Malaquias, alguns séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, fala-nos do dia do Senhor como um grande julgamento em que o bem e o mal serão definitivamente separados. Esta profecia, repetida noutros lugares da Sagrada Escritura, foi interpretada muitas vezes como uma vinda espetacular do Messias sobre as nuvens do Céu, para reduzir ao silêncio os seus inimigos. Alguns dos primeiros cristãos viveram também nesta expectativa e tiraram dela as consequências práticas.
O Senhor, Sabedoria infinita, planeou as coisas de outro modo. Tal como a luz do sol, quando aparece, revela a verdade das coisas materiais, mostrando a beleza das coisas e denunciando os perigos, assim também Jesus Cristo – Luz sem ocaso – com a Sua vinda ao mundo, anunciando a Palavra do Pai que é ele mesmo, ensina-nos a distinguir o bem do mal, o vício da virtude.
Houve, com certeza, uma revelação primitiva aos nossos primeiros pais que foi sendo deturpada ao longo dos séculos, pelos pecados dos homens. Quando não vivemos segundo a doutrina do Evangelho, acabamos por justificar tudo: aberrações sexuais, aborto, eutanásia, etc. Inventamos falsos direitos que justifiquem os vícios.
Com a luz da Revelação que tem a palavra definitiva e última em Jesus Cristo, e que Ele confiou ao Magistério vivo da Igreja, dissipam-se as trevas do erro.
Este julgamento de que fala o profeta prepara a verdade total do fim do mundo pelo julgamento universal, antecipado no encontro de cada um de nós com a própria consciência no juízo particular, a seguir à morte.
O fogo, o queimar da palha, são figuras usadas pelo profeta, palavras simbólicas para nos explicar a caducidade das coisas. Quantas das nossas obras de cada dia resistem a um julgamento sério da parte de Deus? Que interesse pode ter para nós orientar toda a vida terrena para causar nos outros uma impressão favorável a nosso respeito?
Não estamos na situação do aluno que espera o exame à porta da aula, já sem livros nem apontamentos, para recordar aquilo sobre que vai ser examinado.
O Senhor quer encontrar-nos em pleno trabalho quando nos vier buscar inesperadamente. Quando se fala em trabalho, fazemos referência ao estado de alma que procura fazer em tudo a vontade de Deus.
Na vida espiritual, nunca podemos viver dos rendimentos, como se pudéssemos dizer: «já rezei muito e pratiquei muitas obras boas! Agora é tempo de parar com as orações e de me desinteressar da salvação dos outros».
Também não podemos sonhar com ir para o Céu «na boleia», à custa dos outros, só porque pertencemos a uma Paróquia ou a um Movimento; ou porque temos pessoas importantes na Igreja com as quais estamos bem relacionados; ou ainda porque temos um número razoável de Associações nas quais estamos inscritos.
A santidade é obra da Graça de Deus e do esforço de colaboração com esta Graça, por parte de cada um. A salvação – a santidade pessoal – tem de ser fruto do trabalho de cada um, de mãos dadas com Deus. S. Paulo repreende os cristãos de Tessalônica, porque achavam que já não valia a pena trabalhar. Era tempo de descanso, de aguardar tranquilamente, sem nada fazer, a vinda do Senhor.
Ao dizer quem não trabalha não tem direito a comer, S. Paulo quer ensinar que também aquele que não prepara a sua salvação eterna não merece gozar dos seus frutos.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen(RS)
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