudência, os governantes saberão acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas, «nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, [para] lhes favorecer a integração»[3]. Os governantes têm uma responsabilidade precisa para com as próprias comunidades, devendo assegurar os seus justos direitos e desenvolvimento harmónico, para não serem como o construtor insensato que fez mal os cálculos e não conseguiu completar a torre que começara a construir.[4]

2. Porque há tantos refugiados e migrantes?

Na mensagem para idêntica ocorrência no Grande Jubileu pelos 2000 anos do anúncio de paz dos anjos em Belém, São João Paulo II incluiu o número crescente de refugiados entre os efeitos de «uma sequência infinda e horrenda de guerras, conflitos, genocídios, “limpezas étnicas”»[5] que caraterizaram o século XX. E até agora, infelizmente, o novo século não registou uma verdadeira viragem: os conflitos armados e as outras formas de violência organizada continuam a provocar deslocações de populações no interior das fronteiras nacionais e para além delas.

Todavia as pessoas migram também por outras razões, sendo a primeira delas «o desejo de uma vida melhor, unido muitas vezes ao intento de deixar para trás o “desespero” de um futuro impossível de construir».[6] As pessoas partem para se juntar à própria família, para encontrar oportunidades de trabalho ou de instrução: quem não pode gozar destes direitos, não vive em paz. Além disso, como sublinhei na Encíclica Laudato si’, «é trágico o aumento de migrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental».[7]

A maioria migra seguindo um percurso legal, mas há quem tome outros caminhos, sobretudo por causa do desespero, quando a pátria não lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas.

Em muitos países de destino, generalizou-se largamente uma retórica que enfatiza os riscos para a segurança nacional ou o peso do acolhimento dos recém-chegados, desprezando assim a dignidade humana que se deve reconhecer a todos, enquanto filhos e filhas de Deus. Quem fomenta o medo contra os migrantes, talvez com fins políticos, em vez de construir a paz, semeia violência, discriminação racial e xenofobia, que são fonte de grande preocupação para quantos têm a peito a tutela de todos os seres humanos.[8]

Todos os elementos à disposição da comunidade internacional indicam que as migrações globais continuarão a marcar o nosso futuro. Alguns consideram-nas uma ameaça. Eu, pelo contrário, convido-vos a vê-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz.

Santa Bárbara


Santa Bárbara nasceu na cidade de Nicomédia na região da Bitínia, onde hoje se localiza a cidade de Izmit, na Turquia, às margens do Mar de Mármara. Bárbara viveu no final do Século III. Foi uma bela jovem, filha única de Dióscoro, um rico e nobre morador de Nicomédia.

Dióscoro não queria deixar sua filha única viver no meio da sociedade corrupta daquele tempo. Por isso, decidiu fechá-la numa torre. Lá, ela era ensinada por tutores da confiança de seu pai. Porém, aquilo que parecia um castigo, começou a abrir a mente de Bárbara. Do alto da torre ela contemplou a natureza: as estações do ano, a chuva, o sol, a neve, o frio, o calor, as aves, os animais, etc. Tudo isso fez Bárbara questionar se aquilo era realmente criação dos “deuses”, como seus tutores e seu povo creditavam, ou se havia “alguém” muito mais inteligente e poderoso por trás da criação.

Quando atingiu a idade para o casamento, por volta de 17 anos, seu pai a trouxe para casa e permitia que ela recebesse a visita de pretendentes, mas não permitia que ela visitasse a cidade. Bárbara era uma jovem muito bela e de família rica. Por isso, muitos eram os pretendentes que queriam se casar com ela. Mas Bárbara não aceitava nenhum, enxergando neles a superficialidade e o interesse, e nenhum toque de amor verdadeiro.

Para seu pai, isso era um problema sério, pois, segundo os costumes, ele tinha obrigação de casar sua filha. Dióscoro pensava que as “desfeitas” da filha diante dos pretendentes se davam por causa do tempo que ela passou na torre. Então, ele decidiu permitir que Bárbara conhecesse a cidade.

Santa Bárbara, então, começou a frequentar a cidade. Nessas visitas, acabou conhecendo os cristãos de Nicomédia. Estes passaram para Bárbara a mensagem de Jesus Cristo. Falaram-lhe também sobre o mistério da Santíssima Trindade. A novidade cristã tocou profundamente o coração de Bárbara. Com os cristãos ela encontrou a resposta para seus questionamentos: o Criador de tudo era o Deus Único e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e não os deuses que seu povo cultuava.

Bárbara se converteu ao cristianismo de todo o coração. Logo, um padre vindo de Alexandria ministrou a ela o batismo. E Bárbara passou a ser uma jovem fervorosa e cheia de virtudes cristãs. Em Jesus Cristo ela encontrou o sentido mais profundo de sua vida.

Dióscoro, pai de Santa Bárbara, decidiu construir para ela uma casa de banho na torre, onde ele planejou instalar duas belas janelas. Quando a obra começou, Dióscoro teve que fazer uma longa viagem. Durante a viagem do pai, Santa Bárbara ordenou que construíssem uma terceira janela na obra. Sua intenção era que a torre tivesse três janelas em homenagem à Santíssima Trindade. Além disso, Santa Bárbara esculpiu uma cruz na torre.

Quando Dióscoro voltou, reparou logo nas mudanças feitas na construção e foi perguntar à filha o porquê daquilo. Santa Bárbara explicou que as mudanças eram símbolos de sua nova fé: três janelas em homenagem ao Deus Uno e Trino, Criador de todas as coisas. E a Cruz lembrava o sacrifício do Filho de Deus para salvar a humanidade. Dióscoro ficou furioso.

Ao perceber que a filha estava irredutível em sua fé cristã, Dióscoro, num impulso de ira, denunciou a filha ao prefeito da cidade. Este ordenou que Bárbara fosse torturada em praça pública, para tentar fazer com que a jovem renegasse a fé cristã. Porém, para surpresa de todos, Santa Bárbara não renegou sua fé, mesmo diante dos mais atrozes sofrimentos.

Durante a tortura, uma jovem cristã chamada Juliana denunciou os nomes dos carrascos, coisa que era expressamente proibida na época. Por isso, Juliana foi presa e condena à morte por decapitação juntamente com Santa Bárbara.


As duas jovens cristãs foram levadas amarradas pelas ruas de Nicomédia, sob os gritos furiosos de muita gente. Santa Bárbara teve os seios cortados. Depois, foi conduzida para fora da cidade. Lá, seu próprio pai a degolou.

Quando Dióscoro degolou a filha e a cabeça de Santa Bárbara rolou pelo chão, um raio riscou o céu e um enorme trovão foi ouvido pelo povo. E, para o assombro de todos, o corpo de Dióscoro caiu no chão sem vida, atingido pelo raio. Parece que a natureza se revoltou contra a atitude desse pai infanticida.

Depois deste fato, Santa Bárbara ganhou o status de "protetora contra relâmpagos e tempestades", além de ser nomeada Padroeira dos artilheiros, dos mineradores e das pessoas que trabalham com fogo.

A festa de Santa Bárbara é celebrada na Igreja Católica e na Igreja Ortodoxa no dia 4 de Dezembro de cada ano e não pode e nem deve ser identificada com nenhuma entidade espiritual como costumam fazer integrantes da Umbanda sincretizando-a com Iansã um orixá (oiá, nagô ou xangô). Ao contrário, como vimos, Santa Bárbara foi uma mulher cristã que defendeu a sua fé católica e acreditava no Deus Uno e Trino, rejeitando qualquer forma de paganismo e idolatria, por isso foi morta e tornou-se mártir da fé cristã.

A grande mensagem de Santa Bárbara destina-se a todos aqueles que buscam a verdade, principalmente os jovens. Ela nos ensina a buscar a verdade com coração sincero e aberto. Ensina também que o casamento não deve acontecer por mero interesse, mas sim por amor. Por fim, Santa Bárbara nos dá uma mensagem de coragem e fé. A palavra mártir quer dizer testemunha e se aplica aos cristãos que preferiram morrer a negar sua fé e pecar. Este é o grande testemunho de Santa Bárbara.


Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre ao meu lado para que possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Baixa audiência de “Apocalipse” seria por ataques à Igreja Católica


Cercada de grande expectativa desde o seu lançamento, a novela bíblica Apocalipse não está conseguindo repetir o sucesso de suas antecessoras. A trama de Vivian de Oliveira viu seus índices despencarem ao longo da segunda semana de exibição.

Na quarta-feira (29), chegou a registrar 8 pontos em diversos minutos em sua exibição, deixando-a em terceiro lugar no Ibope. O mesmo aconteceu na quinta (30) quando mostrou o nascimento do Anticristo, marcando 9.0 pontos de média. No mesmo horário, a Globo estava com com 31.2 e o SBT manteve a a vice-liderança com 10.9 pontos.

Segundo sites especializados como o TV em Foco, um dos motivos da baixa audiência seria as modificações no rumo da história, resultado das intervenções de bispos da Igreja Universal. O dono da Record é Edir Macedo, fundador da igreja e desafeto declarado dos católicos.

Os cortes na narrativa são visíveis e alguns atores importantes perderam espaço. Sérgio Marone, que interpreta o Anticristo, está narrando algumas sequências.

A Igreja da Sagrada Luz, que guarda similaridades notáveis com o catolicismo romano, está no centro do problema. 

Encontro com os jovens conclui viagem do Papa a Bangladesh


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO A MIANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO – 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

Encontro com os jovens no Notre Dame College de Dhaka
Sábado, 2 de dezembro de 2017


Amados jovens, queridos amigos, boa tarde!

Finalmente encontramo-nos! Sinto-me grato a todos pela vossa calorosa recepção. Agradeço a D. Gervas [Rozario] as suas amáveis palavras, a Upasana e Anthony os seus testemunhos. Há qualquer coisa de único nos jovens: estais sempre cheios de entusiasmo e sinto-me rejuvenescer sempre que vos encontro. Upasana, falaste disto no teu testemunho, quando disseste que eras verdadeiramente «muito entusiasta» e posso vê-lo e notá-lo. Este entusiasmo juvenil está ligado com o espírito de aventura. Expressou-o um dos vossos poetas nacionais, Kazi Nazrul Islam, ao definir a juventude do país como «arrojada», «habituada a arrancar a luz do ventre das trevas». Os jovens estão sempre prontos para avançar, fazer com que as coisas aconteçam e correr riscos. Encorajo-vos a avançar com este entusiasmo nas circunstâncias boas e nas más. Avançar, especialmente nos momentos em que vos sentis oprimidos pelos problemas e pela tristeza e, olhando para fora, parece que Deus não Se faz ver no horizonte.

Mas, ao avançar, certificai-vos de escolher o caminho certo. Que significa isto? Significa saber viajar na vida, não vagar sem rumo. A nossa não é vida sem direção; tem um objetivo, que nos foi dado por Deus. Ele guia-nos, orientando-nos com a sua graça. É como se tivesse colocado dentro de nós um software, que nos ajuda a discernir o seu programa divino e a responder-lhe livremente. Mas, como qualquer software, também este precisa de ser constantemente atualizado. Mantende atualizado o vosso programa, prestando ouvidos ao Senhor e aceitando o desafio de fazer a sua vontade.

Anthony, fizeste referência a este desafio no teu testemunho, quando disseste que sois homens e mulheres que estais a «crescer num mundo frágil que clama por sabedoria». Usaste a palavra sabedoria e, com ela, forneceste-nos a chave. Quando se passa do viajar ao vagar sem rumo, perdeu-se toda a sabedoria! A única coisa que nos orienta e faz avançar pelo caminho certo é a sabedoria, a sabedoria que nasce da fé. Não é a falsa sabedoria deste mundo. É a sabedoria que se vislumbra nos olhos dos pais e dos avós, que puseram a sua confiança em Deus. Como cristãos, podemos ver nos seus olhos a luz da presença de Deus, a luz que descobriram em Jesus, que é a própria sabedoria de Deus (cf. 1 Cor 1, 24). Para receber esta sabedoria, devemos ver o mundo, as nossas situações, os nossos problemas… tudo com os olhos de Deus. Recebemos esta sabedoria quando começamos a ver as coisas com os olhos de Deus, a escutar os outros com os ouvidos de Deus, a amar com o coração de Deus e a avaliar as coisas com os valores de Deus.

Esta sabedoria ajuda-nos a identificar e rejeitar as promessas falsas de felicidade. Uma cultura que faz promessas falsas não pode libertar; conduz apenas a um egoísmo que enche o coração de escuridão e amargura. Pelo contrário, a sabedoria de Deus ajuda-nos a saber como acolher e aceitar aqueles que agem e pensam de forma diferente de nós. É triste quando começamos a fechar-nos no nosso pequeno mundo e nos retraímos em nós próprios. Então adotamos o princípio «ou é como digo eu, ou não se faz nada», acabando enredados, fechados em nós mesmos. Quando um povo, uma religião ou uma sociedade se tornam um «pequeno mundo», perdem o melhor que têm e precipitam numa mentalidade presunçosa, que faz dizer «eu sou bom, tu és mau». Upasana, destacaste as consequências desta maneira de pensar, quando disseste: «perdemos a direção e perdemo-nos a nós mesmos» e «a vida torna-se insensata». A sabedoria de Deus abre-nos aos outros. Ajuda-nos a olhar para além das nossas comodidades pessoais e das falsas seguranças que nos deixam cegos perante os grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna de ser vivida.

Alegro-me por estarem connosco, ao lado dos católicos, muitos jovens amigos muçulmanos e doutras religiões. Com o facto de vos encontrardes aqui hoje, mostrais a vossa determinação de promover um clima de harmonia, onde se estende a mão aos outros, apesar das vossas diferenças religiosas. Isto lembra-me uma experiência que tive em Buenos Aires, numa nova paróquia situada numa área extremamente pobre. Um grupo de estudantes estava a construir alguns locais para a paróquia e o padre convidara-me para ir encontrá-los. Fui e, quando cheguei à paróquia, o padre apresentou-mos um a um, dizendo: «Este é o arquiteto, é judeu, este é comunista, este é católico praticante» (Saudação aos Jovens do Centro Cultural P. F. Varela, Havana, 20 de setembro de 2015). Aqueles estudantes eram todos diferentes, mas estavam todos a trabalhar para o bem comum. Estavam abertos à amizade social e decididos a dizer não a qualquer coisa que pudesse afastá-los do propósito de estarem juntos e se ajudarem uns aos outros.