Século VI na Igreja Bizantina, em grego: “Koimesis tes Theodokou” (Dormição da Mãe de Deus). Século VII na Igreja Romana (dormtio, pausatio, natalis).
O dogma da Assunção de Maria, festejado no dia 15 de agosto, tem nomes diferentes, como Nossa Senhora Boa Viagem, Nossa Senhora da Glória ou da Abadia, Nossa Senhora da Luz. Para muitos católicos esse dogma nem traz problemas, nem soluções.
A Bíblia não fala nada a respeito do final da vida de Maria. São João mostra que ela na cruz foi adotada pela comunidade como mãe[1]. Lucas nos diz que ela estava junto com o grupo que se preparava para a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes[2].
Maria está a serviço da comunidade cristã como mãe. Mas a Bíblia não conta os detalhes sobre a morte, idade e onde viveu seus últimos dias aqui na terra.
Nos primeiros séculos, os primeiros cristãos tinham muito cuidado em guardar os restos mortais dos santos, especialmente dos apóstolos e mártires. Não há, no entanto, nenhuma notícia sobre o corpo de Maria. No século IV na Igreja Oriental já se encontram notícias da festa devocional da “Dormição de Nossa Senhora” e do túmulo vazio, em uma capela em Jerusalém, em uma capela em Jerusalém. E no século VIII começa-se a criar uma história a dizer que Maria teria sido levada ao céu sem morrer. Está contada em alguns apócrifos, textos que a Igreja não reconhece como inspirados por Deus. Depois do dogma da Imaculada Conceição, houve outro movimento forte, para que a assunção de Maria se transformasse em dogma. Isso aconteceu em 1950, com o Papa Pio XII (mas a bula papal não entra em detalhes se Maria morreu ou não).
Nós cremos que a vida que Deus nos deu e nós cultivamos, não termina com a morte. Deus dá a todos a possibilidade de ressuscitar, de entrar na vida eterna.
No fim dos tempos Jesus vai voltar com glória e poder. Será a parusia. Haverá também a ressurreição final dos mortos, ou seja, cada um vai receber um corpo transformado, de acordo com a sua situação após a morte. A alma volta a se unir ao corpo. Não este corpo de carne e osso, que morre e estraga, mas um corpo glorificado. Maria, diferente de nós, não precisou esperar o fim dos tempos para receber um corpo glorificado. Hoje há outras maneiras de compreender a ressurreição dos mortos. O importante é crer que Maria já está glorificada junto de Deus, toda inteira.
Não podemos entender ao pé da letra a assunção, como se Maria subisse ao Céu com o corpo que ela possuía aqui na terra com ossos, pele, carne e sangue. O corpo de Jesus ressuscitado e de Maria assunta não é como o de Lázaro[3] ou do filho da viúva de Naim[4]. Essas pessoas mais cedo ou mais tarde, voltaram a morrer, e seus corpos se estragaram. O corpo de Maria, ao contrário, foi transformado e assumido por Deus.
São Paulo nos diz que Jesus é o primeiro ressuscitado (cf. Cl 1,18; 1Cor 15,20-22) e que nós o seguiremos.
Cremos que Maria está junto de Jesus glorificada por inteiro. Deus assumiu e transformou toda sua história, suas ações e seu corpo. E como ela está na glória de Deus e dos santos, continua perto de nós, acompanhando-nos como mãe amorosa da fé.
A Assunção de Maria é a festa do seu destino de plenitude e bem-aventurança, da glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita configuração com Cristo Ressuscitado.
Maria é a única criatura humana, depois de Cristo e no seu seguimento, que entrou de corpo e alma na bem-aventurança do céu, depois de ter encerrado o curso da vida terrena.
Para todos os outros que morrem na graça de Deus, segundo a fé da Igreja, só terá lugar no fim do mundo e da história da salvação, no momento da Ressurreição dos Mortos. Assim a solenidade quer assegurar a Maria uma superioridade única também no termo de sua existência terrena e isso sublinha mais uma vez a sua posição já notável no zênite da humanidade.
Esta verdade da Assunção de Maria interessa profundamente à escatologia. Pois não é possível salvaguardar o privilégio de Maria quando, por exemplo, se aceita como válida para todos os homens a chamada “teoria da morte total”.
Maria é exaltada para além dos céus. Salmo 57(56),6: “...no reino celeste, acima do coro dos anjos”. Segue-se a leitura breve de Romanos 8,30.
São Paulo na primeira carta aos Coríntios 15,54-57 anuncia a vitória sobre a morte que Deus nos dá por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo[5].
A mãe de Jesus, tal como está nos céus já glorificada de corpo e alma é a imagem e o começo da Igreja como deverá ser consumada no tempo futuro. Assim também brilha aqui na terra como sinal da esperança segura e do conforto para o povo de Deus em peregrinação até que chegue o Dia do Senhor[6].
“Mulher revestida do sol (Deus) com a lua (homem debaixo dos pés...” (cf. Ap 12)[7]. Com efeito, na liturgia dos padres, a lua se torna a imagem da Igreja que reflete a luz de Deus. Mas em Apocalipse 12 e em muitas representações de Maria, a mulher está sobre a lua.
No Ocidente a partir do século IX ilustra-se continuamente, num primeiro instante, a Mulher de Apocalipse 12 como sendo a Igreja e o seu filho como o neo-catecúmeno (recém-batizado) renascido para a vida nova. Aos poucos, contudo, a Igreja assume sempre mais os traços de Maria e seu Filho é representado como o Redentor, pois a Igreja gera cotidianamente os membros daquele Corpo que uma vez foi gerado pela Virgem Maria; efetivamente Cristo é sempre um e o mesmo.
Pela fé, Maria é o sinal que nos diz: “Quem acolhe na própria natureza a exigência da Palavra de Deus, experimenta também a virtude criadora desta Palavra para a própria salvação.
[1] “Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde àquela hora o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19,27).
[2] "E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos [...] e, cumprindo-se o dia de pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar” (At 1,13-14; 2,1).
[3] “E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir” (Jo 11,43-44).
.
[4] “E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe” (Lc 7,13-15).
[5] “E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”. Ver também: (cf. Ef 1,16; 2,10; 1Cor 15,20-26).
[6] “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão” (2Pd 3,10).
[7] Cf. também: Malaquias 3,20.
____________________________________________
Fonte: Trechos do livro “O Culto a Maria Hoje” (Edições Paulinas) e “Com Maria Rumo ao Novo Milênio” (CNBB - Dom Clóvis Prainer).
Nenhum comentário:
Postar um comentário