Para nos ajudar
a orar, todos os anos o CMI convida um país para conduzir as meditações de toda
oikouméne, conferindo à SOUC um caráter plural e multiétnico. Em 2016, nos
unimos aos/às Irmãos/ãs da Letônia, uma nação com pouco mais de dois milhões de
habitantes, localizada no Leste Europeu e com uma rica história de diversidade
cultural e lutas por afirmação da identidade e dos direitos de seu povo. A
preparação do texto se deu por uma comissão composta, majoritariamente, por
católicos, luteranos, ortodoxos e batistas, reunidos em Riga, capital da
Letônia.
O mais antigo
batistério da Letônia remonta a São Meinhard (século XII) e hoje se situa bem
no centro da catedral luterana de Riga, a capital do país. O local do
batistério fala com eloquência do vínculo entre batismo e pregação, assim como
do chamado a proclamar os altos feitos do Senhor, dirigidos a todos os
batizados. Este chamado constitui o tema da SOUC 2016. Ele foi inspirado em
dois versículos da primeira Carta de São Pedro, escolhidos, meditados e
partilhados por membros de diversas Igrejas e organizações ecumênicas da
Letônia.
CONHECENDO
A LETÔNIA
A Letônia é como
uma “ponte” entre as tradições católicas, protestantes e ortodoxas. Com mais
frequência, e num número crescente de lugares, os/as cristãos/as de diferentes
tradições se encontram para rezar juntos e para dar um testemunho conjunto.
Esse “ecumenismo vivo” provém de experiências de cantos e orações em comum
dos/ãs cristãos/ãs daquele país, que encontraram o caminho da unidade no
processo de independência e redemocratização da nação, nos anos 1990.
O material para
a SOUC deste ano reflete a diversidade religiosa daquele povo e seus inúmeros
esforços no caminho para unidade, nos quais também está implicado o empenho
pela paz e pela justiça na sociedade.
Neste sentido, a
Letônia nos anima para que a Semana de Oração pela Unidade Cristã fortaleça a
prece pela unidade e que ela encontre ressonância e ecoe na vida de todas as
pessoas, especialmente daqueles/as que tocam o âmago da misericórdia de Deus,
os/as pobres. Há muitos Irmãos/ãs nossos/as que sofrem diretamente a
contradição das divisões provocadas e mantidas por uma sociedade desigual,
excludente e em crescente intolerância religiosa. Que nossa oração comum seja
um testemunho vivo de que o diálogo e o amor fraterno são os caminhos para a
paz!
Imigração
ontem e hoje: “De Perseguidos em nome da Fé a
Imigrantes” – a migração letã no Brasil
Um artigo do
historiador Marcos Anderson Tedesco traz o estudo da migração de uma família de
letos para o Brasil. Instalados no estado de Santa Catarina, essa migração
deu-se pela perseguição religiosa no Império Russo. Muitas famílias saíram da
Letônia em busca de paz, em um lugar que pudessem expressar sua confissão
religiosa. O historiador ressalta que quando a Rússia conquistou a Letônia, o
povo ficou submisso aos Czares. Eram desrespeitados em sua língua, religião,
cultura e tradições. A liberdade religiosa era totalmente desrespeitada. Só era
aceita a prática da ortodoxia russa.
As religiões
como o Judaísmo, Cristianismo (catolicismo e protestantismo) e o Islã foram
oprimidas. O uso da violência contra essas práticas religiosas tornou-se
realidade. O interesse russo era impor uma só língua e uma só prática
religiosa. As melhores oportunidades de emprego eram permitidas somente aos
russos, sendo que aos outros, a possibilidade era de atividades humilhantes. Os
russos se consideravam os últimos defensores da fé cristã.
No final do séc.
XIX e primeira década do séc. XX muitos letões vieram para o Brasil.
Estabeleceram-se no estado de Santa Catarina. A partir de 1893 foram
constituídas entre Blumenau e Joinville seis colônias de imigrantes letões,
batistas em sua maioria. As colônias situavam-se em Alto Guarani, conhecida
como Massaranduba, Jacú-Açu, Linha Telegráfica, Bruedertal, Ponta Comprida e
Zimmermann. A cidade mais antiga é Massaranduba, data de 1893, e iniciou-se com
a vinda de cinco famílias de imigrantes. Era a quinta letã do Brasil. Saídos de
Novgorod, dois anos após, mais treze famílias instalaram-se nessa colônia.
Nesse tempo, alguns letões viviam nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande
do Sul. Em 1900, fugidos da Rússia, chegaram ao Brasil importantes pastores
batistas, entre eles Anss Araium, Jacob Inkis e Pedro Graudin.
Assinala o
professor que até 1909, Pedro Graudin era pastor da Igreja Batista da localidade
de Jacu-Açu (atual Guaramirim), mas sua experiência se deu quando recebeu o dom
da glossolalia e de profetizar, sem saber que eram dons. O fenômeno era
desconhecido pela comunidade que, assustados, proibiram a entrada do pastor no
templo. O pastor então, por alguns meses, passou assistir os cultos do lado de
fora do templo, com o tempo, ele foi expulso da igreja.
Mais tarde, o
pastor Pedro Graudin começou a celebrar os cultos em sua casa. As pessoas
começaram a participar, causando uma divisão na Igreja Batista.
Em 1931, o
Pastor André Bernardino, que tinha contato com os missionários suecos e
fundadores da Assembleia de Deus, Daniel Berg e Gunnar Vingren, e mais dois
outros irmãos, visitaram os Graudin. Por ocasião da visita foi realizado um
culto que durou quase três dias. O Pastor André Bernardino e os dois outros
irmãos voltaram para Itajaí maravilhados com essa experiência. Mais tarde, o
Pastor André Bernardino casou-se com a filha de Pedro, Dzidra Graudin.
Segundo relato
de Dzidra Graudin, a perseguição religiosa foi a responsável pela vinda de
Pedro Graudin ao Brasil. O sentimento religioso e a fé moveram essas famílias
de imigrantes durante toda a vida. A fé era, portanto, fundamental em suas
vidas.
Conclui o
professor Marcos Anderson Tedesco, que o relato das memórias, nos faz
compreender quem somos. Rememorar é encontrar o sentido e a força para
continuar!
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CONIC
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