sábado, 28 de março de 2020

"Não estão combatendo o vírus: estão arruinando o Brasil", diz jornalista J.R. Guzzo



O jornalista José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, ex-colunista da revista Veja, publicou uma matéria onde fez críticas contundentes ao governador de São Paulo, João Doria, e também outras autoridades do país, pelo que ele considera medidas extremadas no combate ao coronavírus.

"Com a ofensiva comandada pelo governador de São Paulo, João Doria, para eliminar a atividade econômica no estado, que responde por cerca de 40% do PIB nacional, está se armando uma tempestade-gigante: recessão brava, com diminuição de até 4% na economia brasileira. Nem Lênin, se quisesse destruir o capitalismo no Brasil, viria com uma ideia assim", escreveu Guzzo. 

CNBB reafirma recomendação de distanciamento social após decreto do presidente



A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou na quinta-feira, 26 de março, uma nota por meio da qual reafirma sua recomendação aos prelados para que seja mantido o distanciamento social como forma de prevenir a propagação do coronavírus, mesmo após decreto editado pelo presidente Jair Bolsonaro que inclui atividades religiosas como serviço essencial.

Em decreto publicado na quinta-feira no Diário Oficial da União, 12 atividades foram incluídas à lista de serviços considerados essenciais  e que, por isso, podem continuar funcionando durante a quarenta por causa do coronavírus. Entre essas, encontra-se a “atividade religiosa de qualquer natureza”, a qual deverá obedecer as “determinações do Ministério da Saúde”.

Após a publicação do decreto presidencial, a CNBB publicou a nota assinada por seu secretário-geral, Dom Joel Portella Amado, afirmando que, ao considerar “que as orientações emanadas pelas autoridades competentes do Ministério da Saúde indicam o distanciamento social, as igrejas, se os bispos assim o considerarem, podem permanecer abertas, porém, do modo como tem sido feito: orações individuais, transmissões online etc.”.

“Não há como entender que os instrumentos legais acima referidos possam obrigar a reabertura das igrejas, muito menos para a prática de qualquer tipo de aglomeração”, acrescentou.

A seguir, a íntegra da notada CNBB: 

Existe Santa Corona, mártir e padroeira das epidemias resistentes?



Várias agências de notícias, incluindo a Agência Alemã de Imprensa (DPA), informaram nos últimos dias que uma mártir da tradição cristã primitiva chamada "Corona" foi venerada no passado como a santa padroeira contra as epidemias resistentes.

Dizem que Santa Corona, de 16 anos, foi executada no século II por professar sua fé no Oriente, provavelmente na Síria. Suas relíquias foram mantidas na cidade de Aachen, no oeste da Alemanha, por mais de mil anos, mais precisamente desde 997 d.C.

Daniela Lövenich, porta-voz da Catedral de Aachen, disse à DPA: “Entre outras coisas, Santa Corona é considerada uma santa padroeira contra epidemias. É isso que a torna tão interessante neste momento”.

Na quarta-feira, 25 de março, a agência Reuters publicou um artigo no qual informou que a Catedral de Aachen decidiu retirar as relíquias da pouco conhecida Santa Corona para exibi-las quando a pandemia de coronavírus passar, como parte de uma exposição sobre artesanato em ouro.

Atualmente, os especialistas estão limpando meticulosamente o medalhão de ouro, bronze e marfim, que estava oculto à vista do público durante os últimos 25 anos.

Brigitta Falk, chefe do Tesouro da Catedral de Aachen, contou detalhes sobre a lenda do brutal martírio de Santa Corona. Dizem que a jovem cristã foi amarrada a duas palmeiras curvas que destroçaram a menina quando foram abertas novamente.

"Essa é uma história muito assustadora e fez com que ela se convertesse na padroeira dos lenhadores”, disse e acrescentou que foi pura casualidade que também se convertesse na santa padroeira para resistir às epidemias.

As relíquias de Corona, que teriam sido levadas a Aachen pelo rei Otto III em 997, foram guardadas em um túmulo debaixo de um piso na catedral, que ainda pode ser visto, até o ano 1911 ou 1912 quando foi colocada no relicário.

O relicário, que mede 93 centímetros de altura e pesa 98 kg, agora está sendo polido para os visitantes.

"Tiramos o relicário um pouco antes do planejado e agora esperamos mais interesse devido ao vírus", disse Daniela Lövenich à Reuters. 

Irã libera 85.000 prisioneiros por causa do coronavírus, mas mantém os cristãos presos



O regime de mulá do Irã se recusou na terça-feira a conceder uma libertação temporária a quatro cristãos presos em meio à libertação de cerca de 85.000 prisioneiros, incluindo presos políticos, em um esforço para impedir a propagação do pior surto de coronavírus no Oriente Médio.

A organização de liberdade religiosa Article 18 escreveu em seu site que: “Quatro cristãos iranianos que cumprem sentenças de 10 anos na prisão de Evin, em Teerã, estão sendo impedidos de ser libertados temporariamente, mesmo que seus pedidos de novos julgamentos tenham sido aceitos“.

Segundo o Article 18, os quatro cristãos iranianos presos são Yousef Nadarkhani, 42; Mohammad Reza (Yohan) Omidi, 46; Zaman (Saheb) Fadaei, 36; e Nasser Navard Gol-Tapeh, que tem 58 anos e sofre de vários problemas graves de saúde.

A organização de liberdade religiosa disse que os cristãos “fizeram vários pedidos de libertação sob fiança desde que seus novos julgamentos foram aceitos em outubro [exceto Gol-Tapeh, cujo pedido de novo julgamento foi aceito em fevereiro], e suas famílias estão cada vez mais ansiosas por eles após o surto de coronavírus". 

3ª Pregação da Quaresma 2020: "Perto da Cruz de Jesus estava Maria sua mãe".



TERCEIRA PREGAÇÃO DA QUARESMA

"PERTO DA CRUZ DE JESUS ESTAVA MARIA SUA MÃE".


A palavra de Deus que nos acompanha em nossa meditação é a de João, aquele que “viu e que, por isso, sabe que fala a verdade” (Jo 19,35):

Perto da cruz de Jesus estavam de pé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse a sua mãe: ‘Mulher, este é o teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Esta é a tua mãe’. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo (Jo 19,25-27).

Desse texto, tão denso, vamos considerar agora só a narrativa, deixando para a próxima vez a meditação do restante da passagem evangélica que contém as palavras de Jesus.

Se, no Calvário, junto da cruz de Jesus, estava Maria, sua Mãe, isso quer dizer que ela estava em Jerusalém na­queles dias; se estava em Jerusalém, então viu tudo, assistiu a tudo. Ouviu os gritos: “Esse não, mas Barrabás!”, assistiu ao Ecce homo, viu a carne da sua carne açoitada, sangrante, coroada de espinhos, seminua perante a multidão, estremecendo sacudida por arrepios de morte na cruz. Ouviu o barulho dos golpes de martelo e os insultos: “Se és o Filho de Deus...”. Viu os soldados dividindo entre si as vestes, a túnica que talvez ela mesma tinha tecido.

“Perto da cruz de Jesus estavam de pé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas e Maria Madalena”. Havia, pois, um grupo de mulheres, quatro no total (como aparece no ícone). Maria não estava, pois, sozinha; era uma das mulheres. Sim, Maria estava ali como “sua mãe” e isto muda tudo, pondo Maria numa situação totalmente diferente. Assisti, às vezes, ao funeral de alguns jovens; penso particularmente no de um rapaz. Várias mulheres seguiam o féretro. Todas vestidas de preto, todas chorando. Pareciam todas iguais. Mas entre elas havia uma diferente, uma na qual pensavam todos os presentes, e para a qual todos olhavam disfarçadamente: a mãe. Era viúva e tinha só aquele filho. Olhava para o caixão, percebia-se que seus lábios repetiam sem parar o nome do filho. Quando os fiéis, no momento do Sanctus, começaram a proclamar: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus do universo”, também ela, talvez sem o perceber, começou a murmurar: Santo, Santo, Santo... Naquele momento pensei em Maria aos pés da cruz. Mas a ela foi pedido algo de mais difícil: perdoar. Quando ouviu o Filho dizendo: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34), ela entendeu o que o Pai do céu esperava dela: que dissesse com o coração as mesmas palavras: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”. E ela as disse. Perdoou.

Se Maria pôde ser tentada, como o foi também Jesus no deserto, isto aconteceu particularmente junto da cruz. E foi uma tentação profundíssima e dolorosíssima, porque tinha como causa o mesmo Jesus. Ela acreditava nas promessas, acreditava que Jesus era o Messias, o Filho de Deus; sabia que, se Jesus tivesse pedido, o Pai lhe teria enviado “mais de doze legiões de anjos” (cf. Mt 26,53). Mas percebe que Jesus não faz nada. Libertando a si mesmo da cruz, libertaria também ela de sua terrível dor, mas não o faz. Maria, porém, não grita: “Desce da cruz; salva-te a ti mesmo e a mim!”; ou: “Salvaste muitos outros, por que não salvas agora também a ti mesmo, ó meu filho?”, ainda que seja fácil entender como seria natural que semelhantes pensamentos e desejos surgissem no coração de uma mãe. Maria cala-se.

Humanamente falando, Maria tinha todos os motivos para gritar a Deus: “Tu me enganaste!”, ou, como um dia gritou o profeta Jeremias: “Tu me seduziste e eu me deixei seduzir!” (cf. Jr 20,7), e fugir do Calvário. Ela, pelo contrário, não fugiu, mas ficou “de pé”, em silêncio, tornando-se assim, de maneira toda especial, mártir da fé e, seguindo o Filho, testemunha suprema da confiança em Deus. Esta visão de Maria que se une ao sacrifício do Filho encontrou uma expressão sóbria e solene num texto do Concilio Vaticano II:

“Assim a Bem-aventurada Virgem avançou em peregrinação de fé. Manteve fielmente sua união com o Filho até à cruz, onde esteve não sem desígnio divino. Veementemente sofreu junto com seu Unigénito. E com ânimo materno se associou ao seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada”[1].

Maria não estava, pois, “junto da cruz de Jesus”, perto dele, só num sentido físico e geográfico, mas também num sentido espiritual. Ela estava unida à cruz de Jesus; estava no mesmo sofrimento; sofria com ele. Sofria no seu coração o que o Filho sofria na carne. E quem poderia pensar diversamente, se, ao menos, sabe o que significa ser mãe?

Jesus era também homem; enquanto homem, diante de todos ele não é, neste momento, senão um filho justiçado na presença de sua mãe. Jesus já não diz: Que temos nós com isso, mulher? A minha hora ainda não chegou (Jo 2,4). Agora que a sua “hora” chegou, há entre ele e sua mãe algo de grande em comum: o mesmo sofrimento. Naqueles momentos extremos, quando também o Pai se escondeu misteriosamente do seu olhar de homem, restou para Jesus somente o olhar de sua mãe onde procurar refúgio e consolação. Por acaso vai desdenhar esta presença e esta consolação materna aquele que, no Getsêmani, suplicou aos três discípulos: Ficai aqui e vigiai comigo (Mt 26,38)?

Estar junto da cruz de Jesus

Agora, seguindo como sempre o nosso princípio-guia, conforme o qual Maria é tipo e espelho da Igreja, suas primícias e modelo, temos que nos perguntar: o que o Espírito Santo quis dizer à Igreja dispondo que, na Escritura, fosse registrada essa presença de Maria e essa palavra de Jesus sobre ela?

Também desta vez, é a mesma Palavra de Deus que, implicitamente, indica a passagem de Maria à Igreja, dizendo o que cada fiel deve fazer para imitá-la: “Junto da cruz de Jesus estava Maria, sua Mãe, e, junto dela, o discípulo que ele amava”. Na notícia está contida a parênese. O que aconteceu naquele dia indica o que deve acontecer cada dia: é preciso ficar junto de Maria perto da cruz de Jesus, como aí ficou o discípulo que ele amava.

Há duas coisas escondidas nesta frase: primeiro, que é preciso ficar “junto da cruz” e, em segundo lugar, que é preciso ficar junto da cruz “de Jesus”. Veremos que essas são duas coisas diferentes, embora inseparáveis

Ficar perto da cruz “de Jesus”. Estas palavras dizem-nos que a primeira coisa a ser feita, a mais importante de todas, não é ficar perto de qualquer cruz, mas ficar perto da cruz “de Jesus”. Não é suficiente ficar perto da cruz, no sofrimento, e aí ficar em silêncio. Isto só já parece algo de heroico, todavia, não é o mais importante. Pode, aliás, não ser nada. Decisivo é ficar perto da cruz “de Jesus”. O que vale não é a própria cruz, mas a de Cristo. Não é o fato de sofrer, mas de acreditar, apropriando-se assim do sofrimento de Cristo. A primeira coisa é a fé. A realidade maior de Maria junto da cruz foi a sua fé, maior ainda do que o seu sofrimento. Paulo diz que a palavra da cruz é “poder de Deus e sabedoria de Deus para aqueles que são chamados” (cf. 1Cor 1,18.24) e diz que o Evangelho é poder de Deus “para todos aqueles que creem” (cf. Rm 1,16). Para todos que creem, não para todos os que sofrem, ainda que, como veremos, ambas as coisas geralmente estejam unidas.

Aqui está a fonte de toda a força e fecundidade da Igreja. A força da Igreja vem da pregação da cruz de Jesus – de algo que, aos olhos do mundo, é o próprio símbolo da loucura e da fraqueza –, renunciando a qualquer possibilidade ou vontade de enfrentar o mundo, descrente e leviano, com seus meios que são a sabedoria das palavras, a força da argumentação, a ironia, o ridículo, o sarcasmo e todas as outras “coisas fortes do mundo” (cf. 1Cor 1,27). É preciso renunciar a uma superioridade humana para que possa surgir e agir a força divina contida na cruz de Cristo. É preciso insistir neste primeiro ponto. A maioria dos fiéis nunca foi ajudada a entrar neste mistério que é o coração do Novo Testamento, o centro do kerigma e que muda a vida.

“Ficar perto da cruz”. Mas qual é o sinal e a prova de que se acredita verdadeiramente na cruz de Cristo, que “a palavra da cruz” não é apenas uma palavra, um princípio abstrato, uma bela teologia ou ideologia, mas que é verdadeiramente cruz? O sinal, a prova, é: tomar sua própria cruz e ir atrás de Jesus (cf. Mc 8,34). O sinal é a participação nos seus sofrimentos (Fl 3,10; Rm 8,17), é estar crucificado com ele (Gl 2,19), é completar, pelos próprios sofrimentos, o que falta à paixão de Cristo (Cl 1,24). A vida inteira do cristão, como a de Cristo, deve ser um sacrifício vivo (cf. Rm 12,1). Não se trata só de sofrimento aceito passivamente, mas também de sofrimento ativo, vivido em união com Cristo: Trato duramente o meu corpo e o subjugo (1Cor 9,27). “Toda a vida de Cristo foi cruz e martírio; e tu procuras só descanso e gozo?”, admoesta o autor da “Imitação de Cristo”[2].

Existiram na Igreja duas maneiras diferentes de colocar-se diante da cruz e da paixão de Cristo: a primeira, mais característica da teologia protestante, baseada na fé e na apropriação, que se apoia na cruz de Cristo, que quer gloriar-se só na cruz de Cristo; a segunda – pelo menos no passado cultivada de preferência pela teologia católi­ca –, que insiste no sofrer com Cristo, no partilhar de sua paixão e, como no caso de alguns santos, até no reviver em si mesmo a paixão de Cristo. O ecumenismo nos leva a reconstruir a síntese daquilo que na Igreja gradualmente acabou se opondo.

Não se trata, evidentemente, de pôr no mesmo plano a obra de Cristo e a nossa, mas de acolher a palavra da Escritura que afirma que tanto a fé como a obra estão mortas uma sem a outra (cf. Tg 2,14ss). Aliás, poderíamos dizer que o problema diz respeito à própria fé. É a fé na cruz de Cristo que precisa passar pelo sofrimento para ser autêntica. A Primeira Carta de Pedro diz que o sofrimento é o “crisol” da fé, que a fé precisa do sofrimento para ser purificada como o ouro no fogo (cf. 1Pd 1,6-7).

Em outras palavras, a nossa cruz não é salvação em si mesma, não é nem poder, nem sabedoria; por si mesma, é pura obra humana, ou até mesmo um castigo. Torna-se poder e sabedoria de Deus enquanto – acompanhada pela fé, por disposição de Deus mesmo – nos une à cruz de Cristo. “Sofrer significa tornar-se particularmente receptivo, particularmente aberto à ação das forças salvíficas de Deus, oferecidas em Cristo à humanidade”[3]. O sofrimento une à cruz de Cristo de maneira não só intelectual, mas existencial e concreta; é uma espécie de canal, de caminho para chegar à cruz de Cristo, não à margem da fé, mas fazendo uma coisa só com ela. 

Papa reza e concede indulgência plenária por pandemia de coronavírus



MOMENTO EXTRAORDINÁRIO DE ORAÇÃO
EM TEMPO DE EPIDEMIA

PRESIDIDO PELO PAPA FRANCISCO

Adro da Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 27 de março de 2022

«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.

Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro... E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).

Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.

A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.

Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!» 

quinta-feira, 26 de março de 2020

Por que Deus criaria vírus?



Existem 10 milhões de vezes mais vírus do que estrelas no universo. Mas se os vírus causam milhões de mortes humanas todos os anos, e muitos milhões ficam enojados com esses minúsculos parasitas predadores, por que Deus criaria essas coisas?

Quando outras pessoas aprendem que sou virologista, geralmente respondem a perguntas como “Os vírus estão vivos?” Quando eles descobrem que eu sou cristã, querem saber: “Por que Deus criaria vírus?” Essa pergunta pressupõe que os vírus são ruins, causando doenças, sofrimento e, às vezes, até a morte. Mas pintar as entidades orgânicas mais abundantes da Terra sob uma luz tão fraca é a única maneira de entendê-las?

Adoro abordar questões como essas que examinam mais profundamente os vírus e seus papéis na criação e nas doenças humanas, e seu uso como ferramentas para mitigar o sofrimento e muito mais. Darei uma palestra que abordará esse tópico na  Conferência de Fé e Ciência  da Universidade Evangel neste fim de semana. Mais tarde, gravarei para um RTB Live de 2017  !  DVD. Mas, por enquanto, aqui estão alguns dos destaques.

Os vírus estão vivos?

Os vírus são compostos de dois componentes básicos: proteínas e ácido nucleico (RNA ou DNA). (Alguns vírus têm um terceiro componente básico: um envelope lipídico.) Eles exibem uma incrível diversidade em tamanho, forma, estratégias de replicação, composição genômica, organização e nos tipos de células e animais que infectam. As estimativas sugerem que existem 1 a 3 milhões de vírus diferentes que infectam vertebrados. E um estudo em morcegos indica que mais de 90% dos vírus que infectam mamíferos ainda não foram identificados. 1  Apesar de uma enorme virodiversidade (uma frase que indica diversidade viral), todos os vírus compartilham uma coisa em comum: eles não podem se replicar ou produzir mais vírus por si mesmos. Exigem absolutamente uma célula viva para fornecer recursos, máquinas e energia para produzir e montar componentes virais na descendência viral.

Os vírus não podem colher nutrientes do ambiente. Eles sequestram máquinas celulares para síntese de proteínas e dependem de processos metabólicos celulares e enzimas para fornecer nucleobases e aminoácidos – blocos de construção para viriões de progênies. Os vírus também dependem de sistemas de transporte intracelular para muitas etapas na replicação e montagem viral. Sem células vivas, os vírus nunca seriam capazes de se reproduzir.

O Sétimo Relatório do Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus afirma: “Os vírus não são organismos vivos”. 2  Apesar de não estarem vivos, os vírus carregam projetos para a produção de mais vírus. E esses projetos podem ser modificados. Alguns vírus podem ser projetados para incorporar genes estranhos em seus genomas virais. Outros podem pegar genes extras nas células hospedeiras durante a replicação e o empacotamento. Outros vírus ainda empacotam genomas defeituosos ou truncados que se tornam partículas interferentes, competindo com a produção de genomas virais completos em rodadas subsequentes de infecção. Embora os vírus não estejam vivos, eles acumulam mudanças ao longo do tempo e desempenham um papel crítico na história da vida na Terra e na manutenção da biodiversidade atualmente.

Quão abundantes são os vírus?

Os vírus não são apenas incrivelmente diversos, mas também incrivelmente abundantes. Eles superam todos os outros seres vivos por um fator de 10 a 1 ou mesmo 100 a 1 ou mais! A grande maioria infecta organismos unicelulares como bactérias e arquéias. Estima-se que existam 10 31  vírus na Terra, ou 10 milhões de vezes mais vírus do que estrelas no universo. Em seu livro  A Planet of Viruses , Carl Zimmer oferece duas imagens conceituais para nos ajudar a compreender essa abundância de vírus: (1) adicione todos os vírus na Terra e eles equivaleriam ao peso de 75 milhões de baleias azuis e (2) alinhe todos os vírus de ponta a ponta e estenderão por 42 milhões de anos-luz. 3 São quase 17 viagens de ida e volta para a galáxia de Andrômeda! Considerando que a maioria dos vírus está na ordem de 0,1-0,01 mícrons, ou um milésimo da largura de um cabelo humano, são  muitos  vírus.

Se não fosse por vírus, bactérias e outros organismos unicelulares governariam a Terra, sequestrando todos os nutrientes e preenchendo todos os nichos ecológicos, impossibilitando maior vida e sobrevivência de organismos multicelulares. Os bacteriófagos (vírus que infectam bactérias e arquéias) matam 40 a 50% das bactérias nos oceanos da Terra diariamente. Isso libera uma abundância de moléculas orgânicas no ciclo biogeoquímico e na cadeia alimentar da Terra para a sobrevivência de outros organismos. Os bacteriófagos também ajudam a manter em equilíbrio os nichos ecológicos do planeta e os microbiomas do corpo, para que não sejam invadidos por bactérias. Se não fosse o equilíbrio entre replicação bacteriana e morte mediada por fagos, a Terra seria uma bola gigante de bactérias sem espaço ou fonte de alimento para outros organismos sobreviverem e prosperarem.

Portanto, a criação de Deus certamente incluiu bacteriófagos para manter a vida na Terra bem regulada, seja no intestino humano ou nos ciclos biogeoquímicos globais. Mas e os vírus que nos deixam doentes? 

Quer receber Indulgência Plenária em meio à pandemia? Saiba como!


No dia 19 de março, o Vaticano anunciou que, sob certas condições, concederá a indulgência plenária aos fiéis afetados pelo Coronavírus, e também a todos os que cuidam desses doentes.

Mas não serão somente eles os beneficiados! Segundo o decerto do Cardeal Piacenza, da Penitenciária Apostólica, todos os fiéis poderão receber esse maravilhoso benefício da Mãe Igreja, desde que cumpram as condições que aqui descreveremos.

Antes de tudo, vale lembrar o que é a indulgência plenária: nós teremos que pagar por todo o mal que fizemos nesta vida. Essas penas temporais são a “dívida” gerada pelos nossos pecados, mesmo aqueles que Deus já perdoou.

Quem se arrepende de seus pecados e os confessa a um padre, se livra do inferno, mas continua tendo que pagar pelo que fez. E vai pagar com atos de caridade ou com sofrimentos, nesta vida ou no Purgatório.

Isso faz muito sentido. Pense que você está na estacionando um carro e, por falta de cuidado, bate no portão do vizinho e o amassa. Você pede desculpas, e o vizinho aceita as desculpas. Mas você continua tendo a obrigação de dar a ele o valor do concerto do portão.

Com o poder das chaves, a Igreja pode livrar os fiéis dessa pena temporal – parcialmente (indulgência parcial) ou plenamente (indulgência plenária).

Nunca é demais lembrar que, para quem não tem um coração sincero, nenhum ritual religioso poderá livrar das penas do Inferno ou do Purgatório.