domingo, 1 de maio de 2016

São José Operário

 
No dia 1º de maio, Dia de São José Operário, comemoramos o Dia do Trabalhador. São João Paulo II, em sua encíclica sobre o trabalho humano — Laborem exercens —, recordou com muita clareza que a Igreja é a favor da luta pela justiça. Com efeito, pregando o respeito pelos direitos humanos, a Igreja não pode deixar de se engajar, a seu modo, repudiando os métodos violentos, numa luta pela justiça. Assim faz a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB –, assim cada batizado é chamado a fazer. E é o que cada um é chamado a fazer em nome do Evangelho de Jesus Cristo. 

Para celebrar este dia, de modo próprio, a Igreja, pela ação do Romano Pontífice Pio XII, introduziu a Festa de São José Operário. A solenidade do Pai Adotivo de Jesus ocorre no dia 19 de março, quando ele é focalizado como Padroeiro da Igreja e dos Agonizantes (da Igreja, que é o Corpo de Cristo, de quem ele foi na Terra o Pai de Criação; e dos Agonizantes, porque São José teve na hora de sua morte a presença de Cristo e de Maria). O 1º de maio nos é apresentado o Homem do Trabalho, pobre, que ganhou o pão de cada dia com o suor de seu rosto. O exemplo de São José é contemplado pelo do próprio Jesus, que até os 30 anos de idade trabalhou também como operário. 

A Igreja ensina a dignidade do trabalho humano, qualquer que ele seja. Cristo dignificou o trabalho por seu exemplo. São Paulo nos fala, na Carta aos Tessalonicenses , que quem não trabalha não deve comer, enunciando assim uma obrigatoriedade do trabalho.

Sinteticamente podemos dizer que o pensar da Igreja acerca do trabalho consiste em que o trabalho dignifica o homem e deve aperfeiçoá-lo e deve ser uma contribuição para a sociedade. Quem trabalha se realiza, constrói a sociedade e presta um serviço aos irmãos e irmãs. Existem, porém, os que exploram seus semelhantes formando uma sociedade injusta e perversa. Além disso, existem as situações de “trabalho escravo”, ainda hoje, que tiram toda a beleza da dignidade humana. Portanto, ao lado de tanta beleza da importância do trabalho não podemos nos esquecer das situações injustas. E neste tempo, especificamente em nosso país, o grande número de desempregados, que não têm como sustentar sua família devido à situação de crise nacional. 

Toda sociedade e nosso Brasil dependerá de se integrar à dignidade do trabalho ou não na ‘civilização do trabalho’, como dizia Alceu Amoroso Lima. Afinal, o trabalho é a base da sociedade, pois o trabalho não é apenas uma condição de sobrevivência, mas uma forma necessária de realização da personalidade. 

O significado do primeiro de maio



 
O Primeiro de Maio é tratado, equivocadamente, como Dia do Trabalho. Visitemos sua história para entendermos que, na realidade, é Dia de Luta da Classe Trabalhadora, e procuremos celebrá-lo de acordo com seu verdadeiro significado, visando o bem comum e, acima de tudo, o Reino de Deus. 

Como surgiu esse dia? Imaginemos milhões de pessoas trabalhando das 6 da manhã às 10 da noite, ou seja, 16 horas por dia, seis dias por semana, recebendo salários miseráveis, morando em condições extremamente precárias, estando frequentemente doentes e não tendo nenhum direito trabalhista garantido por lei. Assim era a condição dos trabalhadores, entre os quais milhões de crianças e mulheres, há pouco mais de 100 anos, no mundo todo.

Os trabalhadores de então se organizaram, criaram sindicatos e começaram a lutar por uma jornada diária de 8 horas de trabalho. Passaram a fazer manifestações para conseguirem esse e outros direitos. Foi assim que na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, no dia primeiro de maio de 1886, milhares de trabalhadores em greve, saíram às ruas, reivindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas.

Eles foram fortemente reprimidos. Muitos foram mortos e alguns foram condenados à prisão perpétua. Quatro deles foram enforcados. Por esse fato, três anos mais tarde, um grande encontro mundial de trabalhadores realizado na França, declarou o dia primeiro de maio como um dia de luta, no qual os trabalhadores e trabalhadoras saem às ruas para exigir seus direitos.

Desde então, as lutas da classe trabalhadora se espalharam pelo mundo inteiro. Hoje, temos muitos direitos garantidos, graças a essas lutas. Há outros ainda por conquistar. No entanto, estamos correndo riscos de perder muitos direitos já adquiridos. 

Mensagem da CNBB aos trabalhadores e trabalhadoras 2016



MENSAGEM DA CNBB AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS

“Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho” (Jo 5,17).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, por ocasião do dia dos trabalhadores, manifesta sua solidariedade aos homens e mulheres, do campo e da cidade, particularmente aos jovens que, pelo trabalho, constroem as suas próprias vidas, suas famílias e a nação brasileira. Ao mesmo tempo, presta homenagem às pessoas que doaram e doam sua vida, lutando pelo direito dos trabalhadores e trabalhadoras.

A dimensão do trabalho vai além da produção de riqueza, pois é “mediante o trabalho que o homem deve procurar o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos. E com a palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada pelo mesmo homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas características e das circunstâncias, quer dizer, toda a atividade humana que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de atividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto pela própria natureza, em virtude da sua humanidade.” (João Paulo II, Laborem Exercens).

As comemorações desse 1º de maio acontecem em meio a uma profunda crise ética, política, econômica e institucional. Os trabalhadores e as trabalhadoras são afetados e ameaçados pelo desemprego, por precárias condições de trabalho, pela tentativa da flexibilização das leis trabalhistas e pela regulamentação da terceirização. Com isso, restringe-se o acesso aos direitos, expõe-se a baixos salários, a jornadas exaustivas, a riscos de acidentes e a alta rotatividade no mercado. 

A atividade humana no mundo


Por seu trabalho e inteligência, o homem procurou sempre mais desenvolver a sua vida. Hoje em dia, porém, ajudado antes de tudo pela ciência e pela técnica, ele estendeu continuamente o seu domínio sobre quase toda a natureza; e, principalmente, graças aos meios de intercâmbio de toda espécie entre as nações, a família humana pouco a pouco se reconhece e se constitui como uma só comunidade no mundo inteiro. Por isso, muitos bens que o homem esperava antigamente obter sobretudo de forças superiores, hoje os consegue por seus próprios meios.

Diante deste esforço imenso, que já penetra a humanidade inteira, surgem muitas perguntas entre os homens. Qual é o sentido e o valor desta atividade? Como todas estas coisas devem ser usadas? Qual a finalidade desses esforços, sejam eles individuais ou coletivos?

A Igreja, guardiã do depósito da palavra de Deus, que é a fonte dos seus princípios de ordem religiosa e moral, embora ainda não tenha uma resposta imediata para todos os problemas, deseja no entanto unir a luz da revelação à competência de todos, para iluminar o caminho no qual a humanidade entrou recentemente.

Para os fiéis é pacífico que a atividade humana individual e coletiva, aquele imenso esforço com que os homens, no decorrer dos séculos, tentaram melhorar as suas condições de vida, considerado em si mesmo, corresponde ao plano de Deus.

Com efeito, o homem, criado à imagem de Deus, recebeu a missão de dominar a terra com tudo o que ela contém e de governar o mundo na justiça e na santidade, isto é, reconhecendo a Deus como Criador de todas as coisas, orientando para ele o seu ser e todo o universo; assim, com todas as coisas submetidas ao homem, o nome de Deus seja
glorificado na terra inteira.

Isto diz respeito também aos trabalhos cotidianos. Pois os homens e as mulheres que, ao procurar o sustento para si e suas famílias, exercem suas atividades de maneira a bem servir à sociedade, têm razão para ver no seu trabalho um prolongamento da obra do Criador, um serviço a seus irmãos e uma contribuição pessoal para a realização do plano de Deus na história.

Portanto, bem longe de pensar que as obras produzidas pelo talento e esforço dos homens se opõem ao poder de Deus, ou considerar a criatura racional como rival do Criador, os cristãos, pelo contrário, estão convencidos de que as vitórias do gênero humano são um sinal da grandeza de Deus e fruto de seus inefáveis desígnios. Quanto mais, porém, cresce o poder dos homens, tanto mais aumenta a sua responsabilidade, seja pessoal seja comunitária.

Donde se vê que a mensagem cristã não afasta os homens da tarefa de construir o mundo nem os leva a negligenciar o bem de seus semelhantes; mas, antes, os impele a sentir esta obrigação como um verdadeiro dever.


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Da Constituição pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo contemporâneo, do Concílio Vaticano II (N.33-34)        (Séc.XX)

Mãe é uma só!


“Mãe é uma só que a gente tem no mundo”. Frase batida, não? Mas, ainda assim, profunda. Ela pertence a uma conhecida canção, capaz de tirar lágrimas sinceras das mães homenageadas. Também, pudera, geralmente elas desfrutam de paparicos e sinais de gratidão somente neste dia.

Conta-se que uma garotinha de 5 anos acordou cedo  e encontrou o pai fazendo o café da manhã. Então, logo perguntou: “Por que o senhor está fazendo café?”. “Porque hoje é o dia das mães” – respondeu o homem, todo carinhoso. Ele só não esperava a reação de surpresada menina: “Ah, então todos os outros dias são dias dos pais?”.

Maio, mês das mães, é propício para demonstrarmos mais carinho às nossas mães. Sabemos, porém, que dias especiais não redimem uma convivência difícil. É preciso que saibamos dar mais atenção e carinho a elas no dia-a-dia. Tudo isso unido à paciência, pois não vou ser ingênuo em dizer que todas as mães são o “máximo da perfeição”. Mas, afinal, quem nunca discutiu ou respondeu para sua mãe? Às vezes escapa, não é?

Conta um padre que um dia, visitando uma casa, presenciou um leve bate-boca entre uma mãe e sua filha de 25 anos. A mãe reclamava dos gastos da filha, do namoro com o qual não concordava, da roupa que usava, do som que escutava, etc... Já a filha reclamava que nada estava bom para a mãe, que ela só implicava, não lhe dava liberdade, e que a vida era dela (qualquer semelhança com alguém jovem não passa de mera coincidência). Em um dado momento, a mãe solta a frase fatídica (quase uma chantagem emocional): “Cuidado, filha, mãe é uma só, viu!”. E a resposta da filha veio direta e espontânea: “Graças a Deus! Imagine se fosse duas! Ninguém merece.” Confessa o padre que começou a rir da situação. Elas também riram e pararam a discussão boba. Depois ele ficou pensando se não seria mais fácil a mãe dizer: “Filha, eu a amo muito, estou preocupada com a sua vida”. Então daria alguns conselhos de mãe, a abraçaria  e falaria da necessidade de ter a filha por perto (às vezes essa é a parte em que o orgulho entra na conversa e não deixa o coração falar). Não teria sido mais fácil a filha responder: “Mãe, eu também amo você, quero ouvi-la e preciso ser ouvida e respeitada em algumas decisões”. E, com calma, admitisse que exagerava nos gastos, andava preocupada com o namoro, etc? Vale citar a carta aos Colossenses 3,20-21: “Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isto agrada ao Senhor. Pais, não irriteis vossos filhos, para que eles não desanimem”. 

São José Operário


A Igreja, providencialmente, nesta data civil marcada, muitas vezes, por conflitos e revoltas sociais, cristianizou esta festa, isso na presença de mais de 200 mil pessoas na Praça de São Pedro, as quais gritavam alegremente: “Viva Cristo trabalhador, vivam os trabalhadores, viva o Papa!” O Papa, em 1955, deu aos trabalhadores um protetor e modelo: São José, o operário de Nazaré.

O santíssimo São José, protetor da Igreja Universal, assumiu este compromisso de não deixar que nenhum trabalhador de fé – do campo, indústria, autônomo ou não, mulher ou homem – esqueça-se de que ao seu lado estão Jesus e Maria. A Igreja, nesta festa do trabalho, autorizada pelo Papa Pio XII, deu um lindo parecer sobre todo esforço humano que gera, dá a luz e faz crescer obras produzidas pelo homem: “Queremos reafirmar, em forma solene, a dignidade do trabalho a fim de que inspire na vida social as leis da equitativa repartição de direitos e deveres.”

São José, que na Bíblia é reconhecido como um homem justo, é quem revela com sua vida que o Deus que trabalha sem cessar na santificação de Suas obras, é o mais desejoso de trabalhos santificados: “Seja qual for o vosso trabalho, fazei-o de boa vontade, como para o Senhor, e não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a herança como recompensa… O Senhor é Cristo” (Col 3,23-24).

São José Operário, rogai por nós!


São José, você, com o seu humilde trabalho de carpinteiro, sustentou a vida de Jesus e de Maria. Você conhece os sofrimentos dos trabalhadores, porque passou isso ao lado de Jesus e de Maria. Não permita que os operários, oprimidos, se esqueçam que foram criados por Deus. Recorda a todos eles que nunca estão sós para trabalhar, mas que junto a eles estão Jesus e Maria para lhes enxugar o suor, proteger e diminuir seus problemas. Amém.

sábado, 30 de abril de 2016

Quem me ama guarda a minha palavra



 
No Evangelho do domingo passado, João falava do novo céu e da nova terra como morada de Deus. No de hoje - Jo 14, 23-29 – prossegue narrando que Jesus disse a seus discípulos: “Se alguém me ama, guarda a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós (Eu e o Pai) viremos e faremos nele a nossa morada”. De novo aparece a palavra “morada”, agora aplicada aos homens. As coisas, terra e céu, e as pessoas se tornam morada de Deus quando elas acolhem o amor e vivem segundo o novo mandamento do amor. Onde existe o amor divino e fraterno tudo se torna novo, tudo vira morada de Deus.  Jesus continua dizendo que o Pai, a seu pedido, enviará e deixará na pessoa que o ama o Espírito Santo, que recordará tudo o que Ele tem dito. Guardar as palavras de Jesus no coração é demonstrar amor a Ele e criar no seu interior as condições para receber a paz que o mundo não é capaz de dar. Por isso, Jesus afirma aos discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; embora não a dê como o faz o mundo”. A paz que Jesus dá vem do seu amor e produz uma alegria verdadeira, conforme suas palavras: “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração... Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai”. Três palavras se repetem sinalizando serem muito importantes, uma que já foi dita acima; são: morada, novo e amor. Dentre estas, a mais importante é o amor. O amor faz tudo ser novo, o mundo com todas as coisas, o homem todo e todos os homens, as estruturas sociais, a Igreja, a história, a vida, e, por conseguinte, transforma todas as coisas e todas as pessoas na morada de Deus. A proposta evangélica do mandamento novo é uma proposta de vida nova que se tece no amor. A vida nova em Cristo que recebemos desde o nosso batismo consiste em amar como Jesus amou. Deste modo, com estes destaques, estou focalizando a mensagem evangélica da Missa de hoje. 

Preciso continuar uma reflexão que venho fazendo a conta-gotas. Tenho dito que nós cristãos precisamos defender as nossas verdades da fé cristã, não por serem nossas, nem novas nem velhas, mas por serem verdades, que estão sendo esquecidas ou que pouco ou nada contam na vida de hoje. Acompanho aqueles que dizem que precisamos voltar ao Catecismo. Com isso é preciso, sim, combater o pensamento da pós-modernidade, tido como politicamente correto pela sociedade burguesa, consumista, hedonista, o qual se baseia na ideia de que não há mais verdades que devem ser aceitas nem por todos nem por inteiro, senão por aqueles que livremente a elas aderirem no todo ou na parte que melhor lhes aprouver, e que tudo parece ser provisório, descartável, líquido. Então, dever-se-á admitir a liberdade individual para cada pessoa redigir o seu código pessoal de verdades, crenças, valores, princípios, aceitando como exceção obedecer a algumas regras mínimas de conduta social que garantam uma conveniente convivência interpessoal pacífica, a fim de que cada um possa tirar o melhor proveito da vida, levar a maior vantagem possível na vida, alcançar no mais alto grau a satisfação dos seus interesses para o bem de sua vida e da dos seus. Essa filosofia moderna na aparência, mas velha na ambição, tem diversos nomes: relativismo, individualismo, materialismo, secularismo, liberalismo, e outros ismos. No fundo, é puro egoísmo, idolatria contra o primeiro mandamento, está na base do pecado original. Pessoas que pensam assim fazem parte dos estratos mais instruídos da sociedade. Mesmo os que não sejam muito instruídos, atraídos que são pela miragem das promessas, se deixam levar por eles e todos juntos se organizam em diferentes frentes de atuação nos setores estratégicos de influência da sociedade. Apresentam-se como progressistas, modernos, protagonistas de ideias e comportamentos avançados, os inspirados construtores de um mundo finalmente emancipado e livre, de uma sociedade nova pós-cristã e de uma vida autônoma e feliz.   

O aleluia pascal




Toda a nossa vida presente deve transcorrer no louvor de Deus, porque louvar a Deus será também a alegria eterna de nossa vida futura. Ora, ninguém pode tornar-se apto para a vida futura se, desde já, não se prepara para ela. Agora louvamos a Deus, mas também rogamos a Deus. Nosso louvor está cheio de alegrias, e nossa oração, de gemidos. Foi-nos prometido algo que ainda não possuímos; porém, por ser feliz quem o prometeu, alegramo-nos na esperança; mas, como ainda não estamos na posse da promessa, gememos de ansiedade. É bom perseverarmos no desejo, até que a promessa se realize; então acabará o gemido e permanecerá somente o louvor.

Assim podemos considerar duas fases da nossa existência: a primeira, que acontece agora em meio às tentações e dificuldades da vida presente; e a segunda, que virá depois na segurança e alegria eterna. Por isso, foram instituídas para nós duas celebrações: a do tempo antes da Páscoa e a do tempo depois da Páscoa.

O tempo antes da Páscoa representa as tribulações que passamos nesta vida. O que celebramos agora, depois da Páscoa, significa a felicidade que alcançamos na vida futura. Portanto, antes da Páscoa celebramos o que estamos vivendo; depois da Páscoa celebramos e significamos o que ainda não possuímos. Eis porque passamos o primeiro tempo em jejuns e orações; no segundo, porém, que estamos celebrando, deixando os jejuns, nos dedicamos ao louvor de Deus. É este o significado do Aleluia que cantamos.

Em Cristo, nossa cabeça, ambos os tempos foram figurados e manifestados. A paixão do Senhor mostra-nos as dificuldades da vida presente, em que é preciso trabalhar, sofrer e por fim morrer. A ressurreição e glorificação do Senhor nos revelam a vida que um dia nos será dada.

Agora, pois, irmãos, vos exortamos a louvar a Deus. É isto o que todos nós exprimimos mutuamente quando cantamos: Aleluia. Louvai o Senhor, dizemos nós uns aos outros. E assim todos põem em prática aquilo que se exortam mutuamente. Mas louvai-o com todas as vossas forças, isto é, louvai a Deus não só com a língua e a voz, mas também com a vossa consciência, vossa vida, vossas ações.

Na verdade, louvamos a Deus agora que nos encontramos reunidos na igreja. Mas logo ao voltarmos para casa, parece que deixamos de louvar a Deus. Não deixes de viver santamente e louvarás sempre a Deus. Deixas de louvá-lo quando te afastas da justiça e do que lhe agrada. Mas, se nunca te desviares do bom caminho, ainda que tua língua se cale, tua vida clamará; e o ouvido de Deus estará perto do teu coração. Porque assim como nossos ouvidos escutam nossas palavras, assim os ouvidos de Deus escutam nossos pensamentos.



Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo
(Ps 148,1-2:CCL 40,2165-2166)        (Séc.V)