VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE
MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)
ENCONTRO COM A COMUNIDADE ROM
SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE
Bairro
Lautaro, Blaj
Domingo,
2 de junho de 2019
Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!
Estou feliz por vos encontrar e agradecido
pela vossa receção. Padre Ioan, não te enganas, quando afirmas estar certo
desta verdade, segura mas às vezes esquecida: na Igreja de Cristo, há espaço
para todos. Se não fosse assim, não seria a Igreja de Cristo. A Igreja é lugar
de encontro, e precisamos de o lembrar, não como um belo slogan, mas como parte
do nosso cartão de identidade de cristãos. Tu no-lo recordaste, dando como
exemplo o bispo mártir Ioan Suciu, que soube plasmar em gestos concretos este
desejo de Deus Pai: encontrar-se com cada pessoa na amizade e na partilha. O
Evangelho transmite-se na alegria de encontrar-se e saber que temos um Pai que
nos ama. Sob o olhar d’Ele, compreendemos como olhar-nos entre nós. Com este
espírito, quis cumprimentar-vos, fixar os meus olhos nos vossos, fazer-vos
entrar no coração, na oração, com a confiança de entrar, também eu, na vossa
oração e no vosso coração.
No coração, porém, trago um peso. É o peso das
discriminações, segregações e maus-tratos sofridos pelas vossas comunidades. A
história diz-nos que os próprios cristãos, os próprios católicos não são
alheios a tanto mal. Quero pedir perdão por isso. Em nome da Igreja, peço
perdão, ao Senhor e a vós, por todas as vezes que, ao longo da história, vos
discriminamos, maltratamos ou consideramos de forma errada, com o olhar de Caim
em vez do de Abel, e não fomos capazes de vos reconhecer, apreciar e defender
na vossa peculiaridade. A Caim, não importa o irmão. É na indiferença que se
alimentam preconceitos e fomentam rancores. Quantas vezes julgamos,
imprudentemente, com palavras que doem, com atitudes que semeiam ódio e criam
distâncias! Quando se deixa alguém para trás, a família humana não avança. Não
somos completamente cristãos, nem sequer humanos, se não soubermos ver a pessoa
antes das suas ações, antes dos nossos juízos e preconceitos.
Sempre houve, na história da humanidade, Abel
e Caim. Há a mão estendida e a mão que fere. Há a abertura do encontro e o
fechamento do desencontro. Há a hospitalidade e há o descarte. Há quem veja no
outro um irmão e quem nele veja um obstáculo no próprio caminho. Há a
civilização do amor e há a do ódio. Cada dia, há que escolher entre Abel e
Caim. Como sucede perante uma encruzilhada, frequentemente impõe-se-nos fazer
uma escolha decisiva: seguir o caminho da reconciliação ou o da vingança.
Escolhamos o caminho de Jesus; trata-se dum caminho que exige esforço, mas é o
caminho que conduz à paz. E passa através do perdão. Não nos deixemos arrastar
pelos ressentimentos que incubamos dentro de nós: não demos qualquer espaço ao
rancor. Porque nenhum mal resolve outro mal, nenhuma vingança satisfaz uma
injustiça, nenhum ressentimento faz bem ao coração, nenhum fechamento aproxima.