quarta-feira, 5 de junho de 2019

Planned Parenthood lidera nova tentativa de legalizar aborto na América Latina


A multinacional do aborto Planned Parenthood Global e o Centro de Direitos Reprodutivos, que também é abortista, lideram uma nova campanha que visa legalizar o aborto na América Latina, começando por Nicarágua, Guatemala e Equador.

Segundo o jornal britânico ‘The Guardian’, as duas organizações abortistas apresentaram ao Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas os casos de quatro mulheres da Nicarágua, Guatemala e Equador entre 18 e 23 anos, que ficaram grávidas após terem sido estupradas quando tinham menos de 14 anos e tiveram o pedido de aborto negado.

Para Nancy Northup, presidente do Centro de Direitos Reprodutivos, o fato de não terem feito um aborto nas menores vítimas de abuso é "uma clara violação dos direitos humanos".

A filial da Planned Parenthood Global nos Estados Unidos, Planned Parenthood Federation America, tem sido repetidamente acusada de esconder das autoridades casos de estupro de menores, assim como de tráfico de órgãos e tecidos de bebês abortados em suas instalações.

O artigo de ‘The Guardian’, que se define como "editorialmente independente", conclui anunciando que organizará um evento junto com a organização abortista, Centro de Direitos Reprodutivos.

O aborto é completamente ilegal na Nicarágua, e na Guatemala não é punível somente quando o bebê morre durante um procedimento médico realizado para salvar a vida da mãe, mas "sem a intenção de obter diretamente a morte". No Equador, o aborto não é punível em casos de risco de vida da mãe e quando se trata do estupro de uma mulher com deficiência mental.

Para Alexandra de Skinner-Klée, membro da direção da Associação A Família Importa (AFI) da Guatemala, "chama a atenção" que a campanha liderada pela Planned Parenthood "em nenhum momento promova a justiça para a menor, nem o fim dos abusos. O que estão pedindo é o aborto como um direito”.

"Nós sabemos que a Planned Parenthood Global e o Centro de Direito Reprodutivos velam apenas por promover o negócio do aborto", indicou.

Enquanto os promotores do aborto promovem o lema e a hashtag #MeninasNãoMães, indicou, os defensores da vida decidiram usar #MeninasNãoAbusadas e #NemAbusoNemAborto.

Além disso, advertiu que esta campanha dirigida a Nicarágua, Guatemala e Equador se estenderá por toda a América Latina.

"É uma estratégia orquestrada", disse e criticou que, em vez de ajudar às menores vítimas de abuso, "estamos pedindo o direito ao aborto".

Considerações sobre a RCC e o dom de orar em línguas...


É óbvio que muitos dos "carismáticos" e de seus simpatizantes têm um bom coração. Mas, é evidente também que, mesmo com boas intenções, eles estão colaborando - e muito! - com a protestantização da Igreja Católica. Se você ainda não é capaz de entender isso pela história e os desdobramentos dos fatos, basta comparar uma Missa celebrada sob a "inspiração" de um padre ou de uma comunidade de "carismáticos" e o culto de uma seita protestante ou "evangélica". Não há praticamente diferença alguma. A Sacratíssima Eucaristia ali, infelizmente, tornou-se apenas um "adorno" de maior pompa. O que mais importa é a suposta "ação" do Espírito Santo, que incendeia toda a barulheira, agitação, irreverência, abusos litúrgicos, profanações e até mesmo sacrilégios.

Sim, o dom de línguas é um dom do Espírito Santo (1Cor. 12, 10). Porém, será mesmo que todos os "carismáticos" e simpatizantes que dizem "orar em línguas" estão realmente tomados pelo Espírito Santo? Em dois mil anos de história da Santa Igreja, o fenômeno é raro na vida dos santos; mas, é de uma abundância no mínimo extravagante em círculos de "carismáticos" e simpatizantes, que em geral pregam uma concepção de "santidade" pelo menos exótica. Some-se a isso o ambiente de euforia, barulho, falatório e confusão desses círculos, e tudo fica ainda mais problemático.

Na sua carta aos Coríntios, São Paulo apresenta a "variedade de línguas" como um dom do Espírito Santo; mas, com esse dom menciona também o dom de "interpretar" essas línguas (1Cor. 12, 10). E o apóstolo alerta: [...] "suponhamos, irmãos, que eu fosse ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitaria, se minha palavra não vos desse revelação, nem ciência, nem profecia ou doutrina?" (14, 6) [...] "Se há quem fala em línguas, não falem senão dois ou três, quando muito, e cada um por sua vez, e haja alguém que interprete. Se não houver intérprete, fiquem calados na reunião, e falem consigo mesmos e com Deus" - e conclui: "Deus não é Deus de confusão, mas de paz" (27-28; 33). Uma orientação de caráter prudencial que "carismáticos" e simpatizantes devem ter em mente e observar.

São Paulo, na primeira carta aos Coríntios, sugere que a "oração" e o "falar" em "línguas" não sejam fomentados em assembleias e reuniões, pois nelas o mais apropriado é que se diga o que é compreensível, exatamente para a edificação (caps. 12-14). Trata-se de uma orientação de caráter prudencial da própria Santa Igreja, e que tem o propósito de evitar a sugestão psicológica, o sensacionalismo, o estado de euforia, o emocionalismo e em muitos casos a própria histeria, - e não se descarta inclusive a influência diabólica (cf. Michael Hichborn) -, que "carismáticos" e simpatizantes sem o adequado discernimento e orientação podem confundir com a ação do Espírito Santo.

domingo, 2 de junho de 2019

Palavra de Vida: «Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas» (At 1,8).


O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas, começa com a promessa que Jesus Ressuscitado faz aos Apóstolos, pouco antes de os deixar para regressar definitivamente para junto do Pai: receberão de Deus a força necessária para continuar, na história humana o anúncio e a construção do seu Reino.

Não se trata de instigar qualquer “golpe de estado”, nem de pôr um poder político ou social contra outro, mas sim da ação profunda do Espírito de Deus que, agindo nos corações, cria “homens novos”.

Daí a pouco, sobre os discípulos reunidos com Maria, desceria o Espírito Santo. E eles, partindo da cidade santa de Jerusalém, vão difundir a mensagem de Jesus até “aos confins da Terra”.

«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, 
que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas».

Os Apóstolos, e com eles todos os discípulos de Jesus, são enviados como “testemunhas”. De facto, cada cristão, quando descobre, através de Jesus, o que significa ser filho de Deus, descobre também que é enviado. A nossa vocação e a nossa identidade de filhos realizam-se na missão, em ir ao encontro dos outros como irmãos. Todos somos chamados a ser apóstolos, a dar testemunho, primeiro com a vida, e depois, se for oportuno, também com a palavra.

Somos testemunhas sempre que fazemos nosso o estilo de vida de Jesus. Isto é, quando diariamente, no ambiente de família, de trabalho, de estudo e de descanso, nos aproximarmos das pessoas que encontramos com espírito de acolhimento e de partilha, e tendo no coração o grande projeto do Pai: a fraternidade universal.

Marilena e Silvano contam-nos: «Quando nos casámos, queríamos ser uma família que englobasse toda a gente. Uma das nossas primeiras experiências aconteceu na época de Natal. Não querendo que as “boas festas” se reduzissem a uma saudação apressada à saída da igreja, tivemos a ideia de ir a casa de cada um dos nossos vizinhos levar uma pequena prenda. Ficaram muito surpreendidos, mas contentes, sobretudo uma família que todos procuravam evitar: abriram o coração, falando-nos das suas dificuldades e do facto de, há muitos anos, ninguém ir à casa deles. A visita durou mais de duas horas. Comoveu-nos ver a alegria daquelas pessoas. Assim, pouco a pouco, com o simples esforço de estarmos abertos a todos, estabelecemos relacionamentos com muitas pessoas. Nem sempre foi fácil, porque, muitas vezes, uma visita imprevista vinha alterar os nossos programas. Mas tínhamos sempre presente que não podíamos perder estas ocasiões para estabelecer relacionamentos fraternos. Um dia ofereceram-nos um bolo e então pensámos partilhá-lo com uma senhora que nos tinha ajudado a arranjar brinquedos para enviar para o Brasil. Ela ficou muito contente e para nós foi uma ocasião para conhecer a sua família. Quando estávamos para sair, disse-nos: quem me dera ter também esta coragem de ir visitar os outros!».

Papa Francisco na Romênia: sem amor e sem Deus nenhum homem pode viver na terra





VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

ENCONTRO COM A COMUNIDADE ROM

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE

Bairro Lautaro, Blaj
Domingo, 2 de junho de 2019


Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!

Estou feliz por vos encontrar e agradecido pela vossa receção. Padre Ioan, não te enganas, quando afirmas estar certo desta verdade, segura mas às vezes esquecida: na Igreja de Cristo, há espaço para todos. Se não fosse assim, não seria a Igreja de Cristo. A Igreja é lugar de encontro, e precisamos de o lembrar, não como um belo slogan, mas como parte do nosso cartão de identidade de cristãos. Tu no-lo recordaste, dando como exemplo o bispo mártir Ioan Suciu, que soube plasmar em gestos concretos este desejo de Deus Pai: encontrar-se com cada pessoa na amizade e na partilha. O Evangelho transmite-se na alegria de encontrar-se e saber que temos um Pai que nos ama. Sob o olhar d’Ele, compreendemos como olhar-nos entre nós. Com este espírito, quis cumprimentar-vos, fixar os meus olhos nos vossos, fazer-vos entrar no coração, na oração, com a confiança de entrar, também eu, na vossa oração e no vosso coração.

No coração, porém, trago um peso. É o peso das discriminações, segregações e maus-tratos sofridos pelas vossas comunidades. A história diz-nos que os próprios cristãos, os próprios católicos não são alheios a tanto mal. Quero pedir perdão por isso. Em nome da Igreja, peço perdão, ao Senhor e a vós, por todas as vezes que, ao longo da história, vos discriminamos, maltratamos ou consideramos de forma errada, com o olhar de Caim em vez do de Abel, e não fomos capazes de vos reconhecer, apreciar e defender na vossa peculiaridade. A Caim, não importa o irmão. É na indiferença que se alimentam preconceitos e fomentam rancores. Quantas vezes julgamos, imprudentemente, com palavras que doem, com atitudes que semeiam ódio e criam distâncias! Quando se deixa alguém para trás, a família humana não avança. Não somos completamente cristãos, nem sequer humanos, se não soubermos ver a pessoa antes das suas ações, antes dos nossos juízos e preconceitos.

Sempre houve, na história da humanidade, Abel e Caim. Há a mão estendida e a mão que fere. Há a abertura do encontro e o fechamento do desencontro. Há a hospitalidade e há o descarte. Há quem veja no outro um irmão e quem nele veja um obstáculo no próprio caminho. Há a civilização do amor e há a do ódio. Cada dia, há que escolher entre Abel e Caim. Como sucede perante uma encruzilhada, frequentemente impõe-se-nos fazer uma escolha decisiva: seguir o caminho da reconciliação ou o da vingança. Escolhamos o caminho de Jesus; trata-se dum caminho que exige esforço, mas é o caminho que conduz à paz. E passa através do perdão. Não nos deixemos arrastar pelos ressentimentos que incubamos dentro de nós: não demos qualquer espaço ao rancor. Porque nenhum mal resolve outro mal, nenhuma vingança satisfaz uma injustiça, nenhum ressentimento faz bem ao coração, nenhum fechamento aproxima.

Papa beatifica 7 bispos: "deixaram ao povo romeno uma herança preciosa".


VIAGEM APOSTÓLICA À ROMÊNIA

DIVINA LITURGIA COM A BEATIFICAÇÃO
DE 7 BISPOS GRECO-CATÓLICOS MÁRTIRES

HOMILIA DO SANTO PADRE
Campo da Liberdade em Blaj, Romênia
Domingo, 2 de junho de 2019

«Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» (Jo 9, 2). Esta pergunta dos discípulos dirigida a Jesus desencadeia uma série de movimentos e ações que permeiam toda a narração evangélica, desvendando e colocando em evidência aquilo que realmente cega o coração humano.

Jesus, como os seus discípulos, vê o cego de nascença, é capaz de o reconhecer e colocá-lo no centro. Depois de ter declarado que a sua cegueira não era fruto do pecado, mistura o pó da terra com a sua saliva e, com a lama feita, unge-lhe os olhos; depois ordena-lhe que vá lavar-se à piscina de Siloé. Depois de se ter lavado, o cego recupera a vista. É interessante notar que o milagre é narrado apenas em dois versículos; todos os outros concentram-se, não sobre o cego curado, mas sobre as discussões que levanta. Parece que a sua vida e especialmente a sua cura se tornem banais, jocosas ou motivos de debate bem como de enfado e irritação. O cego curado é interrogado primeiro pela multidão atónita, depois pelos fariseus; e estes interrogam também os seus pais. Colocam em dúvida a identidade do homem curado; depois negam a ação de Deus, tomando como desculpa que Deus não trabalha ao sábado; chegam até a duvidar que aquele homem tivesse nascido cego.

Toda a cena e as discussões revelam como é difícil entender as ações e as prioridades de Jesus, capaz de trazer para o centro aquele que estava na periferia, especialmente quando se pensa que a primazia é dada ao «sábado» e não ao amor do Pai, que procura salvar todos os homens (cf. 1 Tm 2, 4); o cego tinha de conviver não apenas com a sua própria cegueira, mas também com a daqueles que o rodeavam. É o que fazem as resistências e hostilidades que surgem no coração humano, quando no centro, em vez das pessoas, se colocam interesses particulares, rótulos, teorias, abstrações e ideologias, que, onde campeiam, nada mais fazem senão cegar tudo e a todos. Mas a lógica do Senhor é diferente: longe de se esconder na inatividade ou na abstração ideológica, procura a pessoa com o seu rosto, com as suas feridas e a sua história. Vai ao encontro dela, e não Se deixa enganar por discursos que são incapazes de dar a prioridade e pôr no centro aquilo que realmente é importante.

Estas terras conhecem bem o sofrimento do povo, quando o peso da ideologia ou dum regime é mais forte do que a vida e se antepõe como norma à própria vida e à fé das pessoas; quando a capacidade de decisão, a liberdade e o espaço para a criatividade se veem reduzidos e até eliminados (cf. Francisco, Carta enc. Laudato si’, 108). Irmãos e irmãs, vós suportastes os discursos e as intervenções baseadas no descrédito que chegavam à expulsão e aniquilação de quem não se pode defender, e silenciavam as vozes dissonantes. Pensemos, em particular, nos sete Bispos greco-católicos que tive a alegria de proclamar Beatos. Perante a feroz opressão do regime, demonstraram uma fé e um amor exemplares pelo seu povo. Com grande coragem e fortaleza interior, aceitaram ser sujeitos a dura prisão e a todo o tipo de maus-tratos, para não renegar a pertença à sua amada Igreja. Estes pastores, mártires da fé, recuperaram e deixaram ao povo romeno uma preciosa herança que podemos resumir em duas palavras: liberdade e misericórdia.

Discurso do Papa Francisco no encontro com jovens e famílias na Romênia




VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

ENCONTRO MARIANO COM OS JOVENS E AS FAMÍLIAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Largo do Palácio da Cultura, Iaşi
Sábado, 1 de junho de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bună seara!

Aqui, convosco, sente-se o calor de estar em família, rodeados de pequenos e grandes. Vendo-vos e ouvindo-vos, é fácil sentir-se em casa. O Papa, no vosso meio, sente-se em casa. Obrigado pela vossa calorosa receção e pelos testemunhos que nos oferecestes. Ao apresentar-vos, o bispo D. Petru – como bom e brioso pai da família – abraçou-vos a todos nas suas palavras; e viu-se confirmado por ti, Eduard, quando nos dizias que este encontro não quer ser apenas de jovens, nem apenas de adultos, nem apenas de outros quaisquer, mas «esta tarde [quisemos] que, juntamente connosco, estivessem os nossos pais e os nossos avós».

Por estes lados, hoje é o dia da criança. Um aplauso às crianças! Quero que a primeira coisa a fazer seja rezar por elas: peçamos à Virgem que as proteja com o seu manto. Jesus colocou-as no meio dos seus Apóstolos; também nós queremos colocá-las no centro e reafirmar o nosso compromisso de querer amá-las com o mesmo amor com que as ama o Senhor, empenhando-nos pelo direito delas ao futuro. Esta é uma boa herança: dar às crianças o direito ao futuro.

Alegra-me saber que, nesta praça, se encontra o rosto da família de Deus, que envolve crianças, jovens, esposos, pessoas consagradas, idosos romenos de várias regiões e tradições, bem como da Moldávia, e ainda quantos vieram da outra margem do rio Prut, os fiéis de língua csango, polaca e russa. O Espírito Santo convoca-nos a todos e ajuda-nos a descobrir a beleza de estar juntos, de nos podermos encontrar para caminhar juntos; cada qual com a sua própria língua e tradição, mas feliz por se encontrar entre irmãos. Com aquela alegria que partilhavam connosco Elizabete e Ioan – são admiráveis estes dois! – com os seus onze filhos, todos diferentes, vindos de vários lugares, mas «hoje encontram-se todos reunidos, da mesma forma que, alguns anos atrás, cada domingo de manhã se encaminhavam todos juntos para a Igreja». A felicidade dos pais ao verem os filhos reunidos! De certeza hoje, no céu, fazem festa ao ver tantos filhos que decidiram estar juntos.

É a experiência dum novo Pentecostes, como ouvimos na Leitura, onde o Espírito abraça as nossas diferenças e nos dá a força para abrir sendas de esperança, fazendo valer o melhor de cada um; é o mesmo caminho que encetaram os Apóstolos há dois mil anos, sendo hoje a nossa vez de agarrar o testemunho e nos decidirmos a semear. Não podemos esperar que sejam os outros a fazê-lo; toca-nos a nós! Somos responsáveis; toca a nós!

É difícil caminhar juntos, não é verdade? É uma graça que devemos pedir, uma peça artesanal que somos chamados a construir e um dom maravilhoso a transmitir. Mas, por onde começar para caminhar juntos?

Papa Francisco: "Não deixemos que nos seja roubada a fraternidade".



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Santuário Șumuleu Ciuc
Sábado, 1 de junho de 2019

Com alegria e gratidão a Deus, encontro-me hoje convosco, amados irmãos e irmãs, neste querido santuário mariano, rico de história e fé, tendo vindo aqui, como filhos, para encontrar a nossa Mãe e reconhecer-nos como irmãos. Os santuários, lugares quase «sacramentais» duma Igreja-hospital-de-campanha, guardam a memória do povo fiel, que, no meio das suas tribulações não se cansa de procurar a fonte de água viva onde avivar a esperança. São lugares de festa e celebração, de lágrimas e súplicas. Vimos aos pés da Mãe, sem muitas palavras, a fim de nos deixarmos olhar por Ela e para que, com o seu olhar, nos conduza Àquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6).

Não o fazemos de qualquer modo; somos peregrinos. Aqui vindes em peregrinação cada ano, no sábado de Pentecostes, para honrar o voto dos vossos antepassados e fortalecer a fé em Deus e a devoção a Nossa Senhora, representada na sua estátua monumental de madeira. Esta peregrinação anual pertence à herança da Transilvânia, mas honra conjuntamente as tradições religiosas romena e húngara; e participam nela também fiéis doutras confissões, sendo um símbolo de diálogo, unidade e fraternidade; um apelo a recuperar os testemunhos de fé tornada vida e de vida feita esperança. Peregrinar é saber que vimos como povo à nossa casa. É saber que temos consciência de ser um povo. Um povo, cuja riqueza são os seus mil rostos, mil culturas, línguas e tradições; o santo Povo fiel de Deus que, com Maria, caminha peregrino cantando a misericórdia do Senhor. Se, em Caná da Galileia, Maria intercedeu junto de Jesus para que realizasse o primeiro milagre, em cada santuário, vela e intercede não só diante do seu Filho, mas também diante de cada um de nós, para não deixarmos que nos seja roubada a fraternidade pelas vozes e as feridas que alimentam a divisão e a fragmentação. As complexas e tristes vicissitudes do passado não devem ser esquecidas nem negadas, mas também não podem constituir um obstáculo ou um argumento para impedir a ansiada convivência fraterna. Peregrinar significa sentir-se chamados e impelidos a caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças, antigos e atuais, em novas oportunidades de comunhão; significa desligar-se das nossas seguranças e comodidades e partir à procura duma nova terra que o Senhor nos quer dar. Peregrinar é desafio a descobrir e transmitir o espírito de viver juntos, de não ter medo de se misturar, de nos encontrarmos e ajudarmos. Peregrinar significa participar naquela maré um pouco caótica que se pode transformar numa verdadeira experiência de fraternidade, caravana sempre solidária para construir a história (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 87). Peregrinar é ver não tanto aquilo que poderia ter sido (e não foi), como sobretudo aquilo que nos espera e não podemos adiar mais. Significa crer no Senhor que vem e está no meio de nós promovendo e estimulando a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, verdade e justiça (cf. ibid., 71). Peregrinar é o compromisso de lutar para que, quantos ontem tinham ficado para trás, se tornem os protagonistas do amanhã, e os protagonistas de hoje não sejam deixados para trás amanhã. E isto, irmãos e irmãs, requer o trabalho artesanal de tecer juntos o futuro. Eis o motivo por que estamos aqui! Para dizer juntos: Mãe, ensinai-nos a esboçar o futuro.

Papa em Bucareste: "Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos"


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE
NA FESTA DA VISITAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

Catedral Católica de São José, Bucareste
Sexta-feira, 31 de maio de 2019

O Evangelho que escutamos introduz-nos no encontro de duas mulheres que se abraçam e fazem transbordar tudo de felicidade e louvor: exulta de alegria o menino e Isabel bendiz a prima pela sua fé; Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, com o grande hino de esperança para aqueles que já não podem cantar porque perderam a voz... Canto de esperança, que nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila.

Maria caminha... de Nazaré até casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma caraterística: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho. Especialista em trabalhar duro, sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 286). Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro. Doação silenciosa, tenaz e despercebida, que não tem medo de «arregaçar as mangas» e carregar as dificuldades aos ombros para levar por diante a vida dos seus filhos e de toda a família, esperando «para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). Permanece inesquecível o facto de um forte sentido de esperança que vive e pulsa no vosso povo para além de todas as condições que possam ofuscá-la ou procurem extingui-la. Olhando Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança (cf. Documento de Aparecida, 536), que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos.

Maria encontra Isabel (cf. Lc 1, 39-56), já de idade avançada (cf. Lc 1, 7). Mas é ela, a idosa, que fala de futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» (Lc 1, 41), proclama Maria «feliz» porque acreditou (cf. Lc 1, 45), antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que creem (cf. Jo 20, 29). E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro. É o milagre suscitado pela cultura do encontro, na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo. Com efeito, é o Espírito Santo que nos encoraja a sair de nós mesmos, dos nossos fechamentos e particularismos, para nos ensinar a olhar para além das aparências e oferecer-nos a possibilidade de dizer bem dos outros – «bendizê-los» –, especialmente de tantos irmãos nossos que ficaram expostos às intempéries, talvez privados não apenas dum teto ou dum bocado de pão, mas sobretudo da amizade e do calor duma comunidade que os abrace, proteja e acolha. Cultura do encontro que nos impele, a nós cristãos, a experimentar o milagre da maternidade da Igreja que procura, defende e une os seus filhos. Na Igreja, quando se encontram ritos diferentes, quando em primeiro lugar não vêm as próprias afiliações, o próprio grupo ou a própria etnia, mas o Povo que, junto, sabe louvar a Deus, então acontecem grandes coisas. Digamo-lo com força: felizes os que creem (cf. Jo 20, 19) e têm a coragem de criar encontro e comunhão.