Apesar de não ter seu nome mencionado nem nos Evangelhos nem nos Atos dos Apóstolos, São Tito é reconhecido como um dos 72 discípulos de Jesus. Não era só mais um seguidor, portanto, pois o Mestre era realmente muito exigente: "Enquanto caminhavam, um homem Lhe disse: 'Senhor, seguir-Te-ei para onde quer que vás.' Jesus replicou-lhe: 'As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.' A outro disse: 'Segue-Me.' Mas ele pediu: 'Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai.' Mas Jesus disse-lhe: 'Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus.' Um outro ainda Lhe falou: 'Senhor, seguir-Te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa.' Mas Jesus disse-lhe: 'Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus.'" Lc 9,57-62
São Lucas narrou assim: "Depois disso, designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir. Disse-lhes: 'Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe. Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos.'" Lc 10,1-3
Por certo, foi uma missão muito bem sucedida: "Voltaram alegres os setenta e dois, dizendo: 'Senhor, até os demônios se nos submetem em Teu Nome!'" Lc 10.17
São Tito presenciou o Primeiro Concílio da Igreja, realizado em Jerusalém, levado até lá por São Paulo e São Barnabé: "Catorze anos mais tarde, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também Tito comigo. E subi em consequência de uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que prego entre os pagãos, e isso particularmente aos que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido em vão." Gl 2,1-2
Não era judeu, como escreveu São Paulo quando defendia que a circuncisão não era mais obrigatória: "Entretanto, nem sequer meu companheiro Tito, embora gentio, foi obrigado a circuncidar-se." Gl 2,3
Ele foi enviado a Jerusalém por São Paulo para entregar uma coleta feita em Corinto, para ajudar cristãos que passavam por dificuldades: "De maneira que recomendamos a Tito que leve a termo entre vós esta obra de caridade, como havia começado." 2 Cor 8,6
De fato, ele era o missionário preferido de São Paulo, e andava na companhia de ninguém menos que São Lucas: "Bendito seja Deus, por ter posto no coração de Tito a mesma solicitude por vós. Não só recebeu bem o meu pedido, mas, no ardor do seu zelo, espontaneamente partiu para vos visitar. Juntamente com ele enviamos o irmão, cujo renome na pregação do Evangelho se espalha em todas as igrejas." 2 Cor 8,16-18
Prova da capacidade de São Tito como mediador, foi o fato de São Paulo ter-lhe enviado para resolver graves questões de comportamento entre os fiéis em Corinto: "Se minha carta vos penalizou, não me arrependo. De fato, a tristeza segundo Deus produz um arrependimento salutar de que ninguém se arrepende, enquanto a tristeza do mundo produz a morte. Portanto, se vos escrevi, não o fiz por causa daquele que cometeu a ofensa, nem por causa do ofendido; foi para que se manifestasse a vossa dedicação por mim diante de Deus. Eis o que nos tem consolado. Mas, acima desta consolação, o que nos deixou sobremaneira contentes foi a alegria de Tito, cujo coração tranquilizastes." 2 Cor 7,8.10.12-13
Ele tinha grandes dons pessoais, pois se afeiçoava facilmente aos fiéis e conseguiu cativar os coríntios: "A sua afeição por vós é cada vez maior, quando se lembra da obediência que todos vós lhe testemunhastes, de como o recebestes com respeito e deferência." 2 Cor 7,15
Ainda na Carta aos Coríntios, São Paulo fala de São Tito com um carinho especial, pois era um grande interlocutor e mensageiro da consolação: "De fato, à nossa chegada em Macedônia, nenhum repouso teve o nosso corpo. Eram aflições de todos os lados, combates por fora, temores por dentro. Deus, porém, que consola os humildes, confortou-nos com a chegada de Tito; e não somente com a sua chegada, mas também com a consolação que ele recebeu de vós. Ele nos contou o vosso ardor, as vossas lágrimas, a vossa solicitude por mim, de modo que ainda mais me regozijei." 2 Cor 7,5-8
E pede que eles o apresentem e o recomendem aos demais cristãos: "Quanto a Tito, é o meu companheiro e o meu colaborador junto de vós; quanto aos nossos irmãos, são legados das igrejas, que são a glória de Cristo. Portanto, em presença das igrejas, demonstrai-lhes vossa caridade e o verdadeiro motivo da ufania que sentimos por vós." 2 Cor 8,23-24
São Paulo indicou São Tito como Bispo de Creta e, na Carta bíblica que leva seu nome, deu-lhe instruções para o crescimento da Igreja, investindo bispos e presbíteros e supervisionando-lhes o comportamento: "... a Tito, meu verdadeiro filho em nossa fé comum... Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres Anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei. Porquanto é mister que o Bispo seja irrepreensível... ... repreende-os severamente, para que se mantenham sãos na fé..." Tt 1,4-5.7.13
Apesar de terremotos e ter sido atacada por vândalos e eslavos, além de várias vezes pelos árabes, ainda resistem ao tempo as ruínas da Basílica que lhe foi dedicada em Creta, uma das maiores ilhas do mar Mediterrâneo, onde floresceu a mais antiga civilização da Europa.
Sua missão não foi nada fácil. São Paulo avisou do quanto o povo de Creta lhe seria indócil: "Um dentre eles, o profeta deles disse: 'Os cretenses são sempre mentirosos, feras selvagens, glutões preguiçosos.'" Tt 1,12
Por isso lhe recomenda que dê ênfase ao seu testemunho de vida perante os jovens: "Exorta também os jovens a serem ponderados. ... mostra-te em tudo modelo de bom comportamento: pela integridade na doutrina, gravidade, linguagem sã e irrepreensível ..." Tt 2,6-8
E cita a purificação dos pecados pelo sacrifício de Cristo como o grande ensinamento da Igreja: "Veio para nos ensinar a renunciar ao ateísmo e às paixões mundanas e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade... Jesus Cristo, que Se entregou por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniquidade, nos purificar e nos constituir Seu povo de predileção, zeloso na prática do bem. Eis o que deves ensinar, pregar e defender com toda a autoridade." Tt 2,12-15
Por fim, São Paulo faz uma exaltação à divina misericórdia e à regeneração operada pelo Espírito Santo, pedindo a São Tito que as ensine: "E, não por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de Sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o Batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido em profusão, por meio de Cristo, Nosso Salvador, para que a justificação obtida por Sua graça nos torne, em esperança, herdeiros da Vida Eterna. Certa é esta doutrina, e quero que a ensines com constância e firmeza, para que os que abraçaram a fé em Deus se esforcem por se aperfeiçoar na prática do bem." Tt 3,5-8
E pede sua presença para tratar de assuntos da Igreja na cidade de Nicópolis, situada na costa oeste da Grécia continental, em águas do mar Jônico: "Logo que eu te enviar Ártemas ou Tíquico, apressa-te a vir ter comigo em Nicópolis, onde decidi passar o inverno." Tt 3,12
São Paulo ainda enviou São Tito em uma missão especial à Dalmácia, na atual Croácia, onde ainda hoje sua memória é muito bem celebrada e, de 1291 a 1294, foi local de 'estadia' da Santa Casa do Loreto. Essa incumbência consta entre os despachos de São Paulo, conforme escreveu na Carta a São Timóteo: "Demas me abandonou, por amor das coisas do século presente, e se foi para Tessalônica. Crescente, para a Galácia; Tito, para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, porque me é bem útil para o ministério. Tíquico enviei-o para Éfeso." 2 Tm 4,10-12
Mas em seguida ele teria retornado a Creta, onde viveu até 95 anos de idade, quando foi martirizado na cidade de Gortina, antiga capital romana da ilha. Hoje seu crânio é venerado na cidade portuária de Iráclio, atual capital, na igreja que leva seu nome. Ele havia sido levado a Veneza em 1669, por causa da invasão dos turcos, mas foi trazido de volta em 1966 para a alegria dos cretenses.