segunda-feira, 7 de abril de 2014

"Casamento" entre pessoas do mesmo sexo: como não combatê-lo.



O casamento está sendo atacado e, em meses recentes, ouvimos algumas concessões surpreendentes e deprimentes: o porta-voz do Vaticano, pe. Federico Lombardi, chegou a opinar que os cristãos poderiam aceitar as "uniões civis" entre parceiros do mesmo sexo. O deputado norte-americano Paul Ryan, ex-candidato republicano à vice-presidência dos Estados Unidos, declarou, durante uma reunião em Wisconsin, que se opõe ao chamado “casamento homossexual”, mas apoia o “direito” dos casais homossexuais de adotar crianças. Pastores evangélicos cristãos, com medo do afastamento dos membros mais jovens das suas igrejas, começaram, eles próprios, a se afastar desta questão. Até mesmo líderes católicos e evangélicos cujos pontos de vista são ortodoxos estão preferindo “não entrar nessa briga”. Um sacerdote católico, escritor talentoso, me confessou: "Estou evitando comentar sobre a questão do casamento. Tenho receio das reações". 

Os defensores das uniões do mesmo sexo ficaram tão arrogantes que começaram a criminalizar a oposição. Em Québec, no Canadá, um ministério do governo está fazendo parceria com ativistas homossexuais para monitorar e punir as manifestações contrárias às uniões do mesmo sexo, acusando-as de "incitação ao ódio". Brian Brown, presidente da indispensável Organização Nacional para o Casamento, afirmou à Conferência de Lideranças Católicas de Charlotte, nos Estados Unidos: "Não se enganem: os defensores do casamento natural estão sendo tachados de racistas. Nossos pontos de vista estão sendo deslegitimados e nós estamos sendo estigmatizados. Em breve, poderemos ser legalmente processados. Isto significa que qualquer igreja cristã que defende o casamento tradicional será tratada como a Universidade Bob Jones quando aplicava políticas racistas. Este é o futuro, a menos que lutemos contra ele”. Quando admitimos que parceiros do mesmo sexo podem se casar, isto se torna um direito fundamental. O tipo de direito que, nos tribunais, passa rotineiramente por cima de direitos “menores”, como o de praticar os princípios controversos de uma religião de minoria. 

Se você acha que o Sr. Brown está sendo alarmista, repare no que está acontecendo em outros “países livres”. Na Dinamarca, o governo ordenou que as igrejas luteranas celebrem cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Canadá, uma escola católica particular foi obrigada por juízes a parar de ensinar a moral sexual cristã. Você acha que as autoridades de outros países vão agir de modo diferente depois que os cristãos ficarem marcados como os equivalentes morais dos skinheads? Não é de se admirar que radicais lésbicas de topless se sentiram confiantes o suficiente para atacar um arcebispo católico idoso que estava explicando a moral sexual cristã. Elas sabiam que o seu ataque covarde passaria batido: "Essa gente merece o que recebe”. 

É evidente que nós estamos perdendo: não só o apoio do Estado à lei natural, mas a nossa própria liberdade real, no dia-a-dia, para praticar a nossa fé. Os fiéis cristãos estão sendo empurrados para fora dos limites de uma sociedade aceitável. 

O que está menos claro é por que estamos perdendo. O "casamento" homossexual, até recentemente, parecia tão ultrajante a ponto de um grande “moralista cristão” como Bill Clinton liderar o esforço para proibi-lo nos Estados Unidos. Como foi que ele se tornou de repente uma "questão de direitos civis" aparentemente intocável? 

O que aconteceu foi que nós não conseguimos argumentar de forma eficaz, e, por falta de pensar, cedemos à oposição as premissas maiores. Nós pensamos com o coração e sentimos com a cabeça e, de modo geral, não conseguimos defender nem a fé nem a razão. Agora é hora de começar do zero.

Vamos listar, portanto, primeiramente, os argumentos que NÃO devem ser usados: 

1. “Temos que defender o conceito teológico de casamento”.

Não estamos engajados em uma ação de retaguarda para proteger a santidade do sacramento do matrimônio, consagrando-a na lei. Essa batalha já foi perdida depois da Revolução Francesa, quando o casamento civil foi reconhecido pelos legisladores iluministas. Não aspiramos a proibir o divórcio e o novo casamento, nem a confiar a tribunais diocesanos a lei civil sobre o casamento.

2. “Tememos que o nosso próprio casamento seja atingido de alguma forma quando o mesmo termo for usado para descrever também as uniões homossexuais”.

Na verdade, nós aprendemos a conviver com vizinhos recasados​​, cujas relações não se encaixam em nossa definição sacramental, e poderíamos igualmente viver ao lado de casais homossexuais – se a santidade da terminologia fosse a única coisa em jogo.

3. “Somos contra as uniões homossexuais porque o que ‘essa gente’ faz nos dá nojo”.

O fator “eca!” é uma base fraca demais na hora de fazer distinções morais. Aliás, ele poderia ser igualmente usado para proibir os casamentos com pessoas feias. O casamento inter-racial já foi considerado, por milhões de americanos, tão repugnante quanto a sodomia. Mas proibir a miscigenação sempre foi um erro. A nossa objeção às uniões entre pessoas do mesmo sexo não é visceral, mas moral. 

4. “Somos contra as uniões de parceiros do mesmo sexo porque elas prejudicam mais ainda uma instituição que já é frágil: o casamento”.

É verdade que o número de casamentos caiu e que a quantidade de divórcios é alarmante. Isso é um problema do comportamento heterossexual, que antecede (e pode ter ajudado a reforçar) o movimento dos "direitos gays". Se tentarmos jogar a culpa em outras pessoas, seremos vistos, com toda razão, como bobos. 

5. “Somos contra as uniões de parceiros do mesmo sexo porque o comportamento homossexual viola as normas morais cristãs”.

Mesmo isto sendo verdade, não tem base constitucional para justificar uma lei na maioria dos países. Até argumentos baseados na lei natural contra os atos homossexuais podem ser aplicados igualmente à contracepção, que não estamos tentando tornar ilegal. Decidam com mais clareza quais são as suas batalhas prioritárias, senhores. 

6. “Estamos preocupados porque as uniões homossexuais vão levar ao reconhecimento legal da poligamia, ou de homens se casando com seus cachorros ou com seus carros”.

Sério: quem daria bola para um “argumento” desses? Todas as objeções desse tipo, que podem nos ocorrer espontaneamente e até ajudar a motivar algumas pessoas, são ilógicas e retoricamente inúteis. 

Mas existe um poderoso e válido conjunto de argumentos contrários ao casamento de parceiros do mesmo sexo, a partir de uma abordagem saudável. Eu os aprendi com o melhor recurso que conheço para a luta em favor do matrimônio: “Getting the Marriage Conversation Right” [“A Conversa Certa sobre o Casamento”], de William B. May, da Catholics for the Common Good [Católicos pelo Bem Comum]. Leva menos de uma hora para ler e transforma o seu pensamento.

A tese é simples: o casamento não é uma questão de direitos de propriedade nem de policiar o comportamento sexual dos dois parceiros adultos que se unem. A única razão pela qual o governo tem algum motivo para se intrometer na união romântica particular dos seus cidadãos é o envolvimento de terceiros inocentes e indefesos: os filhos. Se os bebês viessem mesmo da cegonha ou brotassem no jardim, o governo não teria absolutamente nenhuma razão para tentar impor um quadro jurídico para os relacionamentos amorosos. Seria mera tirania.

Mas o casamento existe como fato jurídico para salvaguardar os direitos e interesses dos filhos e, por extensão, das suas mães. É por isso que o Estado não está ultrapassando os seus limites quando tenta incentivar os homens a dar apoio aos filhos que geraram; mais do que isso, a ficar junto deles e ser seus pais de verdade. O natural é que os filhos cresçam com dois pais de sexos opostos, porque é de um homem e de uma mulher que, por natureza, eles vieram ao mundo. A lei deve incentivar essa configuração familiar natural. Ter pai e mãe presentes é a experiência humana primordial da família. O ônus da prova em contrário cabe aos experimentalistas sociais que afirmam que casais do mesmo sexo, pais solteiros ou ménages poliamorosos têm natureza igualmente benéfica para as crianças.

É notoriamente fácil de manipular a ciência social. E os pesquisadores que não são tendenciosos em favor das “famílias experimentais” têm medo de arruinar a carreira; por isso, não espere encontrar pesquisas abundantes sobre a questão. Mas o ponto crucial pode ser abordado de modo mais simples e eficaz: pergunte a alguém que afirma apoiar uniões do mesmo sexo: "Você acredita mesmo que é plenamente saudável para um menino crescer sem nenhum homem na casa? Que é plenamente saudável para uma menina crescer sem nenhuma mulher na casa? Os sexos são indistinguíveis a ponto de serem vistos como unidades intercambiáveis​​?". Se você focar no verdadeiro bem a ser protegido pelo casamento natural, que é o interesse das crianças, aí sim pode começar um diálogo verdadeiro.

É claro que o debate não vai acabar nisso. As implicações lógicas do casamento focado nas crianças vão muito além da recusa do governo a reconhecer as uniões entre parceiros do mesmo sexo ou as adoções de crianças por parceiros homossexuais. Se enxergarmos o casamento não como um contrato sexual temporário, mas como uma estrutura estável para a criação de filhos, precisaremos reexaminar as leis do divórcio sem culpa, que focam exclusivamente nos desejos e interesses dos adultos. Poderíamos reconsiderar também o uso da fertilização in vitro para satisfazer os desejos de casais inférteis à custa de milhares de embriões "excedentes", ou abortados ou deixados no limbo em congeladores de todo o planeta. Teríamos que repensar uma série de coisas. Se deixássemos de ser grosseiramente egoístas, um novo mundo se abriria. E esta é uma das ideias-chave do Evangelho.
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Disponível em: Aleteia

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