VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À LITUÂNIA, LETÔNIA E ESTÔNIA
Visita ao Santuário Mater Misericordiae na Lituânia
Sábado, 22 de setembro de 2018
Amados irmãos e irmãs!
Encontramo-nos diante da «Porta da Aurora», ou seja, tudo o que resta das muralhas desta cidade que serviam para se defender de qualquer perigo e provocação, mas que o exército invasor, em 1799, destruiu completamente, deixando apenas esta porta: já então estava ali colocada a imagem da «Virgem da Misericórdia», a Santíssima Mãe de Deus que está sempre pronta a socorrer-nos, a vir em nosso auxílio.
Ela, já desde então, queria ensinar-nos que se pode proteger sem atacar, que é possível ser prudentes sem a necessidade doentia de desconfiar de todos. Esta Mãe sem o Menino, toda dourada, é a Mãe de todos; em cada um daqueles que aqui se deslocam, Ela vê o que muitas vezes nós próprios não conseguimos sequer notar: o rosto de seu Filho Jesus gravado no nosso coração.
E, dado que a imagem de Jesus está colocada como um selo em todo o coração humano, cada homem e cada mulher oferecem-nos a possibilidade de nos encontrarmos com Deus. Quando nos fechamos em nós próprios com medo dos outros, quando construímos muros e barricadas, acabamos por nos privar da Boa Nova de Jesus, que conduz a história e a vida dos outros. Construímos demasiadas fortalezas no nosso passado, mas hoje sentimos a necessidade de nos olharmos de frente reconhecendo-nos como irmãos, de caminhar juntos descobrindo e experimentando, jubilosa e pacificamente, o valor da fraternidade (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 87). Todos os dias vem aqui visitar a Mãe da Misericórdia uma multidão de pessoas provenientes de muitos países: lituanos, polacos, bielorrussos e russos; católicos e ortodoxos. Hoje isto tornou-se possível pela facilidade das comunicações, a liberdade de circulação entre os nossos países. Como seria bom se, à facilidade de se deslocar dum lugar para outro, se juntasse também a facilidade de estabelecer pontes de encontro e solidariedade entre todos, de fazer circular os dons que gratuitamente recebemos, de sair de nós mesmos para nos darmos aos outros, aceitando por nossa vez a presença e a diferença dos outros como um dom e uma riqueza na nossa vida.
Às vezes parece que o fato de nos abrimos ao mundo nos lance para espaços de competição, onde «o homem é lobo para o homem» e onde há lugar só para o conflito que nos divide, para as tensões que nos consomem, para o ódio e a inimizade que não levam a parte nenhuma (cf. Exort. ap. Gaudete et exsultate, 71-72).