O Anticristo e a apostasia geral
Entretanto, irmãos,
vos suplicamos, pelo advento de Nosso Senhor Jesus Cristo, e de nossa união à
Ele. Que não abandoneis rapidamente vossos sentimentos, nem os assusteis com
supostas revelações, com certos discursos, ou com cartas que se suponham
enviadas por nós, como se o dia do Senhor estivesse muito próximo. Não
deixai-vos seduzir por nada e de nenhum modo, porque não virá este dia sem que
primeiro haja acontecido a apostasia geral dos fiéis, e aparecido o
homem do pecado, o filho da perdição, o qual se oporá à Deus e se levantará
contra tudo o que se diz Deus, ou se adora, até chegar a por seu assento no
templo de Deus, dando-se a entender que é Deus. Não vos recordais que, quando
estava entre vós, vos dizia estas coisas?- 2 Tessalonicenses 2,1-5
Diz São Paulo no geral: “que
nada os engane de nenhum modo” (Lc 21; 1Co 15). A razão pela qual o
Apóstolo tira do meio estas “pedras de tropeço”, é porque o prelado por
nenhum motivo há de querer que valendo-se de mentiras se consigam alguns bens.
“A mais disso, somos convencidos de testemunhos falsos” (1Co 15,15).
Assim mesmo porque a coisa crida era perigosa: que se aproximava a chegada do
Senhor.
Primeiro, porque se
daria ocasião a maior engano, já que haveriam alguns, depois de mortos os
Apóstolos, que diriam serem eles o Cristo (Lc 21).
Por isso o Apóstolo não quis que houvesse lugar a dúvidas. Também porque o
demônio pretende com frequência fazer-se passar por Cristo, como consta na Vida
de São Martinho; e não quis que os Tessalonicenses passassem pelo mesmo.
Santo Agostinho põe outra razão: porque correria perigo a fé; pois algum diria:
tardará em vir o Senhor, e então me prepararei para recebê-lo.
Outro: logo virá, agora vou-me preparar. Outro, enfim: não sei; e este está
mais no justo, porque concorda com o que diz Cristo.
Mas o que vai mais errado é o que diz: logo, porque, passado o fim da pregação,
os homens entrariam em desespero e creriam que fosse falso o que estava
escrito.
Estabelece logo a
verdade, ao dizer: “porque não virá este dia sem que primeiro
haja acontecido a apostasia”; e mostra primeiro o que acontecerá à vinda
Anticristo, que são duas coisas: uma anterior à sua vinda; outra, a sua mesma
vinda.
Primeiro está a apostasia, que a Glosa explica de muitas maneiras, e primeiro da fé, que, segundo estava anunciado (Mt 24), todo o mundo receberia.
Este é, pois o sinal
precursor, que – segundo Santo Agostinho – ainda não se cumpre; depois
delehaverá muitos apóstatas (1Tm 4) “e
pela inundação dos vícios se resfriará a caridade de muitos” (Mt 24,12).
Ou entenda-se a apostasia, ou separação, do
Império Romano ao que todo o mundo estava submetido.
Segundo Santo
Agostinho, figura sua era a figura de Daniel, em cujo capítulo dois se nomeiam
quatro reinos, os quais terminariam no acontecimento da vinda de Cristo; e que
isto era um sinal a propósito, porque a firmeza e estabilidade do Império
Romano estava ordenada a que, debaixo de sua sombra e senhorio se ensinasse por
todo o mundo a fé cristã.
Mas como pode ser isto, sendo já passados muitos séculos desde que os gentios
se apartaram do Império Romano e, isso não obstante, não havia vindo ainda o
Anticristo?
Digamos que o Império Romano ainda segue em pé, mas mudada sua condição de
temporal em espiritual, como disse o Papa São Leão em um sermão sobre os
Apóstolos.
Por conseguinte, a separação do Império
Romano há de
entender-se, não só na ordem temporal, senão também na espiritual, e, a saber,
da fé católica da Igreja Romana.
E isto é um sinal
muito a propósito, porque, assim como
Cristo veio quando o Império Romano assenhoreava sobre todas as nações, assim
pelo contrário o sinal do Anticristo é a separação dele, ou apostasia.
São Tomás de Aquino
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O texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de um comentário da
Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses feito pelo Doutor dos Santos e o
mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é, de Santo Tomás de Aquino. A tradução
para a língua portuguesa foi feita por Rodrigo Santana através de um texto
editado em castelhano disponível no site da Congregação para o Clero
(http://www.clerus.org) e vertido do latim de Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici super Secundam Epístolam
Sancti Pauli Apostoli ad Thessalonicenses expositio publicado por Petri
Marietti em 1896. A versão da epístola comentada por Santo Tomás é a da Vulgata
de São Jerônimo. Essa também foi a utilizada nesta tradução do comentário.
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Disponivel em: Aparição de La Salette
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