Imagem que circula na internet desde esta sexta-feira, dia 6, mostra um jovem despejando balde de água em um padre diante do Santíssimo Sacramento exposto. O vídeo repercutiu bastante e despertou muitas críticas. O episódio foi esclarecido pela Diocese de Iguatu.
sábado, 7 de setembro de 2019
Diocese esclarece “banho em padre” diante do Santíssimo Sacramento exposto
Imagem que circula na internet desde esta sexta-feira, dia 6, mostra um jovem despejando balde de água em um padre diante do Santíssimo Sacramento exposto. O vídeo repercutiu bastante e despertou muitas críticas. O episódio foi esclarecido pela Diocese de Iguatu.
Bispos da Alemanha incentivam polêmica "assembleia sinodal"
Os bispos da Alemanha incentivam um programa
polêmico com a criação de uma "assembleia sinodal" em cooperação com
o Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK, na sigla em alemão), uma
organização que, em fevereiro deste ano, solicitou a mudança da moral sexual da
igreja.
Essa decisão dos bispos ocorreu apesar da
carta que o Papa Francisco escreveu em junho, dirigida ao povo de Deus na
Alemanha, na qual solicitou que os católicos do país caminhem de mãos dadas com
toda a Igreja.
Em março deste ano, o Cardeal Reinhard Marx,
presidente do Episcopado alemão, anunciou o início de um "processo
sinodal" para discutir alguns "temas essenciais" relacionados
aos abusos sexuais na Igreja: celibato sacerdotal, ensinamentos da Igreja sobre
moral sexual e redução do poder clerical.
Por esse motivo, em agosto e durante a
assembleia dos bispos alemães, foi apresentado o esboço dos estatutos deste
processo, no qual se propõe a formação de uma “assembleia sinodal” para revisar
estes temas.
Fontes próximas à liderança católica alemã
disseram à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que o processo sinodal já
está em andamento com "certeza absoluta".
Papa Francisco nomeia três Presidentes Delegados do Sínodo sobre a Amazônia
O Papa Francisco nomeou os Presidentes
Delegados da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região
Pan-amazônica, a ser realizada no Vaticano de 6 a 27 de outubro, com o tema
“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
Os presidentes delegados são o Cardeal
Baltazar Enrique Porras Cardozo, Administrador Apostólico de Caracas e
Arcebispo de Mérida (Venezuela); Cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno,
Arcebispo de Huancayo, Peru, e Vice-Presidente da Rede Eclesial Pan-amazônica
(REPAM); e o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os
Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
A nomeação dos três Presidentes Delegados foi
divulgada neste sábado, 7 de setembro, através de um comunicado da Sala de
Imprensa do Vaticano.
Verdadeiros pastores não devem ser “pretensiosos”, diz o Papa aos bispos em Madagascar
VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10
DE SETEMBRO DE 2019)
ENCONTRO COM OS BISPOS DE MADAGASCAR
DISCURSO
DO SANTO PADRE
Catedral
de Andohalo, Antananarivo
Sábado,
7 de setembro de 2019
Amados irmãos no episcopado!
Obrigado, Senhor Cardeal, pelas suas palavras
de boas-vindas em nome de todos os irmãos. Agradeço também por ter querido, com
as mesmas palavras, mostrar como a missão que abraçamos se desenrola no meio de
contradições: uma terra rica e tanta pobreza; uma cultura e uma sabedoria
herdadas dos antepassados, que nos fazem valorizar a vida e a dignidade da
pessoa humana, mas temos também de constatar a desigualdade e a corrupção.
Nestas circunstâncias, é difícil a tarefa do pastor.
«Semeador de paz e de esperança» é o tema
escolhido para esta visita, mas nele pode ecoar também a missão que nos foi
confiada. De facto, somos semeadores, e aquele que semeia fá-lo na esperança;
fá-lo contando com o seu esforço e empenho pessoal, mas sabendo que há muitos
fatores que têm de concorrer para que a semente germine, cresça, se torne
espiga e, por fim, grão abundante.
O semeador cansado e preocupado não desanima,
não desiste, nem pega fogo ao seu campo quando algo corre mal. Sabe esperar,
confia, assume as decepções da sua sementeira. Mas nunca cessa de amar este
campo confiado aos seus cuidados. E embora às vezes lhe venha a tentação de o
fazer, não o abandona nem confia a outrem. O semeador conhece a sua terra,
«palpa-a», «sente-a» e prepara-a para que possa dar o melhor de si mesma. Como
o Semeador, nós, bispos, somos chamados a lançar as sementes da fé e da
esperança nesta terra. Para isso, devemos desenvolver este «olfato» que nos
permite conhecer melhor e também descobrir o que compromete, dificulta ou
arruína a sementeira.
Assim, «os pastores, acolhendo as
contribuições das diversas ciências, têm o direito de exprimir opiniões sobre
tudo aquilo que diz respeito à vida das pessoas, dado que a tarefa da
evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano. Já não
se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas
para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos
seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à plenitude eterna,
porque Ele criou todas as coisas “para nosso usufruto” (1 Tm 6, 17), para que
todos possam usufruir delas. Por isso, a conversão cristã exige rever
especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum.
Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a
intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e
nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil,
sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos»
(FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii gaudium, 182-183).
Sei que não faltam motivos de preocupação e
que, entre outras coisas, carregais no coração a responsabilidade de velar pela
dignidade dos vossos irmãos, que pedem para se construir uma nação cada vez
mais solidária e próspera, dotada de instituições sólidas e estáveis. Pode um
pastor digno deste nome ficar indiferente aos desafios que enfrentam os seus
compatriotas de todas as categorias sociais, independentemente da sua pertença
religiosa? Pode um pastor segundo o estilo de Jesus ser indiferente às vidas
que lhe estão confiadas?
A dimensão profética ligada à missão da Igreja
requer, sempre e em toda parte, um discernimento que em geral não é fácil.
Neste sentido, a colaboração madura e independente entre a Igreja e o Estado é
um desafio permanente, disse colaboração madura e independente entre a Igreja e
o Estado. Esse é o desafio: que seja madura e independente. Porque o perigo de
conluio nunca está longe, sobretudo se chegamos a perder o ardor evangélico.
Escutando sempre aquilo que o Espírito diz sem cessar às Igrejas (cf. Ap 2, 7),
seremos capazes de escapar às ciladas, libertar o fermento do Evangelho para
uma colaboração frutuosa com a sociedade civil na busca do bem comum.
A marca distintiva deste discernimento será a
vossa preocupação por que a proclamação do Evangelho inclua todas as formas de
pobreza: não apenas «garantir a comida ou um decoroso “sustento” para todos,
mas prosperidade e civilização em seus múltiplos aspetos. Isto engloba
educação, acesso aos cuidados de saúde e especialmente trabalho, porque, no
trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e
engrandece a dignidade da sua vida. O salário justo permite o acesso adequado
aos outros bens que estão destinados ao uso comum» (Exort. ap. Evangelii
gaudium, 192).
A defesa da pessoa humana é outra dimensão do
nosso empenho pastoral. Para ser pastores segundo o coração de Deus, devemos
ser os primeiros na opção de anunciar o Evangelho aos pobres. Os primeiro na
opção por proclamar o Evangelho aos pobres: «Não devem subsistir dúvidas nem
explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, os pobres
são os destinatários privilegiados do Evangelho, e a evangelização dirigida
gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem
rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os
deixemos jamais sozinhos!» (Ibid., 48).
Por outras palavras, temos um dever particular
de proximidade e proteção para com os pobres, os marginalizados e os
pequeninos, para com as crianças e as pessoas mais vulneráveis, vítimas de
exploração e abusos. Vítimas hoje desta cultura do descarte. Hoje, a
mundanidade nos levou a introduzir nos programas sociais, nos programas de
desenvolvimento, o descarte como possibilidade. O descarte do que está por
nascer e o descarte do que está por morrer para acelerar a partida.
Este vasto campo não é desbravado e arroteado
apenas pelo espírito profético, mas espera também a semente lançada à terra com
paciência cristã, cientes ainda de que não temos o controle nem a
responsabilidade de todo o processo. Não se pode. O semeador não vai cada dia escavar
a terra para ver como a semente cresce.
Um pastor que semeia evita de controlar tudo.
Os pastores controladores não deixam crescer. O pastor que semeia dá azo às
iniciativas, deixa crescer segundo etapas diferentes, nem todos têm o mesmo
tempo de crescimento, e não procura a uniformidade.
O verdadeiro pastor não tem pretensões
irrazoáveis, não despreza os resultados aparentemente mais mingados. “Nesta
ocasião foi assim... adiante, tranquilo. Na próxima vez, irá melhor”. Mas
sempre sabe vender os resultados como vêm. Permitam-me que lhes diga como
concebo em algumas ocasiões, qual imagem me vem à mente quando penso na vida do
pastor. O pastor deve tomar a vida de onde vem, com os resultados que vierem.
O pastor é como o goleiro do time de futebol:
ele pega a bola de onde é jogada. Sabe se mover, sabe tomar a liberdade de onde
vem. E então corrige. Mas, no momento, toma a vida como vem. Esse é o amor do
pastor. Esta fidelidade ao Evangelho faz de nós pastores próximos também do
povo de Deus, a começar pelos nossos irmãos sacerdotes – são eles os nossos
irmãos mais próximos – que devem beneficiar de um cuidado especial da nossa
parte.
Aqui, permito-me sair do texto para falar da
proximidade do pastor. O pastor deve ser próximo de Deus, próximo de seus sacerdotes
e próximo do povo. As três proximidades do pastor. O pastor que se afasta do
povo, que perde o cheiro do povo... É como um funcionário de corte, de corte
Pontifícia, isso é importante, mas de corte, ao final. E isso não serve.
Papa Francisco visita mosteiro de clausura Carmelita em Madagascar
VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10
DE SETEMBRO DE 2019)
ENCONTRO
COM AS RELIGIOSAS CONTEMPLATIVAS
HOMILIA
DO SANTO PADRE
Mosteiro
das Carmelitas Descalças, Antananarivo, Madagascar
Sábado,
7 de setembro de 2019
DISCURSO
PREPARADO PELO SANTO PADRE
E
ENTREGUE DURANTE O ENCONTRO
Dileta Madre Madalena da Anunciação,
Irmãs muito amadas!
Agradeço-vos a receção calorosa e as palavras
da Madre que dão voz a todas as monjas contemplativas dos diferentes mosteiros
deste país. Obrigado a todas e cada uma de vós, queridas Irmãs, por terdes
deixado brevemente a clausura para manifestar a vossa comunhão comigo e com a
vida e a missão de toda a Igreja, especialmente a de Madagáscar.
Agradeço a vossa presença, a vossa fidelidade,
o testemunho luminoso de Jesus Cristo que ofereceis à comunidade. Neste país,
há pobreza; é verdade, mas existe também tanta riqueza! É rico de belezas
naturais, humanas e espirituais. Também vós, Irmãs, fazeis parte desta beleza
de Madagáscar, do seu povo e da Igreja, pois é a beleza de Cristo que
resplandece nos vossos rostos e nas vossas vidas. Graças a vós, a Igreja em
Madagáscar é ainda mais bela aos olhos do Senhor e também aos olhos do mundo
inteiro.
Os três salmos da Liturgia de hoje expressam a
angústia do salmista num momento de provação e perigo. Permiti que me detenha
no primeiro salmo, ou seja, numa seção do Salmo 119, o mais longo do Saltério,
composto de oito versículos por cada letra do alfabeto hebraico. O autor é, sem
dúvida, um homem de contemplação, alguém que sabe dedicar longos e maravilhosos
momentos à oração. Na estrofe de hoje (Sal 119/118, 81-88), a palavra que
aparece mais vezes e dá o tom ao conjunto é «suspirar», usada principalmente em
dois sentidos.
O orante suspira pelo encontro com Deus. Vós
sois o testemunho vivo deste anseio inextinguível que habita no coração de
todos os homens. No meio das múltiplas ofertas que pretendem – mas não
conseguem – satisfazer o coração, a vida contemplativa é a tocha que conduz ao
único braseiro eterno, «a chama viva de amor que docemente fere» (São João da
Cruz). Vós representais «visivelmente a meta para onde caminha a comunidade
eclesial inteira, que avança pelas estradas do tempo com o olhar fixo na futura
recapitulação de tudo em Cristo, preanunciando assim a glória celeste»
(Francisco, Const. ap. Vultum Dei quaerere, 2).
Somos sempre tentados a satisfazer o anseio de
eternidade com coisas efémeras. Estamos expostos aos mares revoltos que acabam
apenas por afogar a vida e o espírito: «Como o marinheiro no mar alto precisa
do farol que indique a rota para chegar ao porto, assim o mundo tem necessidade
de vós. Sede faróis para os que estão perto e sobretudo para os afastados. Sede
tochas que acompanham o caminho dos homens e mulheres na noite escura do tempo.
Sede sentinelas da manhã (cf. Is 21, 11-12) que anunciam o nascer do sol (cf.
Lc 1, 78). Com a vossa vida transfigurada e com palavras simples ruminadas no
silêncio, indicai-nos Aquele que é caminho, verdade e vida (cf. Jo 14, 6), o único
Senhor que oferece plenitude à nossa existência e dá vida em abundância (cf. Jo
10, 10). Gritai-nos como André a Simão: “Encontramos o Messias” (cf. Jo 1, 40);
anunciai, como Maria de Magdala na manhã da ressurreição: “Vi o Senhor!” (Jo
20, 18)» (Ibid., 6).
Em discurso, Papa pede que povo de Madagascar lute contra a corrupção
VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10
DE SETEMBRO DE 2019)
ENCONTRO
COM AS AUTORIDADES,
O CORPO
DIPLOMÁTICO E VÁRIOS REPRESENTANTES
DA
SOCIEDADE CIVIL
DISCURSO
DO SANTO PADRE
Ceremony
Building, Antananarivo, Madagascar
Sábado,
7 de setembro de 2019
Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-Ministro,
Ilustres membros do Governo e do Corpo
Diplomático,
Distintas Autoridades,
Representantes das Confissões religiosas e da
sociedade civil,
Senhoras e Senhores!
Saúdo cordialmente o Presidente da República
de Madagáscar e agradeço-lhe o amável convite para visitar este país, bem como
as palavras de boas-vindas que me dirigiu. O Senhor Presidente, falou com
paixão, falou com amor pelo Seu povo. Agradeço-Lhe pelo Seu testemunho de
patriota. Saúdo também o Primeiro-Ministro, os membros do governo, do corpo
diplomático e os representantes da sociedade civil. Dirijo uma saudação
fraterna aos bispos, aos membros da Igreja Católica, aos representantes de
outras confissões cristãs e de várias religiões. Agradeço a todas as pessoas e
instituições que tornaram possível esta viagem e, de modo particular, ao povo
malgaxe que nos acolhe com grande hospitalidade.
No preâmbulo da Constituição da vossa República,
quisestes consignar um dos valores fundamentais da cultura malgaxe: o
fihavanana, termo que evoca o espírito de partilha, ajuda mútua e
solidariedade; mas inclui também a importância dos laços familiares, da amizade
e da benevolência entre os homens e para com a natureza. Revelam-se, assim, a
«alma» do vosso povo e os traços peculiares que o caraterizam, constituem e lhe
permitem resistir, corajosa e abnegadamente, às múltiplas contrariedades e
dificuldades que tem de enfrentar diariamente. Se devemos reconhecer, valorizar
e apreciar esta terra abençoada pela sua beleza e inestimável riqueza natural,
não é menos importante fazê-lo também pela «alma» que vos dá a força de
permanecer empenhados com a aina (isto é, com a vida), como bem lembrou o padre
António de Pádua Rahajarizafy SJ.
Depois que recuperou a independência, a vossa
nação aspira à estabilidade e à paz, implementando uma alternância democrática
positiva que testemunha respeito pela complementaridade dos estilos e projetos.
Isto demonstra que «a política é um meio fundamental para construir a cidadania
e as obras do homem» (Francisco, Mensagem para o LII Dia Mundial da Paz, 1 de
janeiro de 2019), quando é vivida como serviço à coletividade humana. Por isso,
é claro que a função e a responsabilidade política constituem um desafio
permanente para quantos têm a missão de servir e proteger os seus compatriotas,
especialmente os mais vulneráveis, e de promover as condições para um
desenvolvimento digno e justo, envolvendo todos os atores da sociedade civil.
Porque, como lembrava São Paulo VI, o desenvolvimento de uma nação «não se
reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser
integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo» (Carta enc.
Populorum progressio, 14).
Nesta perspetiva, encorajo-vos a lutar,
vigorosa e decididamente, contra todas as formas endémicas de corrupção e
especulação, que aumentam a disparidade social, e a enfrentar as situações de
grande precariedade e exclusão que geram sempre condições de pobreza desumana.
Daí a necessidade de estabelecer todas as mediações estruturais que possam
garantir uma melhor distribuição do rendimento e a promoção integral de todos
os habitantes, especialmente dos mais pobres. Tal promoção não se pode limitar a
uma mera assistência, mas requer o seu reconhecimento como sujeitos jurídicos
chamados a participar plenamente na construção do seu futuro (cf. Francisco,
Exort. ap. Evangelii gaudium, 204-205).
Além disso, sabemos que não se pode falar de
desenvolvimento integral sem prestar atenção e cuidar da nossa Casa Comum. Não
se trata apenas de encontrar os instrumentos para preservar os recursos
naturais, mas de procurar «soluções integrais que considerem as interações dos
sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. [Porque] não há duas
crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise
socio-ambiental» (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 139).
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
Papa Francisco: Não se pode ser cristão e promover o “olho por olho, dente por dente”
VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA
FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10 DE SETEMBRO DE
2019)
SANTA MISSA PELO PROGRESSO DOS POVOS
HOMILIA DO SANTO PADRE
Estádio de Zimpeto de
Maputo, Moçambique
Sexta-feira, 6 de
setembro de 2019
Amados irmãos e irmãs!
Ouvimos no Evangelho de Lucas uma passagem do
Sermão da Planície. Depois de escolher os seus discípulos e ter proclamado as
Bem-aventuranças, Jesus acrescenta: «Digo-vos a vós que Me escutais: “Amai os
vossos inimigos”» (Lc 6, 27). Uma palavra dirigida hoje também a nós, que O
escutamos neste Estádio.
Di-lo com clareza, simplicidade e firmeza
traçando uma senda, um caminho estreito que requer algumas virtudes. Porque
Jesus não é um idealista, que ignora a realidade; está a falar do inimigo concreto,
do inimigo real, que descrevera na Bem-aventurança anterior (6, 22): aquele que
nos odeia, expulsa, insulta e rejeita como infame.
Muitos de vós podem ainda contar, em primeira
pessoa, histórias de violência, ódio e discórdias; alguns, em sua própria
carne; outros, de alguém conhecido que já cá não está; e outros ainda pelo
temor de que feridas do passado se repitam e tentem apagar o caminho de paz já
percorrido, como em Cabo Delgado.
Jesus não nos convida a um amor abstrato,
etéreo ou teórico, redigido em escrivaninhas para discursos. O caminho que nos
propõe é o que Ele percorreu primeiro, o caminho que O fez amar aqueles que O
traíram, julgaram injustamente, aqueles que O matariam.
É difícil falar de reconciliação, quando ainda
estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdia, ou convidar a
dar um passo de perdão que não signifique ignorar o sofrimento nem pedir que se
cancele a memória ou os ideais (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium,
100). Mesmo assim, Jesus convida a amar e a fazer o bem. E isto é muito mais do
que ignorar a pessoa que nos prejudicou ou esforçar-se por que não se cruzem as
nossas vidas: é um mandato que visa uma benevolência ativa, desinteressada e
extraordinária para com aqueles que nos feriram. Mas Jesus não fica por aí;
pede-nos também que os abençoemos e rezemos por eles; isto é, que o nosso falar
deles seja um bendizer, gerador de vida e não de morte, que pronunciemos os
seus nomes não para insulto ou vingança, mas para inaugurar um novo vínculo que
leve à paz. Alta é a medida que o Mestre nos propõe!
Com tal convite, Jesus quer encerrar para
sempre a prática tão usual – ontem como hoje – de ser cristão e viver sob a lei
de talião. Não se pode pensar o futuro, construir uma nação, uma sociedade
sustentada na «equidade» da violência. Não posso seguir Jesus, se a ordem que
promovo e vivo é «olho por olho, dente por dente».
Nenhuma família, nenhum grupo de vizinhos ou
uma etnia e menos ainda um país tem futuro, se o motor que os une, congrega e
cobre as diferenças é a vingança e o ódio. Não podemos pôr-nos de acordo e
unir-nos para nos vingarmos, para fazermos àquele que foi violento o mesmo que
ele nos fez, para planearmos ocasiões de retaliação sob formatos aparentemente
legais. «As armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam novos
e piores conflitos» (Ibid., 60). A «equidade» da violência é sempre uma espiral
sem saída; e o seu custo, muito alto. Há outro caminho possível, porque é
crucial não esquecer que os nossos povos têm direito à paz. Vós tendes direito
à paz.
Para tornar o seu convite mais concreto e
aplicável no dia-a-dia, Jesus propõe uma primeira regra de ouro ao alcance de
todos – «como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também» (Lc 6, 31)
– e ajuda-nos a descobrir o que é mais importante nesta reciprocidade de trato:
amar-nos, ajudar-nos e emprestar sem esperar nada em troca.
«Amar-nos»: diz-nos Jesus. E Paulo traduz isso
como «revestir-nos de sentimentos de misericórdia e de bondade» (Col 3, 12). O
mundo desconhecia – e continua sem conhecer – a virtude da misericórdia, da
compaixão, matando ou abandonando deficientes e idosos, eliminando feridos e
enfermos, ou divertindo-se com os sofrimentos dos animais. Também não praticava
a bondade, a amabilidade, que nos move a considerar o bem do próximo tão
querido como o próprio.
Superar os tempos de divisão e violência supõe
não só um ato de reconciliação ou a paz entendida como ausência de conflito,
implica também o compromisso diário de cada um de nós ter um olhar atento e
ativo que nos leva a tratar os outros com aquela misericórdia e bondade com que
queremos ser tratados; misericórdia e bondade sobretudo com aqueles que, pela
sua condição, rapidamente acabam rejeitados e excluídos. Trata-se de uma atitude,
não de débeis, mas de fortes, uma atitude de homens e mulheres que descobrem
que não é necessário maltratar, denegrir ou esmagar para se sentirem
importantes; antes pelo contrário... E esta atitude é a força profética que o
próprio Jesus Cristo nos ensinou ao querer identificar-Se com eles (cf. Mt 25,
35-45) e ao mostrar-nos que o serviço é o caminho.
Papa Francisco recorda parábola do Bom Samaritano ao visitar doentes de AIDS
VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA
FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10 DE SETEMBRO DE
2019)
VISITA AO HOSPITAL DE ZIMPETO
SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE
Maputo
Sexta-feira, 6 de
setembro de 2019
Queridos irmãos e irmãs!
Muito obrigado pelo acolhimento caloroso e
fraterno e também pelas palavras de Cacilda. Obrigado pela tua vida e
testemunho, expressão de que este Centro de saúde polivalente – Santo Egídio de
Zimpeto – é manifestação do amor de Deus, sempre pronto a insuflar vida e
esperança onde abundam a morte e o sofrimento.
Saúdo cordialmente os responsáveis, os
operadores sanitários, os enfermos com seus familiares, e todos os presentes.
Vendo como tratais e acolheis com competência, profissionalismo e amor tantas
pessoas doentes, particularmente pacientes com SIDA/HIV sobretudo mulheres e
crianças, acode-me ao pensamento a parábola do Bom Samaritano.
Todos os que passaram por aqui, todos os que
vêm com desespero e angústia são como aquele homem abandonado na beira da
estrada. E, aqui, vós não passastes ao largo, não continuastes pelo vosso
caminho como fizeram outros (o levita e o sacerdote). Este Centro mostra-nos
que houve quem parou e sentiu compaixão, quem não cedeu à tentação de dizer
«não há nada a fazer», «é impossível combater esta praga» e se animou a buscar
soluções. Vós, como disse Cacilda, ouvistes aquele grito silencioso, quase
inaudível, de inúmeras mulheres, de tantos que viviam envergonhados,
marginalizados, julgados por todos. Por isso alargastes esta casa – onde o
Senhor vive com aqueles que estão na berma da estrada – aos doentes de cancro,
tuberculose e a centenas de desnutridos, sobretudo crianças e jovens.
Assim todas as pessoas que, de várias formas,
fazem parte desta comunidade sanitária tornam-se expressão do Coração de Jesus,
para que ninguém pense «que o seu clamor caíra em saco roto. (…) [São] um sinal
de solidariedade para quantos passam necessidade a fim de sentirem a presença
ativa dum irmão ou duma irmã. Não é de um ato de delegação que os pobres
precisam, mas do envolvimento pessoal de quantos escutam o seu brado. A
solicitude dos crentes não pode limitar-se a uma forma de assistência – embora
necessária e providencial num primeiro momento –, mas requer aquela atenção
amiga que aprecia o outro como pessoa e procura o seu bem» (Francisco, Mensagem
para o II Dia Mundial dos Pobres, 18 de novembro de 2018, n. 3). Ouvir este
clamor levou-vos a perceber que não era suficiente um tratamento médico, embora
necessário; por isso, vos debruçastes sobre a problemática em toda a sua
integridade para devolver a dignidade às mulheres e crianças, ajudando-as a
projetar um futuro melhor.
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