VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO PANAMÁ POR OCASIÃO
DA 34ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(23-28 DE JANEIRO DE 2019)
ENCONTRO COM OS BISPOS DA AMÉRICA CENTRAL (SEDAC)
DISCURSO DO SANTO PADRE
Igreja de São Francisco de Assis (Panamá)
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
AO PANAMÁ POR OCASIÃO
DA 34ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(23-28 DE JANEIRO DE 2019)
ENCONTRO COM OS BISPOS DA AMÉRICA CENTRAL (SEDAC)
DISCURSO DO SANTO PADRE
Igreja de São Francisco de Assis (Panamá)
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
Amados irmãos!
Agradeço ao Arcebispo de São Salvador, D. José Luis Escobar Alas, as palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos os presentes, entre os quais tenho a alegria de ver um amigo das nossas traquinices juvenis. Sinto-me feliz por poder encontrar-vos e partilhar, de forma mais familiar e direta, os vossos anseios, projetos e sonhos de pastores a quem o Senhor confiou o cuidado do seu povo santo. Obrigado pela receção fraterna.
Encontrar-me convosco oferece-me também a oportunidade de poder abraçar e sentir-me mais próximo dos vossos povos, poder fazer meus os seus anseios e também os seus desânimos, mas sobretudo aquela fé corajosa que sabe animar a esperança e provocar a caridade. Obrigado por me permitirdes aproximar desta fé provada, mas simples do rosto pobre do vosso povo, que sabe que «Deus está presente, não dorme; está ativo, observa e ajuda» (São Óscar Romero, Homilia, 16/XII/1979).
Este encontro recorda-nos um acontecimento eclesial de grande relevância. Os pastores desta região foram os primeiros a criar na América um organismo de comunhão e participação que deu, e continua a dar, abundantes frutos. Refiro-me ao Secretariado Episcopal da América Central, o SEDAC: um espaço de comunhão, discernimento e empenho que nutre, revitaliza e enriquece as vossas Igrejas. Pastores que souberam progredir, dando um sinal que, longe de ser um elemento apenas programático, indicou como o futuro da América Central – e de qualquer outra região no mundo – passa necessariamente pela lucidez e capacidade que se possui para ampliar a visão, unir esforços num trabalho paciente e generoso de escuta, compreensão, dedicação e empenho, e poder assim discernir os novos horizontes para onde nos está a conduzir o Espírito (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 235).[1]
Nestes setenta e cinco anos passados desde a sua fundação, o SEDAC procurou partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e esperanças dos povos da América Central, cuja história se forjou entrelaçando-se com a história do vosso povo. Muitos homens e mulheres, sacerdotes, consagrados, consagradas e leigos ofereceram a vida até ao derramamento do próprio sangue, para manter viva a voz profética da Igreja contra a injustiça, o empobrecimento de tantas pessoas e o abuso do poder. Lembro-me, quando era jovem sacerdote, que o nome de alguns de vós era tido por suspeito, como se fosse uma palavra feia, mas a vossa constância indicou-nos a estrada. Obrigado! Recordais-nos que «quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 107). E fazê-lo, não como esmola, mas como vocação.
Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens. A sua vida e magistério são fonte de inspiração para as nossas Igrejas e particularmente para nós, bispos. Também o nome dele se considerava como uma palavra feia: suspeito, excomungado nas bisbilhotices privadas de muitos Bispos.
O lema que escolheu para o brasão episcopal, e campeia na lápide da sua sepultura, expressa claramente o seu princípio inspirador e a realidade da sua vida de pastor: «Sentir com a Igreja». Uma bússola que marcou a sua vida na fidelidade, mesmo nos momentos mais turbulentos.
Este é um legado que pode tornar-se testemunho ativo e vivificante para nós, chamados por nossa vez ao martírio pela entrega diária ao serviço dos nossos povos; e, sobre tal legado, gostaria de me basear nesta reflexão: «sentir com a Igreja» é a reflexão que desejo partilhar convosco, uma reflexão sobre a figura de Romero. Sei que, entre nós, há pessoas que o conheceram pessoalmente – como o cardeal Rosa Chávez… O cardeal Quarracino dizia quer era candidato ao Prémio Nobel para a fidelidade! – de modo que, se me equivocar em alguma observação, Eminência, pode-me corrigir. Não faz mal! Invocar a figura de Romero significa invocar a santidade e o caráter profético que vive no DNA das vossas Igrejas particulares.