O Papa Francisco descartou hoje qualquer possibilidade de mudança na posição da Igreja contra o aborto, afirmando que este "não é um assunto sujeito a supostas reformas ou «modernizações»". "Porque é uma questão que mexe com a coerência interna da nossa mensagem sobre o valor da pessoa humana, não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre esta questão", escreve, na sua primeira exortação apostólica, 'Evangelii Gaudium' (a alegria do Evangelho). Francisco assume a intenção de ser "completamente honesto", sobretudo com quem esperaria alterações neste campo, para declarar que "não é opção progressista pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana".
O Papa admite, no entanto, que a Igreja Católica tem de fazer mais para acompanhar "adequadamente" as mulheres que estão "em situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma solução rápida para as suas profundas angústias". Essa necessidade é sentida "particularmente quando a vida que cresce nelas surgiu como resultado duma violência ou num contexto de extrema pobreza". "Quem pode deixar de compreender estas situações de tamanho sofrimento?", questiona. Francisco refere-se à "predileção" da Igreja pelos seres mais frágeis, como as crianças por nascer, "os mais indefesos e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações para que ninguém o possa impedir". "Muitas vezes, para ridicularizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e no entanto esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano", assinala o Papa.
A exortação apostólica reforça, neste sentido, a convicção de que "um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento". O Papa deixa também apelos à defesa do meio ambiente, inspirando-se na figura de São Francisco de Assis, e convida os políticos a "privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade". Francisco retomou a reflexão de Bento XVI, no último discurso de Natal à Curia Romana, em dezembro de 2012, para afirmar que neste momento "existem sobretudo três campos de diálogo onde a Igreja deve estar presente, cumprindo um serviço a favor do pleno desenvolvimento do ser humano e procurando o bem comum". Esses campos são "o diálogo com os Estados, com a sociedade — que inclui o diálogo com as culturas e as ciências — e com os outros crentes que não fazem parte da Igreja Católica". O documento pontifício propõe "um pacto social e cultural" e sugere que o Estado tenha uma "profunda humildade social", no atual momento de crise. OC
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Disponível em: Central Católica
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