quarta-feira, 23 de março de 2016

A plenitude do amor


Irmãos caríssimos, o Senhor definiu a plenitude do amor com que devemos amar-nos uns aos outros, quando disse: Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Daqui se conclui o que o mesmo evangelista João diz em sua epístola: Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos (1Jo 3,16), amando-nos verdadeiramente uns aos outros, como ele nos amou até dar a sua vida por nós.

É certamente a mesma coisa que se lê nos Provérbios de Salomão: Quando te sentares à mesa de um poderoso, olha com atenção o que te é oferecido; e estende a tua mão, sabendo que também deves preparar coisas semelhantes (cf. Pr 23,1-2 Vulg.).

Ora, a mesa do poderoso é a mesa em que se recebe o corpo e o sangue daquele que deu a sua vida por nós. Sentar-se à mesa significa aproximar-se com humildade. Olhar com atenção o que é oferecido, é tomar consciência da grandeza desta graça. E estender a mão sabendo que também se devem preparar coisas semelhantes, significa o que já disse antes: assim como Cristo deu a sua vida por nós, também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. É o que diz o apóstolo Pedro: Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos os seus passos (cf. 1Pd 2,21). Isto significa preparar coisas semelhantes. Foi o que fizeram, com ardente amor, os santos mártires. Se não quisermos celebrar inutilmente as suas memórias e nos sentarmos sem proveito à mesa do Senhor, no banquete onde eles se saciaram, é preciso que, como eles, preparemos coisas semelhantes.

Por isso, quando nos aproximamos da mesa do Senhor, não recordamos os mártires do mesmo modo como aos outros que dormem o sono da paz, ou seja, não rezamos por eles, mas antes pedimos para que rezem por nós, a fim de seguirmos os seus passos. Pois já alcançaram a plenitude daquele amor acima do qual não pode haver outro maior, conforme disse o Senhor. Eles apresentaram a seus irmãos o mesmo que por sua vez receberam da mesa do Senhor.

Não queremos dizer com isso que possamos nos igualar a Cristo Senhor, mesmo que, por sua causa, soframos o martírio até o derramamento de sangue. Ele teve o poder de dar a sua vida e depois retomá-la; nós, pelo contrário, não vivemos quanto queremos, e morremos mesmo contra a nossa vontade. Ele, morrendo, matou em si a morte; nós, por sua morte, somos libertados da morte. A sua carne não sofreu a corrupção; a nossa, só depois de passar pela corrupção, será por ele revestida de incorruptibilidade, no fim do mundo. Ele não precisou de nós para nos salvar; entretanto, sem ele nós não podemos fazer nada. Ele se apresentou a nós como a videira para os ramos; nós não podemos ter a vida se nos separarmos dele.

Finalmente, ainda que os irmãos morram pelos irmãos, nenhum mártir derramou o seu sangue pela remissão dos pecados de seus irmãos, como ele fez por nós. Isto, porém, não para que o imitássemos, mas como um motivo para agradecermos. Portanto, na medida em que os mártires derramaram seu sangue pelos irmãos, prepararam o mesmo que tinham recebido da mesa do Senhor. Amemo-nos também a nós uns aos outros, como Cristo nos amou e se entregou por nós. 



Do Tratado sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo
(Tract. 84,1-2:CCL36,536-538)

(Séc.V)

Quarta-feira Santa: Judas atraiçoa Jesus.


Na Quarta-Feira Santa recordamos a triste história daquele que foi Apóstolo de Cristo: Judas. Assim conta São Mateus no seu evangelho: “Um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus”.

Por que a Igreja recorda este acontecimento? Para que nos convençamos de que todos podemos comportar-nos como Judas. Para que peçamos ao Senhor que, da nossa parte, não haja traições, nem distanciamentos, nem abandonos. Não somente pelas consequências negativas que isso poderia trazer às nossas vidas pessoais, o que já seria muito; mas porque poderíamos arrastar outros, que necessitam da ajuda do nosso bom exemplo, do nosso ânimo, da nossa amizade.

Em alguns lugares da América, as imagens de Cristo crucificado mostram uma chaga profunda na face esquerda do Senhor. E contam que essa chaga representa o beijo de Judas. Tão grande é a dor que os nossos pecados causam a Jesus! Digamos-lhe que desejamos ser-lhe fiéis: que não queremos vendê-lo – como Judas – por trinta moedas, por uma ninharia, pois isso são todos os pecados: a soberba, a inveja, a impureza, o ódio, o ressentimento... Quando uma tentação ameaça atirar-nos para o chão, pensemos que não vale a pena trocar a felicidade dos filhos de Deus, que é o que somos, por um prazer que logo acaba e deixa o gosto amargo da derrota e da infidelidade.

Temos de sentir o peso da Igreja e de toda a humanidade. Não é admirável saber que qualquer um de nós pode ter influência no mundo inteiro? No lugar onde estamos, realizando bem o nosso trabalho, cuidando da família, servindo os amigos, podemos ajudar a felicidade de tantas pessoas. Como escreve São Josemaria Escrivá, com o cumprimento dos nossos deveres cristãos, temos de ser como a pedra caída no lago. – “Produz, com o teu exemplo e com a tua palavra um primeiro círculo... e este, outro... e outro, e outro... Até chegar aos lugares mais remotos”.

Vamos pedir ao Senhor que não o atraiçoemos mais; que saibamos afastar, com a sua graça, as tentações que o demônio nos apresenta, enganando-nos. Temos de dizer que não, decididamente, a tudo o que nos afaste de Deus. Assim não se repetirá na nossa vida a desgraçada história de Judas.

E se nos sentirmos débeis, corramos ao Santo Sacramento da Penitência! Ali o Senhor nos espera, como o pai da parábola do filho pródigo, para nos dar um abraço e oferecer-nos a sua amizade. Continuamente sai ao nosso encontro, ainda que tenhamos caído baixo, muito baixo. Sempre é tempo de voltar a Deus! Não reajamos com desânimo, nem com pessimismo. Não pensemos: que vou fazer, se sou um cúmulo de misérias? Maior é a misericórdia de Deus! Que vou fazer, se caio uma e outra vez pela minha debilidade? Maior é o poder de Deus, para nos levantar das nossas quedas! 

O Testamento de Jesus

 
Na quinta-feira santa, véspera da morte de Jesus, dia da instituição da Eucaristia, apogeu do Seu amor e ternura, Ele quis se perpetuar entre nós. Na cruz, ao morrer, dá-nos por completo as provas desse amor.

A Sexta-feira Santa só dura um dia (como sacrifício cruento), enquanto que a Quinta-feira Santa irá perdoar enquanto durar o mundo e os sacerdotes, seus representantes entre nós. Na quinta, sabendo que ia morrer na sexta, lembrando que também é Pai, no mistério da Santíssima Trindade, desejou redigir Seu testamento. Ato importante de qualquer família é o ato derradeiro da vida, que irá se prolongar além-túmulo.

O Pai deixa para seus filhos o que possui; porém, não pode se dar a si mesmo. Jesus fez a cada filho uma doação de si mesmo. Não possuía bens e nem riqueza terrena, e aquele que esperava dele tais bens nada recebeu a não ser uma cruz, pregos e uma coroa de espinhos. Se Jesus fosse rico, neste sentido, e distribuísse herança, teria uma quantidade enorme de discípulos, mas, ao contrário, nada tinha, nem mesmo glórias humanas, já que naquela noite de terror foi coberto de vergonha. No entanto, quis “redigir Seu testamento”. De quê? De si mesmo!

São Turíbio de Mogrovejo


Até os quarenta e dois anos, a carreira de Turíbio poderia dizer-se que era normal, sob todos os aspectos.

Nasceu em Mayorga, Espanha, em l538, e morreu no dia 23 de março de l606, numa quinta-feira santa. Com um tio cônego que o protegia, Turíbio estudou em várias universidades e preparava, em Oviedo, o doutorado em direito. Também ele recebera a tonsura, sem passar mais adiante no serviço da Igreja. Estava assim já preparado para ingressar naquela burocracia dos "letrados".

Seguindo o processo normal das coisas, recebeu uma nomeação para o Santo Ofício em Granada. Sua vida particular distinguia-se pela clareza, mas não parece ter excedido nunca o simplesmente honesto. Todavia, a indicação de seu nome, por Filipe II, para arcebispo de Lima, deu uma dimensão totalmente nova à sua vida.

Recebeu todas as ordens com a idade de quarenta e um anos, e a partir deste momento nasce um dos maiores apóstolos da história da Igreja. Calcula-se que percorreu a pé, ou a cavalo, mais de 40 mil quilômetros, visitando até os últimos lugarejos de sua diocese, numa das geografias mais difíceis do mundo, desde as quebradas com neve perpétua dos Andes, até os desertos tórridos do Pacífico. Segundo seus próprios cálculos, teria administrado pessoalmente o sacramento da confirmação a noventa mil pessoas.

Obrigou o clero a se instruir, restaurou a disciplina, construiu escolas, igrejas, e fundou em Lima o primeiro seminário da América Espanhola. Ao morrer, fez questão de receber o viático numa Capelinha indígena. Nos últimos instantes de sua vida, pediu que fossem cantados os Salmos 116 e 31.

Como chefe da principal Igreja da América, dedicou-se, inflexivelmente, a aplicar a reforma de Trento. Isto levou-o a enfrentar-se repetidas vezes com os vice-reis, com o Conselho das Índias e com o próprio rei, imbuídos de idéias regalistas. Não cedeu: os dez concílios diocesanos e os três provinciais que celebrou formaram a estrutura legal da Igreja da América espanhola até o século XX. Com razão foi chamado "apóstolo do Peru".  



Ó Deus, que aos vossos pastores associastes São Turíbio de Mogrovejo, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, daí-nos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé, para participarmos de sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

terça-feira, 22 de março de 2016

Avaliação médica da morte de Jesus


Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo.

Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo. Posso portanto escrever sem presunção a respeito de morte. Jesus entrou em agonia no Getsêmani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra.

O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas, e o faz com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou “hematidrose”, é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produziu o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas; o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.

Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue.

Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo). Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, entrega-O para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos… A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário.

Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros; Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos e os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso. Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida sabe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim.

O sangue começa a escorrer; Jesus é deitado de costas; as suas chagas se incrustam de pó e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apóiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado.

Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego; quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas.

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; conseqüentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira.

Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor.

Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu nada desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede… Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. É isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios.

A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.

Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.

Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça.

Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.

Inimaginável! 

Homilética: Paixão do Senhor: "Servo, Sacerdote e Rei".




Hoje é o único dia do ano litúrgico em que não se celebra a Santa Missa. Nós celebramos hoje a chamada Ação Litúrgica com a leitura solene da paixão segundo São João, rezando-se em seguida as orações solenes, prosseguindo com a Adoração da Cruz e, por fim, a Comunhão.

Portanto, durante do Tríduo Sagrado, a liturgia segue os passos do Senhor Jesus mais cerradamente ainda do que no tempo da Quaresma. O Tríduo Santo é um grande drama, uma grande encenação do sofrimento do Senhor. Por isso, tendo representado a Instituição da Ceia na tarde da quinta-feira, a liturgia não voltará a celebrar a Eucaristia até a noite pascal – assim como Jesus não voltou a celebrá-la até que a celebrasse no Reino de Deus. Assim, neste dia celebra-se uma evocação de sua morte, que não deixa de estar em íntima união com a missa de Quinta-feira Santa, já que o pão consagrado ontem é consumido hoje.

A celebração de hoje é dividida em três partes: a primeira é a leitura da Sagrada Escritura e a oração universal feita por todas as pessoas de todos os tempos; a segunda é a adoração da Santa Cruz e a terceira é a Comunhão Eucarística, juntas formam o memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor. Memorial não é apenas relembrar ou fazer memória dos fatos, é realmente celebrar agora, buscando fazer presente, atual, tudo aquilo que Deus realizou em outros tempos. Mergulhamos no tempo para nos encontrarmos com a graça de Deus no momento que operou a salvação e, ao retornarmos deste mergulho, a trazemos em nós. Os cristãos peregrinos dos primeiros séculos a Jerusalém nos descrevem, através de seus diários que, em um certo momento desta celebração, a relíquia da Santa Cruz era exposta para adoração diante do Santo Sepulcro. Os cristãos, um a um, passavam diante dela reverenciando e beijando-a. Este momento é chamado de Adoração à Santa Cruz, que significa adorar a Jesus que foi pregado na cruz através do toque concreto que faziam naquele madeiro onde Jesus foi estendido e que foi banhado com seu sangue.

Orações pela Bélgica: dezenas de mortos em ataques do Estado Islâmico.


Duas explosões consecutivas ocorreram no aeroporto de Bruxelas (Bélgica) e uma terceira foi registrada na estação de metrô de Maelbeek, no centro da capital e muito próxima aos edifícios da Comissão e Parlamento Europeu.

As duas explosões do aeroporto aconteceram por volta das 7:45 (hora local). A fiscalização belga confirmou que se trata de um ataque suicida.

Testemunhas citadas pela imprensa belga asseguraram que alguns minutos antes das explosões escutaram gritos em árabe e alguns disparos.

As explosões do metrô de Maelbeek ocorreram uma hora depois das detonações no aeroporto, por volta das 9:30 (hora local).

Segundo fontes da fiscalização, morreram aproximadamente 34 pessoas e 170 ficaram feridas. A rede de transportes foi fechada e os voos foram desviados a outros aeroportos.

As autoridades federais pediram à população para não sair de suas casas e os centros comerciais estão sendo fechados em distintos pontos da cidade. Os responsáveis pela Comissão Europeia pediram aos seus funcionários que permaneçam no interior das instalações ou que não se dirijam ao local de trabalho.

O atentado desta terça-feira ocorreu poucos dias depois que as forças de Polícia Federal belga capturaram Salah Abdelslam, considerado um dos autores materiais dos atentados de Paris no dia 13 de novembro de 2014, causando a morte de mais de 120 pessoas. Atualmente, o nível de alerta em Bruxelas foi elevado a nível 4 sobre 5, o qual indica uma “possível e provável ameaça” de ataque terrorista.

Pedidos de oração

A Conferência Episcopal da Bélgica publicou um comunicado no qual expressa a consternação dos bispos pelos ataques no aeroporto de Zaventem e no centro de Bruxelas.

Os bispos “compartilham a angústia de milhares de viajantes e suas famílias, profissionais de aviação e das equipes de resgates” ao tempo que “encomendam as vítimas às orações de todos nesta nova situação dramática”.

Os bispos recordaram que “os capelães do aeroporto estão a serviço de todos para proporcionar o apoio espiritual necessário. Desejo que todo o país possa viver estes dias com grande responsabilidade cidadã”.

Das distintas Conferências Episcopais da Europa chegaram demonstrações de apoio à população belga, assim como de rechaço aos atentados. Nesse sentido, o porta-voz da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), Pe. José María Gil Tamayo, publicou um tuíte no qual, além de pedir orações, mostrou “o pesar e a oração pelas vítimas”.

Deus Falido ou Super-Homem?

 

Essas expressões, que sentido têm para começar a Semana Santa? As expressões referentes ao homem como “deus falido expulso do paraíso” ou como “super-homem emancipado” aparecem nas filosofias secularistas e materialistas em voga. Conforme essas filosofias, no cristianismo, o homem quando muito não passaria de um deus falido expulso do paraíso, um fracassado que dependeria sempre do criador para se construir, se fazer e refazer na vida. Na religião sem Deus, porém, caso se admitisse a queda do homem, sua desobediência teria sido o momento supremo de sua libertação, de levantar-se autônomo para construir sua vida sem Deus e vivê-la para além do bem e do mal, segundo sua autodeterminação. Esse é o super-homem que, mesmo sabendo que morrerá como todos os seres vivos, a derrota na vida, embora aconteça nele, não é dele, faz parte do processo evolutivo, de tal modo que por seu poder, sua inteligência e habilidades edificará o progresso que lhe garantirá, no futuro, o domínio sobre todas as coisas, o conhecimento pleno de tudo, enfim, ser como Deus, a instância máxima que dará sentido à vida, e a imortalidade. 

Veja, cara leitora ou leitor, que não dá para a gente engolir uma filosofada como essa, que dita moda, penetra a cultura moderna e está, no espectro político, na esquerda e na direita. Ela fomenta ideias, tais como: ser feliz, ser livre, ter sucesso sem vida moral e ética, sendo pouco importante caso se tenha que fazer mal ao outro, seja corrupto, faça a guerra; viver solto sem ter que controlar a vontade e dominar os próprios desejos; ser sujeito que se constrói segundo os seus projetos de felicidade, a partir da razão, ciência e técnica; libertar-se dos ensinamentos antigos (religião, moral, filosofia, política...) porque impediriam a liberdade e os direitos absolutos do indivíduo. Ela inspira movimentos que lutam por causas como essas: reduzir a fé e a Igreja ao âmbito privado, laicismo, ideologia de gênero, aborto...

A tentativa de desconstruir o cristianismo é ridícula. A religião cristã ergue o homem à altura de Deus ainda que o tenha como pecador, naturalmente limitado e reincidente no erro. Exatamente por causa de sua fé cristã o homem anda pelo mundo sempre de cabeça erguida, resplandecendo a alegria de ser dentre todas as criaturas a primeira e a única criada à imagem e semelhança de Deus, que desfruta dos dons divinos da inteligência, vontade e liberdade e se empenha em viver na observância de um único mandamento, o do amor, resumo de toda a Bíblia. Anda de cabeça erguida, resplandecendo a alegria de ser também um redimido não por si mesmo, mas pela graça de Deus. Essa é uma verdade de base: O cristão é um homem criado por Deus e redimido por Deus. Nisto estão a glória e a grandeza do homem. Da consciência que tem de si mesmo, como criatura, como ser limitado e pecador, mas salvo, por isso mesmo o homem caminha pela estrada da vida com humildade, confiança e caridade. Sabe que sozinho não é nada, mas que com Deus tudo pode, e pratica o bem, empenhado em implantar no mundo a justiça e o bem. O cristão é um homem de cabeça erguida, sereno e feliz. Ao contrário, o super-homem, alguém já disse logo, é um sujeito de nariz empinado, convencido e arrogante, porque se julga igual a Deus. Caminha alardeando a morte de Deus, como se com isso, se fosse verdade, ganhasse alguma coisa. Coitado, bem sabe ele que sem Deus sequer permaneceria de pé por alguns segundos. As pessoas ajuizadas já sabem que o homem matando a Deus mata-se a si mesmo. A orfandade é insuportável. Não somos o criador nem o pai nem a mãe, somos a criatura, os filhos e filhas, graças a Deus. Então, temos que nos rebelar contra essa religião moderna e as ideias tidas como novas, não por serem novas, mas por serem erradas. De há muito tempo que sabemos que nem tudo o que é novo é certo, nem tudo o que é velho é caduco. Temos que voltar ao estudo do Catecismo da Igreja para que nossas crianças e jovens possam aprender a contrapor à doutrina do progresso secularista, do avanço civilizatório protagonizado pelo homem emancipado, sem deus, um super-homem caricato, a doutrina da criação, do pecado original e da redenção.