sexta-feira, 30 de maio de 2014

O casamento dos padres pode ser uma solução para a pedofilia e homossexualismo?


Caro Padre Angelo, em uma jornada na escola ouvi uma professora que dizia que o casamento dos padres poderia ser uma solução aos casos de pedofilia e também a homossexualismo. Ela também sustentava que os apóstolos eram casados e que seria justo ter também padres casados (adiciono que ela também falava das freiras). Ela disse que o celibato sacerdotal e monástico é contra a natureza e que o matrimônio poderia acabar com as infidelidades e os escândalos. Naturalmente eu estava muito bravo ao ouvir estas coisas contra a Igreja, mas não tive coragem de contrapor, porque muitos dos meus companheiros estavam de acordo, e também porque eu não tinha argumentos adequados para contrapor estas questões. 

Resposta do sacerdote:

Caro,

1. Cito primeiramente o que escreveu um professor na França, Jean Guitton: “Se se compara a vida dos animais com o comportamento da espécie humana, percebemos que a sexualidade nos animais tem um papel muito mais limitado. Dá-se por fases e períodos limitados, ao menos nas espécies superiores. Com excessão dos grandes macacos, que são certamente os degenerados, a fêmea aceita o macho somente para sua necessidade aos seus deveres com a espécie. Existem também casos nos quais apenas um contato torna a fêmea idônea a gerar muitas vezes, como para as abelhas e pulgões. De resto, a sexualidade animal é limitada estreitamente a sua função e não cria comunidade de vida entre os indivíduos. Conhecem-se certamente as simbioses de acoplamento, por exemplo nas rãs e nas tartarugas, mas o acoplamento não é uma sociedade” (J. Guitton, O amor humano, p. 162).

2. Depois de ter observado que para os animais o estímulo sexual leva à necessidade incontrolável, afirma: “Existe toda uma literatura que quer apresentar a satisfação do instinto sexual como uma necessidade. Mas os raciocínios dos fisiologistas e o lirismo nunca podem prevalecer sobre a realidade que a continência não é prejudicial à saúde física e mental e não afeta os órgãos reprodutores. É neste sentido que o instinto sexual, que no homem e somente no homem é independente do instinto vital, permite ao homem libertar-se… Por outro lado, enquanto no animal o instinto segue uma regra e é submisso ao ritmo cósmico, no homem - e sobretudo no macho - pode ser excitado quase em continuação. Não é ligado às necessidades vitais e se apresenta no tempo e fora dele. Diria que no homem o instinto se solta da vida para se envolver no espírito… Tudo ocorre como se a natureza tivesse, neste instinto mais que em outro, deparado o desejo da necessidade… A necessidade, reduzida a pura necessidade real, é rara e se deve notar que nunca é constritiva” (Ib., pp. 164-165).

3. Um autor de bioética, Ramòn Lucas Lucas, ressalta a importância deste dado: “No animal a atividade instintiva sexual tem um caráter totalmente automático. O encontro do macho com a fêmea não é subordinado a nenhuma decisão ou escolha; tem qualquer coisa de fatal. Do mesmo modo, o ritmo dos períodos do cio é regulado de maneira automática. Este caráter automático não se encontra no homem. Não existe no homem ‘normal’ nenhuma atividade instintiva vinculada por si. A razão disto, em relação à sexualidade, é a ausência dos períodos de cio; como existem determinados estímulos hormonais, que se manifestam na intensificação do instinto. Em virtude desta ausência, o homem escapa ao ciclo do tempo” (R. Lucas Lucas, Antropologia e problemas bioéticos, p. 69).

4. E acrescenta: “A exclusão do homem de determinação instintiva não é de menos, mas uma outra oportunidade como sinal de sua grandeza. A diminuição de sua potência como ser natural oferece a oportunidade de orientar-se para a sua determinação. A vida não lhe é dada já organizada, nem determinada para o ciclo dos instintos; assim o homem é exposto ao risco, e à oportunidade e ao dever de perguntar-se qual é o sentido da sua atividade sexual. Com isto, a possibilidade de errar se converte em privilégio do qual goza apenas o homem; errar é humano. A falta de determinação da força natural da sensualidade humana e das relações sexuais produz paradoxalmente uma força de humanização” (Ib., p. 79). 

"A História do Papado": Uma Refutação a um Programa de TV Adventista


Poucos dias após a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, o seriado "Evidências", produzido pela TV Novo Tempo (ligada à igreja Adventista, contando com o apoio cultural da sua Casa Publicadora Brasileira [30:18]), dedicou todo um programa à "História do Papado"[0], apresentado e narrado pelo "teólogo e arqueólogo" Rodrigo Silva [00:34 / 30:13] que, segundo afirmava, pretendia "contar um pouco da história dos Papas" [01:27], expondo as coisas segundo "fatos históricos, bíblicos e proféticos" [27:27].

Conforme este mesmo apresentador, o objetivo de "Evidências" é "a procura de fatos que comprovem a veracidade da Bíblia Sagrada" [00:36], e que neste programa da série viriam a ser respondidas as seguintes questões [01:34]:

• Como surgiu o Papado?
• Pedro foi o primeiro dos Papas?
• O Papa é a besta do Apocalipse?

Muito embora os créditos apresentados no final do programa não digam quem foi o responsável pelo roteiro final, considerando-se o simples fato de o programa ser produzido para uma emissora protestante, não era difícil de "adivinhar" quais respostas seriam dadas para as perguntas acima - uma vez que diversas igrejas protestantes não-adventistas também responderiam da mesma maneira ou de uma maneira muito semelhante...

Na verdade, o programa acabou sendo um resumo de todo ensinamento antipapal promovido pela profetiza-fundadora do Adventismo do 7o Dia, sra. Ellen Gould White, detalhados nos livros da sua autoria ou nos de seus seguidores[1].

Porém, o fato é que, ao final do programa, o próprio apresentador - que se revelou "ex-católico" [28:12] -, recomenda-nos a desconfiar de tudo o que foi dito ali: "Não confiem prontamente no que estou dizendo. Isto mesmo! Essas informações que você recebeu foram dadas para que você investigue por si mesmo os fatos e conclua a respeito do que está por trás do maior sistema eclesiástico do mundo" [27:40].

Portanto, atendamos ao seu pedido e investiguemos cuidadosamente, apoiando-nos em fontes bíblicas e históricas, deixando de lado as pseudo-profecias e preconceitos anticatólicos da fundadora do Adventismo do 7o Dia[2] e dos líderes da denominação.

"Dominus Nobiscum": A celebração dominical na ausência do sacerdote.


A falta de sacerdotes é uma triste realidade para muitas comunidades paroquiais em nosso país. Essa carência prejudica a administração dos sacramentos, em particular a Santíssima Eucaristia. A Igreja com sua preocupação pastoral roga aos Bispos e párocos que procurem outros sacerdotes, diocesanos ou religiosos, como primeira solução, para que celebrem a Santa Missa nesses locais de modo que os fiéis possam cumprir o preceito dominical. Ainda assim, pode não haver sacerdotes em número suficiente para atender todas as comunidades nos domingos e solenidades. Dessa forma, é pedido aos fiéis que se locomovam para uma igreja vizinha para lá celebrar a Eucaristia.

Se, apesar de todos esses esforços, for impossível aos fiéis assistir a Santa Missa, estão eles de acordo com o direito, desobrigados do preceito. Ainda assim, a Igreja convida vivamente, embora não obrigue, o fiel a se reunir em comunidade para a celebração da Palavra ou, pelo menos rezar em família ou, ainda, sozinho. A primeira dessas formas de oração, a comunitária, realiza-se com uma celebração da Palavra de Deus na qual se pode distribuir a comunhão eucarística. A esse ponto temos muitos problemas. O primeiro deles é que a celebração raramente é feita como deveria de acordo com o "Ritual da Sagrada Comunhão e o Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa". O que se vê de mais comum é um esboço de missa, da qual se arrancam ou adaptam tudo que seja sacerdotal.
 

Um ícone dessa realidade é a expressão "O senhor esteja conosco" que é uma clara adaptação tupiniquim da saudação clerical "O senhor esteja convosco", do latim "Dominus Vobiscum". E é justamente o latim que mostra como tal expressão é uma adaptação simplória e estranha ao Rito Romano, uma vez que a resposta da saudação só faz sentido na tradução brasileira, no latim o "Et cum spirito tuo" remete claramente ao espírito sacramental que habita na pessoa do ministro ordenado. Tal adaptação infeliz não se prende a essa saudação, mas se estende a"... e a comunhão do Espírito Santo esteja sempre coNosco", "A paz do Senhor esteja sempre coNosco", "Abençoe-Nos o Deus todo-poderoso..." e até ao absurdo "... por Jesus Cristo. Que CONOSCO (sic!) vive e reina, na unidade do Espírito Santo". Casos mais graves podem incluir recitação do prefácio ou imitações do mesmo e, ainda, da própria Oração Eucarística retirando-lhe tão somente a narrativa da consagração. Detalhes à parte, essa celebração que nasce da adaptação do rito da Missa não possui aprovação da Santa Sé.

Olhar a bola e o social


A Copa do Mundo está se aproximando e a sociedade brasileira confirma sinais de que não tratará o futebol simplesmente com a habitual euforia. O “país do futebol”, cansado com o modo obsoleto de se fazer política, está emoldurando o mundial com a exigência de se promover mudanças. Não bastará, como de costume, fixar o olhar na bola. É imprescindível debater as questões sociais, investindo em transformações profundas. A euforia própria do futebol, com sua alegria que bem vivida congraça e inspira união de corações, precisa receber marcas incidentes. Trata-se de adicionar um componente cidadão que contribua para as reformas que o Brasil, especialmente o pobre, espera e precisa. Desta vez, a tática usada desde o Império Romano de distrair o povo das questões sociais e políticas com o entretenimento não pode funcionar.

Com frequência acompanhamos as notícias na imprensa sobre os jogos da Copa que, por exigência de seu órgão superior, poderiam ser realizados em oito estádios. Por isso mesmo, ninguém consegue entender a razão dos investimentos na construção extremamente onerosa aos cofres públicos dos estádios que são considerados desnecessários para o evento. Se confirmada a notícia, trata-se de outro indício da incompetência governamental no planejamento da destinação dos recursos que precisam ser suficientes para atender não apenas o futebol, mas, sobretudo, as necessidades inegociáveis e inadiáveis da saúde pública, educação, transporte, habitação, numa lista interminável de demandas e urgências.

O país do futebol tem nas mãos a oportunidade de não permitir que se manipule a euforia bonita e contagiante deste esporte. Uma tática obsoleta de “pão e circo” para desviar o olhar cidadão das questões que merecem críticas, respostas urgentes, encaminhamentos mais participativos e solidários. O discurso das ruas do ano passado, emoldurando a Copa das Confederações, efetivamente inaugurou esse novo tempo. São muitas as opiniões que apontam que os legados da Copa não serão como mostram as propagandas. De fato, o não cumprimento, ao longo de sete anos, a partir da escolha do Brasil para sediar o mundial, das promessas de investimento na infraestrutura, estradas, aeroportos, transporte urbano, com especial atenção para as conturbações das grandes regiões metropolitanas, um caos na vida do povo, é um legado negativo, que mostra a incompetência e a morosidade dos que estão gerindo a máquina pública.

Ser homossexual é um sofrimento, não uma escolha nem um pecado em si



Blogueiro e participante do universo ativista LGBT, começou-se a falar dele em 2011, quando Phillipe Ariño revelou que havia mudado de vida. Em 2013, ele guiou, em primeira linha, a batalha contra a legalização do "casamento para todos" francês; é autor do livro "L'homosexualité en vérité", que na França vendeu mais de 10 mil cópias.
 
Foi ele quem aconselhou Frigide Barjot, ex-porta-voz da "Manif pour tous", que não falasse de "heterossexualidade", porque "assim se perde não só a batalha, mas também a guerra".
 
Entrevistado por Tempi.it, Ariño explica que, "para salvar o ser humano, é preciso ir à origem do problema. É isso que tentamos fazer nas ruas com os veilleurs" (os "veladores").
 
Conte-nos sua história. Como você cresceu?
 
Eu tinha uma péssima relação com o meu pai e, na adolescência, eu não conseguia fazer amizades masculinas. Depois entendi e reconheci que minhas tendências homossexuais eram sintoma de uma "ferida": só dessa maneira meu sofrimento começou a diminuir.
 
Ser homossexual é um sofrimento; não é uma escolha, um pecado ou algo inócuo. Conheço mais de 90 pessoas com pulsões homossexuais que foram estupradas. Agora, o mundo LGBT me odeia porque conto isso, mas eu repito a eles também: a homossexualidade é uma ferida que não se alivia fazendo sexo. Se você não admitir isso, nunca terá paz.
 
Quando sua forma de entender a homossexualidade mudou?
 
Em 2011, descobri a beleza da continência. Eu havia começado a reconhecer que alguma coisa não estava bem e voltei à Igreja. Durante uma conferência, falei da minha situação e percebi que me ajudava. E não só isso: explicando o meu drama, consegui ajudar muitas pessoas, incluindo homens e mulheres casados.
 
Foi difícil?
 
EU encontrei um caminho, mas há muitos. Outros também conseguem superar estas pulsões; eu descobri que, reconhecendo a minha ferida e oferecendo-a a Cristo e à Igreja, minha condição dolorosa se transforma em uma festa. Ao não praticar a homossexualidade, não estou dizendo "não" às minhas pulsões, mas "sim" a Deus: é um sacrifício para ter o melhor, o máximo, algo que antes eu não tinha. Podemos pensar que o Senhor só nos ama se estivermos bem, mas acontece o contrário: Ele ajuda quem precisa dele e, se você lhe oferece os seus limites, Ele faz grandes coisas.

Por que as relações homossexuais não o faziam feliz?
 
Ao me relacionar com outros homens ou olhar para eles de maneira possessiva, eu sentia satisfação no momento. Mas estava sozinho e nunca me sentia completo. É então que caímos na ilusão de achar que podemos viver a sexualidade como os outros, mas, na verdade, a sexualidade só pode ser vivida na diferença sexual.
 
O que mudou concretamente na sua vida?
 
Antes, eu me sentia sempre inferior aos homens, porque a homossexualidade é invejosa. Agora, após descobrir que Deus me ama e que sou seu filho, querido e amado, não me sinto inferior a nenhum homem. Assim, depois de muitos anos, descobri a beleza da amizade masculina, que eu não trocaria pelas relações do passado – quando eu fingia estar me realizando.
 
Pessoas como você, que abandonam seu passado, não são muito queridas pela comunidade LGBT. Como você se relaciona com o universo que frequentava?
 
Eles me colocaram na lista negra. Ficam me ameaçando e me etiquetam de homofóbico, mas eu não teria sobrevivido junto deles: é um mundo de mentiras, que exteriormente se mostra alegre, mas dentro está cheio de raiva e tristeza. A maioria dos atos homofóbicos e dos insultos contra as pessoas com tendências como as minhas provêm de pessoas que têm feridas como as minhas, que gritam e vociferam porque são frágeis.

Os ativistas podem aplaudir quando você fala, mas você só é visto em sua sexualidade, como se fosse um animal ou um indivíduo de série B que precisa ter direitos especiais. É por isso que eu digo que somos os piores inimigos de nós mesmos. Na Igreja, no entanto, encontrei pela primeira vez alguém que me acolheu como pessoa, levando em consideração tudo o que o Philippe é. 

Para onde vai a alma de um suicida?


Olá, padre, sempre tive esta dúvida porque várias vezes fui tentado ao suicídio por razões que não convém aqui explicar. De certo, para mim a vida não é bela, não consigo colher nada de positivo, mas não me mato, fique tranquilo, porque sempre me faltou coragem para as coisas mais banais, imagina para um suicídio. Mas teologicamente sempre me perguntei que fim terão as almas que se suicidam. Sei que é um debate teológico muito controverso, até alguns tempos atrás nem mesmo o funeral católico se fazia aos suicidas, agora a Igreja revisou algumas posições. Enfim, que fim têm essas almas? Uma pessoa que talvez em um ato de extrema fraqueza não consegue mais ir adiante, deve ser condenada a sofrer na eternidade? Obrigado pela resposta, um abraço.

Resposta do sacerdote

Caro,

Segundo a doutrina da Igreja a respeito do suicídio, encontramos no Catecismo da Igreja:

1. "Cada qual é responsável perante Deus pela vida que Ele lhe deu, Deus é o senhor soberano da vida; devemos recebê-la com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Nós somos administradores e não proprietários da vida que Deus nos confiou; não podemos dispor dela” (CIC §2280).

2. “O suicídio contraria a inclinação natural do ser humano para conservar e perpetuar a sua vida. É gravemente contrário ao justo amor de si mesmo. Ofende igualmente o amor do próximo, porque quebra injustamente os laços de solidariedade com as sociedades familiar, nacional e humana, em relação às quais temos obrigações a cumprir. O suicídio é contrário ao amor do Deus vivo.” (CIC §2281).

3. “Se for cometido com a intenção de servir de exemplo, sobretudo para os jovens, o suicídio assume ainda a gravidade do escândalo. A cooperação voluntária no suicídio é contrária à lei moral. Perturbações psíquicas graves, a angústia ou o temor grave duma provação, dum sofrimento, da tortura, são circunstâncias que podem diminuir a responsabilidade do suicida.” (CIC §2282).

4. “Não se deve desesperar da salvação eterna das pessoas que se suicidaram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece, oferecer-lhes a ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida.” (CIC §2283). 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Papa fala sobre celibato, abusos e outros temas


No avião que o trouxe de volta ao Vaticano, ontem [26], o Papa Francisco conversou durante quase uma hora com os jornalistas que o acompanharam na Terra Santa. 

Abusos contra menores

“Neste momento, há três bispos sob investigação e um deles, já condenado, tem a pena em estudo. Não há privilégios neste tema dos menores. Na Argentina, chamamos os privilegiados de ‘filhos de papai’. Pois bem, sobre este tema não haverá filhos de papai. É um problema muito grave. Um sacerdote que comete um abuso, trai o corpo do Senhor. O padre deve levar o menino ou a menina à santidade. E o menor confia nele. E ao invés de levá-lo à santidade, abusa. É gravíssimo. É como fazer uma missa negra! Ao invés de levá-lo à santidade, o leva a uma problema que terá por toda a vida. Na próxima semana, no dia 6 ou 7 de julho haverá uma missa com algumas pessoas abusadas, na Santa Marta, e depois haverá uma reunião, eu com eles. Sobre isto se deve prosseguir com tolerância zero.”


Celibato dos padres


“Há padres católicos casados, nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida, que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, há sempre uma porta aberta.”

Eventual renúncia

“Eu farei o que o Senhor me dirá de fazer. Rezar, buscar a vontade de Deus. Bento XVI não tinha mais forças e, honestamente, é um homem de fé, humilde como é, tomou esta decisão. Setenta anos atrás os bispos eméritos não existiam. O que acontecerá com os Papas eméritos? Devemos olhar para Bento XVI como uma instituição, abriu uma porta, a dos Papas eméritos. A porta está aberta, se haverá outros ou não, somente Deus sabe. Eu creio que um Bispo de Roma, ao sentir que lhe faltam forças, deva fazer as mesmas perguntas que o Papa Bento fez.”

Ortodoxos


“Com Bartolomeu falamos de unidade, que se faz em caminho, jamais poderemos fazer a unidade num congresso de Teologia. Ele confirmou-me que Atenágoras realmente disse a Paulo VI: ‘vamos colocar todos os teólogos numa ilha e nós prosseguiremos juntos’.


Devemos nos ajudar, por exemplo, com as igrejas, inclusive em Roma, onde muitos ortodoxos usam igrejas católicas. Falamos do concílio pan-ortodoxo, para que se faça algo sobre a data da Páscoa. É um pouco ridículo: ‘Quando ressuscita o seu Cristo? O meu na semana que vem. O meu, ao invés, ressuscitou na semana passada’. Com Bartolomeu falamos como irmãos, nos queremos bem, contamos as dificuldades do nosso governo. Falamos bastante da ecologia, de fazermos juntos um trabalho conjunto sobre este problema.”

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Mensagem do Papa à Organização Internacional do Trabalho


Mensagem do Papa Francisco ao Diretor-Geral 
da Organização Internacional do Trabalho, 
por ocasião da 103ª Sessão em Genebra, Suíça
Quarta-feira, 28 de maio de 2014


Ao Senhor Guy Ryder
Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

No início da criação, Deus criou o homem como guardião de sua obra, encarregando-o de cultivá-la e protege-la. O trabalho humano é parte da criação e continua a obra criadora de Deus. Esta verdade nos leva a considerar que o trabalho é um dom e um dever. O trabalho, portanto, não é apenas uma mercadoria, mas ele tem sua própria dignidade e valor. A Santa Sé manifesta o seu apreço a contribuição da OIT para a defesa da dignidade do trabalho humano no contexto do desenvolvimento social e econômico por meio da discussão e cooperação entre governos, trabalhadores e empregadores. Estes esforços estão a serviço do bem comum da família humana e promovem a dignidade dos trabalhadores em todos as partes.

Esta Conferência se reúne em um momento crucial na história econômica e social, que apresenta  desafios para o mundo todo. O desemprego está se expandindo tragicamente as fronteiras da pobreza (cf. Discurso à Fundação Centesimus Annus Pro Pontífice, 25 de maio de 2013). Isto é particularmente desanimador para os jovens desempregados, que podem  facilmente sentirem-se desmoralizados, perdendo a consciência do seu valor e sentirem-se alienados da sociedade. Esforçando-nos para aumentar as oportunidades de emprego, afirmamos a convicção de que “no trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano expressa e reforça a dignidade de suas vida” (Evangelii gaudium, 192).

Na catequese, Papa recorda sua viagem à Terra Santa


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 28 de maio de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nos dias passados, como vocês sabem, fiz uma peregrinação à Terra Santa. Foi um grande dom para a Igreja e dou graças a Deus por isso. Ele me guiou naquela Terra abençoada, que viu a presença histórica de Jesus e onde se verificaram eventos fundamentais para o judaísmo, o cristianismo e o islã. Desejo renovar a minha cordial gratidão a Sua Beatitude o Patriarca Fouad Twal, aos bispos dos vários ritos, aos sacerdotes, aos franciscanos da Custódia da Terra Santa. Estes franciscanos são bravos! O seu trabalho é belíssimo, aquilo que eles fazem! O meu grato pensamento vai também às autoridades jordanianas, israelenses e palestinas, que me acolheram com tanta cortesia, diria também com amizade, bem como a todos aqueles que cooperaram para a realização da visita.

1.            O escopo principal desta peregrinação foi comemorar o 50º aniversário do histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras. Aquela foi a primeira vez em que um Sucessor de Pedro visitou a Terra Santa: Paulo VI inaugurava assim, durante o Concílio Vaticano II, as viagens fora da Itália dos Papas na época contemporânea. Aquele gesto profético do Bispo de Roma e do Patriarca de Constantinopla colocou uma pedra milenar no caminho sofrido, mas promissor, da unidade de todos os cristãos, que desde então deu passos relevantes. Por isso, o meu encontro com Sua Santidade Bartolomeu, amado irmão em Cristo, representou o momento culminante da visita. Juntos, rezamos no Santo Sepulcro de Jesus, e conosco estavam o Patriarca Grego-Ortodoxo de Jerusalém, Theophilos III e o Patriarca Armênio Apostólico Nourthan, além de arcebispos e bispos de diversas igrejas e comunidades, autoridades civis e muitos fiéis. Naquele lugar onde ressoou o anúncio da Ressurreição, sentimos toda a amargura e o sofrimento das divisões que ainda existem entre os discípulos de Cristo; e realmente isso faz tanto mal, mal ao coração. Ainda estamos divididos; e naquele lugar onde ressoou justamente o anúncio da Ressurreição, onde Jesus nos deu a vida, ainda nós estamos um pouco divididos. Mas, sobretudo, naquela celebração repleta de recíproca fraternidade, de estima e de afeto, ouvimos forte a voz do Bom Pastor Ressuscitado que quer fazer de todas as suas ovelhas um único rebanho; sentimos o desejo de sanar as feridas ainda abertas e prosseguir com tenacidade o caminho rumo à plena comunhão. Uma vez mais, como fizeram os Papas precedentes, eu peço perdão por aquilo que fizemos para favorecer esta divisão, e peço ao Espírito Santo que nos ajude a curar as feridas que fizemos aos outros irmãos. Todos somos irmãos em Cristo e com o Patriarca Bartolomeu somos amigos, irmãos, e partilhamos a vontade de caminhar juntos, fazer tudo aquilo que hoje podemos fazer: rezar juntos, trabalhar juntos pelo rebanho de Deus, procurar a paz, proteger a criação, tantas coisas que temos em comum. E como irmãos, devemos seguir adiante.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Gruta da Natividade em Belém é atingida por incêndio acidental

A Gruta da Natividade é vista nesta terça-feira (27) após um incêndio. Lâmpada a óleo provocou fogo (Foto: Musa Al Shaer/AFP)

A gruta da Natividade de Belém, na Cisjordânia, ficou levemente danificada por um incêndio acidental ocorrido nesta terça-feira, indicou à AFP o governador de Belém.

Uma lâmpada a óleo provocou um incêndio por volta da 1h30 GMT (22h30 de Brasília) que queimou as cortinas nas paredes da gruta, o local onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu, indicou Abdel Fatah Hamayel.

Homilia do Papa Francisco em Missa no Cenáculo


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
HOMILIA
Santa Missa com os Ordinários da Terra Santa 
e com a comitiva papal no Cenáculo
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

Amados Irmãos!

Um grande dom nos concede o Senhor, ao reunir-nos aqui, no Cenáculo, para celebrar a Eucaristia. Enquanto vos saúdo com fraterna alegria, desejo dirigir um pensamento afetuoso aos patriarcas orientais católicos que participaram desses dias da minha peregrinação.

Aqui, onde Jesus comeu a Última Ceia com os Apóstolos; onde, ressuscitado, apareceu no meio deles; onde o Espírito Santo desceu poderosamente sobre Maria e os discípulos. Aqui nasceu a Igreja, e nasceu em saída. Daqui partiu, com o Pão repartido nas mãos, as chagas de Jesus nos olhos e o Espírito de amor no coração.

Jesus ressuscitado, enviado pelo Pai, no Cenáculo comunicou aos Apóstolos o seu próprio Espírito e, com esta força, enviou-os a renovar a face da terra (cf. Sal 104, 30).

Sair, partir, não quer dizer esquecer. A Igreja em saída guarda a memória daquilo que aconteceu aqui; o Espírito Paráclito recorda-lhe cada palavra, cada gesto, e revela o seu significado.

O Cenáculo recorda-nos o serviço, o lava-pés que Jesus realizou, como exemplo para os seus discípulos. Lavar os pés uns aos outros significa acolher-se, aceitar-se, amar-se, servir-se reciprocamente. Quer dizer servir o pobre, o doente, o marginalizado, aquele que me é antipático, aquele que me tira a paciência.

Reflexão no encontro com religiosos na igreja do Getsêmani


VIAGEM DO PAPA À TERRA SANTA
REFLEXÃO
Encontro com sacerdotes, religiosos, religiosas
e seminaristas na igreja do Getsêmani
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

«[Jesus] saiu então e foi (…) para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele» (Lc 22, 39).

Quando chega a hora marcada por Deus para salvar a humanidade da escravidão do pecado, Jesus retira-Se aqui, no Getsémani, ao pé do Monte das Oliveiras. Encontramo-nos neste lugar santo, santificado pela oração de Jesus, pela sua angústia, pelo seu suor de sangue; santificado sobretudo pelo seu «sim» à vontade amorosa do Pai. Quase sentimos temor de abeirar-nos dos sentimentos que Jesus experimentou naquela hora; entramos, em pontas de pés, naquele espaço interior, onde se decidiu o drama do mundo.

Naquela hora, Jesus sentiu a necessidade de rezar e ter perto d’Ele os seus discípulos, os seus amigos, que O tinham seguido e partilhado mais de perto a sua missão. Mas o seguimento aqui, no Getsémani, torna-se difícil e incerto; prevalecem a dúvida, o cansaço e o pavor. Na rápida sucessão dos eventos da paixão de Jesus, os discípulos assumirão diferentes atitudes perante o Mestre: de proximidade, de distanciamento, de incerteza.

Será bom para todos nós – bispos, sacerdotes, pessoas consagradas, seminaristas – perguntarmo-nos neste lugar: Quem sou eu perante o meu Senhor que sofre?

Sou daqueles que, convidados por Jesus a velar com Ele, adormecem e, em vez de rezar, procuram evadir-se fechando os olhos frente à realidade?

Reconheço-me naqueles que fugiram por medo, abandonando o Mestre na hora mais trágica da sua vida terrena?

Porventura há em mim a hipocrisia, a falsidade daquele que O vendeu por trinta moedas, que fora chamado amigo e no entanto traiu Jesus?

Reconheço-me naqueles que foram fracos e O renegaram, como Pedro? Pouco antes, ele prometera a Jesus segui-Lo até à morte (cf. Lc 22, 33); depois, encurralado e dominado pelo medo, jura que não O conhece.

Assemelho-me àqueles que já organizavam a sua vida sem Ele, como os dois discípulos de Emaús, insensatos e de coração lento para acreditar nas palavras dos profetas (cf. Lc 24, 25)?

Ou então, graças a Deus, encontro-me entre aqueles que foram fiéis até ao fim, como a Virgem Maria e o apóstolo João? No Gólgota, quando tudo se torna escuro e toda a esperança parece extinta, somente o amor é mais forte que a morte. O amor de Mãe e do discípulo predilecto impele-os a permanecerem ao pé da cruz, para compartilhar até ao fundo o sofrimento de Jesus.

Discurso do Papa aos grãos-rabinos de Israel


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
Visita aos dois grãos-rabinos de Israel
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

Prezados Grã-Rabinos de Israel!

Sinto-me particularmente feliz por poder encontrar-me convosco hoje: estou-vos agradecido pela recepção calorosa e pelas amáveis palavras de boas-vindas que me dirigistes.

Como sabeis, desde o tempo em que era Arcebispo de Buenos Aires, pude contar com a amizade de muitos irmãos judeus. Junto com eles, organizámos frutuosas iniciativas de encontro e diálogo e, com eles, vivi também significativos momentos de partilha no plano espiritual. Nos primeiros meses de pontificado, pude receber várias organizações e representantes do judaísmo mundial. Como já sucedia com os meus antecessores, são numerosos estes pedidos de encontro, vindo somar-se às muitas iniciativas que têm lugar a nível nacional ou local. Tudo isso atesta o desejo recíproco de nos conhecermos melhor, de nos ouvirmos, de construirmos vínculos de verdadeira fraternidade.

Este caminho de amizade constitui um dos frutos do Concílio Vaticano II, nomeadamente da Declaração Nostra aetate, que teve tanto peso e cujo cinquentenário recordaremos no próximo ano. Na realidade, estou convencido de que o sucedido durante as últimas décadas nas relações entre judeus e católicos tenha sido um verdadeiro dom de Deus, uma das maravilhas por Ele realizadas, pela qual somos chamados a bendizer o seu nome: «Louvai o Senhor dos senhores, / porque o seu amor é eterno! / Só Ele faz grandes maravilhas, / porque o seu amor é eterno!» (Sal 136, 3-4).

Mas é um dom de Deus que não poderia manifestar-se sem o empenho de muitíssimas pessoas corajosas e generosas, tanto judias como cristãs. Em particular, desejo mencionar aqui a importância assumida pelo diálogo entre o Grã-Rabinato de Israel e a Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo. Diálogo este, que, inspirado pela visita do Papa São João Paulo II à Terra Santa, teve início em 2002, encontrando-se já no décimo segundo ano de vida. Apraz-me pensar, a respeito do Bar Mitzvah da tradição judaica, que o mesmo já esteja próximo da idade adulta: tenho confiança que possa continuar e tenha um futuro brilhante pela frente.

Não se trata apenas de estabelecer, num plano humano, relações de respeito mútuo: somos chamados, como cristãos e como judeus, a interrogarmo-nos em profundidade sobre o significado espiritual do vínculo que nos une. É um vínculo que vem do Alto, ultrapassa a nossa vontade e permanece íntegro, não obstante todas as dificuldades de relacionamento vividas, infelizmente, na história.

Discurso do Papa na visita ao presidente de Israel


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
Visita de cortesia ao Presidente do Estado de Israel 
no Palácio Presidencial em Jerusalém
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

Senhor Presidente,

Excelências,

Senhoras e Senhores!

Estou-lhe grato, Senhor Presidente, pela recepção que me reservou e pelas suas amáveis expressões de boas-vindas e sinto-me feliz por poder encontrá-lo de novo aqui em Jerusalém, cidade que guarda os Lugares Santos caros às três grandes religiões que adoram o Deus que chamou Abraão. Os Lugares Santos não são museus nem monumentos para turistas, mas lugares onde as comunidades dos crentes vivem a sua fé, a sua cultura, as suas iniciativas de caridade. Por isso, devem ser salvaguardados perpetuamente na sua sacralidade, protegendo assim não só o legado do passado, mas também as pessoas que os frequentam hoje e hão-de frequentá-los no futuro. Que Jerusalém seja verdadeiramente a Cidade da paz! Que resplandeçam plenamente a sua identidade e o seu carácter sagrado, o seu valor religioso e cultural universal, como tesouro para toda a humanidade! Como é belo quando os peregrinos e os residentes podem aceder livremente aos Lugares Santos e participar nas celebrações!

O Senhor Presidente é conhecido como homem de paz e artífice de paz. Exprimo-lhe o meu reconhecimento e a minha admiração por esta sua posição. A construção da paz exige, antes de mais nada, o respeito pela liberdade e a dignidade de cada pessoa humana, que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam igualmente ser criada por Deus e destinada à vida eterna. A partir deste ponto firme que temos em comum, é possível prosseguir o compromisso por uma solução pacífica das controvérsias e conflitos. A este propósito, renovo os meus votos de que se evitem, por parte de todos, iniciativas e acções que contradizem a declarada vontade de chegar a um verdadeiro acordo e de que não nos cansemos de buscar a paz com determinação e coerência.

Há que rejeitar, firmemente, tudo o que se opõe à prossecução da paz e duma convivência respeitosa entre judeus, cristãos e muçulmanos: o recurso à violência e ao terrorismo, qualquer género de discriminação por motivos raciais ou religiosos, a pretensão de impor o próprio ponto de vista em detrimento dos direitos alheios, o anti-semitismo em todas as suas formas possíveis, bem como a violência ou as manifestações de intolerância contra pessoas ou lugares de culto judeus, cristãos e muçulmanos.

Discurso do Papa na visita ao memorial do Holocausto


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
VISITA AO MEMORIAL DE YAD VASHEM 
– MEMORIAL DO HOLOCAUSTO -
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

«Adão, onde estás?» (cf. Gen 3, 9).

Onde estás, ó homem? Onde foste parar?

Neste lugar, memorial do Shoah, ouvimos ressoar esta pergunta de Deus: «Adão, onde estás?».

Nesta pergunta, há toda a dor do Pai que perdeu o filho.

O Pai conhecia o risco da liberdade; sabia que o filho teria podido perder-se… mas talvez nem mesmo o Pai podia imaginar uma tal queda, um tal abismo!

Aquele grito «onde estás?» ressoa aqui, perante a tragédia incomensurável do Holocausto, como uma voz que se perde num abismo sem fundo…

Homem, quem és? Já não te reconheço.

Quem és, ó homem? Quem te tornaste?

De que horrores foste capaz?

Que foi que te fez cair tão baixo?

Não foi o pó da terra, da qual foste tirado. O pó da terra é coisa boa, obra das minhas mãos.

Não foi o sopro de vida que insuflei nas tuas narinas. Aquele sopro vem de Mim, é algo muito bom (cf. Gen 2, 7).

Não, este abismo não pode ser somente obra tua, das tuas mãos, do teu coração… Quem te corrompeu? Quem te desfigurou?

Quem te contagiou a presunção de te apoderares do bem e do mal?

Quem te convenceu que eras deus? Não só torturaste e assassinaste os teus irmãos, mas ofereceste-los em sacrifício a ti mesmo, porque te erigiste em deus.

Discurso do Papa na visita ao Grão-Mufti de Jerusalém


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
VISITA AO GRÃO-MUFTI DE JERUSALÉM
ESPLANADA DAS MESQUITAS – ISRAEL
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2014

Excelência,

Queridos Amigos Muçulmanos!

Estou grato por poder encontrar-vos neste lugar sagrado. De coração vos agradeço pelo amável convite que me quisestes fazer e, de modo particular, agradeço a Vossa Excelência e ao Presidente do Conselho Supremo Muçulmano.Seguindo os passos dos meus Antecessores e, em particular, a luminosa esteira da viagem de Paulo VI há cinquenta anos – a primeira viagem de um Papa à Terra Santa –, desejei ardentemente vir como peregrino visitar os lugares que viram a presença terrena de Jesus Cristo. Mas esta minha peregrinação não seria completa, se não contemplasse também o encontro com as pessoas e as comunidades que vivem nesta Terra e, por isso, sinto-me particularmente feliz por me encontrar convosco, Amigos Muçulmanos.

Neste momento, o meu pensamento volta-se para a figura de Abraão, que viveu como peregrino nestas terras. Embora cada qual a seu modo, muçulmanos, cristãos e judeus reconhecem em Abraão um pai na fé e um grande exemplo a imitar. Ele fez-se peregrino, deixando o seu povo e a própria casa, para empreender aquela aventura espiritual a que Deus o chamava.

Um peregrino é uma pessoa que se faz pobre, que se põe a caminho, propende para uma grande e suspirada meta, vive da esperança duma promessa recebida (cf. Heb 11, 8-19).

Esta foi a condição de Abraão, esta deveria ser também a nossa disposição espiritual. Não podemos jamais considerar-nos auto-suficientes, senhores da nossa vida; não podemos limitar-nos a ficar fechados, seguros nas nossas convicções. Diante do mistério de Deus, somos todos pobres, sentimos que devemos estar sempre prontos para sair de nós mesmos, dóceis à chamada que Deus nos dirige, abertos ao futuro que Ele quer construir para nós.