CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA
A
CELEBRAÇÃO
DO
MISTÉRIO CRISTÃO
SEGUNDA
SECÇÃO
OS
SETE SACRAMENTOS DA IGREJA
ARTIGO 4
A UNÇÃO DOS
ENFERMOS
1499. «Pela santa Unção dos Enfermos e pela oração
dos presbíteros, toda a Igreja encomenda os doentes ao Senhor, sofredor e
glorificado, para que os alivie e os salve: mais ainda, exorta-os a que,
associando-se livremente à paixão e morte de Cristo, concorram para o bem do
povo de Deus» (95).
I. Os seus
fundamentos na economia da salvação
A DOENÇA NA
VIDA HUMANA
1500. A doença e o sofrimento estiveram sempre
entre os problemas mais graves que afligem a vida humana. Na doença, o homem
experimenta a sua incapacidade, os seus limites, a sua finitude. Qualquer
enfermidade pode fazer-nos entrever a morte.
1501. A doença pode levar à angústia, ao fechar-se
em si mesmo e até, por vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também
pode tornar uma pessoa mais amadurecida, ajudá-la a discernir, na sua vida, o
que não é essencial para se voltar para o que o é. Muitas vezes, a doença leva
à busca de Deus, a um regresso a Ele.
O DOENTE
PERANTE DEUS
1502. O homem do Antigo Testamento vive a doença à
face de Deus. É diante de Deus que desafoga o seu lamento pela doença que lhe
sobreveio (97) e é d'Ele. Senhor da vida e da morte, que implora a cura (98). A
doença torna-se caminho de conversão (99) e o perdão de Deus dá início à cura
(100). Israel faz a experiência de que a doença está, de modo misterioso,
ligada ao pecado e ao mal, e de que a fidelidade a Deus em conformidade com a
sua Lei restitui a vida: «porque Eu, o Senhor, é que sou o teu médico» (Ex 15,
26). O profeta entrevê que o sofrimento pode ter também um sentido redentor
pelos pecados dos outros (101). Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará vir
para Sião um tempo em que perdoará todas as faltas e curará todas as doenças
(102).
CRISTO-MÉDICO
1503. A compaixão de Cristo para com os doentes e
as suas numerosas curas de enfermos de toda a espécie (103) são um sinal claro
de que «Deus visitou o seu povo» (104) e de que o Reino de Deus está próximo.
Jesus tem poder não somente para curar, mas também para perdoar os pecados
(105): veio curar o homem na sua totalidade, alma e corpo: é o médico de que os
doentes precisam (106). A sua compaixão para com todos os que sofrem vai ao
ponto de identificar-Se com eles: «Estive doente e visitastes-Me» (Mt 25, 36).
O seu amor de predilecção para com os enfermos não cessou, ao longo dos
séculos, de despertar a atenção particular dos cristãos para aqueles que sofrem
no corpo ou na alma. Ele está na origem de incansáveis esforços para os
aliviar.
1504. Frequentemente, Jesus pede aos doentes que
acreditem (107). Serve-se de sinais para curar: saliva e imposição das mãos
(108), lodo e lavagem (109). Por seu lado, os doentes procuram tocar-Lhe (110),
«porque saía d'Ele uma força que a todos curava» (Lc 6, 19). Por isso, nos
sacramentos, Cristo continua a «tocar-nos» para nos curar.
1505. Comovido por tanto sofrimento, Cristo não só
Se deixa tocar pelos doentes, como também faz suas as misérias deles: «Tomou
sobre Si as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças» (Mt 8, 17)
(111). Ele não curou todos os doentes. As curas que fazia eram sinais da vinda
do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e
sobre a morte, mediante a sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre Si todo o
peso do mal (112) e tirou «o pecado do mundo» (Jo 1, 29), do qual a doença não
é mais que uma consequência. Pela sua paixão e morte na cruz. Cristo deu novo
sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos
à sua paixão redentora.
«CURAI OS
ENFERMOS...»
1506. Cristo convida os discípulos a seguirem-no,
tomando a sua cruz (113). Seguindo-O, eles adquirem uma nova visão da doença e
dos doentes. Jesus associa-os à sua vida pobre e servidora. Fá-los participar
no seu ministério de compaixão e de cura: E eles «partiram e pregaram que era
preciso cada um arrepender-se. Expulsavam muitos demónios, ungiam com óleo
numerosos doentes, e curavam-nos» (Mc 6, 12-13).
1507. O Senhor ressuscitado renova esta missão («em
Meu nome... hão-de impor as mãos aos doentes, e estes ficarão curados»: Mc 16,
1 7-18) e confirma-a por meio dos sinais que a Igreja realiza invocando o seu
nome (114). Estes sinais manifestam de modo especial, que Jesus é
verdadeiramente «Deus que salva» (115).
1508. O Espírito Santo confere a alguns o carisma
especial de poderem curar (116) para manifestar a força da graça do
Ressuscitado. Todavia, nem as orações mais fervorosas obtêm sempre a cura de
todas as doenças. Assim, São Paulo deve aprender do Senhor que «a minha graça
te basta: pois na fraqueza é que a minha força actua plenamente» (2 Cor 12, 9),
e que os sofrimentos a suportar podem ter como sentido que «eu complete na
minha carne o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo, que é a
Igreja» (Cl 1, 24).
1509. «Curai os enfermos!» (Mt 10, 8). A Igreja
recebeu este encargo do Senhor e procura cumpri-lo, tanto pelos cuidados que
dispensa aos doentes, como pela oração de intercessão com que os acompanha. Ela
"crê na presença vivificante de Cristo, médico das almas e dos corpos,
presença que age particularmente através dos sacramentos e de modo muito
especial da Eucaristia, pão que dá a vida eterna (117) e cuja ligação com a
saúde corporal é insinuada por São Paulo (118).
1510. Entretanto, a Igreja dos Apóstolos conhece um
rito próprio em favor dos enfermos, atestado por São Tiago: «Alguém de vós está
doente? Chame os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com
óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará;
e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados» (Ts; 5, 14-15). A Tradição
reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja (119).
UM
SACRAMENTO DOS ENFERMOS
1511. A Igreja crê e confessa que, entre os sete
sacramentos, há um, especialmente destinado a reconfortar os que se encontram
sob a provação da doença: a Unção dos enfermos:
«Esta santa unção dos enfermos foi instituída por
Cristo nosso Senhor como sacramento do Novo Testamento, verdadeira e
propriamente dito, insinuado por São Marcos (120), mas recomendado aos fiéis e
promulgado por São Tiago, apóstolo e irmão do Senhor» (121).
1512. Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como
no Ocidente, temos, desde os tempos antigos, testemunhos de unções de doentes
praticadas com óleo benzido. No decorrer dos séculos, a Unção dos enfermos
começou a ser conferida cada vez mais exclusivamente aos que estavam prestes a
morrer. Por causa disso, fora-lhe dado o nome de «Extrema-Unção». Porém, apesar
dessa evolução, a liturgia nunca deixou de pedir ao Senhor pelo doente, para
que recuperasse a saúde, se tal fosse conveniente para a sua salvação
1513. A Constituição Apostólica «Sacram Unctionem
Infirmorum», de 30 de Novembro de 1972, na sequência do II Concílio do Vaticano
(123), estabeleceu que, a partir de então, se observasse o seguinte no rito
romano:
«O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido aos
que se encontram enfermos com a vida em perigo, ungindo-os na fronte e nas mãos
com óleo de oliveira ou, segundo as circunstância, com outro óleo de origem
vegetal, devidamente benzido, proferindo uma só vez, as palavras: "Por
esta santa unção e pela sua infinita misericórdia o Senhor venha em teu auxílio
com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve
e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos"» (124).