Entre os diferentes debates dos círculos
menores no Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que está acontecendo em Roma até
27 de outubro, fala-se sobre por que os protestantes crescem na Amazônia e os
católicos estão estagnados ou, inclusive, reduzindo o seu número.
No briefing informativo organizado nesta
sexta-feira, 11 de outubro, na Sala de Imprensa do Vaticano, para fazer um
resumo dos trabalhos do Sínodo, discutiu-se sobre o forte crescimento das
Igrejas e comunidades evangélicas entre a população da Amazônia em detrimento
dos fiéis da Igreja Católica.
A questão concreta que foi levantada foi que
os missionários católicos da Amazônia colocam o acento no social, enquanto os
pastores evangélicos falam do Evangelho.
O Cardeal Carlos Aguiar Retes, Arcebispo do
México, explicou que no círculo menor do Sínodo no qual está trabalhando, um
delegado fraterno (membro de uma Igreja protestante) disse que os bispos
“precisam levar muito em consideração que as pessoas querem, antes de tudo, a
Palavra de Deus”.
O Cardeal Aguiar afirmou:“acredito que o Papa
Francisco já nos deu um testemunho muito forte na Evangelii gaudium, na Laudato
si’ e em seus diversos comunicados de que devemos comunicar, prioritariamente,
a Palavra de Deus para que as pessoas possam entrar em uma interiorização de
seu relacionamento com Deus e uma forte experiência de vida, e então sim,
comprometer-se com os demais.
Por outro lado, Dom Pedro Brito Guimarães,
Arcebispo de Palmas (TO), enfatizou que a migração de uma Igreja para outra é
um fenômeno religioso complexo que não pode ser explicado por uma única razão.
“Há muitas razões juntas. Chamamos isso de
'trânsito religioso'. Existem alguns estudos que mostram que algumas pessoas
migraram de Igreja não apenas uma vez, mas seis vezes. É um fenômeno muito
complexo que requer mais tempo para analisar”, explicou.
Ele insistiu que a migração de uma religião
para outra “é um fato, mas não há um critério único, um único motivo. Há muitas
razões que fazem as pessoas mudarem de uma Igreja para a outra”.
Além disso, assinalou que “internamente,
dentro do mundo evangélico, essa migração existe com muita frequência. Basta
que uma pessoa não concorde com a opinião do pastor para fundar outra Igreja.
Existem mais igrejas do que você pode imaginar”.
Em sua opinião, trata-se de um fenômeno que
reflete a vulnerabilidade das pessoas, que faz com que "se afastem de sua
Igreja". Para entender, é preciso compreender que as populações da
Amazônia têm necessidades materiais que nem sempre podem ser atendidas. Têm
deficiências no acesso à saúde, educação etc. e "essas igrejas
(evangélicas) prometem: prometem boa economia, casamento, felicidade".
Da mesma forma, Dom Joaquín Pertíñez
Fernández, Bispo de Rio Branco (AC), falou das dificuldades da Igreja Católica
em alcançar os lugares mais remotos da Amazônia devido à "falta de sacerdotes
em toda a Amazônia". "Não temos condições pessoais nem econômicas
para estarmos presentes nesses lugares".
Explicou que o Instrumentum laboris do atual
Sínodo “fala de vazios existenciais ou religiosos que nós, como católicos, não
ocupamos, e outros vêm e os ocupam. Porque nosso povo é muito religioso,
tradicionalmente, e qualquer um que chegue dizendo que é a Palavra de Deus, o
nosso povo vai atrás”.
Também se referiu às promessas de cobrir as
necessidades básicas "especialmente de saúde", com as quais os
pastores protestantes conseguem convencer os fiéis católicos a mudarem de
Igreja. Nesse sentido, referiu-se a um problema de formação: “falta
conhecimento, falta cultura”.
Em muitos lugares da Amazônia “não há acesso à
saúde para todos” e, se alguém “precisa ser curado de dor de cabeça ou dor de
estômago, então o pastor promete e através dessas promessas, com esse
proselitismo, eles conseguem a adesão de muitos. E depois que eles saem, é
muito difícil voltar”.
“Há muitas pessoas que, se não conseguem em
uma Igreja, vão a outra e a outra, até que conseguem alguém para solucionar seu
problema, que é mais físico do que espiritual. Nem sempre podemos solucionar os
problemas básicos de saúde, educação e de tudo que nosso povo tem. Então, vem
outros prometendo coisas básicas e o povo acredita e vai com eles”, concluiu.
_________________________________
ACI Digital
Nenhum comentário:
Postar um comentário