segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O que Henrique Meirelles pensa sobre religião, aborto e casamento gay?



O nome do atual ministro da Fazenda ainda aparece tímido nas pesquisas de intenção de voto – chegando a cerca de 3%. Apesar de pertencer a uma família de políticos e ter um nome bastante conhecido no meio corporativo, principalmente por sua atuação como presidente mundial do BankBoston, Meirelles só entrou na vida política brasileira no início dos anos 2000. Na época, ele se filiou ao PSDB. Nos oito anos à frente do Banco Central, durante os dois mandatos do ex-presidente Lula, procurou combater a alta inflação no país.

Entretanto, mesmo com toda sua bagagem profissional, o ministro nunca concorreu a nenhum cargo eletivo. Por esse motivo, seu posicionamento sobre determinados assuntos não é facilmente encontrado em entrevistas e reportagens. Um exemplo são temas morais como o aborto e o casamento gay, comumente verificados pelo Sempre Família nesta série de matérias sobre as eleições de 2018.

Como citado pela Gazeta do Povo, em novembro, o ministro “pouco se manifesta sobre seu posicionamento com relação a comportamento e costumes”. Ainda assim, nos últimos tempos, ele começou a se aproximar dos eleitores evangélicos, “indicando ter uma tendência mais conservadora do que liberal nos costumes”. Quando trata de religião, Meirelles se intitula “católico por formação”. De acordo com o ministro, sua família sempre foi católica. 

domingo, 26 de agosto de 2018

Irlanda: "A Igreja é a família dos filhos de Deus", diz Papa


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À IRLANDA POR OCASIÃO DO IX ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS
(25-26 DE AGOSTO DE 2018)

CELEBRAÇÃO COM AS FAMÍLIAS

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

Dublin - Croke Park Stadium
Sábado, 25 de agosto de 2018

Dia dhaoibh! [“Boa noite” em gaélico]

Queridos irmãos e irmãs, boa noite!

Obrigado pelas vossas calorosas boas-vindas. É bom estar aqui! É bom celebrar, porque nos torna mais humanos e mais cristãos. Também nos ajuda a partilhar a alegria de saber que Jesus nos ama, acompanha no percurso da vida e, cada dia, nos atrai para mais perto de Si.

Em cada celebração familiar, sente-se a presença de todos: pais, mães, avós, netos, tios e tias, primos, quem não pôde vir e quem vive demasiado longe, todos. Hoje, em Dublin, reunimo-nos para uma celebração familiar de ação de graças a Deus pelo que somos: uma única família em Cristo, espalhada por toda a terra. A Igreja é a família dos filhos de Deus; uma família, onde se regozija com aqueles que estão na alegria e se chora com aqueles que estão na tribulação ou se sentem desanimados com a vida. Uma família onde se cuida de cada um, porque Deus nosso Pai nos fez, a todos, seus filhos no Batismo. Por isso mesmo, continuo a encorajar os pais a levar ao Batismo os filhos logo que possível, para que se tornem parte da grande família de Deus. É preciso convidar cada um para a festa, também a criança pequena! E por isso deve ser batizada o quanto antes. E tem outra coisa: se a criança desde pequena é batizada, o Espírito Santo entra no seu coração. Façamos uma comparação: uma criança sem Batismo - pois os pais dizem: «Não, quando for maior» - e uma criança com o Batismo, com o Espírito Santo dentro de si: ela é mais forte, porque tem dentro a força de Deus!

Vós, queridas famílias, sois a grande maioria do povo de Deus. Que fisionomia teria a Igreja sem vós? Uma Igreja de estátuas, uma Igreja de pessoas solitárias... Foi para nos ajudar a reconhecer a beleza e a importância da família, com as suas luzes e sombras, que foi escrita a Exortação Amoris laetitia sobre a alegria do amor, e quis que o tema deste Encontro Mundial das Famílias fosse «O Evangelho da família, alegria para o mundo». Deus quer que cada família seja um farol que irradia a alegria do seu amor pelo mundo. Que significa isto? Significa que nós, depois de ter encontrado o amor de Deus que salva, procuramos, com palavras ou sem elas, manifestá-lo através de pequenos gestos de bondade na vida rotineira de cada dia e nos momentos mais simples da jornada.

E isto como se chama?Isto se chama santidade. Gosto de falar dos santos «ao pé da porta», de todas aquelas pessoas comuns que refletem a presença de Deus na vida e na história do mundo (cf. Exort. ap. Gaudete et exsultate, 6-7). A vocação ao amor e à santidade não é algo reservado para poucos privilegiados. Não. Mesmo agora, se tivermos olhos para ver, podemos vislumbrá-la ao nosso redor. Está silenciosamente presente no coração de todas as famílias que oferecem amor, perdão, misericórdia, quando veem que há necessidade, e fazem-no tranquilamente, sem tocar a tromba. O Evangelho da família é, verdadeiramente, alegria para o mundo, visto que lá, nas nossas famílias, sempre se pode encontrar Jesus; lá habita, em simplicidade e pobreza, como fez na casa da Sagrada Família de Nazaré.

O matrimónio cristão e a vida familiar são compreendidos em toda a sua beleza e fascínio, se estiverem ancorados no amor de Deus, que nos criou à sua imagem para podermos dar-Lhe glória como ícones do seu amor e da sua santidade no mundo. Pais e mães, avôs e avós, filhos e netos são todos chamados a encontrar, na família, a realização do amor. A graça de Deus ajuda dia a dia a viver com um só coração e uma só alma. Mesmo as sogras e as noras! Ninguém diz que seja fácil, sabeis melhor do que eu. É como preparar um chá: é fácil ferver a água, mas uma boa taça de chá requer tempo e paciência; é preciso deixar em infusão! Então, dia após dia, Jesus aquece-nos com o seu amor, fazendo de modo que penetre todo o nosso ser. Do tesouro do seu Sagrado Coração, derrama sobre nós a graça que precisamos para curar as nossas enfermidades e abrir a mente e o coração para nos escutarmos, compreendermos e perdoarmos uns aos outros.

Irlanda: Discurso do Papa no Centro de Acolhimento para Famílias sem-casa


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO 
À IRLANDA POR OCASIÃO DO IX ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS
(25-26 DE AGOSTO DE 2018)

VISITA AO CENTRO DE ACOLHIMENTO PARA FAMÍLIAS SEM-CASA

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE

Centro de acolhimento dos Padres Capuchinhos 
Dublin, Sábado, 25 de agosto de 2018

Querido irmão, querido bispo, queridos irmãos Capuchinhos e todos vós, irmãos e irmãs!

O senhor [NT: dirigindo-se ao Padre Capuchinho que fez a apresentação] disse que os Capuchinhos são conhecidos como os frades do povo, próximos do povo, e isso é verdade. E se por vezes alguma comunidade capuchinha se afasta do povo de Deus, ela cai. Vós tendes uma sintonia especial com o povo de Deus, antes bem, com os pobres. Tendes a graça de contemplar as chagas de Jesus em pessoas que passam necessidade, que sofrem, que não são felizes ou que não têm coisa alguma, ou estão cheias de vícios e falhas. Para vós é a carne de Cristo. Este é o vosso testemunho e a Igreja precisa desse testemunho. Obrigado.

Depois direi outra coisa a vós [NT: dirigindo-se aos pobres]. Outra coisa que o Frei disse e que tocou meu coração: que vós não pedis nada aqui. É Jesus quem vem [nos pobres]. Não peçais coisa alguma. Aceitai a vida como ela se apresenta, oferecei consolo e, se necessário, perdoai. Isso me faz pensar - como uma chamada de atenção - aos sacerdotes que, ao contrário, vivem fazendo perguntas sobre a vida das pessoas e na Confissão cavam, cavam, cavam nas consciências... O vosso testemunho ensina os sacerdotes a escutar, ser próximos, perdoar e não perguntar muito. Ser simples, como Jesus contou que fez aquele pai, quando o filho voltou cheio de pecados e vícios: o pai não se sentou no confessionário e se pôs a perguntar e perguntar; ele acolheu o arrependimento do filho e o abraçou. Que o vosso testemunho para o povo de Deus, e este coração capaz de perdoar sem causar sofrimento, alcance todos os sacerdotes. Obrigado!

O que Jair Bolsonaro pensa sobre religião, aborto e casamento gay?



Polêmico. Não importa se você é contra ou a favor às ideias do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), é bem provável que essa seja uma das primeiras palavras que venha à sua mente para defini-lo. Grande parte da imprensa e dos analistas políticos o rotula de extremista, radical, grosseiro e até “ultraconservador”, contudo, pesquisas de opinião recentes não deixam dúvida sobre sua crescente força política que, para muitos, deve-se justamente à coragem de assumir posturas pouco convencionais na política brasileira.

Ex-capitão do exército e ferrenho defensor do regime militar vivido no Brasil décadas atrás, Bolsonaro ficou em segundo lugar na pesquisa espontânea CNT/MDA sobre as eleições presidenciais 2018, divulgada em fevereiro deste ano, ficando atrás apenas do ex-presidente Lula.

Em março do ano passado, quando trocou a legenda em que estava filiado (passando do PP para o PSC – Partido Social Cristão) o parlamentar foi apresentado pelo presidente do partido, o pastor Everaldo, como pré-candidato. Pastor Everaldo também foi quem batizou Bolsonaro nas águas do Rio Jordão, em Israel, em maio de 2016.

No dia 6 de setembro, Bolsonaro foi atingido por uma facada enquanto fazia campanha em Juiz de Fora (MG). 

O agressor foi preso em flagrante e conduzido para a Delegacia da PF naquele município. O agressor é formado em pedagogia, foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014 e tem passagem na polícia em 2013 por lesão corporal. 

O candidato chegou em estado de choque e com uma hemorragia forte na Santa Casa de Misericórdia da cidade. 

A hemorragia foi contida e ele foi operado. Na manhã do dia 7, o candidato foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo onde está se recuperando.

Gostem ou não os chamados “formadores de opinião”, Bolsonaro é um nome forte e as chances dele chegar ao Planalto são reais. Por isso, convém ao eleitorado saber exatamente o que ele pensa sobre assuntos morais tão caros ao público conservador. 

sábado, 25 de agosto de 2018

Polêmica: Lula participará de debate em emissora católica?


A presença do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na lista de confirmados no próximo debate presidencial promovido pela Rede Aparecida de televisão no próximo 20/09 gerou polêmica entre os católicos nas redes sociais posto que não foram oferecidas explicações ao público de como o ex-presidente participará do evento já que o mesmo se encontra preso e ainda impedido de participar do pleito eleitoral pela lei da ficha limpa.

Em nota publicada no seu site oficial no dia 21 (e atualizada na manhã do 22), a TV Aparecida afirmava que Lula estava entre os candidatos que confirmaram presença para o seu próximo debate entre candidatos à Presidência da República.

“Em reunião realizada nesta quinta-feira, 16, os representantes de nove partidos políticos confirmaram a presença de seus candidatos no Debate de Aparecida no dia 20 de setembro no Santuário Nacional. Os candidatos confirmados são Guilherme Boulos (PSOL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL)”, diz a nota veiculada pelo portal oficial da emissora católica.

O texto explicava aos leitores que “de acordo com a legislação, é obrigatório o convite aos candidatos dos partidos que tiverem representação no Congresso Nacional” e que o “ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está preso por condenação em segunda instância na Lava Jato, mas o PT confirmou sua presença no Debate”.

“Lula aguarda ainda a análise e julgamento do registro de sua candidatura no TSE”, destacava também o texto publicado pela emissora católica que pela segunda vez promove a iniciativa.

ACI Digital entrou em contato com a Sala de Imprensa do Santuário Nacional de Aparecida para esclarecer os fatos e obteve como resposta que não foi Lula quem confirmou ao Santuário sua presença no evento, mas seu partido, o PT (Partido dos Trabalhadores), quem confirmou à TV Aparecida que seu candidato participaria, sem oferecer à rede de televisão maiores explicações ou detalhes.

Irlanda: Discurso oficial do Papa aos casais reunidos na Catedral de Dublin


Viagem do Papa Francisco à Irlanda, por ocasião do 
9º Encontro Mundial das Famílias 
Encontro com casais na Catedral de Dublin
Discurso oficial 
Sábado, 25 de agosto de 2018

Queridos amigos!

Sinto-me feliz pela possibilidade de vos encontrar nesta histórica pró-Catedral de Santa Maria, que, ao longo dos anos, foi testemunha de inúmeras celebrações do sacramento do matrimónio. Neste lugar sagrado, quanto amor se manifestou, quantas graças foram recebidas! Agradeço ao Arcebispo Martin as suas cordiais boas-vindas. Motivo de particular alegria para mim é poder estar convosco, casais de noivos e de esposos que vos encontrais nas diferentes fases do percurso do amor sacramental.

De modo especial, agradeço o testemunho de Vincent e Teresa, que nos falaram da sua experiência de cinquenta anos de matrimónio e de vida familiar. Obrigado quer pelas palavras de encorajamento quer pelos desafios que apresentastes às novas gerações de recém-casados e de noivos, não apenas aqui na Irlanda, mas em todo o mundo. Como é importante ouvir os idosos, os avós! Temos muito a aprender da vossa experiência de vida matrimonial, sustentada dia a dia pela graça do sacramento. Crescendo juntos nesta comunidade de vida e de amor, experimentastes muitas alegrias e também, certamente, não poucos sofrimentos. Juntamente com todos os esposos que já percorreram um longo pedaço do caminho, sois os guardiões da nossa memória coletiva. Precisaremos sempre do vosso testemunho, cheio de fé. É um recurso precioso para os noivos, que olham para o futuro com emoção e esperança… e talvez com um pouco de ansiedade!

Agradeço também aos noivos que me fizeram algumas perguntas ousadas. Não é fácil responder a estas perguntas! Denis e Sinead estão prestes a embarcar num percurso de amor que, segundo o desígnio de Deus, implica um compromisso para a vida inteira. Perguntaram como podem ajudar outros a compreenderem que o matrimónio não é simplesmente uma instituição, mas uma vocação, uma decisão consciente e para toda a vida de ocupar-se, ajudar-se e proteger-se mutuamente.

Irlanda: Discurso do Papa no Encontro com Autoridades e Corpo Diplomático



Viagem do Papa Francisco à Irlanda, por ocasião do 9º Encontro Mundial das Famílias
Encontro com Autoridades, Sociedade Civil e Corpo Diplomático
Castelo de Dublin
Sábado, 25 de agosto de 2018

Taoiseach [Primeiro-Ministro],
Membros do Governo e do Corpo Diplomático,
Senhores e senhoras!

No princípio da minha visita à Irlanda, sinto-me agradecido pelo convite a falar a esta distinta Assembleia, que representa a vida civil, cultural e religiosa do país, e também ao Corpo Diplomático e aos convidados. Agradeço o acolhimento amigo por parte do Presidente da Irlanda, que reflete a tradição de cordial hospitalidade pela qual são conhecidos os irlandeses em todo o mundo. Congratulo-me igualmente com a presença duma delegação da Irlanda do Norte.

Como sabeis, o motivo da minha visita é participar no Encontro Mundial das Famílias, que este ano se realiza em Dublin. Na realidade, a Igreja é uma família de famílias e sente a necessidade de apoiar as famílias nos seus esforços por responder fiel e jubilosamente à vocação que Deus lhes deu na sociedade. Para as famílias, este Encontro é uma oportunidade não só para reafirmar o seu compromisso de fidelidade amorosa, ajuda mútua e respeito sagrado pelo dom divino da vida em todas as suas formas, mas também para testemunhar o papel único desempenhado pela família na educação dos seus membros e no desenvolvimento de um tecido social sadio e vigoroso.

Apraz-me ver o Encontro Mundial das Famílias como um testemunho profético do rico patrimônio de valores éticos e espirituais, que cada geração tem a tarefa de guardar e proteger. Não é preciso ser profeta para se dar conta das dificuldades que enfrentam as famílias na sociedade atual em rápida evolução ou para se preocupar com os efeitos que o transtorno do matrimônio e da vida familiar inevitavelmente implicará, a todos os níveis, para o futuro das nossas comunidades. A família é a coesão da sociedade; o seu bem não pode ser dado como garantido, mas deve ser promovido e tutelado com todos os meios apropriados.

É na família que cada um de nós deu os primeiros passos na vida. Lá aprendemos a conviver em harmonia, a controlar os nossos instintos egoístas, a conciliar as diversidades e sobretudo a discernir e procurar os valores que dão sentido autêntico e plenitude à vida. Se falamos do mundo inteiro como duma só família, é porque justamente reconhecemos os laços da nossa humanidade comum e intuímos a chamada à unidade e à solidariedade, especialmente em relação aos irmãos e irmãs mais vulneráveis. Todavia, muitas vezes, sentimo-nos impotentes face aos males persistentes do ódio racial e étnico, a conflitos e violências inextrincáveis, ao desprezo pela dignidade humana e os direitos humanos fundamentais e ao desnível crescente entre ricos e pobres. Quanta necessidade temos de recuperar, em cada área da vida política e social, o sentido de ser uma verdadeira família de povos! E de nunca perder a esperança e a coragem de perseverar no imperativo moral de sermos obreiros de paz, reconciliadores e guardiões uns dos outros.

Este desafio tem uma ressonância particular aqui, na Irlanda, visto o longo conflito que separou irmãos e irmãs duma única família. Vinte anos atrás, a comunidade internacional acompanhou atentamente os acontecimentos na Irlanda do Norte, que levaram à assinatura do Acordo de Sexta-feira Santa. O governo irlandês, juntamente com os líderes políticos, religiosos e civis da Irlanda do Norte e do governo britânico e com o apoio de outros líderes mundiais, deu vida a um contexto dinâmico tendente a resolver pacificamente um conflito que causara enormes sofrimentos em ambos os lados. Podemos dar graças pelas duas décadas de paz que se seguiram a este Acordo histórico, ao mesmo tempo que expressamos a firme esperança de que o processo de paz supere qualquer obstáculo que ainda reste e favoreça o nascimento dum futuro de concórdia, reconciliação e confiança mútua.

O Evangelho lembra-nos que a paz verdadeira, em última análise, é dom de Deus; brota de corações sanados e reconciliados e estende-se até abraçar o mundo inteiro. Mas requer também, da nossa parte, uma conversão constante, fonte dos recursos espirituais que são necessários para construir uma sociedade verdadeiramente solidária, justa e ao serviço do bem comum. Sem este fundamento espiritual, o ideal duma família global de nações corre o risco de não passar dum «lugar-comum» vazio. Poderemos afirmar que o objetivo de gerar prosperidade econômica levará, por si mesmo, a uma ordem social mais justa e equitativa? Não poderia, pelo contrário, acontecer que o aumento duma «cultura do descarte», materialista, nos tenha realmente tornado cada vez mais indiferentes aos pobres e aos membros mais indefesos da família humana, incluindo os nascituros privados do próprio direito à vida? O desafio, que talvez mais provoque as nossas consciências nestes tempos, é esta maciça crise migratória que não tende a desaparecer e cuja solução exige sabedoria, perspectivas amplas e uma preocupação humanitária que ultrapasse em muito decisões políticas de curto prazo.

Conheço bem a condição dos nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis – penso de modo especial nas mulheres que no passado sofreram com situações de uma particular dificuldade. Considerando os mais vulneráveis, não posso deixar de reconhecer o grave escândalo causado na Irlanda pelos abusos sobre menores por parte de membros da Igreja encarregados de os proteger e educar. O falimento das autoridades eclesiásticas – bispos, superiores religiosos, sacerdotes e outros – ao enfrentarem adequadamente estes crimes repugnantes suscitou, justamente, indignação e continua a ser causa de sofrimento e vergonha para a comunidade católica. Eu próprio partilho estes sentimentos. O meu predecessor, Papa Bento, não poupou palavras para reconhecer a gravidade da situação e pedir que fossem tomadas medidas «verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes» em resposta a esta traição de confiança (cf. Carta pastoral aos Católicos da Irlanda, 10). A sua intervenção franca e decidida continua a servir de incentivo aos esforços das autoridades eclesiais por remediar os erros passados e adotar normas rigorosas tendentes a assegurar que os mesmos não voltem a acontecer.

De facto, cada criança é um dom precioso de Deus que devemos guardar, encorajar no desenvolvimento dos seus dons e levar à maturidade espiritual e à plenitude humana. A Igreja na Irlanda desempenhou, no passado e no presente, um papel de promoção do bem das crianças que não pode ser ofuscado. A minha esperança é que a gravidade dos escândalos dos abusos, que fizeram emergir as culpas de muitos, sirva para evidenciar a importância da proteção de menores e adultos vulneráveis por parte da sociedade inteira. Neste sentido, todos temos consciência da necessidade urgente de oferecer aos jovens um acompanhamento sábio e valores sadios para o seu caminho de crescimento. 

O que Ciro Gomes pensa sobre religião, aborto e casamento gay?


Depois de duas tentativas frustradas em 1998 e 2002, Ciro Gomes (PDT) está de volta no páreo para disputar a presidência da República em 2018. Membro de uma família tradicional na política cearense, Ciro se apoia em seu largo currículo político e nas críticas ácidas contra possíveis adversários dadas em entrevistas – entre os seus alvos, estão desde Lula e Marina Silva a João Doria e Jair Bolsonaro. No que diz respeito aos temas morais, as muitas declarações dadas por Ciro enquadram-se perfeitamente na categoria liberal, embora ele próprio tente evitar o rótulo.

Nascido em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, Ciro mora no Ceará, terra do seu pai, desde os quatro anos de idade. Formou-se em Direito na Universidade Federal do Ceará e cursou Economia na Harvard Law School. Ele entrou para a vida pública aos 20 anos, quando seu pai, então prefeito de Sobral, o nomeou procurador do município.

Em 1982, aos 25 anos, conquistou seu primeiro cargo eletivo, como deputado estadual. Aos 31, já era prefeito de Fortaleza, aos 33, governador do Ceará e aos 37, ministro da Fazenda, no governo de Itamar Franco. Nesse período, passou pelo PMDB e pelo PSDB.  Em 1996, migrou para o PPS, pelo qual concorreu à presidência da República em 1998 e 2002. Conquistou quase 10,97% dos votos na primeira tentativa e 11,97% na segunda. Durante o primeiro mandato de Lula foi ministro da Integração Nacional. Entrou para o PSB em 2005 e foi eleito deputado federal em 2006. Em 2010 e 2014, não se candidatou a nenhum cargo.

Desde 2015, depois de uma passagem pelo PROS, está no PDT, seu sétimo partido, no qual é vice-presidente. Ele recusou para si todas as aposentadorias derivadas dos cargos políticos que ocupou até hoje. “Sou um socialista democrático em permanente revisão. No Brasil, até os adjetivos esquerda e direita são malversados”, afirmou à BBC em 2017. “Eu sou considerado um comunista para a direita e sou considerado um direitista para a esquerda. Ou seja, estou na posição correta”.

Ao mesmo tempo em que considera o ícone conservador Winston Churchill “o maior homem do século XX”, Ciro afirma que concorrer à presidência em uma chapa com Fernando Haddad (PT) “seria o dream team”.