quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sobre bruxas queimadas e neurônios tostados


Todo o mundo “sabe” que a Igreja Católica caçou e fez torresmo de milhares de mulheres na Idade Média, acusadas de bruxaria. Infelizmente, o que esse todo o mundo não sabe – porque a preguiça intelectual os impede de perseguir a verdade – é que tudo isso é calúnia, e que seus neurônios é que foram queimados há muito tempo pelas fogueiras imbecilizantes da TV e das escolas desse braziu varoniu.

A minoria feliz que tem acesso a dados expostos por historiadores de verdade sabe (agora sem aspas) que a caça às bruxas foi um fenômeno protestante, em nada relacionado com a Inquisição. É algo bem ao feitio dos crentes: sua típica obsessão pelo capeta gera mil superstições, medos e histeria. A Inquisição, muito ao contrário, salvou muitas pessoas de serem mortas pelos senhores feudais, que faziam “justiça” por sua própria conta.

Destacamos um trecho de um artigo sobre a Inquisição do renomado historiador americano Thomas F. Madden (tradução nossa):

“O simples fato é que a Inquisição medieval salvou milhares de incontáveis ​​inocentes (e até mesmo não tão inocentes) pessoas que de outra forma teria sido torradas por senhores seculares. (…)

“Durante o século 16, quando a caça às bruxas varreu a Europa, nas regiões onde as inquisições eram melhor desenvolvidas a histeria foi contida. Em Espanha e Itália, inquisidores treinados investigaram as acusações de ‘Sabbath das feiticeiras’ e torrefação de bebês, e concluíram que aquelas eram infundadas. Em outros lugares, especialmente na Alemanha, os tribunais seculares ou religiosos queimaram bruxas aos milhares. Nota: A Alemanha do século XVI era já quase totalmente protestante.” (1)


É verdade que muitas pessoas, principalmente viúvas e suas filhas, foram realmente assassinadas na Europa Central. Só que NÃO PELA INQUISIÇÃO, mas pelos populares e pelos governantes seculares, que tinham todo o interesse em tomar posse de terras e suseranias. A Inquisição era chamada em muitos casos para dar um fim às barbaridades. Como ela fazia os relatos, muitos desses assassinatos caíram na conta dos inquisidores.

Não sou um historiador somente pelo diploma, mas pela análise que fiz do outro lado da moeda, pois estive ao lado dessas pestes – romancistas desonestos, e não historiadores – por mais tempo da minha vida do que gosto de lembrar. Mas tamanhas eram as inconsistências e as respostas apresentadas sem critério, baseadas não em fontes primárias, mas na simples opinião dessa gente, que, pela Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, pude ver que a verdade estava distante. O fato é que os protestantes mataram em 50 anos mais do que católicos em 500 anos em algumas partes da Europa. Isso são dados estatísticos baseados em processos analisados pela professora Anne Llewellyn Barstow (2), feminista radical, nada simpática ao cristianismo.

Isso sem contar, na Idade Moderna, a caça às bruxas promovida pelos puritanos ingleses que emigraram para a América do Norte. O episódio mais conhecido de toda esta desgraça é o do julgamento as bruxas de Salem, quando cerca de 30 pessoas – a maioria mulheres – foram mortas em um ano, acusadas de bruxaria.

Outro reconhecido historiador, Francisco Bethencourt, afirma:

“Confirmamos a idéia defendida neste livro: que a magia era considerada um ‘delito’ menor pela Inquisição e pelas autoridades eclesiásticas, nunca tendo sido submetida a uma análise séria, tanto no nível quantitativo (291 processos em 11 743, ou seja, 2,5%) como no nível qualitativo (pouquíssimos casos de tortura, um caso de excomunhão, ou seja, de execução).” (3)

É bom notar que estes dados servem somente para esclarecer aqueles que possuem um mínimo de honestidade intelectual. Já aqueles que não se esforçam para reduzir os danos da lavagem cerebral a que foram submetidos desde criancinhas… estes não dariam o braço a torcer nem que uma “bruxa” ressuscitasse e testemunhasse a favor da Igreja, em pleno horário nobre da TV Globo.

Mas um dia suas línguas provarão do próprio veneno que espalham por aí, pois o Senhor lhes pedirá as contas por toda calúnia espalhada contra a sua Esposa.
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Notas:
(1) Thomas F. Madden. The Real Inquisition Investigating the popular myth. (O artigo completo pode ser lido em nossos posts: Inquisição – onde há fumaça há fogo? (Parte I) e (Parte II)
(2) Anne Llewellyn Barstow. Chacina de Feiticeiras – Uma revisão histórica da caça às bruxas na Europa. Editora José Olympio

(3) Francisco Bethencourt. O Imaginário da Magia – Feiticeiras, adivinhos e curandeiros em Portugal no século XVI. Companhia das Letras, São Paulo, 2004 (O autor é Professor de História e regente da cátedra Charles Boxer no King’s College, Universidade de Londres).
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