sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Medalha de São Bento


O que significam aquelas inscrições na medalha?

Ao contrário do que muitos pensam a medalha de São Bento não é um “amuleto da sorte”. Trata-se de um sacramental, isto é, um sinal visível de nossa fé.

Na parte frontal da medalha são apresentados uma cruz e entre seus braços estão gravadas as letras C S P B, cujo significado é, do latim: Cruz Sancti Patris Benedicti“Cruz do Santo Pai Bento”.

Na haste vertical da cruz leem-se as iniciais  C S S M L: Crux Sacra Sit Mihi Lux“A cruz sagrada seja minha luz”.

Na haste horizontal leem-se as iniciais  N D S M D: Non Draco Sit Mihi Dux – “Não seja o dragão meu guia”.

No alto da cruz está gravada a palavra PAX (“Paz”), que é lema da Ordem de São Bento. Às vezes, PAX é substituído pelo monograma de Cristo: I H S.

A partir da direita de PAX estão as iniciais: V R S N S M V: Vade Retro Sátana Nunquam Suade Mihi Vana – “Retira-te, satanás, nunca me aconselhes coisas vãs!” e S M Q L I V B: Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas – “É mau o que ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos!”.


Nas costas da medalha está São Bento, segurando na mão esquerda o livro da Regra que escreveu para os monges e, na outra mão, a cruz.

Ao redor do Santo lê-se a seguinte jaculatória ou prece: EIUS – IN – OBITU – NRO – PRAESENTIA – MUNIAMUR – “Sejamos confortados pela presença de São Bento na hora de nossa morte”.

É representado também a imagem de um cálice do qual sai uma serpente e um corvo com um pedaço de pão no bico, lembrando as duas tentativas de envenenamento, das quais São Bento saiu, milagrosamente, ileso. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O pálio do arcebispo: honra ou serviço?


Na noite de sexta-feira, dia 9, na Catedral de Curitiba, o núncio apostólico colocou em meus ombros o pálio. Trata-se de um ornamento litúrgico, usado pelos arcebispos, que consiste em uma faixa de lã adornada com algumas cruzes colocada sobre os ombros. É um costume muito antigo na Igreja, talvez já desde o século 6º. Entre os muitos significados ao longo da história, o papa Francisco, quando o entregou aos novos arcebispos em Roma, enfatizou o seu sentido pastoral. É o símbolo do pastor que leva sobre seus ombros a ovelha, particularmente a que mais precisa dos seus cuidados.

Mas o alcance de sentido não se resume apenas a aspectos de pastoreio. Por ser feito de lã de ovelha, é verdade que aflora facilmente à imaginação do cristão a recordação do bom pastor. Mas a significação vai mais longe. A lã e a ovelha recordam também o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. O cordeiro, animal dócil e manso, no imaginário do povo bíblico, carregava sobre si os pecados e os erros de muitos. Aliás, é desde essa tradição que surgiu, por derivação, a expressão “bode expiatório”. Jesus suportou os insultos e infidelidades de quantos não o acolheram. Em linha de seguimento, quem é pastor em seu nome será chamado a participar de experiências semelhantes. E o pálio recebido pede disposições parecidas por parte de quem o usa.

Além deste aspecto de renúncia, de despojamento, o ornamento tirado da lã de ovelhas faz recordar, sim, as escolhas do Senhor enquanto pastor do seu rebanho. A simbologia do pastor é uma das mais caras à cultura bíblica. Eram pastores que “guardavam suas ovelhas” os primeiros a saber que nascera o Salvador (Lc 2,8-20). Para falar da misericórdia e solicitude de Deus com os que erram, Jesus se serviu dos traços do pastor que vai em busca da ovelha perdida (Lc 15,4-7). Mas, mais do que imagens ilustrativas, foi sua pessoa a realizar tudo o que os símbolos expressam. Apresentou-se como o “bom pastor” cujo sentido da vida é viver para as suas ovelhas (cf. Jo 10,11). 

Advogados espanhóis farão denúncia de negligência contra médicos que atenderam a menina Andrea


A associação espanhola de Advogados Cristãos estuda denunciar o responsável pelo Serviço de Pediatria do Complexo Hospitalar em Santiago de Compostela, dirigido por José Luis Martinón, por ter retirado a alimentação da menina Andrea – causando a sua morte –, apesar deste ser “um meio ordinário”.

Segundo declarou ao Grupo ACI a presidenta da Associação Advogados Cristãos, Polonia Castellanos, o motivo da denúncia é que “existem muitos pacientes e pessoas que têm uma sonda de gastrostomia e não queremos que este caso seja um precedente pelo que tirem de motu próprio este tipo de alimentação artificial das pessoas”.

Além disso, precisou ao Grupo ACI que “devemos confiar na profissão dos médicos, a qual merece todo respeito e nosso apoio e, por isso, quando existem este tipo de negligências, devem ser denunciadas”, pois “não queremos desprestigiar a profissão dos médicos”.

Nesse sentido, Castellanos assegurou ainda que a denúncia “implicaria primeiramente uma inabilitação para aqueles profissionais que cometeram a negligência e uma multa econômica”.

Até então, Alfonso Alonso, Ministro da Saúde, Políticas Sociais e Igualdade, não os atendeu, mas Polonia Castellanos assegurou que “seria muito bom que nos atendesse”. E ainda sublinhou que “temos muito trabalho e não vamos esperar que nos atenda. Nos dedicamos à defesa da vida, da família e da justiça e o fato de nos reunir ou não com ele não paralisará o nosso trabalho”. 

Cinema abre novas sessões para o filme Terra de Maria


O longa-metragem Terra de Maria, lançado em todo país em 12 de outubro, no Dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, é sucesso de bilheteria no Estado do Espírito Santo.

O filme produzido em 2013 na Espanha foi gravado em 10 países como Reino Unido, Colômbia, México, Panamá e Estados Unidos. Ele conta a história de um "Advogado do Diabo", pago para realizar uma investigação com o objetivo de saber como pessoas simples e normais divulgam o nome de Maria, a intermediária entre a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), que aparece de surpresa a alguns escolhidos para falar sobre os ensinamentos da religião. Essas pessoas são as responsáveis por espalhar esses depoimentos pelo mundo e contagiar multidões pela fé.

Logo no dia de estreia, a sessão teve lotação máxima de público. O Cinemark do Shopping Vila Velha, único exibidor do filme, abriu uma sessão extra, que também teve os ingressos esgotados em pouco tempo.

Algumas pessoas não conseguiram comprar os bilhetes, como a estudante Nathália Gnocchi de Bittencourt, 15 anos, e o médico veterinário Rafael Vieira Ribeiro, 37 anos, que tentaram até pela internet.

"Tentei ir ontem, mas na hora que fui comprar o ingresso online estava dizendo que a sessão já estava lotada", disse a estudante.

O médico Rafael Vieira contou que foi até o cinema do shopping, mas as sessões estavam com bilheteria esgotada: "Eu fui lá pra assistir. Mas não consegui, pois já tinha esgotado. Vi que tinha muita gente na fila pra comprar. Ainda pretendo ver o filme", comenta. 

Testemunho de ex protestante a católico!


Olá, meus amigos e minhas amigas, venho através deste meio de comunicação expressar minha alegria e gratidão em retornar à Casa de Deus, a Santa e Única Igreja Católica Apostólica Romana.

Nasci em lar católico, na minha cidade natal de Aiuaba-Ceará. Durante minha infância e adolescência cresci um pouco desligado das coisas da fé, limitando-me a apenas algumas poucas missas em ocasiões especiais como Natal, Festas da Padroeira, dentre outras. No entanto, aqui devo dizer que só agora compreendo um sonho que tive certa vez de estar pregando na Igreja Católica, mas sem conseguir entender como isso se daria.

Conheci o protestantismo através das pregações de amigos e amigas a quem estimo e considero com amor fraternal, pois os considero irmãos e irmãs em Cristo, dado que a Igreja Católica sempre os considerou e considera como “irmãos separados”.

Chegando à idade adulta tomei uma decisão difícil e enfrentei diversas provações para aderir à “nova fé cristã” no protestantismo assembleiano pentecostal, onde conheci Fábia, minha esposa com quem tive dois filhos. Vivemos em Aiuaba por alguns anos. E foi estudando a bíblia que fui convidado pelo pastor para anunciar o evangelho e ajudar na igreja através da música e do louvor.

Enfrentando dificuldades de conseguir trabalho, mudamos para Santa Catarina, onde vivemos até hoje. Aqui chegando, consegui trabalho e pude também realizar um antigo sonho de cursar Teologia. Matriculei-me num curso de Teologia pela Faculdade São Brás e ali tive algumas surpresas que colocaram em estado de alerta e expectativa diante de algumas certezas que alimentei por mais de 10 anos no protestantismo. O curso de Teologia recomendado pela igreja assembleia de Deus de Santa Catarina fez-me conhecer doutos e mui preparados professores de eclesiologia, história da Igreja, e outras disciplinas. Foi especificamente na disciplina de História da Igreja que tive um verdadeiro encontro pessoal com meu Salvador: o professor elogiou a Bíblia de Jerusalém (Edição Católica) como a melhor tradução da Bíblia de estudos em português. Como se não bastasse, ainda indicou estudar com atenção os Pais da Igreja (Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Irineu de Lyon, Tertuliano de Cartago, Orígenes de Alexandria, Cipriano de Cartago, Eusébio de Cesaréia, Agostinho de Hipona etc) que me dei conta de que a Igreja Cristã não nasceu na Reforma Protestante em meados de 1500, com os conhecidos Reformadores Lutero, Calvino e outros. Mas nasceu realmente nos dias de Cristo, quando este andando aqui entre nós, chegou a afirmar para Pedro:

“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mateus 16,18-19) E, mais ainda falou: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” (Mateus 28,20). Ora, meus amigos, como pode ter acontecido - pensava eu em dias de muito sofrimento e dúvida interior – como explicar que Jesus Cristo tivesse ensinado e doutrinado Sua Dileta Esposa, a Igreja Cristã através dos apóstolos e dos pais da Igreja durante mais de 15 séculos por meio de Seu Espírito Santo e então, chegando em 1500, inspirou Lutero e os demais a dizer que estava a Sua Igreja errada e ensinando heresias?

Isso foi um verdadeiro choque! Não conseguia nem mesmo me alimentar direito e passei noites sem dormir normalmente impressionado e tentando encontrar uma forma de harmonizar os ensinos dos Padres da Igreja com o Protestantismo.

Foi tudo em vão! Não consegui e sofri ainda quando reli a passagem de Efésios capítulo 4, versos de 3 a 6 e vi Paulo falando de UNIDADE DA FÉ, UMA SÓ FÉ E UM SÓ BATISMO: “Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos.” (Efésios 4,3-6)

Aí foi que eu sofri, por que como harmonizar, na verdade, a diversidade de igrejas protestantes, todas ensinando doutrinas desencontradas a partir da mesma bíblia. Eles dizem que são ministérios diferentes, mas na verdade não é bem assim: uns pregam que os dons espirituais ainda agem nos dias de hoje e outros os negam veementemente, baseados na mesma bíblia. Uns dizem que a trindade não é mais que invenção de alguns e outros sustentam sua veracidade com base bíblica. Uns ensinam que se deve dar o dízimo e outros dizem que não é mais necessário. Uns deixam mulheres ser ordenadas como pastoras, bispas e diaconisas e outros apenas os homens. Ou seja, isso não satisfaz o desejo de Paulo quando fala sobre a UNIDADE DA FÉ Depois meu primo Liminha Feitosa, que tanto se esforçou em me evangelizar durante esse 10 anos, me indicou os vídeos do professor Paulo Leitão, daí foi que as coisas passou a ficar mais clara ainda, quanto mais se esclarecia, mais eu ficava confuso enfim...

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Professor educador


Amanhã, dia 15, dia de Santa Teresa de Jesus, grande mestra da vida espiritual, e exatamente por isso, é comemorado o dia do professor. Da mesma ordem religiosa de Santa Teresa, temos outra mestra, mas da simplicidade diária na santidade, Santa Teresinha do Menino Jesus, que dedicou sua vida no Carmelo à oração e ao sacrifício pelos missionários, sendo por isso, proclamada padroeira das Missões, cujo dia celebraremos no próximo domingo.

Deixo aqui consignada a minha saudação e gratidão a todos os que se dedicam a essa nobre e benemérita carreira, difícil, mas nem sempre reconhecida e condignamente gratificada. Mais do que uma profissão, educar é uma arte, uma vocação e uma missão: formar, conduzir crianças, jovens e adultos no caminho da verdade, sugerindo opiniões conscientes, aconselhando e tornando-se amigos e irmãos dos seus alunos. Que Deus os abençoe e lhes dê coragem, paciência e perseverança nessa sua verdadeira missão. Missionários da educação!

Ser professor é ser educador e mestre. E ser mestre é muito mais do que ensinar matérias, como bem escreveu o nosso ilustre poeta Antônio Roberto Fernandes, de saudosa memória:

“Ser mestre não é só contar a história/
de um certo Pedro Álvares Cabral/
Mas descobrir, de novo, a cada dia,/
um mundo grande, livre, fraternal.
- Ser mestre não é só mostrar nos mapas/
onde se encontra o Pico da Neblina/
Mas é subir, guiando os alunos,/
à montanha da vida que se empina...
Ser mestre é ser o pai, a mãe, o amigo,/
mostrando sempre a direção da luz,/
pois a palavra Mestre – sobretudo –/
também é um dos nomes de Jesus”.

Papa dedica catequese às crianças e pede perdão por escândalos.


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 14 de outubro de 2015


Queridos irmãos e irmãs, bom dia! Hoje como as previsões do tempo estavam um pouco inseguras e se previa a chuva, esta audiência se faz ao mesmo tempo em dois lugares: nós aqui na praça e 700 doentes na Sala Paulo VI que seguem a audiência por telão. Todos estamos unidos e os saudamos com um aplauso.

A palavra de Jesus é forte hoje: “Ai do mundo por causa dos escândalos!”. Jesus é realista e diz: “É inevitável que escândalos aconteçam, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem”. Gostaria de, antes de começar a catequese, em nome da Igreja, pedir perdão pelos escândalos que foram cometidos nos últimos tempos, seja em Roma ou no Vaticano, peço perdão.

Hoje vamos refletir sobre um tema muito importante: as promessas que fazemos às crianças. Não falo tanto das promessas que fazemos aqui e ali, durante o dia, para fazê-los felizes ou para estarem bem (talvez com qualquer truque inocente: te dou uma bala e promessas similares…) para levá-los a empenhar-se na escola ou para dissuadi-los a qualquer capricho. Falo de outras promessas, das promessas mais importantes, decisivas para suas expectativas nos confrontos da vida, para sua confiança nos confrontos dos seres humanos, para sua capacidade de conceber o nome de Deus como uma benção. São promessas que nós fazemos para eles.

Nós adultos estamos prontos a falar das crianças como de uma promessa da vida. Todos dizemos: as crianças são uma promessa da vida. E também somos fáceis de nos comovermos dizendo aos jovens que são o nosso futuro, é verdade. Mas me pergunto, às vezes, se somos tão sérios com o seu futuro, com o futuro das crianças e com o futuro dos jovens! Uma pergunta que devemos nos fazer muitas vezes é essa: quanto somos leais com as promessas que fazemos às crianças, fazendo-as vir ao nosso mundo? Nós fazemos com que elas venham ao mundo e essa é uma promessa, o que prometemos a elas?

Acolhimento e cuidado, proximidade e atenção, confiança e esperança, são promessas de base que se podem resumir em uma só: amor. Nós prometemos amor, isso é, amor que se exprime no acolhimento, no cuidado, na proximidade, na atenção, na confiança e na esperança, mas a grande promessa é o amor. Esse é o modo mais justo de acolher um ser humano que vem ao mundo e todos nós aprendemos isso, antes mesmo de sermos conscientes. Eu gosto tanto quando vejo os pais e as mães, quando passo entre vocês, trazendo a mim um menino, uma menina pequeninos e pergunto: “Quanto tempo tem? – “Três semanas, quatro semanas…peço a benção do Senhor”. Também isso se chama amor. O amor é a promessa que o homem e a mulher fazem a cada filho: desde quando foi concebido no pensamento. As crianças vêm ao mundo e se espera de ter confirmada essa promessa: espertam-no de modo total, confiante, indefeso. Basta olhar para elas: em todas as etnias, em todas as culturas, em todas as condições de vida! Quando acontece o contrário, as crianças são feridas por um “escândalo”, por um escândalo insuportável, tão mais grave, pois não têm os meios para decifrá-lo. Não podem entender o que acontece. Deus vigia sobre essa promessa, desde o primeiro instante. Lembram o que disse Jesus? Os Anjos das crianças refletem o olhar de Deus e Deus não perde nunca de vista as crianças (cfr Mt 18, 10). Ai daqueles que traem a sua confiança, ai! O seu confiante abandono à nossa promessa que nos empenha desde o primeiro instante, nos julga.

E gostaria de acrescentar outra coisa, com muito respeito por todos, mas também com muita franqueza. A confiança delas (das crianças) em Deus nunca deveria ser ferida, sobretudo quando acontece por motivo de uma certa presunção (mais ou menos inconsciente) de substituir a Ele. A terna e misteriosa relação de Deus com a alma das crianças não deveria nunca ser violada. É uma relação real, que Deus a quer e Deus a protege. A criança está pronta desde o nascimento para sentir-se amada por Deus, está pronta para isso. Não apenas é capaz de sentir que é amada por si mesma, um filho sente também que há um Deus que ama as crianças. 

Homilética: 29º Domingo Comum - Ano B: "Quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos".


Hoje a liturgia gira em torno do serviço, do serviço que Jesus veio inaugurar com a sua vida e o seu ministério. 

A leitura de Isaías nos leva a refletir sobre a missão de Deus de assumir os pecados da humanidade escravizada pelo pecado original. Jesus assumirá nossos pecados, carregará nossos pecados inaugurando um tempo novo, o tempo da salvação. No quarto canto do Servo de Javé, Deus não segue a lógica dos homens. O justo esmagado é que assume e resgata as faltas dos “muitos”. Por isso, Deus o exalta, na figura de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Evangelho.

A primeira leitura demostra, uma vez mais, como os valores de Deus e os valores dos homens são diferentes. Na lógica dos homens, os vencedores são aqueles que tomam o mundo de assalto com o seu poder, com o seu dinheiro, com a sua ânsia de triunfo e de domínio, com a sua capacidade de impor as suas ideias ou a sua visão do mundo; são aqueles impressionam pela forma como vestem, pela sua beleza, pela sua inteligência, pelas suas brilhantes qualidades humanas…

Na lógica de Deus, os vencedores são aqueles que, embora vivendo no esquecimento, na humildade, na simplicidade, sabem fazer da própria vida um dom de amor aos irmãos; são aqueles que, com as suas atitudes de serviço e de entrega, trazem ao mundo uma mais valia de vida, de libertação e de esperança.

Irmãos e irmãs, o cenário do Evangelho de hoje(cf. Mc. 10,35-45) é a estrada para Jerusalém. Jesus e os Apóstolos se aproximam da cidade Santa. Dois discípulos queriam sentar-se, um à direita e outro à esquerda, de Jesus. Puro engano! Ainda não haviam compreendido o projeto de salvação de Jesus, que era morrer na Cruz pela salvação da humanidade.

Tiago e João cometeram o pecado de querer ser iguais ao Deus Salvador. Isso é um grave pecado, querer usurpar o lugar do Redentor, porque Tiago e João não poderiam morrer na cruz pela nossa salvação: essa era uma missão privativa do Filho de Deus, que depois subirá ao Céu e se sentará à direita do Pai. Jesus se humilha, fazendo-se servidor e morrendo pelos nossos pecados, para ser glorificado, ou seja, irromper a morte e anunciar a vida eterna. Jesus nos ensina hoje a amar e esperar com fé e esperança a morte.

A Morte de Jesus é para nós muito cara, principalmente quando relembramos que todos nós bebemos do mesmo cálice da salvação e recebemos o mesmo batismo, ou seja, a porta de entrada para sermos associados ao Senhor Ressuscitado, pela salvação.

Todos nós temos muito de João e Tiago: queremos o Reino de Deus, mas não trabalhamos para isso, não fazemos jus a este prêmio eterno. Hoje os homens procuram o poder, a glória, o ter, a honra. O que nós devemos ter é uma atitude de desprendimento, de renúncia, de serviço, é humilhar-se como Cristo, para subir ao céu depois de nossa peregrinação neste mundo!

Caros irmãos, na lógica da “mundanidade” os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores politicamente corretos…

Em geral como concebe o nosso mundo social e político o uso da autoridade, dos ministérios, dos papéis e das funções? Promoção e honra, ambição e prestígio, domínio e tirania. Megalomania, arbitrariedade, tirania: eis ai a definição de muitos reinos e impérios da história passada: Nero, Sérvio Sulpicio Galba, Vespasiano... Isto é, “quantos súditos tenho para mandar, quantas bombas para disparar, quanto dinheiro para gastar”. Ambição, megalomania, exploração (ditatorial, republicana, democrática...): eis ai a definição de alguns Estados e nações na história contemporânea. Isto é: “quantos tenho que pisar para subir, que impostos impor para emagrecer os que têm e cevar os confrades do partido, quantos azulejos tenho que quebrar e corromper de religião, moral, matrimônio, família, filhos para me manter na poltrona”. E, desgraçadamente, não só no campo social e político, mas também familiar ou comunitário, isto pode acontecer. Está sempre ai a tentação de dominar e tiranizar os outros, se eles se deixam.

E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.

Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.

Olhemos para Cristo, o nosso exemplo supremo. Não quis prerrogativas, nem ambições. Rebaixou-se, fez-se nada, arregaçou as mangas e lavou os pés. Veio para servir, e não para ser servido. Serviu o seu Pai celestial. Serviu Maria e José, os seus pais aqui na terra. Serviu a humanidade, curando, consolando, dando de comer, pregando a mensagem da salvação. Não quis nada em troca. Veio para dar a vida em resgate por todos. Onde resgate equivale à libertação do pecado e do cativeiro do demônio, mas também libertação das estruturas sociais, políticas, econômicas, religiosas, sindicais... opressoras do homem. Cristo não é um líder divino que abre caminho vencendo inimigos e instaurando um Reino de Deus político, não é um dominador, mas um servidor; não um vencedor, mas um vencido e rendido por amor.