“Deus criou o homem da terra, formou-o segundo a sua própria imagem” (Eclo 17,1).
No Antigo Testamento (AT) é proibido fabricar imagens de Deus:
Deuteronômio 4,27-28; Êxodo 20,3-6; Isaías 40,18-25; 46,5
Entretanto, Deus manifesta a sua glória, não através dos bezerros de ouro:
Êxodo 32; 1Reis 12,26-33
Nem de outras imagens fabricadas pelos homens, mas através da criação:
Oséias 8,5; Sabedoria 13; Romanos 1,19-23
Dar valor às imagens não significa idolatria. A imagem é uma forma importante de comunicação, e o homem sensato sabe dar, sem exageros, devido valor às imagens. A Igreja Católica é injustamente acusada de idólatra, pois algumas pessoas tomam do AT argumentos para a acusação:
Deuteronômio 5,8-9
Todos os povos que estavam em contato com o povo de Israel consideravam a imagem não só como símbolo da divindade, mas também como habitação da própria divindade, ou seja, a própria divindade a habitava de fato. Ela era de certa forma o mesmo “deus” representado. Assim de acordo com esta mentalidade primitiva oriental, na imagem da divindade residia um fluído pessoal divino. Quando alguém fazia uma imagem, o “deus” deveria vir residir nela, já que toda a imagem realizava um apelo a que o “deus” viesse habitá-la. Era uma espécie de dublagem da divindade simbolizada. Por isso a Bíblia conta que quando Raquel, esposa de Jacó, rouba os ídolos de seu pai Labão, ele se queixa que roubaram os seus “deuses” e não suas imagens. Realmente é falta contra Deus adorar ídolos, acreditar que eles podem realizar algo, quando são de pedra, pau ou gesso, e nem podem responder:
Salmo 115,4-8 (113,12-16); Ezequiel 14,3; 2Coríntios 6,16-18; Isaías 44,9-20; Jeremias 10,2-5; Sabedoria 15,14-15; Deuteronômio 4,28; 1Macabeus 2,1-2
No entanto, o mesmo Deus que proíbe que se façam ídolos para a adoração é o mesmo que manda que se façam imagens para a veneração:[2]
Êxodo 25,18-20; 37,07-09; 40,18; 1Crônicas 28,18; 2Crônicas 3,10-13
Moisés, Josué e os Sumos Sacerdotes Judeus sempre se prostraram diante da Arca da Aliança para consultar a Deus. Sobre a Arca da Aliança que ficava no Templo de Jerusalém,[3] existiam dois Querubins de ouro:
Êxodo 25,1-22; Hebreus 9,1-5; Ezequiel 1,5-13; 10,1-9.14-22
Também na Igreja Católica, a exemplo do Templo de Jerusalém existem imagens que nos recordam as coisas celestiais. Ter imagens no Templo, portanto, não se configura como idolatria, de maneira nenhuma. Portanto, aqueles que recriminam os católicos deveriam primeiramente provar que as imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Maria Santíssima e dos Santos são realmente imagens daqueles deuses estrangeiros. Uma coisa é imagem, outra é ídolo. O mesmo Deus que proibiu fazer imagens (de ídolos) mandou fazer imagens (de não-ídolos):
Números 21,3-9; Sabedoria 16,5-8;
As imagens dos santos não valem pela matéria de que são feitas, mesmo sendo de ouro. Valem pelos exemplos de vida desses amigos de Deus que elas representam e recordam. Mas Deus não nos proibiu de fazer estátuas?
Êxodo 20,1-5; Levítico 26,1
Está claro que Ele fala aí de estátuas de deuses. Esse trecho da Bíblia é do tempo em que os hebreus viviam cercados de povos pagãos que construíam e adoravam estátuas dos mais variados deuses:
Números 25,2-3; Juízes 2,11-13; Êxodo 32,1-9; Jeremias 10,8-9.11.14-15; 16,20-21; Deuteronômio 32,16-29; Isaías 57,3-13; Baruc 6; 1Reis 11,4-8; Jeremias 1,16
Deus manda enfeitar o Templo de Jerusalém com enormes estátuas de querubins e também com esculturas de leões, touro e plantas. É claro que não mandou adorar essas estátuas!
1Reis 6,23-35; 7,29; 8,6-7; Ezequiel 41,17-20.25; 11,22
Os israelitas, porém, transformaram a Serpente de Bronze numa deusa Nehustã (hebraico, NChShThN “objeto de bronze”), e é exatamente isto o que Deus condena. Então o rei Ezequias quebrou o ídolo, quebrou a "deusa" Nehustã que eles estavam adorando.
2Reis 18,4.12; Êxodo 23,24; 34,13
As imagens realmente não foram feitas para a adoração, mas as imagens sacras servem como instrumentos de Deus, como o cajado de Moisés. O que não pensar do crucifixo?!
Números 21,9; Zacarias 12,10; João 3,14-15; 19,37; 1Coríntios 1,18-23; Apocalipse 1,7
A cruz deve nos lembrar de que a morte foi vencida, que tanto a cruz como o túmulo de Jesus ficaram vazios e Ele está vivo.
Em toda a história da salvação, Deus sempre se utilizou de figuras humanas (terrenas) para representar as coisas do Céu:
Hebreus 9,1-2.23
As figuras e imagens devem apenas representar as coisas do Céu e devem ser veneradas, tocadas e beijadas para aumentar nossa fé, mas não devemos adorá-las como se fossem ídolos, pois a adoração somente se deve a Deus:
João 4,23-24
Atualmente o homem moderno elegeu para si outros ídolos mais sutis como o sexo desordenado, o ter e o poder, que é o materialismo:
Colossenses 3,5-6; Efésios 5,5; 1Coríntios 6,9-10; Gálatas 5,19-21; Apocalipse 22,15
Martinho Lutero reconheceu a importância que as imagens tinham. Numa carta datada de 1528, escrevia: “Penso no que diz respeito às imagens, símbolos e vestes litúrgicas... e coisas semelhantes, deixem-se à livre escolha. Quem não as quiser deixe-as de lado, se bem que as imagens inspiradas na Bíblia ou em histórias edificantes, parecem muito úteis.” Em outras passagens afirmava que as imagens eram “o evangelho dos pobres”. Lutero parecia entender muito bem o que muitos hoje não querem entender, que não se trata de adorar imagens, mas de adorar a Deus através do estímulo que a imagem pode oferecer. O cavalo de batalha de muitos membros de seitas é acusar os católicos de adorar imagens. Muitas vezes conseguem confundir os mais incautos[4] dizendo que Deus proibiu fazer imagens, etc.
E o ato de ajoelhar-se diante das imagens?
Na maioria das vezes, na Bíblia, ajoelhar-se ou prostrar-se diante de uma pessoa, significa veneração, homenagem, respeito, saudação, etc.:
Gênesis 27,19; Êxodo 18,7; 1Reis 1,16-22; 1Samuel 24,9; 25,23-24.40-41; 28,14; 2Samuel 15,5-6; 1Reis 1,23.31.53; 2,13.19
Nenhuma dessas pessoas que se prostraram, foram consideradas idólatras. São sem fundamento, portanto, as acusações de que católicos são idólatras.[5]
PARA REFLETIR:
- Porque Deus proibia a fabricação de imagens?
* Para o significado de palavras foi usado o Novo Dicionário da Editora Rideel. Os Salmos são citados segundo a numeração do texto hebraico, diferente daquela do texto grego dos Setenta, seguida esta última também pelo texto latino. No livro dos salmos a numeração latina aparece entre parênteses.
[2] v.t.d. 1 Tributar grande respeito a. 2 Demonstrar veneração por; tratar com respeito e afeição. 3 Ter em grande consideração; reverenciar; acatar; respeitar.
[3] O Templo de Jerusalém simbolizava a presença de Deus no meio de seu povo.
[4] adj. 1 Que não tem ou não revela cautela; imprudente. 2 Ingênuo. 3 Crédulo.
[5] Outras citações: Gn 1,26-27; 5,1; 9,6; Ex 25; 1Rs 7,29; Sb 2,23
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Fonte bibliográfica: Walter Ivan de Azevedo. Questões que a Bíblia responde, Paulinas.
(com acréscimos e algumas adaptações).
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