O mundo precisa respeitar mais o ateísmo. Pode parecer
estranho que uma católica diga
isto, mas, por favor, leve em consideração o que eu vou dizer.
Eu
conheço um monte de ateus. No mundo acadêmico, uma fartura. Muitos deles
estão convencidos de que o mundo os odeia. O cristianismo pode não estar no
auge da sua popularidade hoje em dia, mas o ateísmo também não está.
Se
você quer um bom emprego, declarar-se abertamente ateu pode
não ser uma boa ideia. Você pode, no máximo, se dizer "não
religioso". Mesmo os liberais, apesar do seu desconforto com a religião levada
a sério, parecem considerar moralmente positivo frequentar uma igreja, tanto
que um recente estudo norte-americano mostrou que os autoproclamados liberais,
nos Estados Unidos, são especialmente propensos a exagerar o próprio nível de
observância religiosa quando estão em ambientes sociais.
Os
jornalistas liberais, às vezes, tentam usar casos como este para mostrar que a
nossa sociedade é predominantemente pró-religião (e,
de passagem, para dar a entender que boa parte das queixas de violações da
liberdade religiosa são pura paranoia e busca de atenção). Na verdade, porém,
não há muitas razões para que a sociedade se sinta “ameaçada” nem por ateus declarados
nem por crentes religiosos,
já que o que realmente está espalhado hoje pela sociedade é o triunfo da
mornidão.
A religião, para muitos ocidentais, serve hoje como um mero
“verniz”. Ela não exerce nenhuma influência séria na sua vida, nem lhes indica
como viver adequadamente; ela apenas ressalta um pouco de espírito cívico e de
boa vontade genérica para com os homens. Se você quer ser uma figura pública
popular, é útil ser nominalmente filiado a alguma igreja, mas sem a levar muito
a sério. Como alternativa, você pode também professar uma fé formalmente séria,
mas ignorar os seus ensinamentos toda vez que eles entrarem em conflito com os
pontos de vista políticos e sociais que estiverem de moda no momento.
É
neste panorama morno que os ateus proclamam
abertamente que Deus não existe.
Em
primeiro lugar, esse gesto é tido como de mau gosto, porque dá o jogo por
encerrado. É verdade que muitas pessoas já abandonaram Deus na prática, mas
oficializar isto é desconfortável: dá aquela impressão indesejável de que elas
se afastaram demais das crenças e tradições que davam sentido à vida dos seus
antepassados. É muito mais agradável pensar em nós mesmos como gente que
preserva essas tradições, só que de forma "mais sutil". Ser ateu declarado
dificulta essa pretensão.
Os ateus também
reforçam a possibilidade de que a metafísica tenha importância. A sua frequente
alegação de ser mais reflexivos do que o resto das pessoas é apenas um
autoconceito, mas se o grupo de controle for composto pelo que Christian Smith
chamou de "deístas terapêuticos morais" (gente que professa a fé
religiosa, mas vê Deus como um ursinho de pelúcia que só quer que sejamos
gentis com os outros), a questão se torna relevante. É mais íntegro admitir que
Deus não tem nenhum papel na sua vida do que fingir que tem só para manter as
aparências. Mesmo do ponto de vista da fé, podemos sentir uma espécie de
admiração pela pessoa que admite que não serve ao Deus único e verdadeiro,
assim como admiramos o alcoólatra que finalmente se reconhece como alcoólatra.
Existe
uma diferença, é claro: os alcoólatras confessos geralmente querem mudar,
enquanto os ateus costumam
se orgulhar da sua impiedade. De minha parte, seria mais fácil amar os ateus se
eles não se envolvessem com coisas juvenis como querer suprimir das cédulas de
dólar a frase "In God We Trust" (Confiamos em Deus).
Ateus, meus caros, superem isso: este lema não está
fazendo a menor diferença para inspirar confiança em Deus. O fato é que, com
este e outros exemplos, os ateus muitas
vezes se mostram filosoficamente tão frágeis quanto cheios de superioridade, ao
melhor estilo Richard Dawkins.
Acontece
que justamente esta é mais uma razão para darmos mais voz aos ateus.
Se,
como eu penso, o materialismo laico é o grande desafio espiritual do nosso
tempo, nem nós, crentes, nem os ateus querem
que esse inimigo fique apenas nos espreitando pelas sombras. É melhor, para
todos, que a batalha seja travada em praça pública e à luz do dia. Os ateus declarados
nos oferecem uma grande oportunidade de nos engajarmos nessa luta espiritual.
Alguns deles, assumindo uma oposição filosoficamente respeitável, parecem de
fato convencidos do ateísmo. E mesmo que no fundo não estejam, o fato é que os
espectadores dessa confrontação de ideias podem se inspirar a deixar para trás
a mornidão e começar a procurar respostas espirituais mais substanciosas.
Deus
nos diz, em Apocalipse 3,16, que vomitará os mornos da sua boca. Nós vivemos
numa era de mornidão e mediocridade: pode estar na hora de os
"quentes" e "frios" respeitarem mais uns aos outros,
compartilhando o interesse por combater juntos esse inimigo comum.
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Rachel Lu
Disponível: Aleteia
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