quinta-feira, 4 de julho de 2013

Insistência do evangelho


Desde outubro do ano passado, a Igreja continua com os olhos fixos nas  verdades da fé, que se constituem em fonte motivadora de sua existência e de suas incumbências.

A Igreja sente-se detentora de um grande tesouro, que ela recebeu, e percebe que tem a incumbência de transmitir para as pessoas de hoje, e para as novas gerações que vêm surgindo.

O Ano da Fé, proclamado com esta finalidade, está encontrando na “transmissão da fé” o seu desafio maior para a Igreja em nosso tempo. Foi sobre isto que os bispos reunidos em assembléia andaram pensando. Dada a complexidade do assunto, ele não se esgotará, mesmo depois que termine o Ano da Fé.

As inquietações são diversas. Como preocupação maior está a constatação pesada, de que vai diminuindo a incidência da fé  na vida concreta das pessoas. E´ normal que isto preocupe, ainda mais se comparamos a realidade de hoje com os tempos recentes, em que a fé católica parecia tranqüila e segura.


Os bispos participam da missão dada aos apóstolos, de “confirmar os irmãos na fé”. Diante da angústia de muitos, frente à pesada missão que lhes foi confiada, trouxe um pouco mais de tranqüilidade a reflexão em torno das condições de liberdade que a fé supõe e exige.

A fé é uma proposta que pode ser aceita, ou pode ser rejeitada. Aliás, esta foi a primeira advertência feita por Jesus aos apóstolos, quando os enviou em missão.

Jesus fez questão de aliviar a preocupação dos apóstolos, face à hipótese muito provável, de que a mensagem deles não seria sempre aceita por todos.

Diante desta possibilidade, Jesus pediu aos apóstolos que não se preocupassem com a reação dos destinatários de sua mensagem.  “Se não quiserem receber vossa paz, ela voltará para vós”, explicou Jesus de maneira prática. Como gesto simbólico, chegou a aconselhar que sacudissem a poeira dos sapatos, para dizer que em nada se sentiam cúmplices da rejeição à mensagem.

Pois bem, parece estar faltando aos pastores de hoje esta tranqüilidade recomendada por Cristo. O Evangelho não pretende impor nada. Nem ele existe para tolher a liberdade de quem quer que seja.

O que pode estar acontecendo é termos perdendo o caráter de  “boa notícia” que a própria palavra “evangelho” expressa. Ou melhor dizendo, expressava. Pois acabamos perdendo o impacto que esta palavra tinha na boca de Jesus e dos seus apóstolos.

O fato é que a mensagem de Jesus trazia uma certeza, e garantia uma perspectiva de esperança, fundada no desfecho feliz de sua pregação inicial, sinteticamente descrita por Marcos, no início do seu Evangelho: “O templo se completou, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos, e crede no Evangelho”.

Usada agora esta palavra “Evangelho”, ela passa longe do significado autêntico que ela tinha. Pois queria dizer: “boa nova”, “alegre notícia”, “mensagem feliz”.  Uma “boa notícia” que decorria de acontecimentos que estavam em ação, que vinham se desdobrando, compondo o vasto panorama de presságios ligados ao “tempo” que estava se cumprindo.

Tinha chegado a hora propícia para eclodir esta mensagem positiva. Mesmo que alguns a rejeitassem, ela era tão importante, que precisava ser proposta, também para os que eventualmente não a quisessem receber. “Sacudi a poeira que se juntou a vossos pés. Mas, fiquem sabendo que o Reino de Deus está próximo”.

Os acontecimentos continuam. Basta interpretar sua mensagem. Eles serão sempre sinais de alerta para acolher as propostas que o “Reino de Deus”  nos apresenta!




Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)

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