A suprema deslealdade para com Deus é a
heresia. É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus desdenha
neste mundo enfermo. No entanto, quão pouco entendemos da sua enorme
odiosidade! É a poluição da verdade de Deus, o que é a pior de todas as
impurezas.
Porém, quão pouca importância damos à heresia!
Fitamo-la e permanecemos calmos... Tocamo-la e não trememos. Misturamos-nos com
ela e não temos medo. Vemo-la tocar nas coisas sagradas e não temos nenhum
sentido do sacrilégio. Inalamos o seu odor e não mostramos qualquer sinal de
abominação ou de nojo. De entre nós, alguns simpatizam com ela e alguns até
atenuam a sua culpa. Não amamos a Deus o suficiente para nos enraivecermos por
causa da Sua glória. Não amamos os homens o suficiente para sermos
caridosamente verdadeiros por causa das suas almas.
Tendo perdido o tato, o paladar, a visão e
todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de morar no meio desta
praga odiosa, imperturbavelmente tranquilos, reconciliados com a sua repulsividade,
e não sem proferirmos declarações em que nos gabamos de uma admiração liberal,
talvez até com uma demonstração solícita de simpatia tolerante.
Por que estamos tão abaixo dos antigos santos,
e até dos modernos apóstolos destes últimos tempos, na abundância das nossas
conversões? Porque não temos a antiga firmeza! Falta-nos o velho espírito da
Igreja, o velho génio eclesiástico. A nossa caridade não é sincera porque não é
severa, e não é persuasiva porque não é sincera.