sábado, 24 de setembro de 2011

Pregar com a Vida


Uma de nossas grandes dificuldades é a sinceridade em nos reconhecermos pecadores. Mesmo que a cada missa façamos o ato penitencial quando proclamamos, confessamos nossos pecados publicamente parece que nem sempre esse ato que fazemos com nossa voz corresponde ao nosso coração. Basta vez a dificuldade hoje, em participar do Sacramento da Penitência encontrando sempre justificativas para fugir desse momento de misericórdia. Sabemos também como nos justificamos em nossos pecados, procurando muitas vezes colocar um culpado em nosso lugar. Outras vezes queremos nos desculpar com justificativas para não assumir nossa responsabilidade de erro, de pecado.

Reconhecemos pouco o pecado e, em seguida, não sabemos pedir e dar perdão. A falta de experiência da misericórdia em nossas vidas nos faz também ser pouco misericordiosos para com os outros. Nós percebemos isso nos desejos de vingança (não de justiça), proclamados em alto e bom som por muitos comunicadores revoltados com os problemas da sociedade.


Diante do homem sujeito ao mal e ao pecado, Jesus não nos condena, mas convida todos a segui-Lo porque acredita que podemos mudar. Ele dirige uma proposta de amor. É por isso que os publicanos e as prostitutas entrarão primeiro no reino dos céus, porque acreditam naquele homem que os chama, levam a sério o seu amor, procuram o seu perdão, entendem a graça, que é a sua confiança. Entram primeiro, porque eles não têm vergonha de procurar ajuda, de falar; porque não fingem ser o que eles não são, não tentando defender-se pelos méritos ou justificações e, por isso, mudam suas vidas. O Evangelho é esta história bela, belíssima notícia: nós podemos mudar, o pecador encontra o perdão, podemos ser diferentes, novos, nascer de novo.

Neste domingo, ouvimos a parábola (cf. Mt 21, 28-32) do dizer e do fazer. Jesus fala de dois filhos que mudam de ideia: um diz "sim", mas não faz ", o outro diz "não ", mas pensa melhor e faz. Não basta apenas a verbalização de uma religiosidade, é necessária a prática, a vida coerente! Infelizmente existem pessoas que vivem em absoluta contradição com aquilo que dizem, enquanto outros, ao contrário, vivem uma boa humanidade, uma honestidade e uma vida absolutamente, fiéis à sua consciência, pregando suas convicções com a vida. Jesus pede ao seu discípulo para imitá-Lo nas suas próprias palavras e atos, na profunda consciência de que encontrar o Evangelho nos impulsiona a mudar de vida.

Um homem tinha dois filhos, e a ambos pede para ir trabalhar na vinha. O primeiro se declara pronto, mas depois não vai. O segundo, no entanto, se recusa a princípio, mas depois se arrepende e vai trabalhar. Nesse ponto, Jesus perguntou aos fariseus: "Qual dos dois fez a vontade do pai?". Eles só podem responder: "O último". Era a única resposta possível. São os próprios fariseus a expor com clareza o contraste entre o "dizer" e o "fazer". Várias vezes no Evangelho se repete a exortação de que as palavras não são suficientes: o que importa é "fazer a vontade de Deus." O exemplo do segundo filho é eficaz: ele cumpre a vontade do pai, não com palavras, que são até mesmo contrárias a ela, mas com ações.

Cumpre a vontade do pai aquele que retorna sobre suas decisões, aqueles que param de dizer não e começam a fazer. "Seja feita a vossa vontade", repetimos ao chamar Deus de Pai. Seja feita a começar por mim. Não basta proclamá-la somente com a boca. Mostre a sua fé através das obras! Não sejamos aqueles que somente dizem: Senhor, Senhor, mas não fazem o que o Pai deseja! Bem recordava o Papa Paulo VI: “os homens de hoje escutam muito mais as testemunhas que os mestres, e se escutam os mestres é porque são testremunhas”!

O discípulo não é um perfeito, mas um que muda e que se converte a cada dia. Somos chamados a reconhecer nossos pecados e dar passos concretos de conversão. Somos chamados a colocar em prática o Evangelho.

Nestes dias em que os sinais da Jornada Mundial da Juventude, a Cruz e o ícone de Nossa Senhora começaram a percorrer o nosso país – levados pelos jovens que assim anunciam o Cristo Senhor, Vida do mundo para todos, junto com a fidelidade de Maria, assim também cada um de nós, servos por amor, saiamos a trabalhar na vinha do mundo como discípulos missionários que testemunham com a vida o Senhor Jesus Cristo, Ressuscitrado, Caminho, Verdade e Vida. Desta forma, seremos felizes e daremos felicidade para muitos.

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro - RJ


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Enfoque deslocado


Na mente de muitas pessoas ainda existe aquela convicção de que remédio bom tem que ser amargo. Este, sim, teria efeito garantido. O mesmo se diga sobre o uso legítimo do prazer do corpo.  Muitos acham que a busca do prazer físico, tem embutido em si um ressaibo pecaminoso. Esta maneira de pensar cria muitos culpados imaginários. Leva àquela falsa idéia do “eu não presto”.  Jesus, ao contrário, além de ter uma vida disciplinada, também aceitava participar de momentos de boas refeições e tomar bons vinhos. Isso não dava, no entanto, o direito aos seus inimigos de acusá-lo: “O Filho do Homem é um comilão e beberrão, amigo dos pecadores” (Lc 7, 34). Trata-se dos prazeres legítimos que Deus colocou à nossa disposição. O mundo civil, nos dias atuais, está muito bem equipado com ofertas de prazer.  Oferece abundância de comidas sofisticadas, até em linha popular; roupas de grande beleza; jóias variadíssimas;  remédios em abundância; drogas para esquecer as agruras da vida; festas para todos os gostos; exacerbação sexual. Parece que se está fixando o princípio de vida, comentado por São Paulo: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (1 Cor 15, 32).
 
Mas não nos iludamos. Tudo na vida deve ter limites, que não podem ser ultrapassados: comida, festas, vida sexual, esportes. Estamos na civilização da abundância, onde as pessoas buscam sempre mais prazer. Mas as coisas boas precisam estar acompanhadas de disciplina, e até de sacrifício. Basta vermos o concurso que foi realizado, de Miss Universo. Procurou-se a “mulher mais linda do mundo”. Mas que enorme sacrifício que tiveram de enfrentar: pouca comida, muito exercício, concentração de várias semanas, obediência – sem discussão - aos organizadores... Tudo por um título efêmero. Podemos viver tranquilamente os prazeres legítimos da vida, sem traumas. Mas atenção! O salmista ensina: “Deus é o meu bem”  (Sl  16, 2).

Dom Aloísio Roque Oppermann scj

Arcebispo de Uberaba - MG


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Anúncio Fúnebre


NOTA DE FALECIMENTO: É com grande pesar que a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro comunica o falecimento do Frei Beniamino Zanardini (Frei Benjamim), hoje na Itália, após passar alguns dias internado. Ele tinha 71 anos e já trabalhou em nossa paróquia quando ainda era comunidade do Anil. Antes de ser internado, frei Benjamim era Vigário Paroquial e responsável pela Pastoral da Saúde na Fraternidade São Francisco de Assis em Imperatriz. Que Deus o acolha no seu Reino e o recompense com sua graça pelos serviços prestados à Província Nossa Senhora do Carmo.

Frei Benjamin: 

Data de Nascimento: 02/11/1939

Prof. Temporária: 08/12/1959

Prof. Perpétua: 08/12/1961

Ord. Presbiteral: 26/03/1966

+Falecimento: 20/09/2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ministério do Amor Maior



No último sábado, dia 10 de setembro, toda a Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro viveu a alegria do início do ministério extraordinário da comunhão eucarística conferido a mais de 750 leigos e leigas das mais diversas regiões de nossa Arquidiocese. A estes novos ministros, juntamente com os milhares que já exercem suas atividades pelas paróquias da Arquidiocese, a Igreja confia a missão de levar Jesus Eucarístico, tesouro de inexaurível valor, aos irmãos, auxiliando os ministros ordenados, aos quais compete ordinariamente esta função seja na liturgia, seja àqueles impossibilitados de participarem pessoalmente da celebração eucarística.

Esta ocasião apresenta-se propícia para refletirmos a respeito desse ministério, ou serviço, no qual a Igreja apresenta sua vitalidade na intensa participação, adesão e corresponsabilidade dos leigos e leigas no projeto de evangelização em que todos nos irmanamos.

É fato que a origem histórica deste serviço refere-se a uma dificuldade bem prática, de caráter litúrgico, que no decorrer dos anos, pós-primavera do Concílio, ganhou uma conotação toda especial no contexto da participação eclesial.

Com o passar do tempo, sobretudo a partir das novidades introduzidas pelos documentos Sacrossanctum Concilium, sobre a reforma da sagrada liturgia; Lumem Gentium, acerca do mistério da Igreja, e Apostolicam Actuositatem, sobre o apostolado dos leigos, todos do Concílio Vaticano II, esta maneira toda peculiar de participação do leigo na vida litúrgica e na prática pastoral foi intensamente promovida e tem dados muitos frutos em nossas comunidades. Basta recordar que em muitas comunidades onde não é possível a presença assídua de um sacerdote, diversos leigos “apaixonados” pela causa do Evangelho exercem, na liturgia e na vida, este ministério com grande amor e perseverança.


É importante considerar que todo ministério é precedido por um determinado carisma. O ministério, seja leigo ou ordenado, é sempre o exercício de um determinado carisma a serviço da Igreja. Há, como nos ensina Paulo... “uma diversidade de carismas”, isto é, um grande número de “aptidões” que podem ser colocadas a serviço de Deus na comunidade. Também o ministério extraordinário da comunhão, que de maneira alguma é a simples execução de tarefas, pressupõe um determinado carisma.

É recomendável a todos os novos ministros extraordinários da sagrada Comunhão Eucarística o estudo da Instrução Redemptionis Sacramentum, que fala expressamente acerca deste ministério.

Sublinho alguns pontos: que os ministros extraordinários jamais assumam funções que não são suas: “Além disso, nunca é lícito aos leigos assumir as funções ou as vestes do diácono, ou do sacerdote, ou outras vestes similares”. (cf. n. 153).

Este ministério é extraordinário e não especial: “Neste ministério, entendendo-se conforme o seu nome em sentido estrito, o ministro é um extraordinário da sagrada Comunhão, jamais um «ministro especial da sagrada Comunhão», nem «ministro extraordinário da Eucaristia», nem «ministro especial da Eucaristia»; com o uso destes nomes, amplia-se indevida e impropriamente o seu significado” (cf. n. 156).

Devemos deixar claro que este ministério é exercido na ausência do sacerdote ou do diácono: “O ministro extraordinário da sagrada Comunhão poderá administrar a Comunhão somente na ausência do sacerdote ou diácono, quando o sacerdote está impedido por enfermidade, idade avançada, ou por outra verdadeira causa, ou quando é tão grande o número dos fiéis que se reúnem à Comunhão que a celebração da Missa se prolongaria demasiado.[259] Por isso, deve-se entender que uma breve prolongação seria uma causa absolutamente suportável, de acordo com a cultura e os costumes próprios do lugar (cf. n. 158)”.

Ao ministro extraordinário da sagrada Comunhão: nunca lhe está permitido delegar algum outro para administrar a Eucaristia, como, por exemplo, os pais, o esposo ou filho do enfermo que vai comungar.

O carisma que leva ao ministério extraordinário da comunhão é, sem dúvida, aquele do cuidado e da doação, da paciência e carinho, pelo qual o próprio Cristo é reconhecido no meio de seu povo. O ministro extraordinário da comunhão só exercerá bem seu serviço eclesial se, como Cristo, for acolhedor e disponível. Este é o binômio básico para que alguém leve o sacramento do amor de Deus por nós, sem ferir o que é próprio desse amor: O mensageiro não pode comprometer a mensagem.

Esperamos, pois, que estes novos ministros, bem como todos aqueles que exercem os mais variados serviços nas nossas comunidades, possam contribuir na construção de uma igreja mais participativa e por um mundo melhor, sendo sempre sinal do Cristo que acolhe a todos indistintamente e que ama pela força da disponibilidade e da doação.

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
 

Faraós e pecados do poder


“Surgiu no Egito um novo rei, que não conhecera José. Ele disse a seu povo: ‘Olhai como a população israelita ficou mais numerosa e mais forte que nós. Vamos tomar providências em relação a eles, para impedir que continuem crescendo e, em caso de guerra, se unam aos nossos inimigos, lutem contra nós e acabem saindo do país.’ (…) Depois o rei do Egito disse às parteiras dos hebreus, chamadas Sefra e Fua: ‘Quando assistirdes as mulheres hebreias no parto e chegar o tempo do parto, se for menino, matai-o; se for menina, deixai-a viver. Mas as parteiras tinham temor de Deus: não faziam o que o rei do Egito lhes tinha mandado e deixavam viver os meninos. (…) Um homem da casa de Levi casou-se com uma mulher de seu clã.

A mulher concebeu e deu à luz um filho. Ao ver que era um menino, manteve-o escondido durante três meses. Não podendo escondê-lo por mais tempo, pegou uma cesta de papiro, calafetou-a com betume e piche, pôs dentro dela o menino e deixou-o entre os juncos na margem do rio. A irmã do menino ficou parada à distância para ver o que ia suceder. A filha do faraó desceu para se banhar no rio, enquanto suas companheiras passeavam na margem. Ela viu a cesta no meio dos juncos e mandou que uma criada o apanhasse. Quando abriu a cesta, viu a criança: era um menino que chorava. Ficou com pena e disse: ‘É uma criança dos hebreus’. A irmã do menino disse, então, à filha do faraó: ‘Queres que eu te vá chamar uma mulher hebreia, que possa amamentar o menino?’ ‘Vai’, respondeu-lhe a filha do faraó. E a menina foi chamar a mãe do menino.” A filha do faraó disse à mulher: ‘Leva este menino, amamenta-o para mim, e eu te pagarei o teu salário.’ A mulher levou o menino e o criou.” (Ex 1,8-10. 2,1-9).

A escravidão do povo hebreu e o infanticídio dos meninos são pecados do poder político, no Egito.

A política dos “faraós” de hoje, em países da Ásia e da África, penaliza, especialmente, as meninas. A prática do “aborto seletivo de fetos do sexo feminino é aparentemente generalizado em países asiáticos como a China, Índia e Coréia do Sul”. Com efeito, “A discriminação de gênero começa cedo. Modernos instrumentos de diagnóstico para a gestação tornaram possível determinar o sexo do bebê logo no início. Nos locais em que há uma evidente preferência econômica ou cultural por filhos homens, o mau uso dessas técnicas pode facilitar o feticídio feminino. Embora não haja evidências conclusivas para confirmar esse mau uso ilegal, histórias sobre nascimentos e dados de recenseamentos na Ásia – principalmente na China e na Índia – revelam uma proporção excepcionalmente alta de nascimentos de meninos, assim como de meninos com menos de 5 anos de idade. Essa constatação sugere a ocorrência de feticídio e infanticídio seletivos por sexo nos dois países mais populosos do mundo – apesar das iniciativas para erradicar essas práticas nos dois países.” Como consequência da “política do filho único” na China, “O número de moças que falta já estaria na casa de milhões e as causas são facilmente identificáveis: elas foram vítimas de infanticídios, de abortos provocados pelos pais quando descobriam que o feto era uma menina ou foram abandonadas nas encruzilhadas das ruas quando recém-nascidas. Alguns pais as escondem e não as declaram ao Estado, correndo perigos de sanções e prisão, se forem descobertos.” Em alguns países da África, a mentalidade da população e a política governamental são, igualmente, discriminatórias, em relação às meninas.

Moisés, como diz o seu nome, foi “salvo das águas”, graças à sensibilidade da “filha do faraó”, diante da decretação do infanticídio de meninos hebreus, no Egito, por razões políticas. O infanticídio de meninos e meninas, apenas nascidos ou em tenros anos de vida, continua acontecendo, por motivo político e em razão da mentalidade arraigada na prática de alguns povos. A face cruel do feticídio e do infanticídio se generaliza, no mundo, por razões sociais. Por isso, a legalização do aborto é um pecado do poder político e social. 

Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE

sábado, 17 de setembro de 2011

Celebrações Marianas da Palavra


A Celebração da Palavra é importante porque a Palavra de Deus domina e determina todo o evento.

A sua revelação definitiva foi trazida por Jesus Cristo, pelo Verbo do Pai, que disse: “Transmiti-lhes as palavras que Tu me comunicastes, e eles a receberam” (Jo 17,8).

“Deus nos fala na leitura, nós lhe respondemos em nossas orações. Se ouvimos a Sua Palavra e obedecemos a elas, Aquele a quem rezamos habita em nós” (Santo Agostinho).

A Palavra de Deus escolhida de acordo com o mistério festivo é a coisa principal e mais importante. Ela se reveste da dignidade do anúncio, porque do anúncio depende a audição e somente o anúncio permite ao espírito e à vida da Palavra suscitar a fé.

O anúncio e a pregação abrem os ouvidos e, através da audição, o homem chega à fé[1]. O ouvido é a porta do espírito.

“Fala para que eu possa ver-te”, isto é, através da palavra pronunciada, o homem revela quem ele é. De qualquer forma, a audição permanece o ato livre do homem. É este que decide se acolhe ou rejeita a Palavra, e a sua decisão tem necessidade de ser precedida pela reflexão.

A pastoral tem o dever de exercitar a Comunidade no silêncio, e o pastor de almas deve ser o primeiro a estar convencido de que o silêncio é “insubstituível”.

Onde acaba a palavra, começa naturalmente o silêncio. Mas ele não começa porque a palavra acaba. Palavra e silêncio são inseparáveis. A palavra conhece o silêncio, assim como o silêncio conhece a palavra.

O silêncio é um sinal distintivo do Amor de Deus. Que o mistério sempre difunda diante de si uma esfera de silêncio. Dessa forma, o homem é exortado a criar em torno de si uma esfera de silêncio para poder aproximar-se do mistério.

Palavra e resposta, audição e prática, eis, em todo caso, a estrutura de qualquer Celebração da Palavra. A resposta do homem dá testemunho de que Deus lhe dirigiu a Palavra e tornou tal Palavra eficaz nele. A vida entregue a Deus, vivida a serviço de Deus e em testemunho de Deus é uma vida que brota da fé. A fé, porém, é aquela audição por meio do qual o homem acolhe a Palavra reveladora de Deus na esfera da própria intimidade pessoal, a fim de tornar as próprias decisões em virtude dela... Conseqüentemente nesta vida para Deus – na medida em que ela é resposta – ressoa sempre também a Palavra Divina.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Nossa Senhora das Dores - 15 de Setembro

 
Possui um firme fundamento bíblico na profecia de Simeão[1], como também na presença de Maria junto à cruz[2]. A realidade da dor, que assume uma importância tal, a ponto de englobar toda a vida de Maria, assemelhou-se a mãe de Jesus também à vida sofredora dos homens.

Naturalmente, na base deste motivo da dor havia também outra estrutura, que nem sempre era compreendida e avaliada de maneira justa, quando se exaltava Maria no sentido puramente individual como Rainha dos Mártires, e dizia-se dela, que, “tendo amado mais que todos, também tinha sofrido mais que todos”.


Assim, no Ocidente, Ambrósio (+397) se perguntava se o que Maria tinha sofrido com o Senhor não tinha contribuído para a Redenção.


“A beatíssima Virgem cooperou na salvação... com efeito, só ela suportou os sofrimentos quando os discípulos fugiram”.


Maria, propriamente falando, não fez nada mais que não fosse realizado por toda a Igreja e por todo cristão; ela completou – no sentido das palavras de São Paulo a propósito do valor do sofrimento para a edificação da Igreja – “o que ainda falta à paixão de Cristo” [3].


Maria realizou com uma dedicação e uma eficácia universal, aquilo que é também tarefa de todos os redimidos, isto é, receber a obra do Redentor e, com uma receptividade ativa, transmiti-la aos outros. Neste sentido (limitado), Nossa Senhora das Dores reveste-se de uma importância única como cooperadora da Redenção.


A nova liturgia romana das horas não tem mais os responsórios das matinas do velho breviário, que cantavam a série das sete dores de Maria fazendo eco às palavras da Escritura:

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Igreja e as Estatísticas

Dias atrás, quando fomos informados pelo Papa Bento XVI que a próxima Jornada Mundial da Juventude será realizada no Brasil, em 2013, a mídia, com base em pesquisa de 2009, divulgou notícia a respeito do aumento numérico de outros seguimentos religiosos não católicos, inclusive dos que optam por não ter nenhuma religião ou que preferem o ateísmo.

As jornadas mundiais da juventude têm demonstrado a ansiedade das novas gerações na busca de Jesus Cristo, reunindo milhões de rapazes e moças do mundo inteiro, formando, por uma semana, imensa comunidade juvenil sem limites geográficos, reunida ao redor do chefe visível da Igreja, pronta para ouvir a sua palavra e motivada a celebrar os Mistérios da fé, com entusiasmo e ao mesmo tempo com sensível espírito de concentração, silêncio sagrado, como ficou evidente em Madri.

As estatísticas brasileiras a respeito da mobilização religiosa são colocadas aos católicos como um desafio, provocando pergunta inevitável: quais têm sido as razões para este efeito?


Num primeiro momento, os dados colhidos em pesquisa não deixam de causar preocupação, uma vez que despertam a interrogação sobre as possíveis lacunas nos métodos evangelizadores. Porém, análise mais madura e serena provoca tranqüilidade. Levando-se em consideração que o método das pesquisas de 2009 foi questionável, o que gerou, na ocasião, abalizado artigo de protesto do Cardeal Dom Odilo Sherer, é curioso observar como as pesquisas não revelam o crescimento das comunidades católicas que tem provocado a criação de novas paróquias por todo o Brasil, novas comunidades e o crescimento inexplicável de movimentos eclesiais católicos que cada vez mais arrebanham pessoas desanimadas ou desiludias não só religiosamente, mas também com a situação existencial, para não falar das que perderam a fé nas correntes políticas no país. Influenciada pela mentalidade mercantilista de concorrência, muito própria dos regimes capitalistas, causando impressão que somente o critério da maioria é que vale, ou pela mentalidade totalitarista que imprime a crença na força do poder e a desastrosa crença que os fins justificam os meios, gerando violência para impor regimes políticos, as estatísticas pecam contra a verdade enquanto revelam apenas parte da situação.  O prejuízo fica ainda maior, se por trás das pesquisas houvesse interesses ideológicos contrários à religião ou a grupos que incomodem. A Igreja católica, já afirmou o Papa Bento XVI em Aparecida, cresce não por proselitismo, mas por atração. Ela, com sua experiência de dois mil anos de história, já aprendeu a não se assustar com as estatísticas e nem com as interpretações ingênuas. Ela também já aprendeu a reconhecer erros das pessoas humanas que fazem parte de sua comunidade e sabe fazer exame de consciência; sabe inclusive pedir perdão pelas falhas humanas, coisa que não se tem visto em outros grupos religiosos ou não, certamente conscientes que errar não é característica de um só grupo, mas do ser humano como tal. Há os que afoitamente e ingenuamente caem na tentação de prognosticar o fim da Igreja católica, como se fenômenos sociológicos fossem a última palavra em tudo. A história não dá saltos. Ela ensina aos que são mais aptos a realizar análises maduras.

Aos católicos tranqüilizo, recordando que esta situação estatística não é a pior pela qual já passamos. Dou um exemplo: no fim do século XVIII, Napoleão Bonaparte prognosticou o fim da Igreja, quando prendeu injustamente o Papa Pio VI, levando-o como se fosse um criminoso para a França, jogando-o literalmente numa masmorra e gritando como vitorioso: Pio VI e último. Conseguiram os anticlericais franceses da revolução que muitos que professavam a fé católica e inclusive alguns eclesiásticos abjurassem a fé cristã o que provocou profunda dor à Igreja. Mas a história andou por outros caminhos. Sendo eleito o Papa Pio VII em lugar de Pio VI que morreu na masmorra de Napoleão, foi o novo Papa também aprisionado pelo imperialista francês de forma humilhante e desumana. Contudo, em 1814, quando Napoleão perde a credibilidade e a força política, sendo extraditado da Franca, o Papa é liberto e volta para Roma, aclamado em todas as cidades e povoados por onde passava em viagem, glorioso, mas sem se prevalecer de sentimentos de revolta ou de argumentos políticos. A Igreja não se envolve com paixões políticas ou por espírito de disputa, mas age para divulgar a única verdade que vale a pena ser assumida de corpo e alma: Jesus Cristo e sua missão salvadora. Eis o que sempre ensinou a Igreja. Eis o que os jovens têm recebido nas Jornadas Mundiais da Juventude.

Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora - MG