O casamento está sendo atacado e, em meses
recentes, ouvimos algumas concessões surpreendentes e deprimentes: o porta-voz
do Vaticano, pe. Federico Lombardi, chegou a opinar que os cristãos poderiam
aceitar as "uniões civis" entre parceiros do mesmo sexo. O deputado
norte-americano Paul Ryan, ex-candidato republicano à vice-presidência dos
Estados Unidos, declarou, durante uma reunião em Wisconsin, que se opõe ao
chamado “casamento homossexual”, mas apoia o “direito” dos casais homossexuais
de adotar crianças. Pastores evangélicos cristãos, com medo do afastamento dos
membros mais jovens das suas igrejas, começaram, eles próprios, a se afastar
desta questão. Até mesmo líderes católicos e evangélicos cujos pontos de vista
são ortodoxos estão preferindo “não entrar nessa briga”. Um sacerdote católico,
escritor talentoso, me confessou: "Estou evitando comentar sobre a questão
do casamento. Tenho receio das reações".
Os defensores das uniões do mesmo sexo ficaram
tão arrogantes que começaram a criminalizar a oposição. Em Québec, no Canadá,
um ministério do governo está fazendo parceria com ativistas homossexuais para
monitorar e punir as manifestações contrárias às uniões do mesmo sexo,
acusando-as de "incitação ao ódio". Brian Brown, presidente da
indispensável Organização Nacional para o Casamento, afirmou à Conferência de
Lideranças Católicas de Charlotte, nos Estados Unidos: "Não se enganem: os
defensores do casamento natural estão sendo tachados de racistas. Nossos pontos
de vista estão sendo deslegitimados e nós estamos sendo estigmatizados. Em
breve, poderemos ser legalmente processados. Isto significa que qualquer igreja
cristã que defende o casamento tradicional será tratada como a Universidade Bob
Jones quando aplicava políticas racistas. Este é o futuro, a menos que lutemos
contra ele”. Quando admitimos que parceiros do mesmo sexo podem se casar, isto
se torna um direito fundamental. O tipo de direito que, nos tribunais, passa
rotineiramente por cima de direitos “menores”, como o de praticar os princípios
controversos de uma religião de minoria.
Se você acha que o Sr. Brown está sendo
alarmista, repare no que está acontecendo em outros “países livres”. Na
Dinamarca, o governo ordenou que as igrejas luteranas celebrem cerimônias de
casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Canadá, uma escola católica
particular foi obrigada por juízes a parar de ensinar a moral sexual cristã.
Você acha que as autoridades de outros países vão agir de modo diferente depois
que os cristãos ficarem marcados como os equivalentes morais dos skinheads? Não
é de se admirar que radicais lésbicas de topless se sentiram confiantes o
suficiente para atacar um arcebispo católico idoso que estava explicando a
moral sexual cristã. Elas sabiam que o seu ataque covarde passaria batido:
"Essa gente merece o que recebe”.
É evidente que nós estamos perdendo: não só o
apoio do Estado à lei natural, mas a nossa própria liberdade real, no
dia-a-dia, para praticar a nossa fé. Os fiéis cristãos estão sendo empurrados
para fora dos limites de uma sociedade aceitável.
O que está menos claro é por que estamos
perdendo. O "casamento" homossexual, até recentemente, parecia tão
ultrajante a ponto de um grande “moralista cristão” como Bill Clinton liderar o
esforço para proibi-lo nos Estados Unidos. Como foi que ele se tornou de
repente uma "questão de direitos civis" aparentemente intocável?
O que aconteceu foi que nós não conseguimos
argumentar de forma eficaz, e, por falta de pensar, cedemos à oposição as
premissas maiores. Nós pensamos com o coração e sentimos com a cabeça e, de
modo geral, não conseguimos defender nem a fé nem a razão. Agora é hora de
começar do zero.
Vamos listar, portanto, primeiramente, os
argumentos que NÃO devem ser usados:
1. “Temos que defender o conceito teológico de
casamento”.
Não estamos engajados em uma ação de
retaguarda para proteger a santidade do sacramento do matrimônio, consagrando-a
na lei. Essa batalha já foi perdida depois da Revolução Francesa, quando o
casamento civil foi reconhecido pelos legisladores iluministas. Não aspiramos a
proibir o divórcio e o novo casamento, nem a confiar a tribunais diocesanos a
lei civil sobre o casamento.
2. “Tememos que o nosso próprio casamento seja
atingido de alguma forma quando o mesmo termo for usado para descrever também
as uniões homossexuais”.
Na verdade, nós aprendemos a conviver com
vizinhos recasados, cujas relações não se encaixam em nossa
definição sacramental, e poderíamos igualmente viver ao lado de casais
homossexuais – se a santidade da terminologia fosse a única coisa em jogo.
3. “Somos contra as uniões homossexuais porque
o que ‘essa gente’ faz nos dá nojo”.
O fator “eca!” é uma base fraca demais na hora
de fazer distinções morais. Aliás, ele poderia ser igualmente usado para
proibir os casamentos com pessoas feias. O casamento inter-racial já foi
considerado, por milhões de americanos, tão repugnante quanto a sodomia. Mas
proibir a miscigenação sempre foi um erro. A nossa objeção às uniões entre
pessoas do mesmo sexo não é visceral, mas moral.
4. “Somos contra as uniões de parceiros do
mesmo sexo porque elas prejudicam mais ainda uma instituição que já é frágil: o
casamento”.
É verdade que o número de casamentos caiu e
que a quantidade de divórcios é alarmante. Isso é um problema do comportamento
heterossexual, que antecede (e pode ter ajudado a reforçar) o movimento dos
"direitos gays". Se tentarmos jogar a culpa em outras pessoas,
seremos vistos, com toda razão, como bobos.
5. “Somos contra as uniões de parceiros do
mesmo sexo porque o comportamento homossexual viola as normas morais cristãs”.
Mesmo isto sendo verdade, não tem base
constitucional para justificar uma lei na maioria dos países. Até argumentos
baseados na lei natural contra os atos homossexuais podem ser aplicados
igualmente à contracepção, que não estamos tentando tornar ilegal. Decidam com
mais clareza quais são as suas batalhas prioritárias, senhores.
6. “Estamos preocupados porque as uniões
homossexuais vão levar ao reconhecimento legal da poligamia, ou de homens se
casando com seus cachorros ou com seus carros”.
Sério: quem daria bola para um “argumento”
desses? Todas as objeções desse tipo, que podem nos ocorrer espontaneamente e
até ajudar a motivar algumas pessoas, são ilógicas e retoricamente
inúteis.
Mas existe um poderoso e válido conjunto de
argumentos contrários ao casamento de parceiros do mesmo sexo, a partir de uma
abordagem saudável. Eu os aprendi com o melhor recurso que conheço para a luta
em favor do matrimônio: “Getting the Marriage Conversation Right” [“A Conversa
Certa sobre o Casamento”], de William B. May, da Catholics for the Common Good
[Católicos pelo Bem Comum]. Leva menos de uma hora para ler e transforma o seu
pensamento.
A tese é simples: o casamento não é uma
questão de direitos de propriedade nem de policiar o comportamento sexual dos
dois parceiros adultos que se unem. A única razão pela qual o governo tem algum
motivo para se intrometer na união romântica particular dos seus cidadãos é o
envolvimento de terceiros inocentes e indefesos: os filhos. Se os bebês viessem
mesmo da cegonha ou brotassem no jardim, o governo não teria absolutamente
nenhuma razão para tentar impor um quadro jurídico para os relacionamentos
amorosos. Seria mera tirania.
Mas o casamento existe como fato jurídico para
salvaguardar os direitos e interesses dos filhos e, por extensão, das suas
mães. É por isso que o Estado não está ultrapassando os seus limites quando
tenta incentivar os homens a dar apoio aos filhos que geraram; mais do que
isso, a ficar junto deles e ser seus pais de verdade. O natural é que os filhos
cresçam com dois pais de sexos opostos, porque é de um homem e de uma mulher
que, por natureza, eles vieram ao mundo. A lei deve incentivar essa
configuração familiar natural. Ter pai e mãe presentes é a experiência humana
primordial da família. O ônus da prova em contrário cabe aos experimentalistas
sociais que afirmam que casais do mesmo sexo, pais solteiros ou ménages
poliamorosos têm natureza igualmente benéfica para as crianças.
É notoriamente fácil de manipular a ciência
social. E os pesquisadores que não são tendenciosos em favor das “famílias
experimentais” têm medo de arruinar a carreira; por isso, não espere encontrar
pesquisas abundantes sobre a questão. Mas o ponto crucial pode ser abordado de
modo mais simples e eficaz: pergunte a alguém que afirma apoiar uniões do mesmo
sexo: "Você acredita mesmo que é plenamente saudável para um menino
crescer sem nenhum homem na casa? Que é plenamente saudável para uma menina
crescer sem nenhuma mulher na casa? Os sexos são indistinguíveis a ponto de
serem vistos como unidades intercambiáveis?". Se você focar no
verdadeiro bem a ser protegido pelo casamento natural, que é o interesse das
crianças, aí sim pode começar um diálogo verdadeiro.
É claro que o debate não vai acabar nisso. As
implicações lógicas do casamento focado nas crianças vão muito além da recusa
do governo a reconhecer as uniões entre parceiros do mesmo sexo ou as adoções
de crianças por parceiros homossexuais. Se enxergarmos o casamento não como um
contrato sexual temporário, mas como uma estrutura estável para a criação de
filhos, precisaremos reexaminar as leis do divórcio sem culpa, que focam
exclusivamente nos desejos e interesses dos adultos. Poderíamos reconsiderar
também o uso da fertilização in vitro para satisfazer os desejos de casais
inférteis à custa de milhares de embriões "excedentes", ou abortados
ou deixados no limbo em congeladores de todo o planeta. Teríamos que repensar
uma série de coisas. Se deixássemos de ser grosseiramente egoístas, um novo
mundo se abriria. E esta é uma das ideias-chave do Evangelho.
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Disponível em: Aleteia
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