O Anticristo se sentará no trono do templo de Deus
Entretanto, irmãos,
vos suplicamos, pelo advento de Nosso Senhor Jesus Cristo, e de nossa união à
Ele. Que não abandoneis rapidamente vossos sentimentos, nem os assusteis com
supostas revelações, com certos discursos, ou com cartas que se suponham
enviadas por nós, como se o dia do Senhor estivesse muito próximo. Não
deixai-vos seduzir por nada e de nenhum modo, porque não virá este dia sem que primeiro haja
acontecido a apostasia geral dos fiéis, e aparecido o homem do
pecado, o filho da perdição, o qual se oporá à Deus e se levantará contra tudo o que
se diz Deus, ou se adora, até chegar a por seu assento no templo de
Deus, dando-se
a entender que é Deus. Não vos recordais que, quando estava entre vós, vos
dizia estas coisas?- 2 Tessalonicenses 2,1-5
Prediz em segundo lugar ao
Anticristo, quanto a sua culpa e pena, que toca implicitamente e em comum, e
seguidamente explica, e quanto ao seu poder.
Disse pois: primeiro virá a apostasia e
então se deixará ver.
E chama-se “o
homem do pecado, o filho da perdição”, segundo a Glosa, porque assim como
em Cristo abundou a plenitude da virtude, assim também no Anticristo a multidão
de todos os pecados; e assim como Cristo é melhor que todos os santos, assim o
Anticristo pior que todos os maus.
Por isto se chama o homem do pecado, porque ele todo, dos pés
a cabeça, será um puro pecado.
Mas isto não quer
dizer que não pudesse ser pior, porque o mal jamais corrompe totalmente o bem,
conquanto ao ato não poderá ser pior; contudo melhor que Cristo nenhum homem.
Disse-se “o filho da
perdição”, isto é, destinado à perdição final (Jó 21). O filho da perdição,
isto é, do diabo, não por natureza, senão pela
malícia acabada, que nele se acumulará.
E disse: “se fará
manifesto”; porque assim como todos os bens e virtudes dos santos, que
precederam à Cristo, foram figura de Cristo; da mesma maneira em todas as perseguições da Igreja os tiranos foram
como figura do Anticristo no que ele estava latente; e assim toda aquela
malícia, que estava escondida neles, se fará patente a seu tempo.
Ao dizer logo: “no
qual se oporá à Deus”, explica o que havia dito , e demonstra como
é o homem do pecado e como
é filho da perdição.
Assim mesmo prenuncia sua futura culpa, que descreve e demonstra e indica sua
causa, e diz que não anuncia nenhuma doutrina nova.
Da também um sinal dessa culpa, que é duplo, a saber, a oposição contra Deus e
o preferir-se a Cristo.
De onde diz: “que
faz oposição” a todos os espíritos bons (Jó 15; Is 3) e “se levantará
contra tudo o que se diz Deus”.
E diz-se Deus de
três maneiras:
a) por natureza. “Escuta, Israel, o Senhor teu Deus é um só Deus” (Deut.
6);
b) na opinião dos povos. “Todos os deuses dos Gentios são demônios” (Sl.
95).
c) por participação. “Eu disse: sois deuses” (Sl. 81). E a todos estes
prefere-se o Anticristo, “e se levantará soberbo e insolente contra todos os
deuses; e falará com arrogância contra o Deus dos Deuses” (Dan. 11,36).
Sinal de sua culpa é
o que diz: “até chegar a por seu
assento no templo de Deus”; pois a
soberba do Anticristo avantaja em muito a de todos os que lhe precederam.
Porque assim como se
lê de Caio César que quis em vida pusessem em todos os templos uma estátua sua
e lhe dessem culto; e do rei de Tiro se diz em Ezequiel 28: “eu sou Deus”;
assim é crível o faça o Anticristo chamando-se Deus e homem; e na prova disso
se sentará no templo.
Mas, em que templo?
Acaso não foi
destruído pelos Romanos? Por isso dizem alguns que o Anticristo é da tribo de
Dan, que não se nomeia entre as outras doze (Ap 7).
E por isso também os
Judeus o receberam primeiro, e reedificaram o templo em Jerusalém, e assim se
cumprirá o de Daniel 9,27:
“E estará no templo a abominação da desolação” (Mt 24).
Mas alguns dizem que nunca será
reedificada Jerusalém, nem o templo, senão que durará a desolação até a consumação no
fim do mundo. Crença que admitem também alguns Judeus.
Por isso a explicação que dão de “no templo de Deus” a referem à Igreja,
porque muitos eclesiásticos o receberão.
Ou, segundo Santo Agostinho, se sentará no templo de Deus, isto é, exercerá seu
principado e senhorio, como se fosse ele mesmo com os seus o templo de Deus,
como Cristo o é com os seus.
Mostra que nada novo
escreve, ao dizer: “não vos recordais que, quando estava todavia entre vós,
vos dizia estas coisas?”; como se dissera: já antes, estando convosco,
havia vos dito (1Jo 2; 2Co 10).
São Tomás de Aquino
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O texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de um comentário da
Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses feito pelo Doutor dos Santos e o
mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é, de Santo Tomás de Aquino. A tradução
para a língua portuguesa foi feita por Rodrigo Santana através de um texto
editado em castelhano disponível no site da Congregação para o Clero
(http://www.clerus.org) e vertido do latim de Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici super Secundam Epístolam
Sancti Pauli Apostoli ad Thessalonicenses expositio publicado por Petri
Marietti em 1896. A versão da epístola comentada por Santo Tomás é a da Vulgata
de São Jerônimo. Essa também foi a utilizada nesta tradução do comentário.
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Disponivel em: Aparição de La Salette
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