terça-feira, 17 de março de 2020

"As pessoas abandonarão a Igreja se a Igreja as abandonar durante a epidemia", afirma secretário do Papa



Foi divulgada uma carta que o Padre Yoannis Lahzi Gadi, secretário do Papa Francisco, enviou a um grupo de sacerdotes. A carta, que foi aprovada pelo Papa, é um apelo a que todos os sacerdotes abandonem a epidemia do medo e comecem a agir segundo a lógica de Deus e não segundo a lógica dos homens:

Quo vadis, Domine? (Senhor, para onde vais?)

É um episódio atribuído ao apóstolo Pedro que, segundo a tradição, fugiu de Roma para escapar das perseguições de Nero, teria encontrado Cristo, que carregava uma cruz nos ombros e ia na direcção de Roma. Pedro perguntou a Jesus: "Domine, quo vadis?" (Senhor, para onde vais?) E à resposta de Jesus: "Eo Romam iterum crucifigi." (Vou a Roma para ser crucificado novamente.) Pedro compreendeu que tinha de voltar para Roma para enfrentar o martírio.

Pedro tinha, humanamente falando, todo o direito de escapar para salvar a sua vida da perseguição e talvez fundar outras comunidades e outras igrejas, mas, na realidade, de acordo com a lógica do mundo, as pessoas agiam como Satanás, ou seja, pensando como homens e não segundo Deus. Jesus, voltando-se, disse a Pedro:

"Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens." (Mc 8, 33).

Cristo, no Evangelho de João, ao falar do "Bom Pastor" e do mercenário, chama a Si mesmo de "Bom Pastor", que não apenas cuida das ovelhas, mas conhece-as pessoalmente e dá, até, a vida por elas. Jesus é o "guia" seguro das pessoas que procuram o caminho que conduz a Deus e aos irmãos.

Na epidemia do medo que todos estamos enfrentando, por causa da pandemia de corona vírus, todos corremos o risco de nos comportarmos como mercenários e não como pastores.

Não podemos e não devemos julgar, mas vem-nos à mente a imagem de Cristo, que encontra Pedro assustado e iludido, não para o censurar mas para ir morrer em seu lugar. Pensamos em todas as almas amedrontadas e abandonadas porque nós, pastores, seguimos as instruções civis - o que é correto e certamente necessário neste momento para evitar o contágio - mas corremos o risco de deixar de lado as instruções divinas - o que é um pecado.

Pensamos como homens e não segundo Deus, colocamo-nos entre os assustados e não entre os médicos, enfermeiros, voluntários, trabalhadores e pais da família que estão na linha de frente. Penso nas pessoas que vivem alimentando-se da Eucaristia, porque acreditam na Presença Real de Cristo na Sagrada Comunhão. Penso nas pessoas que agora devem ser contentar-se com seguir a transmissão da Missa em streaming. Penso nas almas que precisam de conforto espiritual e de se confessar. Penso nas pessoas que certamente abandonarão a Igreja, quando esse pesadelo acabar, porque a Igreja as abandonou quando precisavam. 

CNBB convida fiéis a rezarem o terço em momento de oração contra o avanço do novo coronavírus



Diante da pandemia do Covid-19, o novo coronavírus, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em comunhão com o Papa Francisco no compromisso de intensificar as orações neste período, une-se ao Brasil convocando a todos para um momento de oração a ser realizado na próxima quarta-feira, às 15h30.

Na ocasião, a presidência da CNBB, juntamente com religiosos e leigos convidados, rezarão o Terço da Esperança e  da Solidariedade, que será transmitido em todas as televisões de inspiração católica do país, emissoras de rádio,  pela página da Conferência no Facebook e no Youtube.

A iniciativa, principalmente em momentos delicados e difíceis como este, busca elevar os corações ao Deus da Vida, no acolhimento de sua Palavra, fortalecendo a fé, a esperança e a união. “Conscientes de que as restrições ao convívio não durarão para sempre, aprendamos a valorizar a fraternidade, tornando-nos ainda mais desejosos de, passada a pandemia, podermos estar juntos, celebrando a vida, a saúde, a concórdia e a paz” (trecho da nota “Tempos de Esperança e Solidariedade” da CNBB). 

domingo, 15 de março de 2020

Covid-19: Justiça proíbe missas no Santuário Nacional de Aparecida



Neste sábado (14), a Justiça decidiu que o Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo, deve suspender missas e eventos no local. A determinação atende a um pedido do Ministério Público em razão da epidemia de coronavírus no Brasil.

Em decisão liminar, a juíza Luciene Belan Ferreira Allemand antecipou “os efeitos da tutela, em razão da ameaça de contaminação e disseminação da doença, por se trata de medida de saúde pública, evitando-se, assim, a exposição de diversas pessoas ao vírus, bem como suas consequências , deferindo a liminar para impedir a realização de quaisquer eventos no Santuário Nacional de Aparecida”.

Com isso, ficam suspensas missas e eventos por um período de 30 dias que pode ser prorrogado por um período igual.

As visitas ao Santuário, no entanto, estão liberadas.

Após a proibição, o Santuário Nacional divulgou a seguinte nota: 

Pais de São João Paulo II iniciam seu caminho aos altares



O Arcebispo de Cracóvia (Polônia), Dom Marek Jędraszewski, anunciou na terça-feira, 11 de março, que os processos de beatificação e canonização de Karol Wojtyla e sua esposa Emilia de Kaczorowski, pais de São João Paulo II, começarão nos próximos dias.

A permissão de Dom Jędraszewski, um requisito legal para iniciar o processo, foi acrescentada ao parecer favorável da Conferência Episcopal Polonesa e à aprovação da Congregação para as Causas dos Santos no Vaticano.

Em um comunicado, os bispos da Polônia informaram que "os documentos apropriados chegarão à paróquia da Arquidiocese de Cracóvia nos próximos dias e os fiéis serão informados sobre o início do processo". Estes últimos "serão solicitados a enviar à Cúria Metropolitana de Cracóvia, antes de 7 de maio de 2020, qualquer documento, carta ou mensagem sobre os Servos de Deus, tanto positivos quanto negativos", acrescenta o texto.

“A memória dos pais de São João Paulo II ainda está viva, principalmente nas comunidades de Wadowice e Cracóvia. Faz muito tempo desde a sua morte, mas ainda existem pessoas que os conheceram pessoalmente. Vamos tentar contatá-los e pedir que testemunhem”, disse Pe. Andrzej Scąber, secretário para a canonização da Arquidiocese de Cracóvia.

O sacerdote disse que serão escutadas várias testemunhas diretas, inclusive os netos dos servos de Deus.

“O próprio Papa, em certo sentido, será uma testemunha direta da santidade de seus pais. Existem muitos textos que confirmam que eram pessoas excepcionais”, acrescenta Pe. Scąber.

Assinalou também que serão realizados dois processos de canonização separados, nos quais se deverá demonstrar que Emília e Karol praticaram virtudes heroicas, que disfrutam da reputação de santidade e, por sua intercessão, as pessoas receberam os favores de Deus.

"Esse processo não será fácil devido ao pequeno número de testemunhas oculares, mas já podemos dizer que a documentação que foi compilada, especialmente em relação a Karol Wojtyła, é muito extensa e mostra que esse homem, ao longo de sua vida, evoluiu em seu relacionamento com Deus e levou essa amizade de Deus ao filho, o futuro Papa”, explicou o presbítero.

Finalmente, Pe. Scąber comentou que, em meio a uma sociedade em crise como a de hoje, com "muitos divórcios, relações de convivência, crianças abandonadas", a família Wojtyla, "como diz o Papa Francisco, são santos do bairro, normais, ordinários, que nos mostram que, em uma situação econômica muito difícil, durante a doença, a morte de dois filhos, é possível confiar e estar perto de Deus ".

Em 2018, o então Arcebispo de Cracóvia e ex-secretário pessoal de São João Paulo II, Cardeal Stanislaw Dziwisz, disse que levava em seu coração a possibilidade de iniciar o processo de beatificação e canonização dos pais de São João Paulo II. 

Diocese de Roma volta atrás e decide manter igrejas abertas aos fiéis



O Vigário do Papa para a Diocese de Roma, Cardeal Angelo de Donatis, promulgou um novo decreto nesta sexta-feira, 13 de março, no qual estipula que as igrejas paroquiais de Roma podem permanecer abertas após o anúncio no dia anterior que havia estipulado o fechamento das paróquias e outras igrejas em Roma.

No entanto, igrejas não paroquiais em toda a diocese permanecerão fechadas, assim como todas as atividades pastorais e as Missas públicas permanecerão suspensas até 3 de abril.

Desde 9 de março, todas as Missas públicas da diocese haviam sido canceladas, mas as igrejas tinham permanecido abertas à oração pessoal e, em alguns casos, com a Adoração Eucarística e com a administração do Sacramento da Confissão.

O Cardeal De Donatis assinalou em 12 de março que essa disposição "é para o bem comum" e, portanto, convidou a receber a "Palavra de Deus que nos diz ‘onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles’", por isso, afirmou, "neste momento, ainda mais do que antes, nossas casas devem ser igrejas domésticas".

O decreto para fechar as igrejas em Roma veio um dia depois que o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte reforçou as restrições do bloqueio nacional até 3 de abril para deter a propagação da pandemia do coronavírus, por isso incluiu o fechamento de todos os restaurantes, bares e lojas que não sejam supermercados ou outros mercados de alimentos. 

Papa diz que medidas draconianas contra o vírus "nem sempre são boas"



O papa Francisco afirmou nesta sexta-feira que as medidas draconianas contra o novo coronavírus "nem sempre são boas" e pediu a bispos e padres que não deixem os fiéis sozinhos durante a pandemia, contra a qual vários países decretaram restrições severas.

"As medidas draconianas nem sempre são boas", disse o pontífice, em uma crítica indireta às restrições impostas em certos países, especialmente na Itália, que proíbem deslocamentos e, portanto, visitas de religiosos aos fiéis, assim como impedem a celebração de missas e sepultamentos em público. 

Dos bispos italianos, dez milhões de euros à Caritas para emergência coronavírus



Seguindo o exemplo do Papa Francisco, que na quinta-feira anunciou o envio de cem mil euros à Caritas italiana para atender às necessidades dos mais fracos em tempos de emergência do coronavirus, a presidência da Conferência Episcopal Italiana  (CEI)decidiu doar dez milhões de euros para a Caritas.

O valor -  como é precisado em um comunicado de imprensa - visa sustentar a Caritas diocesana em suas ações de apoio às pessoas em dificuldade devido à emergência de saúde. Os recursos provêm de doações privadas e do imposto “oito por mil” que os cidadãos italianos destinam à Igreja Católica.

Caberá às 220 Caritas diocesanas distribuídas em todo o país identificar as intervenções mais urgentes, território por território, priorizando formas de apoio econômico às famílias que já passam por dificuldades. Essas ações incluem desde a compra de gêneros de primeira necessidade para pessoas e famílias necessitadas até atividades de escuta, em particular voltadas a idosos, solitários e pessoas mais vulneráveis. Mas não só. A Caritas deverá garantir serviços para pessoas em pobreza extrema, como refeitórios e dormitórios protegidos.

“Essa alocação extraordinária da CEI - explica o diretor da Caritas italiana, padre Francesco Soddu - representa para as Caritas diocesanas um sinal concreto de esperança e conforto. Desta forma, as Igrejas locais continuarão a garantir o forte dinamismo da caridade".

A Caritas italiana, por fim, renova a todos seu apelo à solidariedade, convidando a apoiar as iniciativas e as intervenções das dioceses e das Caritas locais em favor de pessoas em dificuldade e em condições cada vez mais precárias. 

1ª Pregação da Quaresma 2020: "Como Maria somos chamados a uma conversão permanente"


COMO MARIA SOMOS CHAMADOS 
A UMA CONVERSÃO PERMANENTE

SALA CLEMENTINA
Vaticano, 06 de março de 2020
 
“Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como mãe.” (Cf. João 19, 26-27)

Aqui, João nos deixa essa imagem muito forte de Maria, mãe, que está junto à Cruz do Filho. Não é assim tão simples como já estamos um pouco acostumados; no entanto, quem já encontrou alguma vez uma mãe e a viu no funeral do filho, entende imediatamente que é muito mais difícil essa cena do que o contrário, um filho que sepulta sua mãe. Ver o próprio filho na morte é algo absolutamente particular, mas sobretudo, se este Filho é o Salvador do mundo. E então se entende por que a antiga iconografia representa a Mãe sob a cruz com uma mão na face. O que essa mão na face significa? Na iconografia, depois preservada no ícone bizantino até nossos dias, essa é precisamente a imagem da pessoa em uma provação muito dura, que é colocada em uma incerteza muito séria, antes, em uma dúvida.

E Maria pode duvidar de que debaixo da Cruz? Por que a iconografia a coloca nessa imagem de uma fortíssima provação? E de uma incerteza quase total? Tanto é verdade que a iconografia mostra que o Cristo está voltado para ela e ela olha para o Filho e - dizem os orientais - o Filho da Cruz entrega à Mãe o mais alto grau de sabedoria, isto é, ver o sentido de fracasso, o sentido do colapso, o sentido de sofrimento e o sentido de uma morte tão vergonhosa, como era a sua. Tanto é verdade, que o sofrimento, a dor, são um problema.

Vemos como Pedro, por exemplo, no capítulo 8 de Marcos, quando Cristo começa a falar sobre como será seu destino em Jerusalém, como sofrerá, o que acontecerá a ele, Pedro tomando-o à parte diz: “Veja, isso nunca te acontecerá". Antes ainda, usa um termo tão forte - "epitimao" – que é aquele que Cristo sempre usava para silenciar os demônios. Isto é, Pedro ficou impressionado de tal forma quando entendeu que Cristo estava falando de si mesmo, que seria crucificado e entregue nas mãos dos pecadores, que disse: “Falas como se tivesses um demônio; isto é, é impossível que Tu, como Messias, sofrerás". Por quê? Porque por trás disso há um imaginário do Messias triunfante. E agora, como dizes que sofrerás assim? Ou, se pegarmos os dois discípulos de Emaús, é outra situação semelhante.

Quando eles dizem: “Nós esperávamos que fosse ele quem haveria de restaurar Israel, mas pelo contrário, agora, foi crucificado e sepultado, isto é, é um fracassado. Ainda esperávamos ... ". Ou seja, havia uma esperança, uma espera do Messias que cria um imaginário, que cria uma esperança que certamente corresponde muito a algo muito, muito humano: precisamente uma esperança, uma salvação segundo a nossa natureza. E segundo a nossa natureza, não se pode ser salvos por meio do sofrimento ou, pior ainda, por uma morte tão cruel. E por isso é evidente que Maria, estando sob a Cruz de seu Filho, tem pensamentos muito profundos, precisamente em relação a isso: isto é, como é possível ter sido dito a Ele que seria o Salvador do mundo, e agora termina assim?

E mais, no Evangelho de Lucas é dito, quando o apresentam no Templo, é dito que "uma espada transpassará teu coração", antes, "tua vida", é dito textualmente, "psyché". Ora, a espada certamente dá a imagem de um corte, de algo que realmente separa, tanto é verdade que, na Carta aos Hebreus essa espada é considerada como "palavra", “a Palavra", e é dito explicitamente "esta palavra (de Deus) é viva, eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Julga os pensamentos e as intenções do coração” (Heb 4,11-12).

Então Maria ... tantos disseram que ali, aos pés da Cruz, Maria sente essa espada, que vai até as profundezas, que discerne os pensamentos e os sentimentos, mas sacudindo, cortando; não é uma contemplação pacífica.

Ora, de fato, Lucas diz, já no início, que Maria guardava todas essas coisas em seu coração: "Maria, por sua parte, guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração". Ora, o que Maria traz em seu coração? O que ela realmente está carregando lá dentro? E o termo usado em grego significa que ela carrega algo muito precioso, e essa palavra do "meditar" é usada pela primeira vez no Evangelho o termo "symballo", que significa literalmente "colocar junto", "procurar como fazer se encaixar”, como fazer unir; (...) que as coisas possam ser traduzidas, mas também as palavras. Ou seja, Maria está ligando as palavras e os eventos, as coisas.