É óbvio que muitos dos
"carismáticos" e de seus simpatizantes têm um bom coração. Mas, é
evidente também que, mesmo com boas intenções, eles estão colaborando - e
muito! - com a protestantização da Igreja Católica. Se você ainda não é capaz
de entender isso pela história e os desdobramentos dos fatos, basta comparar
uma Missa celebrada sob a "inspiração" de um padre ou de uma
comunidade de "carismáticos" e o culto de uma seita protestante ou
"evangélica". Não há praticamente diferença alguma. A Sacratíssima
Eucaristia ali, infelizmente, tornou-se apenas um "adorno" de maior
pompa. O que mais importa é a suposta "ação" do Espírito Santo, que
incendeia toda a barulheira, agitação, irreverência, abusos litúrgicos,
profanações e até mesmo sacrilégios.
Sim, o dom de línguas é um dom do Espírito
Santo (1Cor. 12, 10). Porém, será mesmo que todos os "carismáticos" e
simpatizantes que dizem "orar em línguas" estão realmente tomados
pelo Espírito Santo? Em dois mil anos de história da Santa Igreja, o fenômeno é
raro na vida dos santos; mas, é de uma abundância no mínimo extravagante em
círculos de "carismáticos" e simpatizantes, que em geral pregam uma
concepção de "santidade" pelo menos exótica. Some-se a isso o
ambiente de euforia, barulho, falatório e confusão desses círculos, e tudo fica
ainda mais problemático.
Na sua carta aos Coríntios, São Paulo
apresenta a "variedade de línguas" como um dom do Espírito Santo;
mas, com esse dom menciona também o dom de "interpretar" essas
línguas (1Cor. 12, 10). E o apóstolo alerta: [...] "suponhamos, irmãos,
que eu fosse ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitaria, se minha
palavra não vos desse revelação, nem ciência, nem profecia ou doutrina?"
(14, 6) [...] "Se há quem fala em línguas, não falem senão dois ou três,
quando muito, e cada um por sua vez, e haja alguém que interprete. Se não
houver intérprete, fiquem calados na reunião, e falem consigo mesmos e com
Deus" - e conclui: "Deus não é Deus de confusão, mas de paz"
(27-28; 33). Uma orientação de caráter prudencial que "carismáticos"
e simpatizantes devem ter em mente e observar.
São Paulo, na primeira carta aos Coríntios,
sugere que a "oração" e o "falar" em "línguas"
não sejam fomentados em assembleias e reuniões, pois nelas o mais apropriado é
que se diga o que é compreensível, exatamente para a edificação (caps. 12-14).
Trata-se de uma orientação de caráter prudencial da própria Santa Igreja, e que
tem o propósito de evitar a sugestão psicológica, o sensacionalismo, o estado
de euforia, o emocionalismo e em muitos casos a própria histeria, - e não se
descarta inclusive a influência diabólica (cf. Michael Hichborn) -, que
"carismáticos" e simpatizantes sem o adequado discernimento e
orientação podem confundir com a ação do Espírito Santo.
Uma orientação pastoral sensata e prudente da
CNBB para "carismáticos" e simpatizantes, e que corrobora o que
escrevi até momento sobre o assunto. Leia:
"ORAR e FALAR EM LÍNGUAS: O destinatário
da oração em línguas é o próprio Deus, por ser uma atitude da pessoa absorvida
em conversa particular com Deus. E o destinatário do falar em línguas é a
comunidade. O apóstolo Paulo ensina: 'Numa assembleia prefiro dizer cinco
palavras com a minha inteligência para instruir também aos outros, a dizer dez
mil palavras em línguas' (1 Cor 14,19). Como é difícil discernir, na prática,
entre inspiração do Espírito Santo e os apelos do animador do grupo reunido,
NÃO SE INCENTIVE A CHAMADA ORAÇÃO EM LÍNGUAS E NUNCA SE FALE EM LÍNGUAS SEM QUE
HAJA INTÉRPRETE". (CNBB. Documento 53. Orientações pastorais
sobre a Renovação Carismática Católica. 63).
Mais uma orientação pastoral sensata e
prudente da CNBB para os "carismáticos" e seus simpatizantes.
Orientação importante para evitar que eles incorram na presunção sobre os seus
eventuais dons, carismas - incluindo o de línguas -, e os de terceiros. Leia:
[...] "Os carismas devem ser recebidos
com gratidão e consolação. E NÃO DEVEM ser temerariamente pedidos nem se TER A
PRESUNÇÃO DE POSSUÍ-LOS (cf. LG 12).
"Haja muito DISCERNIMENTO na
identificação de carismas e dons extraordinários. Diante das pessoas que teriam
carismas especiais, O JUÍZO SOBRE SUA AUTENTICIDADE E SEU ORDENADO EXERCÍCIO
COMPETE AOS PASTORES DA IGREJA. A eles em especial cabe não extinguir o
Espírito, mas PROVAR AS COISAS para ficar com o que é bom (cfr. 1 Tes 5,12.19.21)". (CNBB. Documento 53. Orientações pastorais
sobre a Renovação Carismática Católica. 57-58).
Para efeito de esclarecimento. Da mesma forma
que não existe "missa afro", não existe também "missa
carismática". Existe sim - e é a única - Santa Missa. Portanto, além das
determinações gerais com relação à Liturgia, é importante observar as
"orientações pastorais" especialmente dirigidas aos
"carismáticos"e simpatizantes, para que os eventuais abusos, excessos
e até profanações sejam evitados. Leia:
"Nas celebrações, OBSERVE-SE A LEGISLAÇÃO
LITÚRGICA que, embora estabeleça normas precisas para certos momentos, abre
amplo espaço para a criatividade. NÃO SE INTRODUZAM ELEMENTOS ESTRANHOS À
TRADIÇÃO LITÚRGICA DA IGREJA ou QUE ESTEJAM EM DESACORDO COM O QUE ESTABELECE O
MAGISTÉRIO ou AQUILO QUE É EXIGIDO PELA PRÓPRIA ÍNDOLE DA CELEBRAÇÃO.
"Na celebração da Missa, não se deve
salientar de modo inadequado as palavras da Instituição, nem se interrompa a
Oração Eucarística para momentos de louvor a Cristo presente na Eucaristia com
APLAUSOS, VIVAS PROCISSÕES, HINOS DE LOUVOR EUCARÍSTICO e OUTRAS MANIFESTAÇÕES
que exaltem de tal maneira o sentido da presença real que acabem esvaziando as
várias dimensões da celebração eucarística.
"OS CANTOS e OS GESTOS sejam ADEQUADOS ao
momento celebrativo e DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS EXIGIDOS PARA A CELEBRAÇÃO
LITÚRGICA". [...] (CNBB. Documento 53. Orientações pastorais
sobre a Renovação Carismática Católica. 40-42).
Bruno Braga
Bruno Braga
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