sábado, 7 de maio de 2016

Homilética: Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano C: "O mistério da Ascensão".



 


Hoje celebramos o mistério conclusivo da vida de Jesus: sua Ascensão ao Céu. É a sua entrada oficial na glória que lhe correspondia como ressuscitado, depois das humilhações do Calvário; é a volta ao Pai anunciada por Si no dia de Páscoa; “ Vou subir para Meu e vosso Pai, Meu e vosso Deus”  (Jo 20,17). E aos discípulos de Emaús: “Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?” (Lc 24,26).

A vida de Jesus na terra não termina com a sua morte na Cruz, mas com a Ascensão aos céus. É o último mistério da vida do Senhor aqui na terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer na Cruz, entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua exaltação suprema.

Comentando sobre a Ascensão, ensina São Leão Magno: ”Hoje não só fomos constituídos possuidores do paraíso, mas com Cristo ascendemos, mística mais realmente, ao mais alto dos céus, e conseguimos por Cristo uma graça mais inefável que a que havíamos perdido.”

A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança de alcançarmos o Céu e incita-nos constantemente a levantar o coração a fim de procurarmos as coisas que são do alto. Agora a nossa esperança é muito grande, pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada.

O Senhor está já no Céu com o seu Corpo glorificado, com os sinais do seu Sacrifício redentor, com as marcas da Paixão que Tomé pôde contemplar e que clamam pela salvação de todos nós.

A Ascensão se nos apresenta, assim, não tanto como uma festa da partida de Jesus deste mundo quanto como a festa de sua permanência aqui na terra. Ele, com efeito, não deixou este nosso universo.  “Não abandonou o céu quando de lá desceu até nós e nem se afastou de nós quando novamente subiu ao céu. Ele é exaltado acima dos céus: todavia, sofre aqui na terra todos os dissabores que nós, seus membros, suportamos. Disto deu testemunho gritando: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Santo Agostinho). Cristo está ainda presente e comprometido com este mundo com todo seu corpo que é a Igreja.

A esperança do céu encherá de alegria o nosso peregrinar diário. Imitaremos os apóstolos que, segundo São Leão Magno, “tiraram tanto proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois se converteu em alegria. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé acreditasse que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua Ascensão, não se separou dos seus discípulos.”

Com a Ascensão termina a missão terrena de Cristo e começa a dos seus discípulos, a nossa: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48), diz Jesus. Portanto, a festa de hoje, recorda-nos que o zelo pelas almas é um mandamento amoroso do Senhor. Ao subir para a sua glória, Ele nos envia pelo mundo inteiro como suas testemunhas. Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunhas de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a sua figura amabilíssima.

Jesus parte, mas permanece muito perto de cada um. Nós O encontramos na Eucaristia, no Sacrário de nossas Igrejas.

Nessa semana, que precede a Solenidade de Pentecostes, fiquemos unidos em oração, como disse Jesus: “Permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,48). Assim a vida da Igreja não começa com a ação, mas com a oração, junto com Maria, a Mãe de Jesus.

A festa de hoje nos fortalece a esperança pelo destino que nos aguarda, mas também nos lembra que a nossa missão hoje é continuar o projeto de Jesus, Não fiquemos de braços cruzados, parados, olhando para o Céu! É hora de olhar ao nosso redor e começar a Missão!

Os discípulos partiram (diz o Evangelho em Mc 16,20) e pregaram a Boa Nova por toda parte. Vamos nós também com humildade, sabendo em que vasos nós carregamos esta esperança, mas vamos com coragem.

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2016 reflete sobre situações migratórias

 
O lema bíblico “Chamados e chamadas para proclamar os altos feitos do Senhor” (1Pe2.9) inspira a Semana de Oração pela Unidade Cristã 2016. Este ano, a atividade ocorrerá, no Brasil, de 8 a 15 de maio e sugere reflexão sobre a realidade migratória no mundo. 

A proposta foi elaborada pelo movimento ecumênico da Letônia e adaptado para o Brasil pelo Movimento Ecumênico de Curitiba (MOVEC). 

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC) é promovida mundialmente pelo Conselho Pontifício para Unidade dos Cristãos (CPUC) e pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI). No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) coordena as iniciativas para a celebração da Semana em diversos estados.

Dei-lhes a glória que tu me deste




Se o amor expulsa completamente o temor, de tal modo que o temor se transforma em amor, então compreenderemos que a salvação nos é obtida pela unidade. Pois a salvação consiste em estarmos todos unidos, na íntima adesão ao único e sumo bem, pela perfeição que está representada naquela pomba de que nos fala o Cântico dos Cânticos.

É o que parece depreender-se das seguintes palavras: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita; é a única filha de sua mãe, a predileta daquela que lhe deu à luz (Ct 6,9).

No evangelho, a palavra do Senhor no-lo diz ainda mais claramente. Jesus abençoa seus discípulos, dá-lhes todo o poder e concede-lhes os seus bens. Nestes bens incluem-se também as santas expressões que dirige ao Pai. Mas entre todas as palavras que ele diz e as graças que concede, há uma que é a mais importante e como que a fonte e a síntese de tudo o mais. É aquela em que adverte os seus para nunca mais se separarem por divergência alguma no discernimento das atitudes a tomar; mas, pelo contrário, sejam um só coração e uma só alma, procurando acima de tudo a união com aquele único e sumo bem. Deste modo, unidos no Espírito Santo pelo vínculo da paz, como diz o Apóstolo, serão todos um só corpo e um só espírito, animado pela mesma esperança a que foram chamados.

Entretanto, será melhor referir textualmente as divinas palavras do evangelho: Que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós (Jo 17,21).

O vínculo desta unidade é a glória. Nenhuma pessoa sensata poderá negar que este nome “glória” é atribuído ao Espírito Santo, se recordar as palavras do Senhor: Eu dei-lhe a glória que tu me deste (Jo 17,22). Foi esta glória que o Senhor deu aos discípulos quando lhes disse: Recebei o Espírito Santo (Jo 20,22).

Ele sempre possuiu esta glória, antes mesmo que o mundo existisse; mas recebeu-a também ao assumir a natureza humana. E uma vez que a natureza humana de Cristo foi glorificada pelo Espírito Santo, a glória do Espírito foi comunicada a todos os que participam dessa natureza, a começar pelos apóstolos.

Por esta razão diz: Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita (Jo 17,22-23). Por isso, todo aquele que vai crescendo desde a infância até alcançar o estado de homem perfeito, chega àquela maturidade espiritual que somente a inteligência, iluminada pela fé, pode compreender. Então será capaz de receber a glória do Espírito Santo, através de uma vida pura, livre de toda mancha. Esta é aquela pomba perfeita a que se refere o esposo quando afirma: Uma só e a minha pomba, uma só é a minha perfeita.



Das Homilias sobre o Cântico dos Cânticos, de São Gregório de Nissa, bispo
(Hom. 15:PG44,1115-1118)                (Séc.IV)

Proteção contra o demônio


Um jovem me perguntou uma vez se o demônio pode se manifestar em objetos, ou em maldições lançadas contra uma pessoa. Compartilho com os leitores minhas reflexões a partir dessa pergunta.

A rebelião de Satanás contra Deus não se deu somente em um passado distante e durante a vida terrena de Jesus. A história da salvação não chegou ainda ao seu termo, e o juízo final sobre os demônios deve ainda ocorrer. Até o retorno de Cristo, o mundo é ainda teatro do conflito entre o Reino de Deus e o de Satanás. Por isso, às potências demoníacas permanece a possibilidade de uma atividade (atenção: uma atividade limitada e permitida) na tentação e sedução dos homens.

É preciso sempre lembrar que a vitória de Cristo é vitalmente muito mais eficaz e poderosa na defesa e proteção da Igreja. Na rebelião contra Deus, o influxo de Satanás sobre o homem nunca se iguala ao de Deus: somente Deus pode agir no íntimo da pessoa, a partir do seu interior. Por ser criatura, Satanás pode influenciar o homem somente por meio da instrução, da persuasão e da excitação, a partir de fora, das paixões e dos afetos do homem.

Há também casos da ação demoníaca por possessão. Em senso estrito, possessão é a tomada de posse do corpo por parte de Satanás. Desconhecemos a extensão total dos poderes do demônio sobre o universo criado, no qual se inclui a humanidade. Sabemos que, tanto na Bíblia quanto na História, há casos em que o diabo penetra no corpo de uma pessoa e controla as suas atividades físicas (palavra, movimentos e ações). Mas o diabo não pode controlar a alma; a sua liberdade permanece inalterada e nem todos os demônios do inferno juntos têm o poder ou a permissão de forçá-la. Em princípio, não devemos menosprezar a influência do demônio e julgá-la insignificante; nem devemos julgar que todos os transtornos de personalidade (histeria, doença psíquica, distúrbios mentais, desvios) sejam possessão demoníaca. O remédio sacramental contra a possessão é o exorcismo. 

Santa Flávia


Domitila Flávia era sobrinha de Flávio Clemente, que era então um dos cônsules de Roma. Nesta época, os cristão que não adoravam os deuses romanos eram considerados ateus. O imperador Domiciano emplacou umas séria perseguição aos cristãos. Flávia Domitila teria sido convertida ao cristianismo por dois eunucos. Enquanto ela se preparava para o casamento com o filho de um cônsul, Nereu e Aquiles lhe falaram sobre Cristo e a beleza da virgindade. Ela teria abandonado o casamento e se convertido imediatamente. Juntamente com numerosas pessoas, Flávia foi deportada para a ilha de Ponza, por ter confessado a Cristo. No atas do martírio da nobre dama romana, vemos a força penetrante do Evangelho na sociedade romana, conquistando adeptos até mesmo entre a família imperial. Sua morte aconteceu de forma lenta, cruel e dolorosa, numa ilha abandonada, sem as menores condições de sobrevivência, conforme escreveu sobre ela São Jerônimo. 


Deus, nosso Pai, Santa Flávia foi reduzida ao silêncio, porque confessou publicamente o vosso Nome. Velai, Senhor, por aqueles que, lutando pela justiça, foram reduzidos ao silêncio, exilados ou assassinados. Olhai por todos os silenciados da América Latina, especialmente pelas mulheres sofridas do nosso continente. Dai-nos denunciar as injustiças e lutar sempre pela verdade. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Todas as Gerações me Proclamarão Bem-Aventurada




A devoção a Nossa Senhora em todo o mundo é algo que ultrapassa o entendimento humano; é algo sobrenatural; não há país ou cidade onde não haja igrejas, praças, imagens, etc., a ela dedicadas. Os títulos de louvor e glória que Nossa Senhora recebe em todo o mundo são incontáveis; livros e livros já foram escritos sobre seus títulos, suas aparições, suas graças, seus milagres… Seus santuários se espalham pelo mundo todo: Lourdes, Fátima, Aparecida, Guadalupe… A Igreja encorajou e regulou essa devoção universal à Virgem Maria, mas jamais pode tê-la inventado ou criado. Nos momentos mais críticos da história, sobretudo quando a Igreja era mais ameaçada, os Papas orientaram os fiéis a recorrerem confiantes à proteção de Nossa Senhora e rezar o Rosário. É um sentimento universal que atravessou vinte séculos e chegou até nós mais forte do que nunca. Esse sentimento não teve uma origem humana, se assim fosse não teria tanta força e duração; foi o Espírito Santo quem difundiu nos corações dos cristãos.

A Letônia e a Semana de Oração pela Unidade Cristã 2016

 
Para nos ajudar a orar, todos os anos o CMI convida um país para conduzir as meditações de toda oikouméne, conferindo à SOUC um caráter plural e multiétnico. Em 2016, nos unimos aos/às Irmãos/ãs da Letônia, uma nação com pouco mais de dois milhões de habitantes, localizada no Leste Europeu e com uma rica história de diversidade cultural e lutas por afirmação da identidade e dos direitos de seu povo. A preparação do texto se deu por uma comissão composta, majoritariamente, por católicos, luteranos, ortodoxos e batistas, reunidos em Riga, capital da Letônia.

O mais antigo batistério da Letônia remonta a São Meinhard (século XII) e hoje se situa bem no centro da catedral luterana de Riga, a capital do país. O local do batistério fala com eloquência do vínculo entre batismo e pregação, assim como do chamado a proclamar os altos feitos do Senhor, dirigidos a todos os batizados. Este chamado constitui o tema da SOUC 2016. Ele foi inspirado em dois versículos da primeira Carta de São Pedro, escolhidos, meditados e partilhados por membros de diversas Igrejas e organizações ecumênicas da Letônia.

CONHECENDO A LETÔNIA

A Letônia é como uma “ponte” entre as tradições católicas, protestantes e ortodoxas. Com mais frequência, e num número crescente de lugares, os/as cristãos/as de diferentes tradições se encontram para rezar juntos e para dar um testemunho conjunto. Esse “ecumenismo vivo” provém de experiências de cantos e orações em comum dos/ãs cristãos/ãs daquele país, que encontraram o caminho da unidade no processo de independência e redemocratização da nação, nos anos 1990.

O material para a SOUC deste ano reflete a diversidade religiosa daquele povo e seus inúmeros esforços no caminho para unidade, nos quais também está implicado o empenho pela paz e pela justiça na sociedade.

Neste sentido, a Letônia nos anima para que a Semana de Oração pela Unidade Cristã fortaleça a prece pela unidade e que ela encontre ressonância e ecoe na vida de todas as pessoas, especialmente daqueles/as que tocam o âmago da misericórdia de Deus, os/as pobres. Há muitos Irmãos/ãs nossos/as que sofrem diretamente a contradição das divisões provocadas e mantidas por uma sociedade desigual, excludente e em crescente intolerância religiosa. Que nossa oração comum seja um testemunho vivo de que o diálogo e o amor fraterno são os caminhos para a paz!

“Junto à cruz de Jesus, estava sua mãe”(Jo 19,25)


Estimados Diocesanos! Neste domingo a mãe Igreja nos convida a celebrarmos a Solenidade da Ascensão do Senhor, isto é, o retorno de Jesus ao Pai. As separações, especialmente quando quem parte é uma pessoa amada, podem ser muito difíceis. A vontade de permanecer junto da pessoa amada faz a distância ser portadora de saudades e sofrimentos que afligem o coração de quem ama.

Neste domingo, gostaria de lembrar com carinho e afeto todas as mães, tendo presente a mãe de Jesus, “o Ressuscitado”. Mulher simples, mãe corajosa, que esteve junto à cruz acompanhando a agonia e a morte do Filho na cruz. Não disse uma palavra, mas a sua presença falava e testemunhava o amor que sentia por seu Filho. A figura de Maria me faz lembrar tantas mães do nosso tempo que veem e acompanham de perto as alegrias, os sofrimentos e os sucessos dos filhos.

Mães simples de mãos calejadas e deformadas pelo duro trabalho cotidiano, que pouco frequentaram a escola, mas formaram filhos doutores, engenheiros, advogados e professores. Penso que a maioria nunca visitou a universidade onde os filhos estudaram, mas creio que com amor e por amor estiveram sempre presentes na vida dos filhos.