sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O amor fraterno a exemplo de Cristo


Nada nos impele tanto ao amor dos inimigos – e é nisso que consiste a perfeição do amor fraterno – do que considerar com gratidão a admirável paciência de Cristo, o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44,3). Ele apresentou seu rosto cheio de beleza aos ultrajes dos ímpios; deixou-os velar seus olhos que governam o universo com um sinal; expôs seu corpo aos açoites; submeteu às pontadas dos espinhos sua cabeça, que faz tremer os principados e as potestades; entregou-se aos opróbrios e às injúrias; finalmente,suportou com paciência a cruz, os cravos, a lança, o fel e o vinagre, conservando em tudo a doçura, a mansidão e a serenidade.

Depois, como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca (Is 53,7).

Ao ouvir esta palavra admirável, cheia de doçura, cheia de amor e de imperturbável serenidade: Pai, perdoa-lhes! (Lc 23,34), quem não abraçaria logo com todo o afeto os seus inimigos? Pai, perdoa-lhes!, disse Jesus. Poderá haver oração que exprima maior mansidão e caridade?

Entretanto, Jesus não se contentou em pedir; quis ainda desculpar, e acrescentou: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34). São, na verdade, grandes pecadores, mas não sabem avaliar a gravidade de seu pecado. Por isso, Pai, perdoa-lhes! Crucificaram-me, mas não sabem a quem crucificaram, porque, se soubessem, não teriam crucificado o Senhor da glória (1Cor 2,8). Por isso, Pai, perdoa-lhes! Julgaram-me um transgressor da lei, um usurpador da divindade, um sedutor do povo. Ocultei-lhes a minha face, não reconheceram a minha majestade. Por isso, Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!

Por conseguinte, se o homem quer amar-se a si mesmo com amor autêntico, não se deixa corromper por nenhum prazer da carne. Para não sucumbir a essa concupiscência da carne, dirija todo o seu afeto à admirável humanidade do Senhor. Para encontrar mais perfeito e suave repouso nas delícias da caridade fraterna, abrace também com verdadeiro amor os seus inimigos.

Mas, para que esse fogo divino não arrefeça diante das injúrias, contemple sem cessar, com os olhos do coração, a serena paciência de seu amado Senhor e Salvador. 


Do “Espelho da Caridade”, do Bem-aventurado Elredo, abade

(Lib. 3,5: PL 195,582)            (Séc.XI)

Cinco motivos ruins pelos quais as pessoas deixam a igreja


Não é nenhum segredo que a chama da fé em nosso mundo parece se enfraquecer a cada dia que passa. As pessoas ao redor do globo acham cada vez mais difícil acreditar em um Ser superior e propósito. O que não pode ser visto, tocado ou ouvido perde validade em qualquer argumento. Muitos optam por andar longe de suas igrejas e sua fé.

Enquanto cada indivíduo tem o direito de parar de adorar uma divindade ou viver uma teologia que já não lhe serve, nestes tempos cheios de dúvida levanta-se a questão: Existem más razões para deixar a sua crença para trás? Definitivamente.

Dito isto, a luta entre a fé  e a dúvida é real e muitas vezes complicada. Não é algo para ser tomado de ânimo leve. No entanto, nestes tempos confusos, é importante estarmos cientes das seguintes cinco razões realmente ruins para deixar sua igreja.

1.   Pecar é apenas muito mais divertido

Você pode se surpreender que este motivo para deixar uma igreja é na verdade muito menos comum do que você imagina. Ainda assim, há muita gente que se entrega a esse pensamento, então vale a pena mencionar. 

A estrada cheia de pecado sempre parece ser uma rua fácil. Ela se apresenta como uma via glamourosa com muita diversão, prazer fácil, gente descontraída e feliz. Mas a experiência mostra que, embora a viagem possa ser divertida e confortável por um momento, o caminho logo se torna uma estrada esburacada e perturbada. O tráfego é rápido, e é difícil encontrar uma saída segura.

A alegria duradoura é muito diferente do que mera diversão. A alegria é eterna e cheia de felicidade. A definição de pecado vai contra o que você sabe ser certo. Os investimentos em alegria levam a uma vida de integridade e honestidade. Não acredite na mentira de que pecar é mais fácil. O arrependimento e restituição, sempre que possível, raramente são indolores. Escolha a rota mais segura.

2.   Os membros da igreja devem ser pessoas melhores

Dã. Mas não é esse o ponto? Se as igrejas fossem para pessoas perfeitas, elas estariam vazios; para não mencionar inúteis. Todos nós devemos ser pessoas melhores, e é exatamente por isso que vamos à igreja – para tentar melhorar a nós mesmos. Assim como você gostaria que os outros lhe dessem chance para crescer e cometer erros, conceda-lhes essa mesma cortesia.

Líderes e membros da Igreja vão deixar você para baixo. É um fato. Mas a verdadeira fé não é baseada em pessoas ou reputações. É baseada em Deus e na Sua confiabilidade. Se alguém lhe ofendeu, perdoe-lhe. Se um membro da igreja é um hipócrita, lembre-se de que você também é. Nenhum de nós vive perfeitamente para o que pregamos, embora tentemos agir corretamente e de acordo coerente com nossa fé.

Isto não desculpa atos de abuso, no entanto. Se os membros ou líderes de desobedecem as leis da terra ou fazem um prejuízo real para as pessoas, suas ações não devem de modo algum ser puxadas para debaixo do tapete. Você ainda pode perdoá-los, mas você não precisa confiar neles.

3.   Não há tempo suficiente

A vida no século 21 não está fácil para qualquer um. O tempo é um bem precioso. Se a sua igreja parece estar exigindo muito do seu tempo tome um momento para avaliar sua programação inteira.

As coisas que você coloca mais valor estão na prioridade em sua vida? Ou, as tarefas menos importantes é que estão tendo precedência?

Faça a si mesmo estas perguntas sempre que você começar a sentir que frequentar a igreja é só uma obrigação. Pense se seus serviços ou outras atividades da igreja abençoam ou causam dificuldade para sua vida. Se elas te abençoam em sua vida, então não basta deixá-las! Encontre o equilíbrio, e lembre-se de que nenhuma rotina de exercícios, farra de compras, projeto acabado ou semelhantes se compara a crescer mais perto de seu Deus e tornar-se a pessoa que você deseja se tornar.

Nós damos tempo para o que é importante para nós. É correto dizer não a coisas que são boas, mas não essenciais, de modo que você tenha tempo para o que é melhor e crucial. 

São Conrado de Placência


Era casado e vivia na cidade de Placência, na Itália. Certo dia, em que estava caçando lebres e faisões, causou um incêndio acidental que provocou grandes danos. Em seguida ele fugiu para escapar à justiça. Ao saber que um inocente fora condenado em seu lugar, apresentou-se, confessou sua responsabilidade e ofereceu todos os seus bens para indenizar os prejuízos. Este gesto fez Conrado gastar todo seu dinheiro e ele acabou ficando pobre.

Mas ninguém conhece os caminhos do Senhor. O caçador incendiário ingressou num Convento, na Ordem Terceira de S. Francisco, abandonando a esposa, que também retirou-se para um mosteiro. Apesar destes gestos bruscos, Conrado era muito bom e piedoso.

Em 1343 chegou a Siracusa e estabeleceu-se na cidade de Noto. Escolheu como habitação uma cela ao lado da igreja do Crucifixo. A fama de sua santidade foi aumentando e comprometia a paz e o silêncio de que tanto gostava. Quando percebeu que as muitas visitas perturbavam sua vida de oração, frei Conrado levantou acampamento e foi humildemente para uma solitária gruta dos Pizzoni, que foi depois chamada de gruta de são Conrado.

Morreu a 19 de fevereiro de 1351. Frei Conrado foi sepultado entre as esplêndidas igrejas de Noto. Viveu 40 anos na oração e na penitência.  

ORAÇÃO


Meu querido Pai, celebrando hoje a memória de São Conrado, permita-nos seguir seu exemplo e buscar Deus em todos os momentos da vida. Que nossa vida seja cercada de oração e de ações amorosas em favor do próximo, sobretudo os mais abandonados. Isso pedimos por Cristo, nosso Senhor. Amém.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O Papa Francisco não liberou o uso de contraceptivos!


E tome treta aérea, Povo Católico!

O avião do Papa nem desceu direito e os jornais já estão estampando a barbaridade abaixo:


Pra variar, pinçaram ideologicamente o que lhes interessava dizer. A pergunta em questão foi essa aqui, feita por Paloma Garcia, da “Cope” (uma agência de notícias espanhola):

Santo Padre, há algumas semanas há muita preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o vírus “Zika”. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angustia. Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez. Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “entre os males, o menor”?

Papa Francisco: O aborto não é um “mal menor”. É um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz, eh? É um crime. É um mal absoluto. Sobre “mal menor”: mas, evitar a gravidez é – falemos em termos de conflito entre o quinto e o sexto Mandamento. Paulo VI, o Grande, em uma situação difícil, na África, permitiu às religiosas de usar anticoncepcionais para os casos de violência. Não confundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o aborto. O aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar uma outra – nos melhores dos casos. Ou por conforto, não? Vai contra o Juramento de Hipócrates que os médicos devem fazer. É um mal em si mesmo, mas não é um mal religioso, ao início: não, é um mal humano. Além disso, evidentemente, já que é um mal humano – como todos assassinatos – é condenado. Ao invés, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e, em certos casos, como neste, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI, era claro. Ainda, eu exortaria os médicos para que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes dois mosquitos que trazem este mal: sobre isto se deve trabalhar. Obrigado.

Eu sei, eu sei… você leu, leu, leu e, no final das contas, ficou com a impressão de que ele disse isso mesmo, não foi? A questão é que ele se deteve em comparar o sexto com o quinto mandamento. E deixou claro: o aborto não é um problema religioso, é humano, porque tem a ver com assassinato, com escolher quem pode e quem não pode viver. É um crime!

A questão da contracepção acaba sendo menos grave (do ponto de vista não-religioso), porque é um problema teológico. É pecado. Mas você ainda está vivo pra poder consertar, ao contrário do aborto que é irreversível.

Dom Odilo Scherer fez exatamente a mesma observação em uma entrevista há pouco tempo atrás (Entrevista Dom Odilo). Ele coloca o aborto como crime e a contracepção como problema de liberdade. Só lembrando que optar por esperar um pouco para engravidar, não envolve necessariamente contracepção, já que pode ser feito por continência ou Método Billings! 

Coletiva de imprensa do Papa Francisco no voo de retorno do México


No voo de regresso a Roma (Itália), depois de sua visita apostólica ao México, de 12 a 17 de fevereiro, o Papa Francisco concedeu como sempre uma coletiva de imprensa aos jornalistas que viajaram com ele. O Pontífice abordou diversos assuntos, entre os quais, o encontro em Cuba com o Patriarca russo Kirill, a comunhão aos divorciados em nova união, a situação atual da Europa, o vírus Zika ou a pedofilia de sacerdotes. A seguir, a transcrição da coletiva de imprensa:

Pergunta: Santo Padre, no México existem milhares de desaparecidos, todavia o caso dos 43 de Ayotzinapa, é um caso emblemático. Gostaria de pedir-lhe porque não encontrou seus familiares e também uma mensagem para os familiares dos milhares de desaparecidos.

Resposta: Se leres as mensagens, há referências continuas aos assassinatos, às mortes, à vida tomada por todas estas gangues do narcotráfico, dos traficantes de seres humanos. Ou seja, o problema é apresentado. Falei das chagas que o México está sofrendo, não? Houve tentativas de receber alguns. Eram tantos grupos, mesmo opostos entre eles, com lutas internas. Portanto, prefiro dizer que na Missa se veem todos, na Missa de Juárez, se preferirem, ou em qualquer outra. Todavia, teria tido esta disponibilidade. Era praticamente impossível receber todos os grupos, que, de um lado, eram opostos entre eles.

É uma situação difícil de entender, para mim claramente que sou estrangeiro, verdade? Mas creio que, também a sociedade mexicana seja vítima de tudo isso: dos crimes, deste fazer desaparecer as pessoas, de descartar as pessoas. Sobre isso eu falei. Sendo um discurso público, podes constatar ali. É uma dor muito grande que trago, porque este povo não merece um drama como este.

Pergunta: O tema da pedofilia, como sabe, tem raízes muito perigosas no México, muito dolorosas. O caso de padre Maciel deixou fortes sinais, sobretudo nestas vítimas. As vítimas continuam a sentir-se não protegidas da Igreja; muitos deles continuam a ser homens de fé, e alguns até mesmo seguiram o sacerdócio. Pergunto o que pensa deste tema, se em qualquer momento pensou em encontrar as vítimas e, em geral, esta ideia que aos sacerdotes, quando são descobertos por um caso desta natureza, sejam somente trocados de paróquia e nada mais. Como vê este tema? E muito obrigado.

Resposta: Bem, começo da segunda. Um bispo que troca um sacerdote de paróquia quando se reconhece um caso de pedofilia, é um inconsciente, e o melhor que pode fazer é apresentar sua renúncia. Claro? Segundo, voltando ao caso Maciel. E aqui, me permito de prestar homenagem ao homem que lutou em momentos em que não tinha a força para se impor, até que não conseguiu se impor: Ratzinger. O cardeal Ratzinger – um aplauso para ele! É um homem que teve toda a documentação. Quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve tudo em suas mãos, fez investigações, obteve, obteve, obteve... mas não pode guiar a execução. Porém, se vocês recordarem, dez dias antes de morrer, São João Paulo II – naquela Via-Sacra da Sexta-feira Santa – disse a toda a Igreja que era preciso limpar as “porcarias” da Igreja, as imundícies. E a Missa “Pro Eligendo Pontefice” – não é um bobo, sabia que era um candidato – não usou máscaras e disse exatamente a mesma coisa. Ou seja, foi o corajoso que ajudou tantos a abrir esta porta.

Assim quero que vocês recordem dele porque, às vezes, nos esquecemos deste trabalho escondido, daqueles que prepararam a estrada para desvelar esta página.

Terceiro, estamos trabalhando bastante. Com o cardeal secretário de Estado, estamos conversando, e também com o grupo dos novos cardeais conselheiros que, podem ouvir, decidiram nomear um terceiro secretário adjunto à Doutrina da Fé, para que se ocupe somente destes casos. A Congregação, de fato, não é suficiente com tudo aquilo que tem que se feito. Portanto, que saiba administrar isto. Além disso, foi constituída a Corte de Apelação, presidida por mons. Scicluna, que se esta ocupando dos casos em segunda instância, quando se recorrer. O primeiro recurso, de fato, é feito pela “feria quarta” da Doutrina da Fé – líamos – reúne-se na quarta-feira.

Quando há o recurso, volta-se à primeira instância e isto não é justo. Então, o segundo recurso, perfeitamente legal, já com o advogado de defesa. Mas é preciso apurar porque temos tantos atrasos nos casos, porque aparecem casos. Quarto, sobre outra coisa sobre a qual se esta trabalhando muito bem é a Comissão para a tutela dos menores.

Não é rigorosamente fechada aos casos de pedofilia, mas à tutela dos menores. Ali, me reuni com uma inteira manhã com seis dos integrantes – dois alemães, dois irlandeses e dois ingleses: homens e mulheres, abusados, vítimas, não, e me reuni conta tantas vítimas... onde foi? No Equador? (Em Filadélfia). Em Filadélfia, me desculpem! Em Filadélfia! Também lá, uma manhã, tive um encontro com as vítimas e sei que se está trabalhando.

Mas eu agradeço a Deus que esta página tenha sido revelada, e é preciso continuar a revelá-la, e tomar consciência. E, por fim, quero dizer que é uma monstruosidade, porque um sacerdote é consagrado para levar uma criança a Deus e lá se “aproveita” dela como em um sacrifício diabólico, destruindo-a.

Bem, no que diz respeito a Maciel, voltando à Congregação, foi feito uma intervenção, e hoje a Congregação, o governo da Congregação, fez uma “semi-intevenção”. O Superior geral é eleito pelo Conselho, pelo Capítulo Geral, mas o Vigário é eleito pelo Papa. Dois conselheiros gerais são eleitos pelo Capítulo Geral e outros dois são eleitos pelo Papa, de modo tal que se ajude a controlar a história precedente. 

Papa aos mexicanos: converter o que degrada a humanidade


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO MÉXICO
Santa Missa em Ciudad Juárez
Quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

“A glória de Deus é a vida do homem: dizia Santo Ireneu, no século II; uma afirmação, que continua a ressoar no coração da Igreja. A glória do Pai é a vida dos seus filhos. Não há maior glória para um pai do que ver a realização dos seus; não há maior satisfação do que vê-los avançar, vê-los crescer e desenvolver-se. Assim o atesta a primeira Leitura que escutámos e nos falava de Nínive, uma grande cidade que se estava auto-destruindo em consequência da opressão e degradação, da violência e injustiça. A grande capital tinha os dias contados, pois não era mais tolerável a violência nela gerada. Então aparece o Senhor movendo o coração de Jonas; aparece o Pai convidando e enviando o seu mensageiro. Jonas é chamado para receber uma missão: Vai lá! Porque, «dentro de quarenta dias, Nínive será destruída» (Jn 3, 4). Vai! Ajuda-os a compreender que, com esta forma de comportar-se, regular-se, organizar-se, a única coisa que estão a gerar é morte e destruição, sofrimento e opressão. Faz-lhes ver que não há vida para ninguém, nem para o rei nem para o súbdito, nem para os campos nem para o gado. Vai e anuncia que eles se habituaram de tal maneira à degradação, que perderam a sensibilidade perante o sofrimento. Vai e diz-lhes que a injustiça se apoderou do seu olhar. Por isso, Jonas parte; Deus envia-o para pôr em evidência o que estava a acontecer; envia-o para despertar um povo inebriado de si mesmo.

Neste texto, encontramo-nos perante o mistério da misericórdia divina. A misericórdia sempre rejeita o mal, tomando muito a sério o ser humano; sempre faz apelo à bondade adormecida, anestesiada, de cada pessoa. Longe de aniquilar, como muitas vezes pretendemos ou queremos fazê-lo, a misericórdia aproxima-se de cada situação para a transformar a partir de dentro. Isto é precisamente o mistério da misericórdia divina: aproxima-se e convida à conversão, convida ao arrependimento; convida a ver o dano que está a ser causado a todos os níveis. A misericórdia sempre entra no mal para o transformar.

O rei ouviu, os habitantes da cidade reagiram e foi decretado o arrependimento. A misericórdia de Deus entrou no coração, revelando e manifestando algo que será a nossa certeza e a nossa esperança: há sempre a possibilidade de mudar, estamos a tempo de reagir e transformar, modificar e alterar, converter aquilo que nos está a destruir como povo, o que nos está a degradar como humanidade. A misericórdia anima-nos a olhar o presente e confiar naquilo que, de são e bom, está escondido em cada coração. A misericórdia de Deus é o nosso escudo e a nossa fortaleza. 

Lucro e capital não são superiores ao homem, diz Papa


Viagem Apostólica do Papa Francisco ao México
Discurso no Encontro com o mundo do trabalho na Ciudad Juárez

Queridos irmãos e irmãs!

Quis encontrar-me convosco nesta terra de Juárez, devido à relação especial que esta cidade tem com o mundo do trabalho. Agradeço-vos não só a saudação de boas-vindas e os vossos testemunhos que revelaram as ânsias, as alegrias e as esperanças que sentis na vossa vida, mas gostaria também de vos agradecer esta oportunidade de intercâmbio e reflexão. Tudo o que pudermos fazer para dialogar, para nos encontrar, para procurar melhores alternativas e oportunidades já é uma conquista que merece apreço e destaque. Obviamente não é suficiente, mas hoje não podemos permitir-nos o luxo de cortar qualquer possibilidade de encontro, discussão, confronto, pesquisa. Esta é a única maneira que temos de poder construir o amanhã: ir tecendo relações duradouras, capazes de gerar a estrutura necessária para, pouco a pouco, se reconstruir os vínculos sociais consumidos pela falta do mínimo de respeito requerido para uma sadia convivência. Obrigado e que esta instância sirva para construir futuro, seja uma oportunidade boa para forjar o México que o seu povo e os seus filhos merecem.

Quereria debruçar-me sobre este último aspecto. Hoje encontram-se aqui várias organizações de trabalhadores e representantes de câmaras e associações empresariais. À primeira vista, poderiam considerar-se antagonistas, mas une-os uma responsabilidade comum: procurar criar oportunidades de trabalho digno e verdadeiramente útil para a sociedade e sobretudo para os jovens desta terra. Um dos maiores flagelos a que estão expostos os vossos jovens é a falta de oportunidades de instrução e trabalho sustentável e rentável, que lhes permitam lançar-se na vida; isso gera em muitos casos situações de pobreza. E esta pobreza torna-se o terreno favorável para cair na espiral do narcotráfico e da violência. Um luxo que ninguém se pode conceder é deixar só e abandonado o presente e o futuro do México.

Infelizmente, o tempo em que vivemos impôs o paradigma da utilidade económica como princípio das relações pessoais. A mentalidade dominante pretende a maior quantidade possível de lucro, a todo o custo e imediatamente. Não só provoca a perda da dimensão ética das empresas, mas esquece também que o melhor investimento que se pode fazer é investir no povo, nas pessoas, nas suas famílias. O melhor investimento é criar oportunidades. A mentalidade dominante coloca o fluxo de pessoas ao serviço do fluxo de capitais, provocando em muitos casos a exploração dos trabalhadores, como se fossem objectos que se usam e jogam fora (cf. Enc. Laudato si’, 123). Deus pedirá contas aos esclavagistas dos nossos dias, e nós devemos fazer todo o possível para que estas situações não ocorram mais. O fluxo do capital não pode determinar o fluxo e a vida das pessoas.

Sucede, não raramente, que a Doutrina Social da Igreja veja as suas propostas colocadas em questão com estas palavras: «Estes pretendem que sejamos organizações de beneficência ou que transformemos as nossas empresas em instituições filantrópicas». Mas a única pretensão que tem a Doutrina Social da Igreja é velar pela integridade das pessoas e das estruturas sociais. Sempre que esta integridade, por várias razões, é ameaçada ou reduzida a bem de consumo, a Doutrina Social da Igreja há-de ser uma voz profética que nos ajudará a todos a não nos perdermos no mar sedutor da ambição. Sempre que a integridade duma pessoa é violada, de certa forma a sociedade inteira começa a deteriorar-se. E isto não é contra ninguém, mas a favor de todos. Cada sector tem a obrigação de preocupar-se pelo bem de todos; estamos todos no mesmo barco. Todos devemos lutar para que o trabalho seja uma instância de humanização e de futuro; seja um espaço para construir sociedade e cidadania. Esta atitude não só cria uma melhoria imediata, mas, a longo prazo, tornar-se-á uma cultura capaz de promover espaços dignos para todos. Esta cultura, nascida muitas vezes de tensões, vai gerando um novo estilo de relações, um novo tipo de nação. 

Imitemos o exemplo de Cristo como pastor


Se quereis parecer-vos com Deus porque fostes criados à sua imagem, imitai o seu exemplo. Se sois cristãos, nome que já é uma proclamação de caridade, imitai o amor de Cristo.

Considerai as riquezas de sua bondade. Estando para vir como homem ao meio dos homens, enviou à sua frente João, como pregoeiro e exemplo de penitência; e antes de João, tinha enviado todos os profetas para ensinarem aos homens o arrependimento, a volta ao bom caminho e a conversão a uma vida melhor.

Vindo, pouco depois, ele mesmo em pessoa, proclamou coma sua voz: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e fatigados e eu vos darei descanso (Mt 11,28). Como acolheu ele os que ouviram a sua voz? Concedeu-lhes sem dificuldade o perdão dos pecados e a imediata libertação de seus sofrimentos. O Verbo os santificou, o Espírito os confirmou; o velho homem foi sepultado nas águas do batismo e o novo, regenerado, resplandeceu pela graça.

Que conseguimos ainda? De inimigos de Deus, nos tornamos amigos; de estranhos, filhos; e de pagãos, santos e piedosos.

Imitemos o exemplo de Cristo como pastor. Contemplemos os evangelhos e vendo neles, como num espelho, o exemplo de sua solicitude e bondade, aprendamos a praticá-las.

Vejo ali, em parábolas e figuras, um pastor de cem ovelhas que, ao verificar que uma delas se afastara do rebanho e andava sem rumo, não permaneceu com as outras que pastavam tranquilamente. Saiu à sua procura, atravessando vales e florestas, transpondo altos e escarpados montes, percorrendo desertos, num esforço incansável até encontrá-la.

Tendo-a encontrado, não a castigou nem a obrigou com violência a voltar para o rebanho; pelo contrário, tomando-a nos ombros e tratando-a com doçura, levou-a para o aprisco, alegrando-se mais por esta única ovelha recuperada do que por todas as outras. Consideremos a realidade oculta na obscuridade da parábola. Nem esta ovelha nem este pastor são propriamente uma ovelha e um pastor; são imagem de uma realidade mais profunda.

Há nesses exemplos um ensinamento sagrado: nunca devemos considerar os homens como perdidos e sem esperança de salvação,nem deixar de ajudar com todo empenho os que se encontram em perigo nem demorar em prestar-lhes auxílio. Pelo contrário, reconduzamos ao bom caminho os que se afastaram da verdadeira vida e alegremo-nos com a sua volta à comunhão daqueles que vivem reta e piedosamente.


Das Homilias de Santo Astério de Amaséia, bispo

(Hom. 13:PG40,355-358.362)             (Séc.V)