Quem não se lembra da cena do filme “Matrix” em que o herói
se desvia das balas? Neo, interpretado por Keanu Reaves, dribla milagrosamente
e em câmera lenta a saraivada de balas que passa ao lado dele sem lhe causar
nenhum dano.
O papa João
Paulo II não conseguiu driblar a bala em 13 de maio de 1981, mas atribuiu a sua
sobrevivência à intercessão milagrosa da Virgem Maria. E o papa Francisco? Será
que ele está cortejando o perigo ao recusar o papamóvel blindado em sua próxima
visita à Terra Santa? Uma enorme operação de segurança está sendo montada para
essa visita. Mas não teria sido mais prudente usar também o papamóvel à prova
de balas?
O papa Francisco
decidiu que não. Ele disse que quer ficar o mais próximo possível das pessoas.
Essa decisão não o coloca perto das pessoas só fisicamente: ao evitar o
papamóvel à prova de balas, ele se coloca mais perto das pessoas comuns também
simbolicamente. Mas será que esse gesto humilde vale o risco?
A
chance de perigo parece pequena, mas o papa Francisco vai visitar uma região
altamente volátil, em que o extremismo religioso abunda e o ódio ao
cristianismo, por parte de radicais tanto judeus quanto muçulmanos, está
presente em toda parte. Basta um louco portando uma arma...
Nos
primeiros 14 meses de pontificado, Francisco se
revelou o mestre dos gestos simbólicos. Suas ações falam mais alto do que as
suas palavras. Aliás, quando fala de improviso, quando se recusa a ler homilias
escritas, quando dá entrevistas repentinas ou faz telefonemas inesperados, as
palavras de Francisco são muitas vezes mal compreendidas, mal interpretadas e
mal reproduzidas. Seus gestos simbólicos, porém, falam por si: eles mostram, em
vez de apenas contar. Eles revelam o Evangelho de uma forma verdadeiramente
profética.
Ao
recusar o papamóvel à prova de balas, Francisco não
apenas se aproxima das pessoas, mas mostra que a vida de fé é uma vida de
risco. Ele sai da zona de conforto: esta é a marca do verdadeiro cristianismo.
Assumir riscos faz parte. Basta olhar para o ministério de Jesus e para a
vida dos santos. Um exemplo notável é o do primeiro predecessor de Francisco,
São Pedro, ao sair do barco de pesca naquela noite tempestuosa e andar sobre as
águas.
Jesus
chama cada um dos seus seguidores a “caminhar sobre as águas”, a sair da zona
de conforto, a assumir alguns riscos e a aprender a andar guiado pela fé, não
pela vista.
Podemos
não ter a opção de recusar um carro à prova de balas, mas existem outras áreas
da vida em que valorizamos a segurança e
a comodidade. Podemos viver a tentação de comprometer a nossa fé para manter um
emprego seguro, por exemplo; a tentação de manter silêncio sobre certas
questões controversas para tentar garantir uma vida pacífica. Somos inclinados
a trilhar o caminho fácil em vez do caminho da aventura, do desafio, da fé.
A
coragem e a postura intransigente do papa nos
lembram que o caminho da fé é um caminho arriscado; ativa e alegremente
arriscado. Seguir a Cristo é uma grande aventura. E viver a aventura cristã é
ouvir Jesus nos chamando a sair do nosso mundo ordinário para embarcar no
emocionante seguimento do Senhor.
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Fonte: Aleteia
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