quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Cardeal Sarah: "Um mundo sem Deus é um mundo de trevas, de mentiras, e de egoísmo".


Queridos peregrinos de Chartres, “A luz veio ao mundo,” diz-nos hoje o evangelho, “e os homens preferiram as trevas.”

E vocês, queridos peregrinos, acolheram a única luz que não engana? Acolheram a luz de Deus? Vocês caminharam durante três dias. Rezaram, cantaram, sofreram debaixo do sol e da chuva… Acolheram a luz em vossos corações? Renunciaram realmente às trevas? Escolheram seguir o Caminho, seguindo Jesus que é a luz do mundo?

Queridos amigos, permitam-me fazer essa pergunta radical, porque se Deus não é a nossa luz, tudo o resto se torna inútil. Sem Deus tudo é escuridão. Deus veio até nós, e se fez homem. Revelou-nos a única verdade que salva, foi morto para nos resgatar do pecado, e no Pentecostes, deu-nos o Espírito Santo e ofereceu-nos a luz da fé… mas nós preferimos as trevas!

Olhemos ao nosso redor! A sociedade ocidental decidiu organizar-se sem Deus. Ela está agora entregue às luzes cintilantes e enganadoras da sociedade do consumismo, do lucro a qualquer preço, do individualismo sem medida. Um mundo sem Deus é um mundo de trevas, de mentiras, e de egoísmo.

Sem a luz de Deus a sociedade ocidental tornou-se como um barco sem rumo na noite! Ela já não tem amor para receber os filhos, para os proteger desde o seio materno, para os preservar da agressão da pornografia. Privada da luz de Deus, a sociedade ocidental já não sabe respeitar os seus idosos, nem acompanhar no caminho da morte os seus doentes, nem dar lugar aos mais pobres e aos mais fracos. Ela foi entregue às trevas do medo, da tristeza e do isolamento. Não tem mais do que um vazio e um nada para oferecer. Deixa proliferar as ideologias mais loucas.

Uma sociedade ocidental sem Deus pode tornar-se o berço de um terrorismo ético e moral mais viral e mais destrutivo do que o terrorismo dos islâmicos. Lembrem-se que Jesus nos disse: “Não temais aqueles que matam o corpo e não podem matar a alma, antes temei Aquele que pode fazer perecer a alma e o corpo no inferno.” (Mt 10, 28)

Queridos amigos, perdoem-me esta descrição, mas é preciso ser claro e realista. Se eu vos falo assim, é porque no meu coração de padre, de pastor, eu sinto muito por tantas almas perdidas, tristes, inquietas e sozinhas! Quem as conduzirá à luz? Quem lhes mostrará o caminho da verdade, o verdadeiro caminho da liberdade que é o caminho da Cruz? Vamos deixá-las entregar-se ao erro, ao niilismo sem esperança ou ao islamismo agressivo sem fazer nada?

Nós devemos gritar ao mundo que a nossa esperança tem um nome: Jesus Cristo, o único Salvador do mundo e da humanidade! Queridos peregrinos da França, vejam esta catedral! Os vossos antepassados construíram-na para proclamar a sua fé! Tudo, desde a sua arquitetura, a sua escultura, os seus vitrais, proclama a alegria de ser salvo e amado por Deus. Os vossos antepassados não eram perfeitos, eles não estavam livres de pecado. Mas eles queriam deixar a luz da fé iluminar as suas trevas!

Hoje também vós, povo da França, acordai! Escolham a luz! Renunciem às trevas! Como?

O evangelho responde: “Aquele que agir segundo a verdade vem para a luz”. Deixemos a luz do Espírito Santo iluminar as nossas vidas concretamente, simplesmente, e até às regiões mais íntimas de nosso ser profundo. Agir segundo a verdade é em primeiro lugar colocar Deus no centro da nossa vida, como a Cruz é o centro desta catedral.

Meus irmãos, escolhamos voltarmo-nos para Ele todos os dias! Agora, assumimos o compromisso de reservar todos os dias alguns minutos de silêncio para nos voltarmos a Deus, para lhe dizer: “Senhor reina em mim! Eu Te entrego a minha vida!”

Queridos peregrinos, sem silêncio não há luz. As trevas alimentam-se do barulho incessante do mundo, que impede-nos de nos voltarmos para Deus. Tomemos como exemplo a liturgia de hoje. Ela leva à adoração, ao temor filial e amoroso perante a grandeza de Deus. Ela culmina na consagração, onde todos juntos, voltados para o altar, o olhar fixo na Eucaristia, na cruz, comunicamos em silêncio, no recolhimento e na adoração. Queridos irmãos, amemos essas celebrações litúrgicas que nos fazem saborear a presença silenciosa e transcendente de Deus e nos fazem voltar para o Senhor.

Queridos irmãos padres, eu quero dirigir-me especialmente a vós. O Santo Sacrifício da Missa é o lugar onde vocês encontrarão a luz para o vosso ministério. O mundo em que vivemos pede a nossa atenção sem cessar. Nós estamos constantemente em movimento, sem nos preocuparmos de parar para tomar o tempo de procurar um lugar deserto e descansar um pouco, na solidão e no silêncio, na companhia do Senhor. Grande seria o perigo de nos encontramos somente como “trabalhadores sociais”. Então, nós não daríamos mais a luz de Deus mas a nossa própria luz, que não é aquela que os Homens esperam. Aquilo que o mundo espera dos padres é Deus e a Luz da sua Palavra proclamada sem ambiguidade nem falsificação.

Saibamos voltar-nos para Deus numa celebração litúrgica recolhida, cheia de respeito, de silêncio e marcada pela sacralidade. Não inventemos nada na liturgia, recebamos tudo de Deus e da Igreja. Não procuremos nela o espectáculo ou o sucesso. A liturgia ensina-nos: Ser sacerdote não é, em primeiro lugar, fazer muito, mas sim estar com o Senhor na cruz!

A liturgia é o lugar onde o homem encontra Deus cara a cara. A liturgia é o momento mais sublime onde Deus nos ensina a “reproduzir em nós a imagem do seu filho Jesus Cristo para que ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos” (Rm 8, 29). Ela não é nem deve ser uma ocasião de ruptura, de luta ou de disputa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Santa Quitéria, a “curadora da raiva”


Santa Quitéria é muito venerada e estimada em algumas regiões da Espanha, da França e de Portugal. Pouco se sabe com certeza a seu respeito, já que tudo o que chegou até nós sobre ela veio por transmissão oral, entremeado de lendas piedosas. O que é verdade e o que é fantasia ninguém mais sabe, mas o fato é que a sua veneração é muito antiga.

A lenda nos conta que Santa Quitéria era uma das nove filhas de Cálsia Lúcia, esposa de Lúcio Caio Otílio, governador romano em Braga no século II da nossa era. Quando Quitéria tinha 13 anos, estava um dia a rezar quando lhe apareceu um anjo pedindo que ela se retirasse a um lugar solitário, na montanha, onde se dedicaria à oração e à contemplação porque Deus a tinha escolhido para ser sua esposa.

Ela obedeceu, mas voltou quando soube que seus pais estavam angustiados com o seu retiro. Receberam-na com muita alegria e lhe comunicaram que tinham decidido casá-la com um jovem rico e nobre chamado Germano. Ela se negou e foi detida no palácio, de onde fugiu graças à Virgem Maria.

Perseguida, foi encontrada e decapitada, mas, diante do horror de seu carrasco e da admiração das pessoas presentes, Quitéria recolheu a própria cabeça, com a coroa de virgem e mártir, e caminhou até o lugar que lhe fora indicado por um anjo. O local era uma fonte, o que nos leva a outra das lendas mais curiosas sobre esta santa: Quitéria é invocada como intercessora para curar os doentes de raiva.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Como os católicos podem ajudar uma sociedade atormentada pelo suicídio


O suicídio não é um problema que afeta somente os famosos endinheirados, como mostram as notícias. Nem se limita aos que sofrem de depressão ou de alguma doença mental. Trata-se de uma multifacetada e complexa epidemia, que precisa ser entendida. E um estudo publicado dois anos atrás nos ajuda nesta missão.

Segundo pesquisa divulgada pela Revista da Associação Médica Americana, o suicídio não é um “fenômeno evanescente”. Outra constatação: estudo feito por enfermeiras comprovou que “entre um grupo de 6.999 mulheres católicas que assistiam à Missa mais de uma vez por semana não houve nenhum caso de suicídio”.

Entretanto, seria terrivelmente errôneo inferir desta estatística a ideia de que quem sofre de depressão ou perdeu algum familiar para o suicídio não é católico. A fé não é, em si, um remédio para enfermidade, seja ela mental ou física. Estou seguro que há uma extensa lista de pessoas que cometeram suicídio mesmo sendo católicas praticantes. No entanto, aposto que há uma lista ainda maior de pessoas que, se não fosse a fé que possuem, teriam se suicidado.

Os católicos têm o dever de saber que a religião, especialmente o Catolicismo, faz a diferença e também precisam descobrir como podemos ajudar o nosso próximo, que, por ventura, tenha pensamentos depressivos ou suicidas. Somos chamados a nos envolvermos nesta questão – e somos mais fortes para isso do que pensamos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

4 maneiras de reconhecer uma amizade tóxica


Todos nós conhecemos pessoas “tóxicas”: pode ser um chefe, um membro da família, um amigo ou até mesmo você. São pessoas que, em vez de nos tornar mais fortes, consomem nossa energia e parecem ter o objetivo de nos colocar no caminho da negatividade. Geralmente podemos encontrar inspiração em nosso ambiente, mas quando essas pessoas aparecem, elas bloqueiam nossa criatividade e desequilibram nosso bem-estar.

Nossa saúde física e emocional depende da qualidade das pessoas com quem passamos nosso tempo e de sua influência em nossas vidas. Consequentemente, mesmo influências negativas menores que podem parecer relativamente inócuas podem acabar sendo um fardo desnecessário.

Quatro sintomas que indicam 
um relacionamento tóxico

Os problemas deles são mais importantes que os seus

Uma das vantagens de ter amigos é que você pode contar com eles como “terapeutas” quando as coisas não estão indo bem. Mas, o problema com os amigos tóxicos é que eles subestimam suas dificuldades ou tempos difíceis porque acham que os deles são mais importantes que os seus. Eles podem passar horas falando sobre si mesmos, mas no momento em que você lhes oferece ajuda ou possíveis soluções, eles sempre encontram uma razão para isso não funcionar, ou dizem que você não os entende.

Eles falam mais do que ouvem

Isso está relacionado ao primeiro sintoma; isso significa que eles não apenas subestimam seus problemas – eles também subestimam suas opiniões. Uma amizade deve ser uma via de mão dupla, e ambas as partes devem poder compartilhar seus pensamentos. Se seu amigo não te ouvir, há uma grande probabilidade de que seja uma amizade prejudicial. Isso mostra que você está lidando com uma pessoa que quer receber de você constantemente, sem tentar retribuir.

domingo, 5 de agosto de 2018

Como selecionar candidatos aos cargos de padrinho e madrinha de seus filhos

Illustration by Florian Thouret. Prune & Séraphin vont à un baptême | Mame 2015

Se você decidiu batizar seu filho na Igreja Católica, você terá de escolher um padrinho e uma madrinha para o seu anjinho. São “funções” muito importantes para a vida cristã das crianças. Por isso, essa escolha deve ser encarada como um verdadeiro processo seletivo, como aqueles adotados pelas grandes empresas quando querem contratar altos executivos.

Aqui, apresentamos o perfil ideal do candidato, além da descrição do cargo e das  experiências necessárias para exercer a função. Esperamos que as dicas sejam úteis neste processo seletivo!

Cargo: Padrinho e Madrinha

Área de atividade: Igreja Católica

Duração do contrato: Ilimitado

Tipo do contratação: Tempo integral

Idade mínima exigida: Acima de 16 anos

Experiências espirituais exigidas pela Igreja: necessário ter recebido os 3 sacramentos – Batismo, Primeira Comunhão e Crisma.

Qualidades necessárias para o cargo:

Ser amoroso e bondoso com seu afilhado;

Ser capaz de criar um vínculo forte com seu afilhado;

Dominar a arte de ser um padrinho e uma madrinha atenciosos, ou seja, desejar feliz aniversário para seus afilhados, lembrar-se deles na Páscoa e no Natal, enviar mensagem de boa sorte na noite anterior aos exames etc;

Ser suficientemente maduro e forte em sua fé para assumir as missões listadas abaixo.

sábado, 4 de agosto de 2018

Católico de direita?


Uma das teses do catolicismo liberal — que, no Brasil, tem uma face mais ou menos homogênea, fomentada e moldada por sociedades discretas ou secretas — é a de que o católico só pode ser, por definição, um sujeito de “direita”, dada a incompatibilidade patente entre o Evangelho e os esquerdismos de todo tipo. Esses grupos, à força do poder do dinheiro e de sua notável organização, vão aos poucos disseminando e aplicando à realidade brasileira conceitos alienígenas, extraídos da política norte-americana e adaptados, por uma torção lógica, às terras tupiniquins. Uma política, obviamente, autônoma ou alheia às verdades da fé, pois outra tese muito cara a esses liberais, escrutinada numa série de textos do Contra Impugnantes, é a de que o poder material não deve prestar contas ao espiritual, dada a separação entre o Estado e a Igreja, para eles uma grande conquista do mundo moderno. A ordenação do Estado à Igreja seria acidental* ou indevida. Uma intromissão, uma usurpação de direitos.

Quando menciona em meios católicos que o socialismo foi anatematizado pelo Magistério, essa gente maliciosa omite o fato de pesar sobre o liberalismo pluriforme uma condenação ainda maior, de vários Papas. Em síntese, esses liberais eliminam um dos dois gládios da Igreja militante (o principal deles), e, assim, se sentem bem mais à vontade para defender a idéia de que o católico ou será de direita ou... anathema sit! Pura cortina de fumaça para estabelecer uma mentira insidiosa, afrontosa à fé e, por conseguinte, contrária ao Magistério.

De acordo com o ensinamento da Igreja, na prática o católico não pode ser fundamentalmente nem de direita nem de esquerda, nem socialista nem liberal, ainda que acidentalmente lhe seja lícito escolher (em matérias opináveis e em situações de extremo perigo para a configuração política) candidatos que, pelo menos no essencial, não contrariem as verdades da fé.

Outra coisa: se atualmente o Reinado Social de Cristo é na prática materialmente impossível — pois para tanto o mundo democratista precisaria ser recristianizado pela doutrina tradicional da Igreja e pelo sangue dos mártires —, isto não implica que não devamos proclamá-lo como verdade pétrea, uma espécie de cláusula inegociável.

Todo cuidado é pouco com esses lobos em pele de cordeiro!

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Algoritmos da ingratidão


A ingratidão tem uma vasta tipologia especificada pelos motivos que a conformam. É-se ingrato por malícia; é-se ingrato por fraqueza; é-se ingrato por ignorância. Estas três espécies gerais da ingratidão se subdividem em incontáveis tipos mais ou menos deletérios, os quais muitas vezes se mesclam e cooperam de diferentes maneiras para fazer arraigar na alma de alguém este vício.

Exemplifiquemos:

> O estúpido — enquadrado na subespécie da ignorância — não pode ser grato;

> O susceptível — enquadrado na subespécie da fraqueza — não pode ser grato;

> O invejoso — enquadrado na subespécie da malícia — não pode ser grato.

Enfatize-se que se está a falar do hábito da ingratidão, e não de atos isolados dela, embora estes últimos representem sinais de fumaça a indicar o seguinte: nalgum lugar crepita um fogo horroroso, o fogo da doença que despersonaliza a pessoa e a torna refém de emoções desgovernadas, as quais vão aos poucos afastando a inteligência do centro da personalidade. Em suma, o ingrato é derrotado por paixões que o fazem não enxergar a beleza dos valores morais. Este verdadeiro aleijão gnosiológico cria uma deformidade monstruosa na vontade, que, a partir de certa altura, passa a apetecer o bem caoticamente — sem ordená-lo de acordo com os graus de ser pelos quais se faz presente na realidade.

Os algoritmos conformadores da ingratidão são análogos à tabela periódica da química, na qual os elementos estão sistematicamente dispostos de acordo com as suas propriedades. No caso de que se trata, a mescla entre graus de impureza no ato propriamente humano contribui para formar-se o hábito da ingratidão; conhecer, pois, o magma funesto dessas combinações é imprescindível para o estudioso da alma humana elaborar o juízo que aquilatará, em cada circunstância, o tamanho desta enfermidade moral. Tais misturas são os reais ingredientes da ingratidão; se forem compreendidas a contento, podem até trazer a cura a quem padece deste mal.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Papa Francisco muda o parágrafo do Catecismo sobre a pena de morte


O Santo Padre recebeu em audiência, no dia 11 de maio p.p., no Vaticano, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Luís Ladaria, durante a qual aprovou a nova redação do Catecismo da Igreja Católica (n. 2267), sobre a “pena de morte”.

O novo Rescrito do Papa, ou seja, a decisão papal sobre a questão da pena de morte, foi publicado na manhã desta quinta-feira, no Vaticano:

“Durante muito tempo, o recurso à pena de morte, por parte da legítima autoridade, era considerada, depois de um processo regular, como uma resposta adequada à gravidade de alguns delitos e um meio aceitável, ainda que extremo, para a tutela do bem comum”.

No entanto, hoje, torna-se cada vez mais viva a consciência de que a dignidade da pessoa não fica privada, apesar de cometer crimes gravíssimos. Além do mais, difunde-se uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado. Enfim, foram desenvolvidos sistemas de detenção mais eficazes, que garantem a indispensável defesa dos cidadãos, sem tirar, ao mesmo tempo e definitivamente, a possibilidade do réu de se redimir.

É isso que o Papa João Paulo II afirma na sua encíclica Evangelium Vitae, no número 56, porém, mantendo a possibilidade da pena de morte "em casos de absoluta necessidade":

"Nesta linha, coloca-se o problema da pena de morte, à volta do qual se registra, tanto na Igreja como na sociedade, a tendência crescente para pedir uma aplicação muito limitada, ou melhor, a total abolição da mesma. O problema há-de ser enquadrado na perspectiva de uma justiça penal, que seja cada vez mais conforme com a dignidade do homem e portanto, em última análise, com o desígnio de Deus para o homem e a sociedade. Na verdade, a pena, que a sociedade inflige, tem «como primeiro efeito o de compensar a desordem introduzida pela falta». A autoridade pública deve fazer justiça pela violação dos direitos pessoais e sociais, impondo ao réu uma adequada expiação do crime como condição para ser readmitido no exercício da própria liberdade. Deste modo, a autoridade há-de procurar alcançar o objetivo de defender a ordem pública e a segurança das pessoas, não deixando, contudo, de oferecer estímulo e ajuda ao próprio réu para se corrigir e redimir.

Claro está que, para bem conseguir todos estes fins, a medida e a qualidade da pena hão-de ser atentamente ponderadas e decididas, não se devendo chegar à medida extrema da execução do réu senão em casos de absoluta necessidade, ou seja, quando a defesa da sociedade não fosse possível de outro modo. Mas, hoje, graças à organização cada vez mais adequada da instituição penal, esses casos são já muito raros, se não mesmo praticamente inexistentes.

Em todo o caso, permanece válido o princípio indicado pelo novo Catecismo da Igreja Católica: « na medida em que outros processos, que não a pena de morte e as operações militares, bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e para proteger a paz pública, tais processos não sangrentos devem preferir-se, por serem proporcionados e mais conformes com o fim em vista e a dignidade humana »." (EV)

A possibilidade de pena de morte, no entanto, foi repensada pelo Papa Francisco considerando "sistemas de detenção mais eficazes".

Por isso, a Igreja ensina, no Novo Catecismo, à luz do Evangelho, que “a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa, e se compromete, com determinação, em prol da sua abolição no mundo inteiro”.