terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Trans e Homossexuais: o que mudou na Igreja? - Padre José Eduardo responde



Deu-se ampla divulgação ao Responsum que o Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o Card. Victor Mánuel Fernandez, com aprovação do Papa Francisco, deu aos questionamentos de D. José Negri, bispo diocesano de Santo Amaro, sobre a participação nos sacramentos do batismo e do matrimônio por parte de pessoas trans e homoafetivas. Abaixo, publicamos uma entrevista com o Padre Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, doutor em Teologia Moral pela Universidade da Santa Cruz (Roma).

CN – Padre, o que mudou na doutrina da Igreja em relação às pessoas transexuais e homossexuais?

Padre José Eduardo – Substancialmente, nada. O próprio Responsum do Dicastério para a Doutrina da Fé no-lo reafirma, logo na frase inicial do Documento, que, para mim, é a mais importante: “As seguintes respostas repropõem, em substância, os conteúdos fundamentais de quanto, no passado, foi afirmado por este Dicastério sobre tal matéria”.

CN – Então, podemos dizer que nada absolutamente mudou no entendimento da Igreja?

Padre José Eduardo – Precisamos entender que, para a Doutrina Católica, há uma imensa diferença entre a “condição” homo e transexual e os “atos” sexuais dessas pessoas. E, mesmo em relação aos atos, como ensina o Santo Padre, o Papa Francisco, “um juízo negativo sobre uma situação objetiva não implica um juízo sobre a imputabilidade ou a culpabilidade da pessoa envolvida” (Amoris Lætitia, n. 302), pois a imputabilidade requer plena advertência e perfeito consentimento, como ensina o Catecismo (cf. n. 1859).

CN – Como isso deve ser entendido, por exemplo, no caso de pessoas trans?

Padre José Eduardo – Uma pessoa que tem disforia de gênero ou alguma inadequação entre o seu corpo e a sua própria autocepção não pode ser culpabilizada por isso, mesmo que tenha se submetido a uma intervenção de redesignação. Tais pessoas podem, perfeitamente, converter-se e entregar a sua vida a Deus, que é o escopo principal do sacramento do batismo.

CN – A Nota do Dicastério para a Doutrina da Fé menciona a hipótese de a pessoa receber o batismo sem estar arrependida dos seus pecados. Isso não é uma inovação em relação ao c. 865, do Código de Direito Canônico, que afirma a necessidade de que o catecúmeno seja exortado a se arrepender de seus pecados?

Padre José Eduardo – Em meu entender, não, pois, se lermos atentamente o Responsum, veremos que ele se refere a uma situação muito mais circunscrita e que tem a ver com a avaliação pastoral a ser feita pelo Pároco: “quando existem dúvidas sobre a situação moral objetiva em que se encontra uma pessoa, ou sobre as suas disposições subjetivas para com a graça divina”. Em outras palavras, isso se refere ao caso de alguém que se demonstra disposto a passar por um caminho de conversão, mas cuja “certeza moral” possa ser dificultosa ao Pároco diante dos indícios apresentados. O Dicastério apenas apresenta a desnecessidade de uma certeza absoluta, circunscrevendo-a nos limites tradicionais do que se entende por “certeza moral”.

CN – Tudo isso, então, refere-se apenas aos aspectos pastorais do problema, não propriamente doutrinais e canônicos…

Padre José Eduardo – Para a Igreja, a pastoral nunca está desvinculada da doutrina e do direito. Porém, a perspectiva do Santo Padre, o Papa Francisco, de uma Igreja de “portas abertas”, que “cria pontes e não muros”, “em saída”, “samaritana”, como ele mesmo a descreve no Documento mais importante do seu pontificado, a Exortação Evangelii Gaudium, nos leva a fazer tudo o que for possível para aproximar uma pessoa de Deus, jamais limitando por nossa iniciativa as amplas portas da Misericórdia.

CN – Mas, no caso de pessoas que adotaram um “nome social”, como se administraria o sacramento?

Padre José Eduardo – O próprio Rito de Iniciação Cristã de Adultos prevê uma “mudança de nome”, que seja um marco para a mudança de vida. Neste caso, o pastor local precisa dedicar-se muito mais à acolhida, ao discernimento, à reflexão juntamente com o catecúmeno, ajudando-o a encontrar não tanto a sua identidade para si, mas a sua identidade para Deus, aquele “nome novo” do qual nos fala o livro do Apocalipse (cf. 2,17). O batismo nunca pode ser entendido como um momento de conquista e autoafirmação, mas como uma humilde recepção da graça, com o pedido a Deus de uma transformação real, que, no itinerário desse percurso, pode estar mais ou menos adiantada.

CN – E com relação aos transexuais serem admitidos como padrinhos de batismo?

Padre José Eduardo – Note-se bem que o Card. Fernández menciona a necessidade de que não haja nenhum “perigo de escândalo”. Nós precisamos entender que, para além do direito, existem circunstâncias familiares complexas, que requerem certa flexibilidade pastoral de nossa parte. Aquilo que a Igreja requer para o batismo de uma criança é que se garanta que ela receberá a educação católica por parte de alguém; no mais, é possível que haja alguma situação em que seja viável, tomadas as devidas medidas de cautela, admitir alguém naquelas condições como padrinho. Observe-se bem que a mesma Nota afirma que este “não é um direito”, pois é a Igreja que habilita alguém para exercer essa função.

Ademais, a celebração do batismo nunca deve ser usada como instrumentalização ideológica, para impulsionar a agenda de nenhum movimento de revolução sexual. Garantidas essas cautelas e sempre com a supervisão do bispo diocesano, é possível que haja situações em que isso seja, de algum modo, viável.

A Igreja e a bênção dos casais em situação irregular e do mesmo sexo



O Dicastério para a Doutrina da fé publicou um documento que fala sobre a bênção de casais em situação irregular e de parceiros do mesmo sexo. A notícia colocou em ebulição todo o orbe católico, inflamado pelas manchetes sensacionalistas, que procuram tirar audiência do assunto. Diante disso, fizemos uma entrevista com o Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, doutor em Teologia Moral.

Aleteia: Padre, o Documento publicado hoje tem causado reações polarizadas, qual seria, afinal, a finalidade desse tipo de pronunciamento do Magistério em si?

Pe. José Eduardo: Como o próprio Card. Fernández, Prefeito do Dicastério, salientou logo na introdução, o documento é apresentado sob a tipologia de Declaração, que é o tipo mais simples de documentos magisteriais. Diferentemente de uma Instrução, que teria caráter mais normativo, uma Declaração é apenas uma manifestação do Magistério acerca de um tema controverso, mas não com a força de uma definição.

Aleteia: Qual seria o objetivo dessa Declaração?

Pe. José Eduardo: Como o próprio nome indica, “Fiducia supplicans”, “a Confiança Suplicante” com a qual o povo de Deus pede aos seus ministros, especialmente os sacerdotes, uma oração, uma invocação, uma bênção, uma ajuda para uma situação de suas vidas é o tema de fundo do texto, que pretende responder se esse tipo de auxílio pode ser dado a pessoas que não estão em condições moralmente regulares.

Aleteia: Então, o documento não altera a doutrina da Igreja em relação ao matrimônio?

Pe. José Eduardo: De modo algum, se lermos atentamente o texto do documento, e não as notícias veiculadas pela mídia, veremos que o Dicastério para a Doutrina da Fé faz exatamente o contrário: “trata-se de evitar reconhecer-se como matrimônio algo que não o é”, pois o matrimônio é “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos”… “Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja, sob esse ponto, permanece firme” (n. 4).

O n. 4 do documento é claro e contundente, chegando a dizer que “são inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre aquilo que é constitutivo do matrimônio”. Portanto, não há nisso nenhuma ambiguidade. Pelo contrário, o Magistério apenas reafirma a sua posição perene.

Aleteia: Isso significa que o documento não traz nenhuma novidade?

Pe. José Eduardo: A Declaração apresenta uma evolução na compreensão teológica das “bênçãos” e, neste sentido, abre uma nova perspectiva. Sem excluir que uma bênção nunca “pode oferecer uma forma de legitimação moral a uma união que se presuma um matrimônio ou a uma práxis sexual extramatrimonial”, o documento afirma que “se deve evitar o risco de reduzir o sentido das bênçãos apenas a este ponto de vista, porque nos levaria a pretender, para uma simples bênção, as mesmas condições morais que se requerem para a recepção dos sacramentos” (nn. 11-12). Deste modo, o Dicastério deixa claro que está excluída qualquer concepção sacramental (matrimônio, confissão, eucaristia etc) relativamente a esses casos. Em outras palavras, é doutrina comum da Igreja que uma pessoa em pecado grave possa receber uma bênção.

Aleteia: Mas abençoar uma pessoa que está claramente em pecado grave não pode ser um escândalo para os outros fiéis? E isso não seria espiritualmente inútil?

Pe. José Eduardo: O Documento concretiza as circunstâncias em que tais “bênçãos” possam eventualmente acontecer: nunca dentro de uma celebração litúrgica, nunca dentro ou no contexto da celebração de algum sacramento (n. 24), nunca com um formulário litúrgico (nn. 32 e 35), sempre de forma privada (n. 40), sob o juízo cautelar do sacerdote ad casum (n.40), e sempre como uma oração espontânea pelos que pedem a bênção (n. 33), acompanhada de uma súplica para que façam a vontade de Deus (n. 20) e como meio de lhes pregar o querigma, a fim de que se convertam (n. 44).

A Declaração, ainda, afirma que “esta bênção nunca será dada no contexto de ritos de união civil e outros que estejam relacionais com esses. Nem com as vestes nupciais, os gestos ou as palavras próprios de um matrimônio. O mesmo vale quando a bênção é solicitada por uma dupla do mesmo sexo” (n. 39).

Em outras palavras, a Declaração apenas diz que nós, padres, em situações muito restritivas, podemos rezar por pessoais que estejam nessa situação. E isso, francamente, não me parece uma grande novidade. A novidade se dá na explicitação do alcance não litúrgico de uma simples bênção.

domingo, 24 de setembro de 2023

As falácias do primeiro voto em favor do aborto no STF

A ministra Rosa Weber, presidente do STF e relatora da ADPF 442, votou pela legalização do aborto nas 12 primeiras semanas de gestação.| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF


O julgamento da ADPF 442, que pede a liberação do aborto no Brasil nas 12 primeiras semanas de gestação, irá para as sessões presenciais do Supremo Tribunal Federal. Um pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso interrompeu o julgamento em plenário virtual, e tudo indica que será o próprio Barroso, que assume a presidência do STF em outubro, quem definirá quando o assunto voltará à pauta da corte. Ele substituirá Rosa Weber, que também é relatora da ADPF 442 e foi a primeira a depositar seu voto – que permanecerá valendo mesmo depois que ela se aposentar do tribunal. A ministra julgou a ação parcialmente procedente, ou seja, considerou que os artigos do Código Penal que criminalizam o aborto são inconstitucionais, ao menos no que diz respeito ao primeiro trimestre de gravidez.

Há alguns poucos pontos interessantes a ressaltar no voto da relatora. Ela reconhece, por exemplo, que a expressão “direitos sexuais e reprodutivos” contempla, sim, o direito ao aborto – por décadas, a estratégia do movimento abortista foi esconder sua pretensão sob essa expressão aparentemente inofensiva e até positiva. Além disso, apesar de definir a 12.ª semana de gestação como o limite para a legalização por ela pretendida, a ministra não enfrenta o tema de frente. O que, afinal, acontece de tão incrível quando se passa do sétimo dia da 12.ª semana para o primeiro dia da 13.ª semana, a ponto de um nascituro poder ser eliminado antes e não poder mais sê-lo depois? Rosa Weber não responde, limitando-se a dizer que existe uma gradação na proteção legal à vida. O lado positivo disso é ressaltar o caráter totalmente arbitrário da escolha; o negativo é que seus argumentos poderiam, no fim das contas, ser usados para defender o aborto até mesmo nos momentos que antecedem o parto – o que é, no fim das contas, o objetivo final da militância.

Não há base científica, legal ou ética para que o Brasil permita a eliminação indiscriminada de seres humanos ainda por nascer, com ou sem limite de evolução gestacional

De resto, o longo voto da ministra adota uma estratégia já conhecida: a de desumanizar o nascituro para, assim, negar-lhe os direitos de que os humanos nascidos gozam; ou, na mais benigna das hipóteses, argumentar que o nascituro não merece proteção no mesmo grau daqueles que já vieram à luz. Para isso, no entanto, é preciso torcer a ciência e a lei, e nem mesmo o empenho árduo que Rosa Weber coloca nesta tarefa é capaz de ocultar a verdade. É assim que, sem titubear, a ministra afirma que “a inexistência de consenso a respeito de quando inicia a vida é fato notório, mesmo para a área da ciência”, uma afirmação facilmente desmentida por qualquer manual de Embriologia usado por qualquer faculdade de Medicina, já que é amplamente sabido que o encontro do óvulo e do espermatozoide leva ao surgimento de um novo ser, um novo indivíduo, indubitavelmente vivo e indubitavelmente humano.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Homilética: Vigília da Assunção de Nossa Senhora (14 de Agosto*): "Feliz aquela que te trouxe no seu ventre".



«Finalmente, a Virgem Imaculada, que fora preservada de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da sua vida terrena, foi levada à glória celeste em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, Senhor dos senhores (cf. Ap. 19, 16) e vencedor do pecado e da morte»

Maria foi elevada gloriosamente ao Céu em corpo e alma. É uma verdade de fé que nos aparece simbolizada, em figura, num facto do Antigo Testamento.

A Arca do Antigo testamento foi construída segundo as indicações dadas pelo Senhor a Moisés. Transportava as Tábuas da Lei recebidas no Sinai, um pouco de maná e outros objectos ligados à história do Povo de Deus. Sobre ela brilhava a glória do Senhor e era a presença sensível de Yhaveh no meio do Seu Povo.

Maria Imaculada é a Arca da Nova Aliança. É a obra mais perfeita que Deus criou: Comporta toda a perfeição possível a uma criatura e foi ornada de privilégios singulares, em atenção a ter sido eleita para Mãe do Redentor.

Transportou em seu seio virginal, durante nove meses, o Filho de Deus – o Verbo Incarnado – no meio do Seu Povo. Guardou generosamente em seu Coração a Palavra de Deus, para a meditar e transformar em vida. Como poderia, então, o Senhor permitir que esta Arca santíssima fosse entregue à corrupção e voragem do túmulo?

A nossa imaginação limitada tenta reconstituir esse acolhimento glorioso de Maria em Corpo e Alma.

A comunhão com a Santíssima Trindade em que vivera na terra – Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo – torna-se agora ainda mais intensa, porque cederam para sempre as barreias levantadas pelos sentidos na vida terrena: Acolhem-n’A com a maior alegria S. José, seu esposo virginal, os Anjos, os Patriarcas e os justos de todos os tempos.

Vivemos hoje esta mesma alegria e comunhão, com a Igreja Universal – triunfante, padecente e militante, por esta Celebração da Eucaristia. Preparemo-nos para ir ao seu encontro. «Depois, ofereceram diante de Deus holocaustos e sacrifícios de paz.»

A verdadeira devoção a Nossa Senhora exterioriza-se pelas nossas flores e Cânticos, mas vivemo-la quando procuramos imitá-l’A, seguir o caminho que Ela seguiu, caminhando ao seu encontro. Aclamamo-l’A como cheia de graça. Procuremos viver na graça santificante e alimentar esta vida divina com os Sacramentos. Invocamo-l’A como Virgem fidelíssima. A nossa fidelidade à vocação batismal, concretizada, depois, na vocação pessoal, é uma consequência da nossa devoção mariana.

Não podemos evitar a corrupção do túmulo, mas podemos lutar por nos mantermos afastados do contágio da corrupção moral. Nas horas mais difíceis, lembremo-nos de Ela espera por nós.

São muitas as pessoas que procuram cantar as glórias de Nossa Senhora. Cumpre-se, deste modo, a profecia da Mãe de Jesus em casa de Isabel: «De hoje em diante me proclamarão bem-aventurada todas as gerações.»

Não podemos ficar como quem aplaude, ao lado do caminho, um cortejo que passa por nós. Esta celebração é um convite insistente a que sigamos pelo seu caminho, a que A acompanhemos, porque vamos a caminho da felicidade em que Ela se encontra.

Jesus Cristo, depois de ter ouvido o elogio a Sua Mãe, de uma mulher anónima do povo, ensina-nos como havemos de segui-l’A. Como poderíamos seguir o caminho do Céu que Jesus nos ensina, sem o conhecermos? Precisamos urgentemente de formação doutrinal. A nossa piedade crescerá na medida da formação que procurarmos adquirir.

Maria ensina-nos a combater a ignorância religiosa, o maior inimigo de Deus no mundo de hoje. A crise de fé e moral em que vivemos tem as sua origem nela. As pessoas confundem facilmente religiosidade com verdadeiro cristianismo, vivido em toda a sua exigência.

São muitas as perguntas a que o cristão deve dar uma resposta concreta à luz da fé. Não basta o bom senso para o fazer, e o Espírito Santo não quer alimentar a nossa preguiça, substituindo-nos naquilo que podemos fazer.

Precisamos urgentemente de estudar o catecismo e prestar atenção às respostas que o Santo Padre e os Bispos vão dando aos problemas do nosso tempo. Uma piedade sem doutrina cai facilmente num sentimentalismo estéril, sem qualquer influência no nosso comportamento, numa separação entre as exigências da fé e a vida.

Deixar-se guiar pela Palavra de Deus. «Felizes antes os que (…) a guardam.» A fé, infundida em nós pelo Espírito Santo, no Baptismo, e alimentada pela Palavra de Deus, deve ser vivida em todas as circunstâncias, por uma luta ascética constante. Para tornar isto possível, recebemos as virtudes e os Dons do Espírito Santo os quais devem produzir frutos. 

Quando não fazemos um esforço para sermos coerentes com a fé, agindo de acordo com ela, acabamos por justificar o mal, o pecado. A fé enfraquece e acaba por se apagar.

Maria, elevada ao Céu em Corpo e Alma, anima-nos continuamente a subir, a melhorar espiritualmente, a sermos santos na situação em que nos encontramos, se ela está de acordo com a Lei de Deus. 

Promessa da nossa ressurreição. A Ressurreição de Jesus e a de Sua Mãe é promessa da nossa glorificação final. S. Paulo recorda-nos esta verdade na primeira Carta aos fiéis de Corinto. «No fim dos tempos, este nosso corpo corruptível ficará incorruptível, este nosso corpo imortal ficará imortal.»

Seguindo Nossa Senhora na vida, mesmo sem darmos por isso, caminhamos direta e fielmente para a nossa glorificação eterna no Céu.

Há apenas uma pequena diferença entre a glorificação de Maria e a nossa: Ela foi glorificada em Corpo e Alma imediatamente depois de terminar a sua caminhada na terra. O nosso corpo voltará ao pó de que foi formado, para ressuscitar e ser revestido de glória no fim dos tempos.

Na Celebração da Eucaristia pedimos para esta verdade se realize em cada um de nós: «Anunciamos, Senhor, a Vossa vinda, proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!»

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Quando os cristãos viram “bodes expiatórios”


O “cancelamento cultural” ou “perseguição educada”, como chama o Papa Francisco, é grande causa de escândalo para muitos cristãos na atualidade. Ouvimos e lemos continuamente posicionamentos de líderes e influenciadores cristãos denunciando essa realidade. A bem da verdade, temos que reconhecer que sofremos, nas democracias ocidentais, muito menos que os cristãos que são perseguidos e martirizados em outras partes do mundo. Não deixa de ser estranho, contudo, que uma sociedade que foi construída a partir de valores cristãos, agora pareça se voltar contra eles. Muitos tentam reduzir o problema a um efeito da propaganda ideológica. Esse é um dos fatores, mas não podemos aceitar que a força da mentira seja maior do que aquela da verdade. Outros fatores devem estar envolvidos nesse cancelamento cultural do qual os cristãos são vítimas na sociedade atual.

A teoria do “bode expiatório”

René Girard (1923-2015), acadêmico consagrado e católico polêmico, formulou a teoria do “bode expiatório”, que pode, ao menos em parte, explicar o processo de cancelamento cultural dos cristãos no Ocidente atual. Em linhas gerais, Girard propõe que os grupos sociais, para se manterem unidos, a despeito das diferenças e oposições internas entre seus membros, precisam de um “bode expiatório”, uma pessoa ou algumas pessoas, com características diferentes daquelas do grupo social, que são estigmatizadas e excluídas. Cria-se assim uma maioria de iguais, considerados bons e sadios, que devem se manter unidos, em contraposição aos diferentes, considerados maus e corruptos, que devem ser afastados e condenados.

Esses diferentes devem ter características físicas ou culturais que os distinguem dos demais, facilitando sua identificação; e, nos casos mais emblemáticos, terem praticado algum gesto reprovável, que legitime sua condenação. Importante notar que as características distintas podem ser positivas ou negativas, o bode expiatório pode ser considerado assustadoramente feio ou perigosamente bonito, como vemos entre adolescentes vítimas de bullying; e a exclusão pode se basear num dado real, como acontecia com os leprosos no tempo de Jesus, ou ser um preconceito totalmente infundado, como aquele contra os cristãos na Roma Antiga. Não é a culpa dos segregados, mas a necessidade dos segregacionistas que causa a condenação.

Minorias frequentemente se tornam “bodes expiatórios” de uma sociedade. Os migrantes e refugiados vindos dos países pobres frequentemente são apontados como causa do desemprego em nações ricas, apesar de poucas vezes disputarem empregos com a população local – geralmente trabalham em empregos de baixa qualificação que não interessam aos trabalhadores nativos do país. Os judeus foram, de fato, segregados pela sociedade cristã, sob a alegação de terem matado Jesus, mas sabemos que Cristo morreu por toda a humanidade e sua condenação teria sido sancionada por qualquer multidão naquela situação, fosse qual fosse sua etnia.

Papa adverte sobre a falsa ideia de liberdade compartilhada pelo comunismo e consumismo


O papa Francisco alertou durante um encontro com estudantes universitários em Budapeste que há uma falsa ideia de liberdade tanto no comunismo (liberdade freada) quanto no consumismo (liberdade desenfreada).

A Faculdade de Informática e Biônica da Universidade Católica Péter Pázmány de Budapeste foi palco do último ato da viagem apostólica do papa Francisco à Hungria, 41ª de seu pontificado, que começou na sexta-feira (28).

Nesta instituição acadêmica, são formados engenheiros de computação que aplicam seus conhecimentos no campo da biologia molecular e neuronal e da medicina.

O papa chegou ao local em cadeira de rodas e abençoou e beijou um bebê. Muitos aplausos acompanharam a entrada de Francisco no campus universitário, onde cerca de 250 pessoas, entre docentes e estudantes, o esperavam.

O magnífico reitor da Universidade, padre Géza Kuminetz, elogiou a presença do papa Francisco “como sinal do importante papel da ciência não só na vida eclesiástica, mas também na vida social”.

Ele também disse que nas universidades católicas se tenta “captar as sementes de Deus” que estão escondidas “na criação e na revelação”.

Assim, “com a ajuda da ciência, não queremos só compreender, queremos também fazer a coisa certa, ou seja, construir uma civilização humana e solidária”, disse.

Depois de ouvir atentamente o testemunho de um professor e de um aluno, o papa desfrutou de um breve intervalo musical.

O papa refletiu sobre a questão cultural, o perigo da técnica que instrumentaliza o homem, a missão da universidade e o risco de ideologias que distorcem a liberdade.

Assembleia da CNBB trata apenas de política em sua “Mensagem ao Povo Brasileiro”


Para o novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jayme Spengler, a ‘Mensagem ao Povo Brasileiro’ que a entidade publicou ontem (27) “parte da Pessoa de Jesus Cristo e do Evangelho e a referência de tudo aquilo que segue não poderia ser diferente. É o Evangelho. É Jesus Cristo”. Dom Jayme respondia à pergunta da ACI digital feita na entrevista coletiva que encerrou a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que o elegeu presidente.

A ‘Mensagem’ trata exclusivamente de assuntos políticos que vão da guerra da Ucrânia à vacinação, passando por taxas de juros no Basil e elogio ao governo federal pela nomeação de lideranças indígenas “a diversos postos de decisão no governo federal”.

Depois de listar “situações nos preocupam, como os autoritarismos, as polarizações, as desinformações, as desigualdades estruturais, o racismo, os preconceitos, a corrupção, a banalização do mal e das vidas, as doenças, a drogadição, o tráfico de drogas e pessoas, o analfabetismo, as migrações forçadas, as juventudes com poucas oportunidades, as violências em todas as suas dimensões, o feminicídio, a precarização do trabalho e da renda, as agressões desmedidas à “casa comum”, aos povos originários e comunidades tradicionais, a mineração predatória, entre tantas outras, que fragilizam o tecido social e tencionam as relações humanas”, os bispos fazem um diagnóstico claro.

“Esses problemas têm origem na opção por um modelo econômico cruel, injusto e desigual”, diz a mensagem assinada pelo arcebispo de Belo Horizonte, dom Valmor de Azevedo, que está sendo substituído por Spengler na presidência da entidade, os vices e o secretário-geral que estão de saída. “Por trás da palavra ‘mercado’ existe um sistema financeiro e econômico autônomo, que protagoniza ações inescrupulosas, destrói a vida, precariza as políticas públicas, em especial a educação e a saúde, adota juros abusivos que ampliam o abismo social, afeta a cadeia produtiva e reduz o consumo dos bens necessários à maioria do povo brasileiro”.

A crítica aos juros altos ecoa as manifestações de Lula contra a taxa de 13,5% mantida pelo Banco Central.

Para dom Jayme Spengler, “a condição de discípulo, discípula, de Jesus, do Crucificado, o Ressuscitado, tem implicações na vida social. E a Igreja não pode ficar calada, independente de partido político, ou de quem esteja no poder. Nós precisamos, e devemos, naquilo que dizemos, naquilo que fazemos, ter como referência, eu repito, Jesus Cristo e o Evangelho. É isso o que pauta nossas decisões”.

Citando o Evangelho de Mateus, dom Jayme disse que “ser sal da terra, luz do mundo, fermento de transformação” deve se dará “em vista de uma fraternidade, de uma sociedade mais integrada, integradora, para as futuras gerações”.

A ACI Digital introduziu a pergunta aos bispos dizendo que a Mensagem ao Povo Brasileiro deste ano não se refere nenhuma vez a conversão, penitência, vida espiritual, nada diretamente ligado à “visão beatífica, meta da nossa caminhada na terra”, como diz o Catecismo da Igreja Católica.

Sínodo dos Bispos poderá ter votação de mulheres pela primeira vez na história


O Sínodo dos Bispos, que discute o tema da sinodalidade, termo que significa "caminhar juntos", terá na próxima assembleia em outubro um número significativo de membros que não são bispos. O papa Francisco comunicou as novas disposições na última quarta-feira (26) em carta endereçada às assembleias continentais celebradas em África, Ásia, Médio Oriente e Oceania, de acordo com a imprensa do Vaticano.

Entre as mudanças estão a presença de sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, nomeados a partir de uma lista - a qual "pede-se" que 50% sejam mulheres - diretamente pelo papa, que também requisitou um número maior de jovens. O número de votantes não bispos é considerável: serão 70 provenientes das igrejas locais e "representando o povo de Deus", conforme reportou o Vatican News.

Esse número será escolhido pelo papa a partir de uma lista de 140 pessoas indicadas pelas conferências episcopais e pela assembleia dos patriarcas das igrejas católicas orientais. Os nomes só serão conhecidos pelo público após a ratificação papal.

O número de membros votantes nesta etapa do Sínodo será de cerca de 370, num total de mais de 400 participantes. Antes dessa mudança, havia um pequeno número de membros votantes não bispos, que eram alguns membros de institutos religiosos clericais.