CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA
A
CELEBRAÇÃO
DO
MISTÉRIO CRISTÃO
SEGUNDA
SECÇÃO
OS
SETE SACRAMENTOS DA IGREJA
CAPÍTULO
SEGUNDO
OS
SACRAMENTOS DE CURA
1420. Pelos sacramentos da iniciação cristã, o
homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida, nós trazemo-la «em vasos de
barro». Por enquanto, ela está ainda «oculta com Cristo em Deus» (Cl 3, 3).
Vivemos ainda na «nossa morada terrena» (1), sujeita ao sofrimento à doença e à
morte. A vida nova de filhos de Deus pode ser enfraquecida e até perdida pelo
pecado.
1421. O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas
e dos nossos corpos, que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a
saúde do corpo (2) quis que a sua Igreja continuasse, com a força do Espírito
Santo, a sua obra de cura e de salvação, mesmo para com os seus próprios
membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramente da
Penitência e o da Unção dos enfermos.
ARTIGO 4
O SACRAMENTO
DA PENITÊNCIA E DA
RECONCILIAÇÃO
1422. «Aqueles que se aproximam do sacramento da
Penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e, ao
mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja, que tinham ferido com o seu
pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão»
(3).
I. Como se
chama este sacramento?
1423. É chamado sacramento da conversão, porque
realiza sacramentalmente o apelo de Jesus à conversão (4) e o esforço de
regressar à casa do Pai (5) da qual o pecador se afastou pelo pecado.
É chamado sacramento da Penitência, porque consagra
uma caminhada pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de
satisfação por parte do cristão pecador.
1424. É chamado sacramento da confissão, porque o
reconhecimento, a confissão dos pecados perante o sacerdote é um elemento
essencial deste sacramento. Num sentido profundo, este sacramento é também uma
«confissão», reconhecimento e louvor da santidade de Deus e da sua misericórdia
para com o homem pecador.
E chamado sacramento do perdão, porque, pela
absolvição sacramental do sacerdote. Deus concede ao penitente «o perdão e a
paz» (6).
E chamado sacramento da Reconciliação, porque dá ao
pecador o amor de Deus que reconcilia: «Deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor
5, 20). Aquele que vive do amor misericordioso de Deus está pronto para
responder ao apelo do Senhor: «Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão» (Mt
5, 24).
II. Porquê,
um sacramento de Reconciliação depois do Baptismo?
1425. «Vós fostes lavados, fostes santificados,
fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso
Deus» (1 Cor 6, 11). Precisamos de tomar consciência da grandeza do dom de Deus
que nos foi concedido nos sacramentos da iniciação cristã, para nos
apercebermos de até que ponto o pecado é algo de inadmissível para aquele que
foi revestido de Cristo (7). Mas o apóstolo São João diz também: «Se dissermos
que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós»
(1 Jo 1, 8). E o próprio Senhor nos ensinou a rezar: «Perdoai-nos as nossas
ofensas» (Lc 11, 4 ), relacionando o perdão mútuo das nossas ofensas com o
perdão que Deus concederá aos nossos pecados.
1426. A conversão a Cristo, o novo nascimento do
Baptismo, o dom do Espírito Santo, o corpo e sangue de Cristo recebidos em alimento,
tornaram-nos «santos e imaculados na sua presença» (Ef 1, 4), tal como a
própria Igreja, esposa de Cristo, é «santa e imaculada na sua presença» (Ef 5,
27). No entanto, a vida nova recebida na iniciação cristã não suprimiu a
fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação para o pecado, a
que a tradição chama concupiscência, a qual persiste nos baptizados, a fim de
que prestem as suas provas no combate da vida cristã, ajudados pela graça de
Cristo (8). Este combate é o da conversão, em vista da santidade e da vida
eterna, a que o Senhor não se cansa de nos chamar (9).
III. A
conversão dos baptizados
1427. Jesus chama à conversão. Tal apelo é parte
essencial do anúncio do Reino: «O tempo chegou ao seu termo, o Reino de Deus
está próximo: convertei-vos e acreditai na boa-nova» (Mc 1, 15). Na pregação da
Igreja, este apelo dirige-se, em primeiro lugar, àqueles que ainda não conhecem
Cristo e o seu Evangelho. Por isso, o Baptismo é o momento principal da
primeira e fundamental conversão. É pela fé na boa-nova e pelo Baptismo (10)
que se renuncia ao mal e se adquire a salvação, isto é, a remissão de todos os
pecados e o dom da vida nova.
1428. Ora, o apelo de Cristo à conversão continua a
fazer-se ouvir na vida dos cristãos. Esta segunda conversão é uma tarefa
ininterrupta para toda a Igreja, que «contém pecadores no seu seio» e que é,
«ao mesmo tempo, santa e necessitada de purificação, prosseguindo
constantemente no seu esforço de penitência e de renovação» (11). Este esforço
de conversão não é somente obra humana. É o movimento do «coração contrito»
(12) atraído e movido pela graça (13) para responder ao amor misericordioso de
Deus, que nos amou primeiro (14).
1429. Testemunho disto mesmo, é a conversão de
Pedro, depois de três vezes ter negado o seu mestre. O olhar infinitamente
misericordioso de Jesus provoca-lhe lágrimas de arrependimento (15) e, depois
da ressurreição do Senhor, a tríplice afirmação do seu amor para com Ele (16).
A segunda conversão tem, também, uma dimensão comunitária. Isto aparece no
apelo dirigido pelo Senhor a uma Igreja inteira: «Arrepende-te!» (Ap 2, 5-16).
Santo Ambrósio diz, a respeito das duas conversões
que, na Igreja, «existem a água e as lágrimas: a água do Baptismo e as lágrimas
da Penitência»
IV. A
penitência interior
1430. Como já acontecia com os profetas, o apelo de
Jesus à conversão e à penitência não visa primariamente as obras exteriores, «o
saco e a cinza», os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a
penitência interior: Sem ela, as obras de penitência são estéreis e
enganadoras; pelo contrário, a conversão interior impele à expressão dessa
atitude cm sinais visíveis, gestos e obras de penitência (18).
1431. A penitência interior é uma reorientação
radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso
coração, uma rotura com o pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más
acções que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar
de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua
graça. Esta conversão do coração é acompanhada por uma dor e uma tristeza
salutares, a que os Santos Padres chamaram animi cruciatus (aflição do
espírito), compunctio cordis (compunção do coração) (19).
1432. O coração do homem é pesado e endurecido. É
necessário que Deus dê ao homem um coração novo (20). A conversão é, antes de
mais, obra da graça de Deus, a qual faz com que os nossos corações se voltem
para Ele: «Convertei-nos, Senhor, e seremos convertidos» (Lm 5, 21). Deus é
quem nos dá a coragem de começar de novo. É ao descobrir a grandeza do amor de
Deus que o nosso coração é abalado pelo horror e pelo peso do pecado, e começa
a ter receio de ofender a Deus pelo pecado e de estar separado d'Ele. O coração
humano converte-se, ao olhar para Aquele a quem os nossos pecados trespassaram
(21).
«Tenhamos os olhos fixos no sangue de Cristo e
compreendamos quanto Ele é precioso para o seu Pai, pois que, derramado para
nossa salvação, proporcionou ao mundo inteiro a graça do arrependimento» (22).
1433. Depois da Páscoa, é o Espírito Santo que
«confunde o mundo no tocante ao pecado», isto é, faz ver ao mundo o pecado de
não ter acreditado n'Aquele que o Pai enviou (23). Mas este mesmo Espírito, que
desmascara o pecado, é o Consolador (24) que dá ao coração do homem a graça do
arrependimento e da conversão (25).
V. As
múltiplas formas da penitência na vida cristã
1434. A penitência interior do cristão pode ter
expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem sobretudo em três
formas: o jejum, a oração e a esmola que exprimem a conversão, em relação a si
mesmo, a Deus e aos outros. A par da purificação radical operada pelo Baptismo
ou pelo martírio, citam, como meios de obter o perdão dos pecados, os esforços
realizados para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, a
preocupação com a salvação do próximo (27), a intercessão dos santos e a
prática da caridade «que cobre uma multidão de pecados» (1 Pe 4, 8).
1435. A conversão realiza-se na vida quotidiana por
gestos de reconciliação, pelo cuidado dos pobres, o exercício e a defesa da
justiça e do direito (28), pela confissão das próprias faltas aos irmãos, pela
correcção fraterna, a revisão de vida, o exame de consciência, a direcção
espiritual, a aceitação dos sofrimentos, a coragem de suportar a perseguição
por amor da justiça. Tomar a sua cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho
mais seguro da penitência (29).
1436. Eucaristia e Penitência. A conversão e a
penitência quotidianas têm a sua fonte e alimento na Eucaristia: porque na
Eucaristia torna-se presente o sacrifício de Cristo, que nos reconciliou com
Deus: pela Eucaristia nutrem-se e fortificam-se os que vivem a vida de Cristo:
«ela é o antídoto que nos livra das faltas quotidianas e nos preserva dos
pecados mortais» (30).
1437. A leitura da Sagrada Escritura, a oração da
Liturgia das Horas e do Pai Nosso, todo o acto sincero de culto ou de piedade
reavivam em nós o espírito de conversão e de penitência e contribuem para o
perdão dos nossos pecados.
1438. Os tempos e os dias de penitência no decorrer
do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do
Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja (31). Estes tempos
são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias
penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias
como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e
missionárias).
1439 O dinamismo da conversão e da penitência foi
maravilhosamente descrito por Jesus na parábola do «filho pródigo», cujo centro
é «o pai misericordioso» (32): o deslumbramento duma liberdade ilusória e o
abandono da casa paterna: a miséria extrema em que o filho se encontra depois
de delapidada a fortuna: a humilhação profunda de se ver obrigado a guardar
porcos e, pior ainda, de desejar alimentar-se das bolotas que os porcos comiam:
a reflexão sobre os bens perdidos: o arrependimento e a decisão de se declarar
culpado diante do pai: o caminho do regresso: o acolhimento generoso por parte
do pai: a alegria do pai: eis alguns dos aspectos próprios do processo de
conversão. O fato novo, o anel e o banquete festivo são símbolos desta vida
nova, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta para Deus
e para o seio da família que é a Igreja. Só o coração de Cristo, que conhece a
profundidade do amor do seu Pai, pôde revelar-nos o abismo da sua misericórdia,
de um modo tão cheio de simplicidade e beleza.
VI. O
sacramento da Penitência e da Reconciliação
1440. O pecado é, antes de mais, ofensa a Deus,
ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é um atentado contra a comunhão
com a Igreja. É por isso que a conversão traz consigo, ao mesmo tempo, o perdão
de Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é expresso e realizado
liturgicamente pelo sacramento da Penitência e Reconciliação (33).
SÓ DEUS
PERDOA O PECADO
1441. Só Deus perdoa os pecados (34). Jesus, porque
é Filho de Deus, diz de Si próprio: «O Filho do Homem tem na terra o poder de
perdoar os pecados» (Mc 2, 10) e exerce este poder divino: «Os teus pecados
são-te perdoados!» (Mc 2, 5) (35). Mais ainda: em virtude da sua autoridade
divina, concede este poder aos homens para que o exerçam em seu nome.
1442. Cristo quis que a sua Igreja fosse, toda ela,
na sua oração, na sua vida e na sua actividade, sinal e instrumento do perdão e
da reconciliação que Ele nos adquiriu pelo preço do seu sangue. Entretanto,
confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério apostólico. É este que
está encarregado do «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18). O apóstolo é
enviado «em nome de Cristo» e «é o próprio Deus» que, através dele, exorta e
suplica: «Deixai-vos reconciliar com Deus» (2 Cor 5, 20).
RECONCILIAÇÃO
COM A IGREJA
1443. Durante a sua vida pública. Jesus não somente
perdoou os pecados, como também manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os
pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o pecado os tinha
afastado ou mesmo excluído. Sinal bem claro disso é o facto de Jesus admitir os
pecadores à sua mesa, e mais ainda: de se sentar à mesa deles, gesto que
exprime ao mesmo tempo, de modo desconcertante, o perdão de Deus (37), e o
regresso ao seio do povo de Deus (38).
1444. Ao tornar os Apóstolos participantes do seu
próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor dá-lhes também autoridade para
reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial do seu ministério
exprime-se, nomeadamente, na palavra solene de Cristo a Simão Pedro: «Dar-te-ei
as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares na terra ficará ligado nos
céus, e tudo o que desligares na terra ficará desligado nos céus» (Mt 16, 19).
«Este mesmo encargo de ligar e desligar, conferido a Pedro, foi também
atribuído ao colégio dos Apóstolos unidos à sua cabeça (Mt 18,18; 28, 16-20)»
(39).
1445. As palavras ligar e desligar significam:
aquele que vós excluirdes da vossa comunhão, ficará também excluído da comunhão
com Deus; aquele que de novo receberdes na vossa comunhão, também Deus o
acolherá na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação
com Deus.
O SACRAMENTO
DO PERDÃO
1446. Cristo instituiu o sacramento da Penitência
para todos os membros pecadores da sua Igreja, antes de mais para aqueles que,
depois do Baptismo, caíram em pecado grave e assim perderam a graça baptismal e
feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da Penitência oferece
uma nova possibilidade de se converterem e de reencontrarem a graça da
justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como «a segunda
tábua (de salvação), depois do naufrágio que é a perda da graça» (40).
1447. No decorrer dos séculos, a forma concreta
segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do Senhor variou muito.
Durante os primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que tinham cometido
pecados particularmente graves depois do Baptismo (por exemplo: a idolatria, o
homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina muito rigorosa,
segundo a qual os penitentes tinham de fazer penitência pública pelos seus
pecados, muitas vezes durante longos anos, antes de receberem a reconciliação.
A esta «ordem dos penitentes» (que apenas dizia respeito a certos pecados
graves) só raramente se era admitido e, em certas regiões, apenas uma vez na
vida. Durante século VII, inspirados pela tradição monástica do Oriente, os
missionários irlandeses trouxeram para a Europa continental a prática «privada»
da penitência que não exigia a realização pública e prolongada de obras de
penitência, antes de receber a reconciliação com a Igreja. O sacramento
processa-se, a partir de então, dum modo mais secreto, entre o penitente e o
sacerdote. Esta nova prática previa a possibilidade da repetição e abria assim
o caminho a uma frequência regular deste sacramento. Permitia integrar, numa só
celebração sacramental, o perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Nas
suas grandes linhas, é esta forma de penitência que a Igreja tem praticado até
aos nossos dias.
1448. Através das mudanças que a disciplina e a
celebração deste sacramento têm conhecido no decorrer dos séculos, distingue-se
a mesma estrutura fundamental. Esta inclui dois elementos igualmente
essenciais: por um lado, os actos do homem que se converte sob a acção do
Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação: por outro, a acção
de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por meio do bispo e seus
presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa o
modo da satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência com ele. Assim, o
pecador á curado e restabelecido na comunhão eclesial.
1449. A fórmula de absolvição, em uso na Igreja
latina, exprime os elementos essenciais deste sacramento: o Pai das
misericórdias é a fonte de todo o perdão. Ele realiza a reconciliação dos
pecadores pela Páscoa do seu Filho e pelo dom do seu Espírito, através da
oração e do ministério da Igreja:
«Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e
ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito
Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o
perdão e a paz. E Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e
do Espírito Santo» (41).
VII. Os actos do penitente
1450. «Poenitentia cogit peccatorem omnia libenter
sufferre; in corde eius contritio, in ore confessio, in opere tota humilitas
vel fructifera satisfactio – A penitência leva o pecador a tudo suportar de bom
grado: no coração, a contrição; na boca, a confissão; nas obras, toda a
humildade e frutuosa satisfação» (42).
A CONTRIÇÃO
1451. Entre os actos do penitente, a contrição
ocupa o primeiro lugar. Ela é «uma dor da alma e uma detestação do pecado
cometido, com o propósito de não mais pecar no futuro» (43).
1452. Quando procedente do amor de Deus, amado
sobre todas as coisas, a contrição é dita «perfeita» (contrição de caridade).
Uma tal contrição perdoa as faltas veniais: obtém igualmente o perdão dos
pecados mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à
confissão sacramental (44).
1453. A contrição dita «imperfeita» (ou «atrição»)
é, também ela, um dom de Deus, um impulso do Espírito Santo. Nasce da
consideração da fealdade do pecado ou do temor da condenação eterna e das
outras penas de que o pecador está ameaçado (contrição por temor). Um tal abalo
da consciência pode dar início a uma evolução interior, que será levada a bom
termo sob a acção da graça, pela absolvição sacramental. No entanto, por si
mesma, a contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas dispõe
para obtê-lo no sacramento da Penitência (45).
1454. É conveniente que a recepção deste sacramento
seja preparada por um exame de consciência, feito à luz da Palavra de Deus. Os
textos mais adaptados para este efeito devem procurar-se no Decálogo e na
catequese moral dos evangelhos e das cartas dos Apóstolos: sermão da montanha e
ensinamentos apostólicos (46).
A CONFISSÃO
DOS PECADOS
1455. A confissão (a acusação) dos pecados, mesmo
de um ponto de vista simplesmente humano, liberta-nos e facilita a nossa
reconciliação com os outros. Pela confissão, o homem encara de frente os
pecados de que se tornou culpado; assume a sua responsabilidade e, desse modo,
abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, para tornar possível um futuro
diferente.
1456. A confissão ao sacerdote constitui uma parte
essencial do sacramento da Penitência: «Os penitentes devem, na confissão,
enumerar todos os pecados mortais de que têm consciência, após se terem
seriamente examinado, mesmo que tais pecados sejam secretíssimos e tenham sido
cometidos apenas contra os dois últimos preceitos do Decálogo (47); porque, por
vezes, estes pecados ferem mais gravemente a alma e são mais perigosos que os
cometidos à vista de todos» (48):
«Quando os fiéis se esforçam por confessar todos os
pecados de que se lembram, não se pode duvidar de que os apresentam todos ao
perdão da misericórdia divina. Os que procedem de modo diverso, e
conscientemente ocultam alguns, esses não apresentam à bondade divina nada que
ela possa perdoar por intermédio do sacerdote. Porque, "se o doente tem
vergonha de descobrir a sua ferida ao médico, a medicina não pode curar o que
ignora"» (49).
1457. Segundo o mandamento da Igreja, «todo o fiel
que tenha atingido a idade da discrição, está obrigado a confessar fielmente os
pecados graves, ao menos uma vez ao ano» (50). Aquele que tem consciência de
haver cometido um pecado mortal, não deve receber a sagrada Comunhão, mesmo que
tenha uma grande contrição, sem ter previamente recebido a absolvição
sacramental (51); a não ser que tenha um motivo grave para comungar e não lhe
seja possível encontrar-se com um confessor (52). As crianças devem aceder ao
sacramento da Penitência antes de receberem pela primeira vez a Sagrada
Comunhão (53).
1458. Sem ser estritamente necessária, a confissão
das faltas quotidianas (pecados veniais) é contudo vivamente recomendada pela
Igreja. (54) Com efeito, a confissão regular dos nossos pecados veniais
ajuda-nos a formar a nossa consciência, a lutar contra as más inclinações, a
deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo com
maior frequência, neste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados
a ser misericordiosos como Ele (55):
«Aquele que confessa os seus pecados e os acusa, já
está de acordo com Deus. Deus acusa os teus pecados; se tu também os acusas,
juntas-te a Deus. O homem e o pecador são, por assim dizer, duas realidades
distintas. Quando ouves falar do homem, foi Deus que o criou: quando ouves
falar do pecador, foi o próprio homem quem o fez. Destrói o que fizeste, para
que Deus salve o que fez. [...] Quando começas a detestar o que fizeste, é
então que começam as tuas boas obras, porque acusas as tuas obras más. O
princípio das obras boas é a confissão das más. Praticaste a verdade e vens à
luz» (56).
A SATISFAÇÃO
1459. Muitos pecados prejudicam o próximo. Há que
fazer o possível por reparar esse dano (por exemplo: restituir as coisas
roubadas, restabelecer a boa reputação daquele que foi caluniado, indemnizar
por ferimentos). A simples justiça o exige. Mas, além disso, o pecado fere e
enfraquece o próprio pecador, assim como as suas relações com Deus e com o
próximo. A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens
causadas pelo pecado (57). Aliviado do pecado, o pecador deve ainda recuperar a
perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer mais alguma coisa para reparar
os seus pecados: «satisfazer» de modo apropriado ou «expiar» os seus pecados. A
esta satisfação também se chama «penitência».
1460. A penitência que o confessor impõe deve ter
em conta a situação pessoal do penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve
corresponder, quanto possível, à gravidade e natureza dos pecados cometidos.
Pode consistir na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no serviço
do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação
paciente da cruz que temos de levar. Tais penitências ajudam-nos a
configurar-nos com Cristo, que, por Si só, expiou os nossos pecados (58) uma vez
por todas. Tais penitências fazem que nos tornemos co-herdeiros de Cristo
Ressuscitado, «uma vez que também sofremos com Ele» (Rm 8, 17) (59):
«Mas esta satisfação, que realizamos pelos nossos
pecados, não é possível senão por Jesus Cristo: nós que, por nós próprios, nada
podemos, com a ajuda "d'Aquele que nos conforta, podemos tudo" (60).
Assim, o homem não tem nada de que se gloriar. Toda a nossa «glória» está em
Cristo [...] em quem nós satisfazemos, "produzindo dignos frutos de penitência"
(61), os quais vão haurir n'Ele toda a sua força, por Ele são oferecidos ao
Pai, e graças a Ele são aceites pelo Pai» (62).
VIII. O
ministro deste sacramento
1461. Uma vez que Cristo confiou aos Apóstolos o
ministério da reconciliação (63) os bispos, seus sucessores, e os presbíteros,
colaboradores dos bispos, continuam a exercer tal ministério. Com efeito, os
bispos e os presbíteros é que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder
de perdoar todos os pecados, «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo».
1462. O perdão dos pecados reconcilia com Deus mas
também com a Igreja. O bispo, chefe visível da Igreja particular, é justamente
considerado, desde os tempos antigos, como o principal detentor do poder e
ministério da reconciliação: é o moderador da disciplina penitencial (64). Os
presbíteros, seus colaboradores, exercem-no na medida em que receberam o
respectivo encargo, quer do seu bispo (ou dum superior religioso), quer do
Papa, através do direito da Igreja (65).
1463. Certos pecados particularmente graves são
punidos pela excomunhão, a pena eclesiástica mais severa, que impede a recepção
dos sacramentos e o exercício de certos actos eclesiásticos (66) e cuja
absolvição, por conseguinte, só pode ser dada, segundo o direito da Igreja,
pelo Papa, pelo bispo do lugar ou por sacerdotes por eles autorizados (67). Em
caso de perigo de morte, qualquer sacerdote, mesmo que careça da faculdade de
ouvir confissões, pode absolver de qualquer pecado e de toda a excomunhão (68).
1464. Os sacerdotes devem exortar os fiéis a
aproximarem-se do sacramento da Penitência; e devem mostrar-se disponíveis para
a celebração deste sacramento, sempre que os cristãos o peçam de modo razoável
(69).
1465. Ao celebrar o sacramento da Penitência, o
sacerdote exerce o ministério do bom Pastor que procura a ovelha perdida: do
bom Samaritano que cura as feridas; do Pai que espera pelo filho pródigo e o
acolhe no seu regresso; do justo juiz que não faz acepção de pessoas e cujo
juízo é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso. Em resumo, o sacerdote é sinal
e instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador.
1466. O confessor não é dono, mas servidor do
perdão de Deus. O ministro deste sacramento deve unir-se à intenção e à
caridade de Cristo (70). Deve ter um conhecimento comprovado do comportamento
cristão, experiência das coisas humanas, respeito e delicadeza para com aquele
que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao Magistério da Igreja, e conduzir o
penitente com paciência para a cura e a maturidade plena. Deve rezar e fazer
penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.
1467. Dada a delicadeza e a grandeza deste
ministério e o respeito devido às pessoas, a igreja declara que todo o
sacerdote que ouve confissões está obrigado a guardar segredo absoluto sobre os
pecados que os seus penitentes lhe confessaram, sob penas severíssimas (71).
Tão pouco pode servir-se dos conhecimentos que a confissão lhe proporciona
sobre a vida dos penitentes. Este segredo, que não admite excepções, é chamado
«sigilo sacramental», porque aquilo que o penitente manifestou ao sacerdote
fica «selado» pelo sacramento.
IX. Os
efeitos deste sacramento
1468. «Toda a eficácia da Penitência consiste em
nos restituir à graça de Deus e em unir-nos a Ele numa amizade perfeita» (72).
O fim e o efeito deste sacramento são, pois, a reconciliação com Deus. Naqueles
que recebem o sacramento da Penitência com coração contrito e disposição
religiosa, seguem-se-lhe «a paz e a tranquilidade da consciência, acompanhadas
duma grande consolação espiritual» (73). Com efeito, o sacramento da
reconciliação com Deus leva a uma verdadeira «ressurreição espiritual», à
restituição da dignidade e dos bens próprios da vida dos filhos de Deus, o mais
precioso dos quais é a amizade do mesmo Deus (74).
1469. Este sacramento reconcilia-nos com a Igreja.
O pecado abala ou rompe a comunhão fraterna. O sacramento da Penitência
repara-a ou restaura-a. Nesse sentido, não se limita apenas a curar aquele que
é restabelecido na comunhão eclesial, mas também exerce um efeito vivificante
sobre a vida da Igreja que sofreu com o pecado de um dos seus membros (75).
Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador é fortalecido
pela permuta de bens espirituais entre todos os membros vivos do corpo de
Cristo, quer vivam ainda em estado de peregrinos, quer já tenham atingido a
pátria celeste (76):
«É de lembrar que a reconciliação com Deus tem como
consequência, por assim dizer, outras reconciliações, que trarão remédio a
outras rupturas produzidas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se
consigo mesmo no mais profundo do seu ser, onde recupera a própria verdade
interior: reconcilia-se com os irmãos, que de algum modo ofendeu e magoou:
reconcilia-se com a Igreja; reconcilia-se com toda a criação» (77).
1470. Neste sacramento, o pecador, remetendo-se ao
juízo misericordioso de Deus, de certo modo antecipa o julgamento a que será
submetido no fim desta vida terrena. É aqui e agora, nesta vida, que nos é
oferecida a opção entre a vida e a morte. Só pelo caminho da conversão é que
podemos entrar no Reino de onde o pecado grave nos exclui? (78). Convertendo-se
a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte à vida «e não é
sujeito a julgamento» (Jo 5, 24).
X. As
indulgências
1471. A doutrina e a prática das indulgências na
Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da Penitência.
O QUE É A
INDULGÊNCIA?
«A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena
temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel
devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições, pela acção da
Igreja, a qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua
autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos» (79). «A
indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcialmente ou na
totalidade da pena temporal devida ao pecado» (80). «O fiel pode lucrar para si
mesmo as indulgências [...], ou aplicá-las aos defuntos» (81).
AS PENAS DO
PECADO
1472. Para compreender esta doutrina e esta prática
da Igreja, deve ter-se presente que o pecado tem uma dupla consequência. O
pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, portanto, torna-nos
incapazes da vida eterna, cuja privação se chama «pena eterna» do pecado. Por
outro lado, todo o pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às
criaturas, o qual precisa de ser purificado, quer nesta vida quer depois da
morte, no estado que se chama Purgatório. Esta purificação liberta do que se
chama «pena temporal» do pecado. Estas duas penas não devem ser consideradas
como uma espécie de vingança, infligida por Deus, do exterior, mas como algo
decorrente da própria natureza do pecado. Uma conversão procedente duma
caridade fervorosa pode chegar à total purificação do pecador, de modo que
nenhuma pena subsista (82).
1473. O perdão do pecado e o restabelecimento da
comunhão com Deus trazem consigo a abolição das penas eternas do pecado. Mas
subsistem as penas temporais. O cristão deve esforçar-se por aceitar, como uma
graça, estas penas temporais do pecado, suportando pacientemente os sofrimentos
e as provações de toda a espécie e, chegada a hora, enfrentando serenamente a
morte: deve aplicar-se, através de obras de misericórdia e de caridade, bem
como pela oração e pelas diferentes práticas da penitência, a despojar-se
completamente do «homem velho» e a revestir-se do «homem novo» (83).
NA COMUNHÃO
DOS SANTOS
1474. O cristão que procura purificar-se do seu
pecado e santificar-se com a ajuda da graça de Deus, não se encontra só. «A
vida de cada um dos filhos de Deus está ligada de modo admirável, em Cristo e
por Cristo, à vida de todos os outros irmãos cristãos, na unidade sobrenatural
do corpo Místico de Cristo, como que numa pessoa mística» (84).
1475. Na comunhão dos santos, «existe, portanto,
entre os fiéis – os que já estão na pátria celeste, os que foram admitidos à
expiação do Purgatório, e os que vivem ainda peregrinos na terra – um constante
laço de amor e uma abundante permuta de todos os bens» (85). Nesta admirável
permuta, a santidade de um aproveita aos demais, muito para além do dano que o
pecado de um tenha podido causar aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos
santos permite ao pecador contrito ser purificado mais depressa e mais
eficazmente das penas do pecado.
1476. A estes bens espirituais da comunhão dos
santos, também lhes chamamos o tesouro da Igreja, «que não é um somatório de
bens, como quando se trata das riquezas materiais acumuladas no decurso dos
séculos, mas sim o preço infinito e inesgotável que têm junto de Deus as
expiações e méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade
seja liberta do pecado e chegue à comunhão com o Pai. É em Cristo, nosso
Redentor, que se encontram em abundância as satisfações e os méritos da sua
redenção (86)».
1477. «Pertencem igualmente a este tesouro o preço
verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo que têm junto de Deus as
orações e boas obras da bem‑aventurada
Virgem Maria e de todos os santos, que se santificaram pela graça de Cristo,
seguindo as suas pegadas, e que realizaram uma obra agradável ao Pai; de
modo que, trabalhando pela sua própria salvação, igualmente cooperaram na
salvação dos seus irmãos na unidade do corpo Místico» (87).
OBTER A
INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA
1478. A indulgência obtém-se mediante a Igreja que,
em virtude do poder de ligar e desligar que lhe foi concedido por Jesus Cristo,
intervém a favor dum cristão e lhe abre o tesouro dos méritos de Cristo e dos
santos, para obter do Pai das misericórdias o perdão das penas temporais
devidas pelos seus pecados. É assim que a Igreja não quer somente vir em ajuda
deste cristão, mas também incitá-lo a obras de piedade, penitência e caridade»
(88).
1479. Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de
purificação, também são membros da mesma comunhão dos santos, nós podemos
ajudá-los, entre outros modos, obtendo para eles indulgências, de modo que
sejam libertos das penas temporais devidas pelos seus pecados.
XI. A
celebração do sacramento da Penitência
1480. Tal como todos os sacramentos, a Penitência é
uma acção litúrgica. Ordinariamente, os elementos da sua celebração são os
seguintes: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para
iluminar a consciência e suscitar a contrição e exortação ao arrependimento: a
confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao sacerdote; a imposição e
aceitação da penitência; a absolvição do sacerdote; o louvor de acção de graças
e a despedida com a bênção do sacerdote.
1481. A liturgia bizantina tem várias fórmulas de absolvição,
em forma deprecativa, que exprimem admiravelmente o mistério do perdão: «Deus,
que pelo profeta Natan perdoou a David, quando ele confessou os seus próprios
pecados, a Pedro depois de ele ter chorado amargamente, à pecadora depois de
ela ter derramado lágrimas a seus pés, ao publicano e ao pródigo, este mesmo
Deus vos perdoe, por intermédio de mim pecador, nesta vida e na outra, e vos
faça comparecer, sem vos condenar no seu temível tribunal: Ele que é bendito
pelos séculos dos séculos. Ámen» (89).
1482. O sacramento da Penitência pode também ter
lugar no âmbito duma celebração comunitária, na qual se faz uma preparação
conjunta para a confissão e conjuntamente se dão graças pelo perdão recebido.
Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição individual são
inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de
consciência feito em comum, pedido comunitário de perdão, oração do Pai Nosso e
acção de graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais claramente o
carácter eclesial da penitência. No entanto, seja qual for a forma da sua
celebração, o sacramento da Penitência é sempre, por sua própria natureza, uma
acção litúrgica, portanto eclesial e pública (90).
1483. Em casos de grave necessidade, pode-se recorrer
à celebração comunitária da reconciliação, com confissão geral e absolvição
geral. Tal necessidade grave pode ocorrer quando há perigo iminente de morte,
sem que o sacerdote ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a
confissão de cada penitente. A necessidade grave pode existir também quando,
tendo em conta o número dos penitentes, não há confessores bastantes para ouvir
devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de modo que os
penitentes, sem culpa sua, se vejam privados, durante muito tempo, da graça
sacramental ou da sagrada Comunhão. Neste caso, para a validade da absolvição,
os fiéis devem ter o propósito de confessar individualmente os seus pecados
graves em tempo oportuno (91). Pertence ao bispo diocesano julgar se as
condições requeridas para a absolvição geral existem (92). Uma grande afluência
de fiéis, por ocasião de grandes festas ou de peregrinações, não constitui um
desses casos de grave necessidade (93).
1484. «A confissão individual e íntegra e a
absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o fiel, consciente de
pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja: somente a impossibilidade
física ou moral o escusa desta forma de confissão» (94). Há razões profundas
para que assim seja. Cristo age em cada um dos sacramentos. Ele dirige-Se
pessoalmente a cada um dos pecadores: «Meu filho, os teus pecados são-te
perdoados» (Mc 2, 5); Ele é o médico que Se inclina sobre cada um dos doentes
com necessidade d'Ele (95) « para os curar: alivia-os e reintegra-os na
comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da
reconciliação com Deus e com a Igreja.
Resumindo:
1485. «Na tarde da Páscoa, o Senhor Jesus apareceu
aos seus Apóstolos e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem
perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes
ser-lhes-ão retidos"» (Jo 20, 22-23).
1486. 0 perdão dos pecados cometidos depois do
Baptismo é concedido por meio dum sacramento próprio, chamado sacramento da
Conversão, da Confissão, da Penitência ou da Reconciliação.
1487. Quem peca, ofende a honra de Deus e o seu
amor, a sua própria dignidade de homem chamado a ser filho de Deus, e o
bem-estar espiritual da Igreja, da qual cada fiel deve ser pedra viva.
1488. Aos olhos da fé, não existe mal mais grave do
que o pecado; nada tem piores consequências para os próprios pecadores, para a
Igreja e para todo o mundo.
1489. Voltar à comunhão com Deus, depois de a ter
perdido pelo pecado, é um movimento nascido da graça do mesmo Deus
misericordioso e cheio de interesse pela salvação dos homens. Deve pedir-se
esta graça preciosa, tanto para si mesmo como para os outros.
1490. O movimento de regresso a Deus, pela
conversão e arrependimento, implica dor e aversão em relação aos pecados
cometidos, e o propósito firme de não tornar a pecar no futuro. Portanto, a
conversão refere-se ao passado e ao futuro: alimenta-se da esperança na
misericórdia divina.
1491. O sacramento da Penitência é constituído pelo
conjunto de três actos realizados pelo penitente e pela absolvição do
sacerdote. Os actos do penitente são: o arrependimento, a confissão ou
manifestação dos pecados ao sacerdote e o propósito de cumprir a reparação e as
obras de reparação.
1492. O arrependimento (também chamado contrição)
deve inspirar-se em motivações que brotam da fé. Se for motivado pelo amor de
caridade para com Deus, diz-se «perfeito»; se fundado em outros motivos, diz-se
«imperfeito».
1493. Aquele que quer obter a reconciliação com
Deus e com a Igreja, deve confessar ao sacerdote todos os pecados graves que
ainda não tiver confessado e de que se lembre depois de ter examinado
cuidadosamente a sua consciência. A confissão das faltas veniais, sem ser em si
necessária, é todavia vivamente recomendada pela Igreja.
1494. O confessor propõe ao penitente o cumprimento
de certos actos de «satisfação» ou «penitência», com o fim de reparar o mal
causado pelo pecado e restabelecer os hábitos próprios dum discípulo de Cristo.
1495. Só os sacerdotes que receberam da autoridade
da Igreja a faculdade de absolver; podem perdoar os pecados em nome de Cristo.
1496. Os efeitos espirituais do sacramento da
Penitência são:
– a reconciliação com Deus, pela qual o penitente
recupera a graça;
– a reconciliação com a Igreja;
– a remissão da pena eterna, em que incorreu
pelos pecados mortais;
– a remissão, ao menos em parte, das penas
temporais, consequência do pecado;
– a paz e a serenidade da consciência e a
consolação espiritual;
– o acréscimo das forças espirituais para o
combate cristão.
1497. A confissão individual e integral dos pecados
graves, seguida da absolvição, continua a ser o único meio ordinário para a
reconciliação com Deus e com a Igreja.
1495. Por meio das indulgências, os fiéis podem
obter para si próprios, e também para as almas do Purgatório, a remissão das
penas temporais, consequência do pecado.
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Fonte: Santa
Sé
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