A presidência da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) publicou na quinta-feira, 26 de março, uma nota por
meio da qual reafirma sua recomendação aos prelados para que seja mantido o
distanciamento social como forma de prevenir a propagação do coronavírus, mesmo
após decreto editado pelo presidente Jair Bolsonaro que inclui atividades religiosas como serviço essencial.
Em decreto publicado na quinta-feira no Diário
Oficial da União, 12 atividades foram incluídas à lista de serviços
considerados essenciais e que, por isso,
podem continuar funcionando durante a quarenta por causa do coronavírus. Entre
essas, encontra-se a “atividade religiosa de qualquer natureza”, a qual deverá
obedecer as “determinações do Ministério da Saúde”.
Após a publicação do decreto presidencial, a
CNBB publicou a nota assinada por seu secretário-geral, Dom Joel Portella
Amado, afirmando que, ao considerar “que as orientações emanadas pelas
autoridades competentes do Ministério da Saúde indicam o distanciamento social,
as igrejas, se os bispos assim o considerarem, podem permanecer abertas, porém,
do modo como tem sido feito: orações individuais, transmissões online etc.”.
“Não há como entender que os instrumentos
legais acima referidos possam obrigar a reabertura das igrejas, muito menos
para a prática de qualquer tipo de aglomeração”, acrescentou.
A seguir, a íntegra da notada CNBB:
DECRETOS DO PODER EXECUTIVO FEDERAL
Temos diante de nós um composto legislativo:
Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020; Decreto nº 10.282, de 20 de março de
2020 e o Decreto nº 10.292, de 25 de março de 2020.
Todos, de algum modo, tratam de medidas para o
“enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019″ (Lei 13.979, art.
3º). Essa mesma lei diz que as medidas
adotadas “deverão resguardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos
e atividades essenciais” (§8º), cabendo ao Presidente da República indicar, mediante
decreto, quais são os serviços públicos e as atividades essenciais (§9º).
Essenciais são aqueles serviços e atividades
que, se não atendidos, colocam em perigo a sobrevivência, a saúde ou a
segurança da população (art. 3º, § 1º). Este não é o caso das igrejas.
No entanto, o Decreto 10.292 (art. 3º, inciso
39), assinado ontem, afirma que, dentro dos serviços públicos e atividades
essenciais, encontram-se as “atividades religiosas de qualquer natureza,
obedecidas as determinações do Ministério da Saúde”. Desse modo, as atividades
religiosas foram, por decreto, inseridas no grupo das atividades essenciais,
porém sob a condição – assim diz o próprio Decreto – de se obedecer ao que o
Ministério da Saúde determinar.
Considerando, pois, que as orientações
emanadas pelas autoridades competentes do Ministério da Saúde indicam o
distanciamento social, as igrejas, se os bispos assim o considerarem, podem
permanecer abertas, porém, do modo como tem sido feito: orações individuais,
transmissões online etc. Não há como entender que os instrumentos legais acima
referidos possam obrigar a reabertura das igrejas, muito menos para a prática
de qualquer tipo de aglomeração.
Enfim, caros irmãos, reitero a unidade e a
solidariedade de toda a Presidência da CNBB. Sabemos o quanto tem sido árduo
equilibrar, por um lado, o atendimento religioso aos enfermos, aos
profissionais da saúde e a todas as pessoas em geral e, por outro, seguir as
normas sanitárias, cuja base é o distanciamento social. Sabemos também que,
junto às preocupações especificamente pastorais, rondam-nos questões ligadas ao
sustento de nossas igrejas, tanto no que concerne aos bens temporais quanto à
caridade que praticamos. Os pobres esperam de nós tanto a presença espiritual
quanto material. Essa presença começa pelo testemunho de quem, preocupado, por
certo, com os aspectos materiais, escolhe, porém, a vida e a caridade em
primeiro lugar.
Angustia-nos, por isso, a colocação do dilema
vida versus economia. Num tempo quaresmal, em que a Campanha da Fraternidade
nos interpela a viver a vida como dom e compromisso, recordo o que o Santo
Padre nos disse em sua mensagem para a abertura da CF 2020:
“…a Quaresma é um tempo propício para que,
atentos à Palavra de Deus que nos chama à conversão, fortaleçamos em nós a
compaixão, nos deixemos interpelar pela dor de quem sofre e não encontra quem o
ajude. É um tempo em que a compaixão se concretiza na solidariedade, no
cuidado. …”
Em nome da Presidência de nossa querida CNBB,
manifesto a mais plena unidade e reafirmo a disponibilidade em ajudar no que
for possível e necessário.
Que o Deus da Vida nos ajude a contribuir para
“formar uma nova mentalidade política e econômica que ajude a superar a
dicotomia absoluta entre a economia e o bem comum social” (EG 205).
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de
Janeiro
Secretário Geral da CNBB
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ACI Digital
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