terça-feira, 15 de junho de 2021

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres 2021


MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA O V DIA MUNDIAL DOS POBRES
(XXXIII Domingo do Tempo Comum – 14 de novembro de 2021)
 
«Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7)
 
1. «Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7): estas palavras foram pronunciadas por Jesus, alguns dias antes da Páscoa, por ocasião duma refeição em Betânia na casa de Simão chamado «o leproso». Como narra o evangelista, entrou lá uma mulher com um vaso de alabastro cheio de perfume muito precioso e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Este gesto suscitou grande estupefação e deu origem a duas interpretações diversas.

A primeira delas é a indignação de alguns dos presentes, incluindo os discípulos, que, ao considerar o valor do perfume (cerca de 300 denários, equivalente ao salário anual dum trabalhador), pensam que teria sido melhor vendê-lo e dar o produto aos pobres. Segundo o Evangelho de João, é Judas que se faz intérprete desta posição: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?». E o evangelista observa: «Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava» (Jo 12, 5-6). Não é por acaso que esta crítica dura sai da boca do traidor: é a prova de que, quantos não reconhecem os pobres, atraiçoam o ensinamento de Jesus e não podem ser seus discípulos. Recordemos, a este propósito, as palavras fortes de Orígenes: «Judas, aparentemente, estava preocupado com os pobres. (…) Se, agora, ainda houver alguém que tem a bolsa da Igreja e fala a favor dos pobres como Judas, mas depois tira o que metem lá dentro, então tenha parte juntamente com Judas» (Comentário ao Evangelho de Mateus 11, 9).

A segunda interpretação é dada pelo próprio Jesus e permite individuar o sentido profundo do gesto realizado pela mulher. Diz Ele: «Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em Mim uma boa ação» (Mc 14, 6). Jesus sabe que está próxima a sua morte e vê, naquele gesto, a antecipação da unção do seu corpo sem vida antes de ser colocado no sepulcro. Esta visão ultrapassa todas as expetativas dos convivas. Jesus recorda-lhes que Ele é o primeiro pobre, o mais pobre entre os pobres, porque os representa a todos. E é também em nome dos pobres, das pessoas abandonadas, marginalizadas e discriminadas que o Filho de Deus aceita o gesto daquela mulher. Esta, com a sua sensibilidade feminina, demonstra ser a única que compreendeu o estado de espírito do Senhor. Esta mulher anónima – talvez por isso destinada a representar todo o universo feminino que, no decurso dos séculos, não terá voz e sofrerá violências –, inaugura a significativa presença de mulheres que participam no momento culminante da vida de Cristo: a sua crucifixão, morte e sepultura e a sua aparição como Ressuscitado. As mulheres, tantas vezes discriminadas e mantidas ao largo dos postos de responsabilidade, nas páginas do Evangelho são, pelo contrário, protagonistas na história da revelação. E é eloquente a frase conclusiva de Jesus, que associa esta mulher à grande missão evangelizadora: «Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo onde for proclamado o Evangelho, há de contar-se também, em sua memória, o que ela fez» (Mc 14, 9).

2. Esta forte «empatia» entre Jesus e a mulher e o modo como Ele interpreta a sua unção, em contraste com a visão escandalizada de Judas e doutros, inauguram um fecundo caminho de reflexão sobre o laço indivisível que existe entre Jesus, os pobres e o anúncio do Evangelho.

Com efeito, o rosto de Deus que Ele revela é o de um Pai para os pobres e próximo dos pobres. Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto duma fatalidade, mas sinal concreto da sua presença no nosso meio. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver. Não me canso de repetir que os pobres são verdadeiros evangelizadores, porque foram os primeiros a ser evangelizados e chamados a partilhar a bem-aventurança do Senhor e o seu Reino (cf. Mt 5, 3).

Os pobres de qualquer condição e latitude evangelizam-nos, porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles «têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem» (Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 198-199).

3. Jesus não só está do lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte. Isto constitui também um forte ensinamento para os seus discípulos de todos os tempos. As suas palavras – «sempre tereis pobres entre vós» – pretendem indicar também isto: a sua presença no meio de nós é constante, mas não deve induzir àquela habituação que se torna indiferença, mas empenhar numa partilha de vida que não prevê delegações. Os pobres não são pessoas «externas» à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social. Aliás sabe-se que um gesto de beneficência pressupõe um benfeitor e um beneficiado, enquanto a partilha gera fraternidade. A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça. Enfim os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele.

Temos muitos exemplos de Santos e Santas que fizeram da partilha com os pobres o seu projeto de vida. Penso, entre outros, no Padre Damião de Veuster, Santo apóstolo dos leprosos. Com grande generosidade, respondeu à vocação de ir para a ilha de Molokai – tinha-se tornado um gueto acessível apenas aos leprosos –, a fim de viver e morrer com eles. Lançando-se ao trabalho, tudo fez para tornar digna de ser vivida a existência daqueles pobres doentes e marginalizados, reduzidos à degradação extrema. Fez-se médico e enfermeiro, sem se preocupar com os riscos que corria, levando a luz do amor àquela «colónia de morte», como era designada a ilha. A lepra atingiu-o também a ele, sinal duma partilha total com os irmãos e irmãs pelos quais dera a vida. O seu testemunho é muito atual nestes nossos dias, marcados pela pandemia de coronavírus: com certeza a graça de Deus está em ação no coração de muitas pessoas que, sem dar nas vistas, se gastam concretamente partilhando a sorte dos mais pobres.

4. Por isso precisamos de aderir com plena convicção ao convite do Senhor: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15). Esta conversão consiste, primeiro, em abrir o nosso coração para reconhecer as múltiplas expressões de pobreza e, depois, em manifestar o Reino de Deus através dum estilo de vida coerente com a fé que professamos. Com frequência, os pobres são considerados como pessoas aparte, como uma categoria que requer um serviço caritativo especial. Seguir Jesus comporta uma mudança de mentalidade a esse propósito, ou seja, acolher o desafio da partilha e da comparticipação. Tornar-se seu discípulo implica a opção de não acumular tesouros na terra, que dão a ilusão duma segurança em realidade frágil e efémera; ao contrário, requer disponibilidade para se libertar de todos os vínculos que impedem de alcançar a verdadeira felicidade e bem-aventurança, para reconhecer aquilo que é duradouro e que nada e ninguém pode destruir (cf. Mt 6, 19-20).

Mas o ensinamento de Jesus aparece em contracorrente também neste caso, porque promete aquilo que só os olhos da fé podem ver e experimentar com certeza absoluta: «Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). Se não se optar por tornar-se pobre de riquezas efémeras, poder mundano e vanglória, nunca se sará capaz de dar a vida por amor; viver-se-á uma existência fragmentária, cheia de bons propósitos mas ineficaz para transformar o mundo. Trata-se, portanto, de abrir-se decididamente à graça de Cristo, que pode tornar-nos testemunhas da sua caridade sem limites e restituir credibilidade à nossa presença no mundo.

5. O Evangelho de Cristo impele a ter uma atenção muito particular para com os pobres e requer que se reconheça as múltiplas, demasiadas, formas de desordem moral e social que sempre geram novas formas de pobreza. Parece ganhar terreno a conceção segundo a qual os pobres não só são responsáveis pela sua condição, mas constituem também um peso intolerável para um sistema económico que coloca no centro o interesse dalgumas categorias privilegiadas. Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias. Deste modo assiste-se à criação incessante de armadilhas novas da miséria e da exclusão, produzidas por agentes económicos e financeiros sem escrúpulos, desprovidos de sentido humanitário e responsabilidade social.

Além disso, no ano passado, veio juntar-se outra praga que multiplicou ainda mais o número dos pobres: a pandemia. Esta continua a bater à porta de milhões de pessoas e, mesmo quando não traz consigo o sofrimento e a morte, todavia é portadora de pobreza. Os pobres têm aumentado desmesuradamente e o mesmo, infelizmente, continuará a verificar-se ainda nos próximos meses. Alguns países estão a sofrer gravíssimas consequências devido à pandemia, a ponto de as pessoas mais vulneráveis se encontrarem privadas de bens de primeira necessidade. As longas filas diante das cantinas para os pobres são o sinal palpável deste agravamento. Um olhar atento requer que se encontrem as soluções mais idóneas para combater o vírus a nível mundial, sem olhar a interesses de parte. De modo particular, é urgente dar respostas concretas a quantos padecem o desemprego, que atinge de maneira dramática tantos pais de família, mulheres e jovens. A solidariedade social e a generosidade de que muitos, graças a Deus, são capazes, juntamente com projetos clarividentes de promoção humana, estão a dar e darão um contributo muito importante nesta conjuntura.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Palavra de Vida: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor! Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt, 7,21)


Esta frase do Evangelho de Mateus faz parte da conclusão do grande Sermão da Montanha, no qual Jesus, depois de ter proclamado as Bem-Aventuranças, convida seus ouvintes a reconhecer a proximidade amorosa de Deus e indica como agir para corresponder a esse amor: descobrir que a vontade do Pai é o caminho mais direto para alcançar a plena comunhão com Ele, no seu Reino.

“Nem todo o que me diz: ‘Senhor! Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.”

Mas o que é a vontade de Deus? Como podemos conhecê-la?

Chiara Lubich compartilhou a sua descoberta desta maneira: […] A vontade de Deus é a voz de Deus que continuamente nos fala e nos convida; é um fio ou, melhor, uma trama de ouro divina que tece toda a nossa vida na terra e mais além; é a maneira pela qual Deus nos expressa seu amor, um amor que pede uma resposta para que Ele possa realizar suas maravilhas em nossa vida. A vontade de Deus é o nosso dever ser, o nosso verdadeiro ser, a nossa plena realização. […] Então repitamos a cada momento, diante de cada vontade de Deus dolorosa, alegre, indiferente: “Seja feita a vossa vontade”. […] Descobriremos que essas simples palavras nos darão um poderoso impulso, como um trampolim, para fazer com amor, com perfeição, com total dedicação o que devemos fazer. […] E estaremos compondo, momento após momento, o maravilhoso, único e irrepetível mosaico de nossa vida que o Senhor pensou desde sempre para cada um de nós: Ele, Deus, ao qual só condizem coisas belas, grandes, imensas, nas quais cada peça do mosaico, por menor que seja – como um ato de amor – tem sentido e brilha, assim como as flores minúsculas e multicores têm seu sentido por serem parte da beleza sem limites da natureza.1

Juiz federal suspende lei do aborto na Argentina



O juiz federal de Mar del Plata, na Argentina, Alfredo López, ordenou a suspensão em todo o país da aplicação da lei que liberou o aborto. Segundo o juiz, a lei viola os tratados internacionais aos quais o Estado aderiu em defesa da vida desde a concepção.

O cidadão Héctor Adolfo Seri, apoiado pelo advogado Mauro D'ipolito Blancat, interpôs recurso de amparo para declarar a inconstitucionalidade da lei do aborto, aprovada em 30 de dezembro de 2020 pelo Congresso Nacional.

A lei do aborto “iria na direção oposta às obrigações internacionais assumidas pelo Estado argentino em virtude da proteção integral do direito à vida desde a concepção”, descreve o texto, que também pede que “seja expedida medida cautelar para ordenar a suspensão da resolução 1/2019”, protocolo do aborto terapêutico, por “estar em jogo o direito à vida do nascituro”.

O juiz Alfredo López, do Juizado Federal nº 4 de Mar del Plata, acatou o pedido e suspendeu a aplicação da lei no país e afirmou sua “condição de católico e respeitador da vida humana não consiste em óbice para a intervenção”. López disse que a Corte Suprema “reafirmou, em pronunciamentos posteriores, o direito à preservação da saúde, incluída no direito à vida, e destacou a obrigação urgente do poder público de garantir esse direito com ações positivas”.

Nesse sentido, o juiz ordenou que o Estado, por meio do poder executivo, suspenda a aplicação da lei até que “o problema de fundo seja resolvido para que seja dada a sentença definitiva”.

Papa pede maior envolvimento de leigos e famílias na Pastoral Familiar



O papa Francisco destacou a importância da família na Igreja e pediu uma escuta ativa das famílias e um maior envolvimento dos leigos como sujeitos na pastoral, em vídeo que marcou o início do seminário on-line "Em que ponto estamos com a Amoris laetitia?", na quarta-feira, dia 9 de junho.

“Em meio às dificuldades causadas pela pandemia, que rompem a vida da família e sua íntima comunhão de vida e de amor, a família é hoje mais do que nunca um sinal dos tempos e a Igreja é convidada, sobretudo, a escutar ativamente as famílias e ao mesmo tempo envolvê-las como sujeitos da pastoral”, disse o papa.

O seminário acontece de 9 a 12 de junho e reúne delegados de setores de família de mais de 60 conferências episcopais e 30 movimentos internacionais. O papa agradeceu a iniciativa organizada pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, porque “representa um momento essencial de diálogo entre a Santa Sé, as conferências episcopais, os movimentos e as associações familiares”.

O papa rezou para “que o Espírito Santo o torne um evento fecundo para a Igreja, pastores e leigos juntos, para escutar as necessidades concretas das famílias e nos ajudarmos mutuamente a empreender os processos necessários para renovar o anúncio da Igreja”.

Francisco afirmou que é necessário “estimular a praticar um fecundo discernimento eclesial sobre o estilo e as finalidades da pastoral familiar na perspectiva da nova evangelização”. A exortação apostólica pós-sinodal “é o fruto de uma profunda reflexão sinodal sobre matrimônio e família e, como tal, requer um trabalho paciente de implementação e uma conversão missionária”, disse.

É preciso “cooperação, partilha de responsabilidades, capacidade de discernimento e disponibilidade para estar perto das famílias”, afirmou o papa. “É necessário deixar de lado qualquer anúncio meramente teórico e desvinculado dos problemas reais das pessoas, assim como a ideia de que a evangelização está reservada a uma elite pastoral”.

O santo padre afirmou que “cada um dos batizados ‘é agente evangelizador’. Para levar o amor de Deus às famílias e aos jovens, que construirão as famílias do amanhã, precisamos da ajuda das próprias famílias, da sua experiência concreta de vida e de comunhão”.

“Precisamos dos cônjuges ao lado dos pastores para caminhar com outras famílias, para ajudar os mais fracos, para anunciar que, mesmo nas dificuldades, Cristo se faz presente no sacramento do Matrimônio para dar ternura, paciência e esperança a todos, em toda situação de vida”, disse o papa.

Além disso, o pontífice recordou o exemplo dos esposos Áquila e Priscila, que foram “preciosos colaboradores de São Paulo na sua missão”, e disse que “também hoje muitos casais, e mesmo famílias inteiras com seus filhos, podem se tornar testemunhas válidas para acompanhar outras famílias, criar comunidade, semear sementes de comunhão entre os povos que recebem a primeira evangelização, contribuindo de forma decisiva para o anúncio do querigma”.

Papa não aceita renúncia de arcebispo de Munique



O papa Francisco não aceitou a renúncia apresentada pelo cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, na Alemanha. “A Igreja hoje não pode dar um passo à frente sem assumir esta crise” de abusos, disse Francisco.

Marx, de 67 anos, foi presidente da conferência episcopal alemã e é membro do conselho de cardeais que assessora o papa na planejada reforma da cúria romana. Ele apresentou sua renúncia no dia 4 de junho, após reconhecer sua responsabilidade na má gestão de casos de abuso sexual pelo clero alemão.

“Esta é a minha resposta, querido irmão. Continue como você propõe, mas como arcebispo de Munique e Freising. E se te sentes tentado a pensar que, ao confirmar a tua missão e ao não aceitar a tua renúncia, este bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te entende, pensa no que Pedro sentiu diante do Senhor quando, à sua maneira, apresentou sua renúncia: 'afaste-se de mim, eu sou um pecador,' e ouça a resposta: 'pastoreia minhas ovelhas'”, disse o papa Francisco na sua resposta ao pedido do cardeal Marx, em uma carta enviada nesta quinta-feira, 10 de junho.

“A política da avestruz não leva a nada, e a crise tem que ser assumida a partir da nossa fé pascal. Sociologismos e psicologismos são inúteis”, disse o papa na carta. “Assumir a crise, pessoal e comunitariamente, é o único caminho fecundo porque ninguém sai de uma crise sozinho, mas em comunidade. E devemos também ter presente que, de uma crise, a gente sai pior ou melhor, mas nunca igual a antes”.

O pontífice agradece ao cardeal Marx a coragem demonstrada na carta de demissão: “É uma coragem cristã que não teme a cruz, não teme aniquilar-se perante a tremenda realidade do pecado. O Senhor também fez isso. É uma graça que o Senhor te deu e vejo que queres assumi-la e guardá-la para que dê frutos. Obrigado".

O papa concordou com o cardeal quando ele definiu “a triste história dos abusos sexuais e a forma como a Igreja lidou com eles até recentemente” como uma “catástrofe”. E disse que “a tomada de consciência dessa hipocrisia no modo de viver a fé consiste em uma graça, em um primeiro passo que devemos dar. Temos que nos apropriar da história, tanto pessoalmente quanto em comunidade. Não podemos ser indiferentes diante desse crime. Assumi-lo significa colocar-se em crise”.

O papa Francisco falou sobre a necessidade de pronunciar um “mea culpa” diante dos erros históricos do passado, “embora pessoalmente não tenhamos participado dessa conjuntura histórica. E essa mesma atitude é o que hoje nos é pedido”.

“Pedem-nos uma reforma”, escreveu o papa sublinhando a palavra “reforma”, que, “neste caso, não consiste em palavras, mas em atitudes que tenham a coragem de se colocar em crise, de assumir a realidade seja qual for a consequência”.

“Toda reforma começa a partir de cada um. A reforma da Igreja foi feita por homens e mulheres que não temeram entrar em crise e deixaram reformar-se a si próprios pelo Senhor. É o único caminho. Caso contrário, não seremos mais do que ‘ideólogos das reformas´, que não colocam a própria carne em jogo”.

O papa Francisco foi muito crítico em relação à política de esconder casos de abusos: “Você diz bem em sua carta que enterrar o passado não nos leva a lugar nenhum. Os silêncios, as omissões, a valorização excessiva do prestígio das instituições só levam ao fracasso pessoal e histórico, e nos levam a conviver com o peso de 'ter esqueletos no armário', como diz o ditado”.

Por isso, “é urgente ‘ventilar ’esta realidade dos abusos e da forma como a Igreja procedeu, e deixar que o Espírito nos conduza ao deserto da desolação, à cruz e à ressurreição. Devemos seguir o caminho do Espírito e o ponto de partida é a confissão humilde: erramos, pecamos”.

O papa advertiu que “não seremos salvos pelas pesquisas ou pelo poder das instituições. Não seremos salvos pelo prestígio da nossa Igreja que tende a acobertar os seus pecados; não seremos salvos pelo poder do dinheiro nem pela opinião da mídia (tantas vezes somos dependentes demais deles)”.

Pelo contrário, escreveu o papa, “o que nos salvará será abrir a porta ao Único que pode salvar-nos e confessar a nossa nudez: 'pequei', 'pecamos' ..., e chorar, e sussurrar como podamos aquele 'afasta-te de mim, porque sou um pecador', aquela herança que o primeiro papa deixou aos papas e aos bispos da Igreja. E então sentiremos aquela vergonha curadora que abre as portas à compaixão e à ternura do Senhor que está sempre perto de nós”.

sábado, 29 de maio de 2021

Como seria a vida humana sem o pecado original?



Na descrição do pecado, trata-se de um evento primordial, isto é, de um fato que, segundo a Revelação, teve lugar no início da história da humanidade. A presença da justiça original e da perfeição do homem, criado à imagem de Deus, não excluía que o homem, como criatura dotada de liberdade, fosse submetido (como os outros seres espirituais, os anjos) desde o início à prova da liberdade, prova na qual ele caiu em falta.

A árvore (da ciência), significa o limite impreterível ao homem e a qualquer criatura, por mais perfeita que seja. Assim, a criatura é sempre apenas uma criatura, e não Deus. Por certo, não pode pretender ser como Deus, conhecer o bem e o mal como Deus. Só Deus é a fonte de todo ser. Só Deus é a Verdade e a Bondade absolutas.

Como consequência do pecado original, o homem todo, alma e corpo, foi afetado

Só Deus é o Legislador Eterno, d’Ele procede toda lei no mundo criado, em particular a lei da natureza humana. Nem o homem nem alguma criatura podem colocar-se no lugar de Deus, atribuindo a si o controle da ordem moral.

Toda a existência do homem sobre a terra está sujeita ao medo da morte, que, segundo a Revelação, se acha claramente conjugada com o pecado original. Sinal e consequência do pecado original é a morte do corpo, como, desde então, ela é experimentada por todos os homens.

O homem foi criado por Deus e para a imortalidade; a morte, que aparece como um trágico salto no escuro, vem a ser a consequência do pecado, quase devida à lógica imanente do próprio pecado, mas principalmente infligida como castigo de Deus. Tal é o ensinamento da Revelação e tal é a fé da Igreja: sem o pecado, o fim da nossa provação terrestre não seria tão dramático.

O homem foi criado por Deus também para a felicidade, que, no âmbito da existência terrestre, significava ser isento de muitos sofrimentos, ao menos no sentido de ser isento. Como se depreende das palavras atribuídas a Deus no Gênesis e em muitos outros textos da Bíblia e da Tradição, o pecado original fez que essa isenção deixasse de ser o privilégio do homem.

O pecado e o pecador



Com o crescimento dos movimentos pro-LGBTetc, surge sempre a questão da discriminação e da fobia com relação a pessoas. Por isso, vale sempre lembrar a posição equilibrada da Igreja Católica a esse respeito.

São condenáveis toda a violência, discriminação injusta e preconceito contra as pessoas homossexuais. Deve-se defender sempre a caridade para com essas pessoas. Mas isso não significa aprovação da prática homossexual.

“A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (Cf. Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1 Cor 6, 9-10; 1 Tm 1, 10) a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’ (Congregação da Doutrina da Fé, Decl. Persona humana, 8). São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357).

As citações acima da Sagrada Escritura são muito graves: O livro do Gênesis 19, 1-29 narra como a maldade de Sodoma e Gomorra, onde se praticava esse pecado, clamou ao céu, e lhes trouxe a destruição. São Paulo, na Epístola aos Romanos, 1, 24-27, condena abertamente esse pecado como sendo contra a natureza. Na 1ª Epístola aos Coríntios 6, 9-10, o Apóstolo fala claramente que os efeminados, os sodomitas... não terão parte no reino de Deus. E repete essa reprovação na 1ª Epístola a Timóteo,1, 10.

Mas a Igreja ensina a compreensão para com essas pessoas, quando sofrem com essa situação e não se vangloriam da prática do pecado.

Prisão de bispo na China mostra que acordo da Santa Sé foi um fracasso, diz perito



“O acordo entre a Santa Sé e o regime chinês fracassou enormemente em dar a proteção à Igreja na China que se esperava e, na verdade, desde que o acordo foi assinado em 2018, e até mesmo depois de sua renovação no final do ano passado, a situação dos cristãos na China piorou”, afirma Benedict Rogers. Após a prisão do bispo Joseph Weizhu, junto de 10 padres e 13 seminaristas na prefeitura apostólica de Xinxiang, na China, Rogers afirma que a Santa Sé definitivamente “cometeu um erro” ao negociar com o Partido Comunista Chinês e que o acordo foi um fracasso para a proteção dos cristãos.

O acordo visava terminar com a divisão do catolicismo na China entra igreja oficial, controlada pelo Partido Comunista Chinês, e a Igreja clandestina, ligada ao papa e, assim, encerrar a perseguição aos católicos leais a Roma.

Rogers é o fundador da Hong Kong Watch, organização sediada no Reino Unido que monitora direitos humanos, liberdades e o Estado de direito. Ele também é analista sênior para a Ásia Oriental no grupo de direitos humanos Christian Solidarity Worldwide (CSW).

As prisões dos clérigos começou na tarde da sexta-feira, 20 de maio, quando pelo menos 100 policiais cercaram o prédio da fábrica usado como seminário diocesano. Ali foram presos 13 seminaristas e 7 sacerdotes. A fábrica que abrigava o seminário foi fechada e o dono foi preso. Os 13 candidatos ao sacerdócio foram enviados às suas casas e estão proibidos de estudar teologia. Os policiais confiscaram todos os pertences pessoais dos sacerdotes e seminaristas. A prisão do bispo ocorreu no dia seguinte. A agência reportou nesta segunda-feira, 24 de maio, que os clérigos presos em Xinxiang encontram-se em um hotel em Henan onde passam por sessões de reeducação política.

Rogers se converteu ao catolicismo há 5 anos através de sua relação de trabalho e amizade com o cardeal Charles Bo, arcebispo de Yangon em Myanmar, e hoje é um dos maiores peritos sobre liberdade religiosa na Ásia e particularmente na China.

“Embora as intenções da Santa Sé foram sem dúvida boas, o acordo foi definitivamente um erro”, diz ele. “Especialmente no momento em que o regime do Partido Comunista Chinês está intensificando seu ataque à religião especificamente e aos direitos humanos em geral”.

Segundo Rogers, “o Partido Comunista Chinês sempre violou a liberdade religiosa e foi hostil à religião, mas nos últimos anos, sob Xi Jinping, a perseguição aumentou para um nível que é o pior desde a Revolução Cultural. O regime tem destruído cruzes e igrejas, prendido o clero e forçado as igrejas a exibir imagens de Xi Jinping e propaganda do Partido Comunista ao lado de imagens religiosas”.

“Os jovens menores de 18 anos são proibidos de frequentar locais de culto, nas igrejas controladas pelo Estado as câmeras de vigilância registram a presença de todos os fiéis, e o regime está planejando produzir uma nova tradução da Bíblia que distorça e deturpe completamente as Escrituras para fins de propaganda do partido”, informa Rogers.

“Este acordo foi alcançado com um preço muito alto, ou seja, o silêncio do Vaticano sobre a liberdade religiosa e os direitos humanos na China, o que é de partir o coração", afirmou Rogers.