domingo, 5 de janeiro de 2020

Palavra de Vida: “Trataram-nos com invulgar humanidade” (At 28, 2)



Duzentos e setenta e seis náufragos chegam à costa de uma ilha do Mediterrâneo, depois de duas semanas à deriva. Estão encharcados, esgotados, aterrorizados: experimentaram a impotência perante as forças da natureza e sentiram-se perto da morte.

Entre eles, está um prisioneiro com destino a Roma, para ser julgado pelo Imperador.

Sim, porque esta crônica não saiu de um noticiário da atualidade, mas é a narração de uma experiência do apóstolo Paulo, conduzido a Roma para coroar a sua missão de evangelização, através do testemunho do martírio.

Ele, sustentado pela sua fé inabalável na Providência, apesar da condição de prisioneiro, conseguiu dar alento aos outros companheiros de infortúnio, até desembarcarem numa praia de Malta.

Ali, os habitantes vêm ao encontro deles, acolhem-nos ao redor duma grande fogueira para restaurarem as forças e, depois, cuidam deles. Passados três meses, no final do inverno, dão-lhes o necessário para continuar a viagem em segurança.

“Trataram-nos com invulgar humanidade”

Paulo e os outros náufragos experimentam a humanidade calorosa e concreta daquela população que ainda não tinha sido tocada pela luz do Evangelho. É um acolhimento que não é apressado nem impessoal, mas que sabe pôr-se ao serviço do hóspede, sem preconceitos culturais, religiosos ou sociais. Para o fazer, é indispensável o envolvimento pessoal e de toda a comunidade.

A capacidade de acolher o outro faz parte do ADN de qualquer pessoa, como criatura que traz gravada em si a imagem do Pai misericordioso, mesmo quando a fé cristã não foi ainda acesa ou esmoreceu. É uma lei inscrita no coração humano, que a Palavra de Deus ilumina e valoriza, desde Abraão até à surpreendente revelação de Jesus: «Era estrangeiro e acolhestes-me».

O próprio Senhor oferece-nos a força da sua graça, para que a nossa vontade frágil chegue à plenitude do amor cristão.

Com esta experiência, Paulo ensina-nos também a confiar na intervenção providencial de Deus, a reconhecer e a apreciar o bem recebido através do amor concreto de tantos que se cruzam no nosso caminho.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2020



MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA PAZ

1º DE JANEIRO DE 2020

«A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA:
DIÁLOGO, RECONCILIAÇÃO E CONVERSÃO ECOLÓGICA»

1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e provações

A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho»[1]. Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.

A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.

As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.

Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo facto de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemónicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.

Como fiz notar durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que «o nosso mundo viva a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã»[2].

Toda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.

Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros[3]. Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?

Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos. 

sábado, 28 de dezembro de 2019

Estado Islâmico divulga vídeo decapitando onze reféns cristãos um dia após o Natal



O grupo extremista Província do Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP) divulgou na última quinta-feira um vídeo que mostra 11 reféns cristãos sendo decapitados por terroristas.

As mortes ocorreram depois que os reféns pediram, em um vídeo anterior, que a Associação Cristã da Nigéria (CAN) negociasse sua libertação. Segundo a mídia local, o ISWAP ainda poupou a vida dos dois muçulmanos.

O EI disse que a ação faz parte de sua campanha, lançada no dia 22 de dezembro, para "vingar" as mortes de seu líder Abu Bakr al-Baghdadi e seu porta-voz, na Síria, em outubro deste ano. Desde então, o grupo vem reivindicando uma enxurrada de ataques em vários países.

Não foram dados detalhes sobre as vítimas, que eram todos homens, mas o EI alega que elas foram "capturadas nas últimas semanas" no nordeste do estado de Borno, na Nigéria, onde militantes lutam há anos para estabelecer um estado islâmico separado.

O vídeo tem duração de 56 segundos e mostra homens de uniforme bege e máscaras pretas alinhados atrás de reféns de olhos vendados, depois atirando em um e decapitando o resto.

O grupo militante postou as imagens em seu canal de notícias online do Telegram na quinta-feira, um dia após o Natal, com legendas em árabe, mas sem áudio. Analistas dizem que o material foi claramente lançado para coincidir com as celebrações do Natal. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Natal perseguido: 6 países em que o Menino Jesus é “proibido de nascer”



Se o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José contaram com hostilidades que iam das portas na cara até a sanguinária perseguição perpetrada por Herodes, a situação dos cristãos hoje em dia em várias partes do nosso mundo não é muito mais favorável nem sequer em épocas natalinas.

Além da opressiva mercantilização e laicização forçada do Natal no mundo dito “livre” e “rico”, há países em que celebrar o nascimento de Jesus é oficialmente proibido – e pode levar a penas que incluem a morte.

Nesses países, há principalmente duas causas para essa hostilidade: a ideologia comunista, em alguns, e o fundamentalismo islâmico na maioria dos outros.

Entre os casos mais chamativos, estão os dos seguintes países:

1 – Brunei


Cinco anos de cadeia: esta é a pena que esse pequeno país muçulmano da ilha de Bornéu pode aplicar a quem cometer o “crime” de… celebrar o Natal!

O sultão da monarquia absolutista de Brunei, Hassanal Bolkiah (foto), estabeleceu esta pena para quem for descoberto aderindo de algum modo às festividades natalinas, ainda que seja apenas mediante o envio de augúrios de Natal a parentes e amigos. Os não muçulmanos até podem celebrar o Natal no país, desde que seja apenas dentro das próprias comunidades e com a devida permissão das autoridades. 

O Ministro de Assuntos Religiosos declarou que as medidas “antinatalinas” pretendem evitar “celebrações excessivas e abertas, que poderiam prejudicar a aqidah (fé) da comunidade muçulmana”. Dos 420.000 habitantes do país, que é rico em petróleo, 65% são muçulmanos.

Em dezembro de 2015, um grupo de imãs (clérigos do islamismo) divulgou mensagem aos fiéis islâmicos de Brunei advertindo contra celebrações “não ligadas ao islã”. Para eles, “os muçulmanos que seguem os atos daquela religião (o cristianismo) ou usam os seus símbolos religiosos, como a cruz, velas acesas, árvore de Natal, cantos religiosos, augúrios natalinos, decorações e sons que equivalham a respeitar aquela religião, vão contra a fé islâmica (…) Alguns podem achar que a questão é frívola, mas, como muçulmanos, nós devemos evitar as celebrações de outras religiões para não influenciar a nossa fé islâmica”.

Apesar das medidas intolerantes, não faltaram residentes de Brunei que rejeitaram a proibição assim que ela foi imposta: eles divulgaram fotos natalinas em suas redes sociais usando a hashtag #MyTreedom (um trocadilho com “tree”, árvore, e “freedom”, liberdade, em inglês).

Venezuela: Violência e falta de luz obrigam a adiantar Missa de Noite de Natal



Uma declaração de Dom Juan Carlos Bravo, Bispo de Acarigua-Araure, revelou que em muitas partes da Venezuela já não se celebra a Missa do Galo à noite por causa da violência que há nas ruas e os possíveis cortes de luz.

"A tradição (na Venezuela) é que a Missa de 24 de dezembro é quase sempre realizada antes das 17h porque depois é imprevisível, não sabemos se vai haver luz”, disse Dom Bravo em uma entrevista concedida à rede COPE, em 21 de dezembro.

Para saber se outras cidades do país estão passando por uma situação semelhante, ACI Prensa – agência em espanhol do Grupo ACI – conversou com o gerente de comunicações da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), Pe. Pedro Pablo Aguilar.

O sacerdote assegurou que a declaração de Dom Bravo "é verdade" e que "na maioria das dioceses, as celebrações são realizadas cedo, às 17h, porque não há certeza de que possa haver luz durante a noite".

“Há algumas que não, que mantêm (a Missa) às 19h. No entanto, é impossível fazer as celebrações da Missa do Galo às 23h ou meia-noite na Venezuela. Talvez em todo o país possa haver um caso no qual isso ainda possa ser feito, mas as condições mudaram muito em todo o país”, afirmou. 

Justiça nega retirada de filme blasfemo da Netflix



Na última semana, a Justiça do Rio de Janeiro negou o pedido de retirada do filme blasfemo “A primeira tentação de Cristo”, de autoria do grupo Porta dos Fundos, exibido na plataforma Netflix.

A decisão assinada pela juíza Adriana Sucena Monteiro Jara Moura se deu em relação a uma ação movida pela Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, que pedia a retirada do programa do ar, bem como de trailer, making of e propagandas, sob pena de multa diária de R$ 150 mil, e mais R$ 2 milhões por danos morais.

Para a juíza Jara Moura, autorizar a suspensão deste filme “configuraria inequivocamente censura decretada pelo Poder Judiciário”. Além disso, afirma entender que “somente deva ser proibida a exibição, publicação ou circulação de conteúdo, em verdadeira censura, que possa caracterizar ilícito, incitando a violência, a discriminação, a violação de direitos humanos, em discurso de ódio”, o que considera não haver no referido filme.

“Ao assistir ao filme podemos achar que o mesmo não tem graça, que se vale de humor de mau gosto, utilizando-se de expressões grosseiras relacionadas a símbolos religiosos. O propósito de muitas cenas e termos chulos podem ser questionados e considerados desnecessários, mesmo dentro do contexto artístico criado com a paródia satírica religiosa. Contudo, há que se ressaltar que o juiz não é crítico de arte e, conforme já restou assente em nossa jurisprudência, não cabe ao Judiciário julgar a qualidade do humor, da sátira, posto que matéria estranha às suas atribuições”, avaliou a juíza.

Além disso, também disse considerar “como elemento essencial na presente decisão que o filme controverso está sendo disponibilizado para exibição na plataforma de streaming da ré Netflix, para os seus assinantes. Ou seja, não se trata de exibição em local público e de imagens que alcancem aqueles que não desejam ver o seu conteúdo. Não há exposição a seu conteúdo a não ser por opção daqueles que desejam vê-lo”.

“Resta assim assegurada a plena liberdade de escolha de cada um de assistir ou não ao filme e mesmo de permanecer ou não como assinante”, completou.

Após a decisão judicial, o Centro Dom Bosco se manifestou por meio de suas redes sociais, afirmando que a juíza “lavou as mãos diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, vítima inocente, e daqueles que desejam ultrajá-lo, açoitá-lo e crucificá-lo”. Declarou ainda que continuará “a lutar para que as blasfêmias de grupos ativistas como o Porta dos Fundos e de empresas globalistas como a Netflix tenham fim”.

Por sua vez, Bruno Mendes, do Centro Dom Bosco, pontuou a ACI Digital que este filme “ataca o coração da adoração católica que é a Sagrada Família”. De acordo com ele, “a hostilidade aberta e deliberada ao núcleo central da fé católica, expondo-o ao escárnio, ao vilipêndio e ao desprezo públicos, é um ato de manifesta intolerância religiosa”. 

Notre Dame não terá Missa de Natal pela primeira vez em mais de dois séculos



Pela primeira vez desde 1803, a Missa de Natal não será celebrada na Catedral de Notre Dame, pois a igreja simbólica da França permanece inutilizada devido ao incêndio que sofreu em 15 de abril deste ano, quando estava sendo restaurada.

"Não haverá uma Missa da Noite de Natal em Notre Dame. A última vez que isso aconteceu foi durante a Revolução Francesa. Desde 1803, sempre houve Missas natalinas em Notre Dame", disse à Reuters uma porta-voz da Arquidiocese de Paris.

A construção da Catedral de Notre Dame começou em 1163 e culminou em 1345.

Por sua vez, o reitor da catedral, Mons. Patrick Chauvet, disse que "é doloroso porque gostaríamos de celebrar o Natal em Notre Dame, mas, ao mesmo tempo, também há esperança: estamos avançando na reconstrução", disse em referência ao guindaste gigante que chegou em 16 de dezembro para remover o enorme andaime que foi instalado na catedral no dia do incidente.

"O Natal é a celebração da esperança. Sejamos pacientes, mais quatro anos", acrescentou Mons. Chauvet, referindo-se ao anúncio feito há alguns dias pelo general Jean-Louis Georgelin, presidente da entidade pública responsável pela reconstrução da Catedral de Notre Dame de Paris. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

CNBB emite nota sobre o desrespeito à fé cristã



NOTA OFICIAL DA CNBB
SOBRE O DESRESPEITO À FÉ CRISTÃ

Examinai tudo e ficai com o que é bom! (1 Ts 5,21)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) repudia recentes fatos que, em nome da liberdade de expressão e da criatividade artística, agridem profundamente a fé cristã. Ridicularizar a crença de um grupo, seja ele qual for, além de constituir ilícito previsto na legislação penal, significa desrespeitar todas as pessoas, ferindo a busca por uma sociedade efetivamente democrática, que valoriza todos os seus cidadãos.

A Igreja nunca deixou de promover a arte e a liberdade de expressão. Por isso, a CNBB reitera que toda produção artística respeite “os sentimentos de um povo ou de grupos que vivem valores, muitas vezes, revestidos de uma sacralidade inviolável”. Quando há desrespeito em produções midiáticas, os meios de comunicação tornam-se violentos, verdadeiras armas que contribuem para ridicularizar e matar os valores mais profundos de um povo.

Vivemos em uma sociedade pluralista. Nem todos têm as mesmas crenças. Devemos, no entanto, como exigência ética e democrática, respeitar todas as pessoas. Nada permite a quem quer que seja o direito de vilipendiar crenças, atingindo vidas. O direito à liberdade de expressão não anula o respeito às pessoas e aos seus valores.