sábado, 9 de março de 2013

O Centro da Unidade



O Papa, sucessor de Pedro, é antes de tudo a garantia da unidade, chefe visível da Igreja, segundo a determinação de Cristo: “Apascenta as minhas ovelhas [...] apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15-19). Nunca houve da parte dos católicos papolatria, mas, sim, uma veneração especial para com aquele que pastoreia a grei do Filho de Deus. Enquanto comunidade que se insere na história, a Igreja possui uma organização social e uma estrutura hierárquica, sendo inegável o primado pontifício de acordo com os textos bíblicos.

Ao se falar da Igreja, porém, cumpre que nunca se esqueça o caráter teândrico da mesma. A Igreja na parte divina ela é incorruptível, na parte humana há falhas. Nota-se, por isto mesmo, em muitos textos apresentados na mídia ao ensejo da renúncia de Bento XVI uma terrível confusão no que concerne à eclesiologia. Há aspectos dogmáticos, morais, históricos que não podem ser abordados confusamente sob pena de se distorcer a verdade e causar confusão entre os fiéis. Impera então uma generalização perversa e se fala numa Igreja envelhecida, crepuscular, que se definha.


Aspectos históricos não podem ser analisados fora do contexto em que se deram. Assim, por exemplo, o Dictatus papae que foi um conjunto de 27 proposições publicado pelo Papa Gregório VII. Foi uma obra de direito canônico na Idade Média elaborada por canonistas que recolheram uma série de textos sob o poder papal num posicionamento claro diante dos Imperadores. Traduzir o Dictatus papae por Ditadura do Papa é já colocar uma análise preconceituosa do reflexo deste documento na história posterior da Igreja. Dictatus significa manifesto a ser divulgado. Sob o ponto de vista histórico a Igreja sempre enfrentou procelas, mas, assistida pelo Espírito Santo, princípio vital pelo qual ela recebe as forças divinas que nela atuam, nunca falhou na sua missão de salvação.

No século XIX, a título de exemplo, surgiram o iluminismo, o josefinismo, o febronianismo, as ideologias de Jean Jacques Rousseau e dos jacobinos, as agitações da Revolução Francesa. Entretanto, nunca deixou de haver uma restauração ou renovação no interior da Igreja que sempre contou também com grandes teólogos. Esforço secular para fazer Deus presente no mundo numa evangelização constante dos fiéis. O mesmo ocorreu no século XX e no início do novo milênio. Dentro desta multiplicidade de aspectos convém notar que a Cúria Romana é o órgão administrativo do Estado do Vaticano, constituído pelas autoridades que coordenam e organizam o funcionamento da Igreja Católica. Trata-se do governo da Igreja. Curia no latim medieval significa "corte" no sentido de "corte real", pelo que a Cúria Romana é a corte papal, que assiste o Papa nas suas funções. Circulam denúncias entre as quais o mau uso de dinheiro, disputas de poder, relações homossexuais e até um plano para revelar a homossexualidade do editor de uma publicação católica, tudo isso dentro da Cúria. É o lado humano da Igreja que o novo Papa terá que enfrentar. Qualquer desvio que signifique o desprezo de um dos dez preceitos do decálogo jamais será tolerado, não apenas a prostituição gay, prato preferido de certos puritanos que deveriam fazer um exame de consciência e reconhecer os próprios pecados e emendar de vida.

Ao comentar texto anterior deste articulista, um notável médico católico, residente no Rio de Janeiro, assim se expressou: “Sabe-se que não se muda a essência da doutrina. Medidas disciplinares, porém, são urgentes. Os padres sexualmente doentes devem ser afastados e alguns até eliminados de suas atividades. Tratamentos, em geral, são falhos. O mal que fazem é destrutivo. Hoje, as reações são maiores seja das vítimas, quanto de seus familiares. A repercussão disto é ruim. Não adianta tampar o sol com peneira com desculpas não muito aceitas”. Não há dúvida, porém, que o próximo Papa tomará todas as medidas necessárias para uma total renovação eclesiástica. Numa linguagem chula, grosseira, houve quem afirmasse que Bento XVI “jogou a toalha”, “chutou o balde”, obscurecendo assim a atitude corajosa de um sábio Pastor octogenário que consultou sua consciência, entrou em tertúlia com Deus, e percebeu que estava na hora de deixar o pontificado. O momento não é de críticas destrutivas, mas de muita oração da parte daqueles que verdadeiramente amam a Igreja de Jesus Cristo.


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

O Ateísmo Marxista - parte III



A doutrina marxista, assumida em todos os seus aspectos, exige a abolição da religião, para devolver as pessoas à “realidade”e fazê-las sujeito do processo da redenção do ser humano. A pessoa, na medida mesma em que vive da religião, ausenta-se da realidade necessitada de transformação. O pressuposto marxista é de que a religião desvia a atenção dos problemas reais  oferecendo pseudo-soluções de mero consolo para as vítimas do sistema vigente e tranquilizando a consciência daqueles que, detendo o poder,  julgam-se benfeitores da humanidade.

Essa forma de compreender a religião cria uma verdadeira aversão pela experiência religiosa e chegou mesmo a se transformar em violento combate contra as instituições religiosas lá onde se implantou o chamado “socialismo real”, como nos lembrava o Concílio Vat. II: “Por isso, os que professam esta doutrina, quando alcançam o poder, atacam violentamente a religião, difundindo o ateísmo também por aqueles meios de pressão de que dispõe o poder público, sobretudo na educação da juventude.” (Vat. II, GS n.20). Isto nos lembra o fervor religioso com que Saulo devastava a Igreja lá em suas origens.


Ao abolir a religião a doutrina marxista se apropria de seu dinamismo e de sua força motivadora, agora transformados em mística política. Aqui se esconde a fascínio que a proposta marxista exerceu, sobretudo em jovens à procura de um sentido de vida que lhes justificasse o viver e o morrer.  O que pode ser traduzido assim: “deixemos de sonhar com a eternidade e ofereçamos nossa vida para realizar hoje, nessa terra, o reinado do povo”.

No último artigo nessa coluna procurei mostrar como as verdades fundamentais da fé cristã foram completamente esvaziadas de seu conteúdo teológico para ganharem um sentido exclusivamente antropológico materialista voltado para a prática política, considerada a política o lugar da ação capaz de instaurar o reino do Homem. Assim: “ a) a esperança de um novo céu e de uma nova terra - comunhão de todos no mistério da Trindade – se torna esperança de uma comunhão plena pela implantação do paraiso terrestre; b) o pecado original é substituido por outro mal radical: a propriedade particular dos meios de produção; c) a classe oprimida e crucificada ocupa o lugar do redentor crucificado, ressuscitando na história como força revolucionária para implantar a nova sociedade; d) o partido comunista substitui a Igreja, sendo ele a consciência do sentido da história e o instrumento através do qual a classe operária tomaria o poder; e) a mística religiosa se transforma em mística política, que exige a doação da própria vida.”

Pano de fundo a presidir a conversão do cristianismo em  humanismo político é o materialismo dialético, segundo o qual a matéria é eterna e está em permanente evolução chegando, com o aparecimento do ser humano a um estágio novo, devendo a partir de então evoluir para formas superiores de existência pela ação do ser humano sobre a natureza. Com  oparecimento da consciência começa a história humana que, desde seus inícios, deve ser entendida como a história da luta de classes: “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes” (Manifesto Comunista 1848).

Marx profetizou o fim do capitalismo pela tomada do poder pela classe operária e pela conseqüente instauração do comunismo com um novo modo de produção onde a divisão entre capital e trabalho seria definitivamente superada. Só então teríamos uma humanidade plenamente reconciliada consigo mesma. O sonho com uma humanidade nova, com uma sociedade plena de justiça, ganhou força histórica e produziu os heróis e também os “mártires” da revolução socialista, que haveria de chegar a todos os recantos do mundo.

A mística político-revolucionária suscitou missionários sobretudo no meio da juventude. Che Guevara, argentino de nascimento, que, depois de atuar na revolução cubana, deixou Cuba para servir à revolução socialista na América latina, é o exemplo mais conhecido entre nós de consagração à causa do socialismo. O pensamento marxista ganhou espaço em nossas universidades sobretudo nos curso de ciências sociais e afins. Uma parcela considerável de nossa juventude universitária, sedenta de verdade e inconformada com as injustiças produzidas pelo capitalismo, aderiu ao marxismo como doutrina e como prática política. Membros da JUC (Juventude Universitária Católica) se sentiram impelidos a assumir a luta política em nome da própria fé.

O diálogo com o marxismo, a assunção de sua análise da sociedade e sua mística revolucionária instauraram uma profunda crise, também de fé, em muitos universitários cristãos. A aposta no processo revolucionário como a única via eficaz de transformação social e uma nova compreensão da vida de fé como práxis política tornaram, em muitos, secundária a experiência de Deus como fonte e fim último do próprio agir. A nova sociedade – o homem novo –, a sociedade liberta de todas as formas de opressão, se tornou o sentido último, a razão de ser do pensar e do viver. (continua).


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Cardeais decidem: Conclave começa na próxima terça, dia 12.



Na oitava Congregação Geral, realizada na tarde desta sexta-feira, 08 de março, o Colégio Cardinalício decidiu a data de início do Conclave que vai eleger o novo papa. Nesta terça, dia 12 de março, os 115 cardeais eleitores iniciam os trabalhos. No período da manhã, na Basílica de São Pedro, será celebrada a Missa ‘Pro eligendo Pontifice’ e na parte da tarde ocorre a entrada dos Cardeais na Capela Sistina. Os primeiros escrutínios já deverão se realizar na tarde do mesmo dia.


Mesmo com a data do Conclave confirmada, o Colégio Cardinalício realizará mais uma Congregação Geral neste sábado. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, declarou em coletiva que os cardeais não poderão receber informações externas durante o Conclave, nem poderão ler jornais, ouvir rádio, assistir à TV ou acessar a internet, como prevê a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis. Serão instalados bloqueadores de comunicação para impedir o uso de equipamentos e dispositivos eletrônicos, como celulares, da mesma forma como já ocorre na Sala dos Sínodos, onde têm ocorrido as congregações gerais.

Ainda segundo o padre Lombardi, os cardeais não terão que passar por revista para entrar na Capela Sistina. Apenas os funcionários e demais pessoas devem ter de se submeter a um detector de dispositivos. Durante o período de reclusão para a escolha do novo Papa, os cardeais poderão se confessar.

Participarão do Conclave 115 cardeais, sendo necessário o voto favorável de 77 purpurados para eleger o Papa, ou seja, os 2/3 dos votantes.
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Fonte: CNBB.

Dia Internacional da Mulher



Oito de março é um dia especial para a humanidade. É o dia em que os homens reverenciam as mulheres e as mulheres recordam as conquistas alcançadas e se comprometem a seguir na luta pela superação das desigualdades. O dia em que homens e mulheres se unem para renovar o sonho de uma sociedade fraterna com iguais direitos para ambos os sexos.

Muitos encontros de mulheres acontecem na região por ocasião deste dia. Os maiores são promovidos pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais. São recordadas as conquistas obtidas com a luta das mulheres, particularmente o direito de serem chamadas de “trabalhadoras rurais” e terem direito à aposentadoria aos 55 anos de idade.  Outros encontros são promovidos pelos movimentos de mulheres, entidades de classe, igrejas e governos municipais. Em todos eles, basicamente, são recordadas as conquistas e apresentadas pautas de luta.

Reverência às mulheres



A comemoração do dia 8 de março projeta maior luminosidade na rica compreensão da dignidade e importância da mulher. Uma clareza que deve impulsionar modificações substanciais e mais rápidas no atual cenário, marcado pelos sucessivos casos de violência contra a mulher, particularmente no âmbito familiar. Uma situação inaceitável que precisa dar lugar à crescente participação das mulheres nos processos políticos, sociais, culturais, religiosos e familiares.

Na compreensão ajustada do significado da mulher no conjunto de processos da vida repousa uma força dinâmica com propriedades para mudar instituições e promover avanços significativos. É verdade que desde a Revolução Francesa várias conquistas foram alcançadas no que se refere ao reconhecimento da mulher, configurando, consequentemente, ganhos muito importantes para a vida e história da humanidade. Contudo, em razão de cristalizações nas culturas, fruto de compreensões não adequadas, atrasos ainda impedem uma participação mais efetiva. Assim, permanece o grande desafio de se conquistar um entendimento capaz de gerar novas posturas.

Nessa busca, uma rica referência é a Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher, do bem-aventurado João Paulo II, publicada em 15 de agosto de 1988. É bem atual a referência à Mensagem Final do Concílio Vaticano II profetizando um tempo novo que ainda não acabou de chegar: “a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que a humanidade conhece mudança tão profunda, as mulheres iluminadas do Evangelho tanto podem ajudar para que a humanidade não decaia”.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Nota da CNBB pelo Dia Internacional da Mulher



Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília-DF, de 05 a 07 de março, queremos homenagear todas as mulheres por ocasião do Dia Internacional da Mulher – 8 de março. Neste dia, em particular, “a Igreja agradece todas as manifestações do ‘gênio’ feminino surgidas no curso da história, no meio de todos os povos e Nações; agradece todos os carismas que o Espírito Santo concede às mulheres na história do Povo de Deus, todas as vitórias que deve à sua fé, esperança e caridade; agradece todos os frutos de santidade feminina” (Beato João Paulo II, A Dignidade da Mulher, n. 31).

Saudamos e agradecemos, de modo especial, às mulheres que, por sua vocação, missão e empenho na superação de todo tipo de violência, possibilitam a construção de uma cultura de paz no ambiente familiar e social. Reconhecemos que, “face a inúmeras situações de violência e tragédias, são quase sempre as mulheres que mantêm intacta a dignidade humana, defendem a família e tutelam os valores culturais e religiosos” e apontam sinais de esperança, como falou Bento XVI (Angola, 2009).


Ao mesmo tempo, lamentamos que ainda persistam situações em que a mulher seja discriminada ou subestimada por ser mulher. A Igreja, por sua missão, une-se a todas as pessoas de boa vontade para eliminar as pressões familiares e os argumentos sociais, culturais e até mesmo religiosos, que usam a diferença dos sexos para justificar atos de violência contra a mulher, tornando-a objeto de atrocidades e de exploração.

Alegra a todos nós e à sociedade constatar que, cada dia mais, cresce a consciência da dignidade e do papel da mulher, que fortalece seu protagonismo marcante e significativo na vida política, social, econômica, cultural e religiosa da sociedade brasileira.

Merecem, ainda, nosso reconhecimento e gratidão, a dinâmica presença e a atuação das mulheres na vida e na ação evangelizadora da Igreja, expressa pela sua vocação vivida no exercício dos vários ministérios, organismos, pastorais e serviços na construção do Reino de Deus no hoje de nossa história.

Desejamos que, no cuidado da vida e no exercício da caridade e da cidadania, as mulheres continuem sendo testemunho de perseverança nos caminhos que conduzem à justiça e à paz.

Nossa Senhora Aparecida, Mãe de Jesus e nossa, modelo de mulher, mãe, esposa e trabalhadora, ilumine e proteja as mulheres de nosso país.


Brasília-DF, 07 de março de 2013


Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício  

Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa - PR
Vice-Presidente da CNBB em exercício

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

Carta Aberta da CNBB sobre o Marco Regulatório da Mineração



A necessidade de reformular a atual lei que regulamenta a mineração no nosso país levou o governo a elaborar o novo Marco Regulatório da Mineração que, brevemente, deverá ser enviado para aprovação do Congresso Nacional. Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reconhecendo a importância da atividade mineradora e a sua regulamentação, julgamos oportuno trazer a público nossas preocupações com relação à nova lei que está sendo proposta.

Devido à amplitude da lei, consideramos de fundamental importância que se promova um amplo debate com a sociedade e as populações a serem impactadas pelas atividades mineradoras. A ausência do debate público, percebido até o momento, impede a população de conhecer e opinar sobre assunto de grande relevância social e ambiental, que tem efeitos diretos em sua vida.

Vivemos numa crescente demanda por apropriação dos bens naturais em nível global, transformando-os em mercadoria e assumindo-os como uma oportunidade de negócios. O governo, por sua vez, vê na extração mineral um dos pilares para sustentar o modelo de desenvolvimento econômico em curso no país, baseado no sistema de commodities.


O aumento de preços dos minérios desperta o interesse tanto do governo quanto das mineradoras, tornando-se, assim, motivação maior para o novo Marco Regulatório da Mineração. Reconhecido seu interesse público, a nova lei, acima de tudo, prioriza o aspecto econômico da extração mineral, em detrimento dos aspectos sociais, ambientais, espirituais e culturais dos territórios e de suas populações.

Preocupa-nos a proposta, no novo Marco Regulatório, da criação das áreas de relevante interesse mineral e das regiões de interesses estratégicos. Nestas áreas a mineração seria feita a partir de procedimentos especiais que podem ferir o bem comum, além de provocar uma inversão de prioridade entre os direitos individuais e coletivos e o interesse econômico, público e privado.

A exploração mineral é uma atividade que provoca impactos em povos, comunidades e territórios, gerando conflitos em toda sua cadeia: remoções forçadas de famílias e comunidades; poluição das nascentes, dos rios e do ar; degradação das condições de saúde; desmatamento; acidentes de trabalho; falsas promessas de prosperidade; concentração privada da riqueza e distribuição pública dos impactos; criminalização dos movimentos sociais; descaracterização e desagregação sociocultural.

Esclareça-se que “a programação do desenvolvimento econômico deve considerar atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais são limitados e alguns não são renováveis” (João Paulo II, A solicitude social n. 26).  “Toda utilização da natureza, todo o progresso ou desenvolvimento econômico feito às custas de sua destruição está marcado pela loucura que gera morte” (Nota da CNBB ‘Ouvir o eco da vida’ – 1992).

A mineração em terras indígenas é outra grave preocupação suscitada pelo Projeto de Lei 1.610/96, tramitando no Congresso sem nenhuma interação com o Estatuto dos Povos Indígenas, que espera aprovação desde 1991. O Projeto de Lei 1.610/96 desrespeita totalmente a autonomia dos povos indígenas sobre seus territórios, assegurada pela Constituição Federal e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário. As mesmas ameaças recaem sobre comunidades quilombolas, populações tradicionais, pequenos agricultores e áreas de proteção ambiental.

O desenvolvimento não justifica tudo e não é verdadeiro quando reduzido “a um simples crescimento econômico”. Para ser autêntico, recorda-nos o Papa Paulo VI, “o desenvolvimento deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo” (Populorum Progressio, n. 14), buscando o equilíbrio e a integração de toda a criação.

Diante disso, solicitamos aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que:

a)    seja instituída uma etapa prévia de debates na sociedade civil sobre o conteúdo da nova Lei da Mineração, anterior à sua apreciação pelo Congresso Nacional;
 
b)    a reforma da lei geral da Mineração considere em primeiro lugar os interesses das comunidades ocupantes dos territórios passiveis de atividade mineral;

c)    a discussão do Projeto de Lei 1.610/96 sobre mineração em terras indígenas seja vinculada à aprovação prévia do Estatuto dos Povos Indígenas.

Conclamamos as pastorais, os movimentos sociais, as entidades de defesa dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, bem como todas as pessoas de boa vontade a se unirem numa plataforma comum de debate sobre os impactos da mineração. Insistimos que acompanhem as comunidades atingidas, assegurando que toda atividade mineradora e industrial tenha como parâmetro o bem estar da pessoa humana, a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável dos bens naturais.

Deus, que nos fez cuidadores da terra e de toda a criação (cf Gênesis 1,28), nos torne zelosos cumpridores desse dever.

Brasília-DF, 07 de março de 2013


Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício

Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa - PR 
Vice-Presidente da CNBB em exercício   

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

Campanha da Fraternidade 2013



Tema: "Fraternidade e Juventude".

Lema: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).

Para além da Quaresma

A quaresma é o caminho que nos leva ao encontro do Crucifica¬do-ressuscitado. Caminho, que se dá num processo existencial, mudança de vida, transformação da pessoa que recebeu a graça de ser discípulo-missionário. A oração, o jejum e a esmola indicam o processo de abertura necessária para sermos tocados pela grandeza da vida nova que nasce da cruz e da ressurreição.

Apresentação da CF

A CNBB nos apresenta a Campanha da Fraternidade como itinerário de conversão pessoal, comunitário e social; E ao repropor Juventude como tema da Campanha da Fraternidade, nesse tempo de mudança de época, deseja refletir, rezar com os jovens, re-apresentando-lhes o Evangelho como sentido de vida e missão. 

Propostas da CF2013

1. A Campanha da Fraternidade de 2013, que retoma o tema Juventude, se propõe olhar a realidade dos jovens, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; entendê-los e auxiliá-los neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas; fazer-se solidária em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios desta mudança de época e com a exclusão social; reavivar-lhes o potencial de participação e transformação.

2. Esta Campanha deseja, no contexto do Ano da Fé, mobilizar a Igreja e, o quanto possível, os segmentos da sociedade, a fim de se solidarizarem com estes jovens, favorecer-lhes espaços, projetos e políticas públicas que possam auxiliá-los a organizarem a própria vida a partir de escolhas fundamentais e de uma construção sólida do projeto pessoal, a se compreenderem como força de transformação para os novos tempos, a desenvolverem seu potencial comunicativo pelas redes sociais em vista da ética e do bem de todos, a assumirem seu papel específico na comunidade eclesial e no exercício do protagonismo que deles se espera, nas comunidades e na luta por uma sociedade que proporcione vida a todos.

3. Evangelizar, hoje, é uma via de mão dupla. Saem de cena os “públicos” ou “destinatários” da evangelização para dar lugar aos “interlocutores”. Os interlocutores da evangelização são pessoas que, numa relação dialogal, se enriquecem pela troca de experiências. Portanto, “escutando e compreendendo os gritos e clamores dos jovens, a Igreja é chamada não somente a evangelizar, mas também a ser evangelizada na atualidade”. Torna-se imprescindível, cada vez mais, caminhar com os jovens e refazer com eles a experiência de Jesus. Na prática, isso significa que “nas atividades pastorais com a juventude, faz-se necessário oferecer canais de participação e envolvimento nas decisões, que possibilitem uma experiência autêntica de corresponsabilidade, de diálogo, de escuta e o envolvimento no processo de renovação contínua da Igreja. Trata-se de valorizar a participação dos jovens nos conselhos, reuniões de grupo, assembleias, equipes, processo de avaliação e planejamento”.

4. Para atingir tal intuito, são estes os objetivos da Campanha da Fraternidade de 2013:

Objetivo Geral

Acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz.

Objetivos Específicos

1.    Propiciar aos jovens um encontro pessoal com Jesus Cristo a fim de contribuir para sua vocação de discípulo missionário e para a elaboração de seu projeto pessoal de vida;

2. Possibilitar aos jovens uma participação ativa na comunidade eclesial, que lhes seja apoio e sustento em sua caminhada , para que eles possam contribuir com seus dons e talentos;

3. Sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum.

O Cartaz da CF 2013

A Igreja, ao iniciar esta caminhada quaresmal, tem os olhos fitos na cruz, donde emana a comunicação do amor de Deus por nós, na entrega de Jesus Cristo, para que Nele tenhamos a Vida (cf Jo 10,10).

A Igreja com esta Campanha, cujo tema é “Fraternidade e Juventude”, chama atenção para os desafios dos jovens na edificação do projeto de Deus, dentro do contexto de mudança de época (instabilidade dos critérios de compreensão e dos valores).

A jovem, de braços abertos em forma de cruz, representa os que são transformados pela jovialidade comunicada pela ressurreição de Jesus, a Boa Nova por excelência, que nos fortalece. É com este vigor que a jovem responde ao chamado de Deus, repetindo as palavras do profeta Isaias: “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8).
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Fonte: Cf2013.