domingo, 13 de outubro de 2019

Bispos debatem por que protestantes crescem na Amazônia e católicos não


Entre os diferentes debates dos círculos menores no Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que está acontecendo em Roma até 27 de outubro, fala-se sobre por que os protestantes crescem na Amazônia e os católicos estão estagnados ou, inclusive, reduzindo o seu número.

No briefing informativo organizado nesta sexta-feira, 11 de outubro, na Sala de Imprensa do Vaticano, para fazer um resumo dos trabalhos do Sínodo, discutiu-se sobre o forte crescimento das Igrejas e comunidades evangélicas entre a população da Amazônia em detrimento dos fiéis da Igreja Católica.

A questão concreta que foi levantada foi que os missionários católicos da Amazônia colocam o acento no social, enquanto os pastores evangélicos falam do Evangelho.

O Cardeal Carlos Aguiar Retes, Arcebispo do México, explicou que no círculo menor do Sínodo no qual está trabalhando, um delegado fraterno (membro de uma Igreja protestante) disse que os bispos “precisam levar muito em consideração que as pessoas querem, antes de tudo, a Palavra de Deus”.

O Cardeal Aguiar afirmou:“acredito que o Papa Francisco já nos deu um testemunho muito forte na Evangelii gaudium, na Laudato si’ e em seus diversos comunicados de que devemos comunicar, prioritariamente, a Palavra de Deus para que as pessoas possam entrar em uma interiorização de seu relacionamento com Deus e uma forte experiência de vida, e então sim, comprometer-se com os demais.

Por outro lado, Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas (TO), enfatizou que a migração de uma Igreja para outra é um fenômeno religioso complexo que não pode ser explicado por uma única razão.

“Há muitas razões juntas. Chamamos isso de 'trânsito religioso'. Existem alguns estudos que mostram que algumas pessoas migraram de Igreja não apenas uma vez, mas seis vezes. É um fenômeno muito complexo que requer mais tempo para analisar”, explicou.

Ele insistiu que a migração de uma religião para outra “é um fato, mas não há um critério único, um único motivo. Há muitas razões que fazem as pessoas mudarem de uma Igreja para a outra”.

Além disso, assinalou que “internamente, dentro do mundo evangélico, essa migração existe com muita frequência. Basta que uma pessoa não concorde com a opinião do pastor para fundar outra Igreja. Existem mais igrejas do que você pode imaginar”.

Em sua opinião, trata-se de um fenômeno que reflete a vulnerabilidade das pessoas, que faz com que "se afastem de sua Igreja". Para entender, é preciso compreender que as populações da Amazônia têm necessidades materiais que nem sempre podem ser atendidas. Têm deficiências no acesso à saúde, educação etc. e "essas igrejas (evangélicas) prometem: prometem boa economia, casamento, felicidade".

Homilia do Papa Francisco na canonização de Irmã Dulce e outros beatos


SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO DOS BEATOS:
GIOVANNI ENRICO NEWMAN, GIUSEPPINA VANNINI,
MARIA TERESA CHIRAMEL MANKIDIYAN, DULCE LOPES PONTES, MARGARITA BAYS

HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO

Praça de São Pedro
Domingo, 13 de outubro de 2019

«A tua fé te salvou» (Lc 17, 19). É o ponto de chegada do Evangelho de hoje, que nos mostra o caminho da fé. Neste percurso de fé, vemos três etapas, vincadas pelos leprosos curados, que invocam, caminham e agradecem.

Primeiro, invocar. Os leprosos encontravam-se numa condição terrível não só pela doença em si, ainda hoje difusa e devendo ser combatida com todos os esforços possíveis, mas pela exclusão social. No tempo de Jesus, eram considerados impuros e, como tais, deviam estar isolados, separados (cf. Lv 13, 46). De facto, quando vão ter com Jesus, vemos que «se mantêm à distância» (Lc 17, 12). Embora a sua condição os coloque de lado, todavia diz o Evangelho que invocam Jesus «gritando» (17, 13) em voz alta. Não se deixam paralisar pelas exclusões dos homens e gritam a Deus, que não exclui ninguém. Assim se reduzem as distâncias, e a pessoa sai da solidão: não se fechando em auto lamentações, nem olhando aos juízos dos outros, mas invocando o Senhor, porque o Senhor ouve o grito de quem está abandonado.

Também nós – todos nós – necessitamos de cura, como aqueles leprosos. Precisamos de ser curados da pouca confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao jogo, ao dinheiro, à televisão, ao telemóvel, à opinião dos outros. O Senhor liberta e cura o coração, se O invocarmos, se lhe dissermos: «Senhor, eu creio que me podeis curar; curai-me dos meus fechamentos, livrai-me do mal e do medo, Jesus». No Evangelho de Lucas, os primeiros a invocar o nome de Jesus são os leprosos. Depois fá-lo-ão também um cego e um dos ladrões na cruz: pessoas carentes invocam o nome de Jesus, que significa Deus salva. De modo direto e espontâneo chamam Deus pelo seu nome. Chamar pelo nome é sinal de confidência, e o Senhor gosta disso. A fé cresce assim, com a invocação confiante, levando a Jesus aquilo que somos, com franqueza, sem esconder as nossas misérias. Invoquemos diariamente, com confiança, o nome de Jesus: Deus salva. Repitamo-lo: é oração. A oração é a porta da fé, a oração é o remédio do coração.

Caminhar é a segunda etapa. Neste breve Evangelho de hoje, aparece uma dezena de verbos de movimento. Mas o mais impressionante é sobretudo o facto de os leprosos serem curados, não quando estão diante de Jesus, mas depois enquanto caminham, como diz o texto: «Enquanto iam a caminho, ficaram purificados» (17, 14). São curados enquanto vão para Jerusalém, isto é, palmilhando uma estrada a subir. É no caminho da vida que a pessoa é purificada, um caminho frequentemente a subir, porque leva para o alto. A fé requer um caminho, uma saída; faz milagres, se sairmos das nossas cómodas certezas, se deixarmos os nossos portos serenos, os nossos ninhos confortáveis. A fé aumenta com o dom, e cresce com o risco. A fé atua, quando avançamos equipados com a confiança em Deus. A fé abre caminho através de passos humildes e concretos, como humildes e concretos foram o caminho dos leprosos e o banho de Naaman no rio Jordão, que ouvimos na primeira Leitura (cf. 2 Re 5, 14-17). O mesmo se passa conosco: avançamos na fé com o amor humilde e concreto, com a paciência diária, invocando Jesus e prosseguindo para diante.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Quem financia a iniciativa “Amazônia Casa Comum” durante o Sínodo?


Durante a realização do Sínodo da Amazônia, em Roma, a Igreja de Santa Maria em Traspontina é a sede da iniciativa “Amazônia: Casa Comum”, na qual se realiza um evento diário de caráter sincrético chamado “Momentos de espiritualidade amazônica”, no qual se misturam tradições indígenas da Amazônia com referências cristãs.

Entre as organizações envolvidas nesta iniciativa e em outros eventos em Roma, por ocasião do Sínodo, estão a Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), duas agências de ajuda dos bispos da Alemanha e uma confederação de grupos sociais com sede em Bruxelas (Bélgica).

A iniciativa ‘Amazônia Casa Comum’ “é um esforço para tentar reunir as diferentes instituições da região amazônica, membros da Igreja ou a ela vinculados, que vieram a Roma para ter um espaço comum e um calendário comum. Mas cada instituição é responsável por seus eventos”, explicou Mauricio López Oropeza, secretário-geral da REPAM, em declarações à CNA, agência em inglês do Grupo ACI.

A REPAM, presidida pelo Cardeal brasileiro Claudio Hummes, é um dos 14 grupos do comitê organizador da iniciativa ‘Amazônia Casa Comum’, ressaltou López.

“Cada caso é diferente e eles estão compartilhando essa diversidade e espiritualidade de seu próprio contexto. Isso é o que eu sei. Existem cerca de 390 comunidades indígenas na região amazônica e a espiritualidade faz parte de toda cultura”, explicou.

A REPAM se descreve como uma organização que defende os direitos e a dignidade dos povos indígenas na Amazônia.

O Bispo emérito de Marajó, na Amazônia brasileira, Dom José Luis Azcona, disse em agosto deste ano que o trabalho do REPAM se baseia em um "pensamento único" que "ameaça" o caminho da sinodalidade e a unidade eclesial do Brasil.

Essas críticas foram negadas pelo presidente da REPAM, o bispo brasileiro de 85 anos, Cardeal Claudio Hummes, e outro importante colaborador da organização, o bispo austro-brasileiro, Dom Erwin Kräutler, que, há anos, defendem a ordenação de homens casados e o sacerdócio feminino.

O Cardeal Hummes é o Relator Geral do Sínodo da Amazônia.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Brasil terá sua primeira santa neste domingo


No dia 13 de outubro, o Papa Francisco canonizará a Beata Dulce Lopes Pontes, que será a primeira santa brasileira, conhecida como o "anjo bom da Bahia".

A futura santa é lembrada por ser a imagem da caridade, pois dedicou sua vida a cuidar dos pobres e realizou um importante trabalho social na Bahia, onde fundou hospitais de caridade e uma rede de apoio social.

Será declarada santa 27 anos após sua morte, sendo a terceira canonização mais rápida na história recente da igreja, depois de São João Paulo II (9 anos após sua morte) e Santa Teresa de Calcutá (19 anos após sua morte).

Sua vida

Maria Rita Lopes Pontes nasceu em Salvador (BA), em 26 de maio de 1914, foi a segunda de cinco irmãos. Seu pai, Augusto, era dentista e professor da Faculdade de Odontologia, sua mãe, Dulce Maria, morreu em 1921, aos 26 anos.

Maria Rita, aos 13 anos, começou a acolher em sua casa mendigos e doentes, transformando a residência da família em um centro de atendimento. A casa ficou conhecida como "A Portaria de São Francisco", devido ao grande número de pessoas carentes que acolhia.

Junto com uma de suas tias, conheceu os lugares mais carentes da cidade, ficando marcada pela pobreza. Seu interesse pela vida religiosa despertou durante sua adolescência. Assim, em 1933, após se formar como professora, ingressou no Instituto das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, com o nome de Dulce, em homenagem a sua mãe.

Irmã Dulce entregou sua vida ao serviço aos necessitados, fundou a União dos Trabalhadores de São Francisco, um movimento cristão de trabalhadores na Bahia, o Hospital Santo Antônio e uma rede de apoio social que administrou até o dia de sua morte.

Ordenado sacerdote aos 75 anos: “A concretização de um sonho”


Heldo Jorge dos Santos Pereira tem 75 anos, é viúvo, tem três filhos e quatro netos e, no último domingo, realizou “um sonho”: recebeu a ordenação sacerdotal das mãos do Arcebispo de Salvador (BA), Dom Murilo Krieger.

A ordenação foi celebrada na manhã de 5 de outubro, na Catedral Metropolitana Transfiguração do Senhor, e o agora Pe. Heldo definiu este dia como “a concretização de um sonho”.

“Estou sentindo a emoção sem medicação, já que a minha cardiologista me disse para não tomar nenhum remédio. Estou aqui sentido essa emoção, me colocando a serviço do Senhor e é Ele quem vai dizer para onde eu vou”, expressou o sacerdote, conforme informa o site da Arquidiocese de Salvador.

Por sua vez, Dom Murilo Krieger afirmou que, “se ele celebrar ao menos uma Missa, já realizou plenamente o seu sacerdócio”.

 “Facilmente se pensa que o sacerdócio é fazer, mas o sacerdócio exige ser de Jesus, ser do Seu Reino. Tanto assim que um padre doente e idoso que nada mais possa fazer a não ser rezar ou oferecer a sua doença, vive plenamente o seu sacerdócio”, acrescentou.

O Prelado disse ainda ter “certeza que, além de tudo isso, o Padre Heldo poderá fazer muito pela Igreja, ajudando muitos padres, colaborando em tantos trabalhos que ele tem condições de fazer. Então, eu me alegro, por que é mais um dom para a nossa Arquidiocese”.

Filhos e netos de Pe. Heldo participaram da celebração e compartilharam a emoção deste momento. “É uma felicidade imensa, porque na verdade é um sonho dele”, disse um dos filhos, Ricardo Pereiro.

Bispo no Sínodo da Amazônia: "Não podemos sacralizar tudo que é indígena, nem demonizar"


Dom Medardo de Jesús Henao del Río, Vigário Apostólico de Mitú (Colômbia), participou nesta quinta-feira da coletiva de imprensa da Sala Stampa do Vaticano e disse que "não podemos sacralizar tudo o que é indígena, nem demonizá-lo".

O Bispo incentivou a tomar os elementos, situações e celebrações indígenas “que têm, o que Santo Irineu diria, sementes do verbo e sementes de Deus” e incentivou a estudar os mitos das comunidades indígenas, para saber o que significam seus rituais e como aceitá-los; e apresentou a figura do diácono como a do “servidor da comunidade”.

Explicou que recentemente ordenou um diácono indígena pelos ritos romano e indígena e destacou que realizou o rito da ordenação diaconal "até o momento de entregar o Evangelho".

Depois, os líderes indígenas da comunidade “lhe colocaram uma coroa como um sinal do homem que adquire sabedoria dentro da comunidade e que vai guiá-la. Isso não é nenhuma oração, é um distintivo”.

“A comunidade o acolhe e diz: 'você vai nos ajudar' (...). Não é uma mistura, é assimilar certos valores que a comunidade indígena tem em comum com o valor cristão”, afirmou Dom del Río.

Também lembrou as palavras do Papa Francisco, nas quais assegurava que os diáconos "não deveriam servir em uma liturgia ao lado do bispo ou do sacerdote", e enfatizou que é "um ministério que tem muita harmonia com toda a tradição indígena”.

Bispo explica perigos de ordenar sacerdotes casados na Amazônia


O Bispo Prelado de Moyobamba (Peru), Dom Rafael Escudero López-Brea, explicou sobre os perigos de ordenar idosos casados, os chamados viri probati, como sacerdotes na Amazônia.

Em seu discurso no Sínodo da Amazônia, Dom Escudero indicou que a solução proposta pelo Instrumentum laboris ou documento de trabalho “é estudar a possibilidade de ordenar homens idosos casados, concedendo-lhes apenas a tarefa de administrar os sacramentos, mas não diz nada sobre a tarefa de ensinar e governar. Consequentemente, faz-se uma separação entre munus sanctificandi, munus regendi e munus docendi”.

A intervenção do Bispo se referiu ao documento de trabalho do Sínodo no número 129.2, que assinala: “Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Dom Erwin Kräutler pede ordenar homens casados e diaconisas na Amazônia


O Bispo Emérito do Xingu (Brasil), Dom Erwin Kräutler, se expressou a favor da ordenação de diaconisas e de homens casados de provada virtude, os chamados viri probati.

Ao ser perguntado sobre a ordenação dos viri probati, o prelado austríaco de 80 anos disse que, no caso da Amazônia, “não há outra possibilidade”.

Segundo Kräutler, “os povos indígenas não entendem o celibato” e, para isso, contou uma historieta:

“A primeira vez que fui, perguntaram se eu tinha mulher e, quando disse que não, eles ficaram com pena de mim”.

 Na segunda vez, continuou o Prelado, ele explicou aos indígenas que sim tinha uma mulher, mas se referia à sua mãe que vivia na Europa a 8000 km dali. “Para o povo indígena, talvez o branco possa ser celibatário, mas para eles é como diz São Paulo na Carta a Timóteo: o homem deve ser casado, esposo de uma só mulher e cuidar primeiramente de sua casa, assim, poderá cuidar da casa maior que é a comunidade”, disse em seguida.

Depois de indicar que não é contra o celibato, o Bispo disse que na situação atual “só pode haver Eucaristia quando há um homem celibatário, do contrário, não. Então, o celibato se sobressai à Eucaristia”.

Falando depois sobre as diaconisas, Dom Kräutler disse que “dois terços das comunidades indígenas (na Amazônia) são coordenadas por mulheres. Então, o que fazemos? Temos que fazer coisas concretas e sonham com o diaconato feminino. Por que não?”.

Dom Erwin Kräutler recordou ainda que ele propôs o tema da ordenação de homens casados ao Papa Francisco em 5 de abril de 2014 e que, naquela oportunidade, também falaram sobre a degradação da Amazônia.

O Bispo Emérito do Xingu é um dos prelados escolhidos pelo Sínodo da Amazônia para fazer parte da comissão de informação.

O Prelado está vinculado à Rede Eclesiástica Pan-Amazônica (REPAM) e defende há anos a ordenação sacerdotal de homens casados.