A Igreja celebra hoje a conversão de São Paulo, um dos acontecimentos
mais decisivos não só para a história da Igreja, mas também para a nossa
história pessoal de salvação. S. Paulo, com efeito, descreve sua conversão à fé
como um “aborto”: Jesus ressuscitado, que já ascendera aos céus depois de estar
por quarenta dias com seus discípulos, aparece-lhe “fora de hora”, tornando-o
assim testemunha privilegiada da ressurreição. Paulo, que até despencar do
cavalo no caminho de Damasco, era ferrenho perseguidor dos cristãos,
experimenta hoje, com a mesma verdade com que o viveram os outros onze
Apóstolos, a presença física e real de Cristo, primícias dentre os mortos.
Nesse sentido, o apostolado de Paulo, fruto de uma graça especialíssima, não
tem outro fundamento senão o testemunho direto de que Deus ressuscitou seu
Filho muito amado para dar-nos uma vida que não acaba. Por meio desse “aborto”,
pôde a fé cristã chegar pela primeira vez à Europa, à comunidade de
Tessalônica. E se chegou à Europa, chegou também a Portugal, e daqui, pela
graça divina, chegou por fim ao nosso país, de maneira que podemos estar
seguros de que, sem Paulo, não teríamos hoje a alegria de chamar-nos cristãos.
Rendamos hoje graças ao Senhor, que, compadecendo-se de Paulo, compadeceu-se
também de nós, pois foi através do testemunho apostólico dele que Cristo quis
trazer o Evangelho às nossas terras. — São Paulo, Apóstolo das gentes, rogai
por nós!
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: At 22,
3-16; 1Cor 7, 29-31; Mc 16, 15-18
De Paulo sabemos pela leitura de suas cartas
onde há grandes trechos autobiográficos, e pelo livro dos Atos dos Apóstolos, escritos por Lucas. Nasceu de
uma família rica em Tarso, na Cilícia, fora portanto da Palestina. Mas de
família hebréia. Na circuncisão recebeu o nome duplo: um em aramaico – Saul;
outro em romano- Paulo. Teve excelente formação e aprendeu corretamente várias
línguas. Conheceu a fundo o Antigo Testamento e toda a legislação Judaica.
Profissionalmente era fabricante de tendas e exerceu essa profissão mesmo nos
anos de apostolado. Perseguiu os cristãos com violência, até o dia em que Jesus
lhe apareceu na estrada de Damasco. Paulo se converte e se retira para o
deserto da Arábia. Volta depois de mais
de um ano de meditação e começa sua espantosa atividade apostólica, apesar de
sua saúde permanentemente fraca. Nenhum apóstolo viajou e pregou tanto como
ele. Embora não pertencesse aos 12, ganhou dianteira a todos. Paulo foi
martirizado em Roma entre os anos de 66 e 68. Desde o século III temos sua
festa no dia 29 de junho.
A reforma litúrgica, promovida pelo Concílio
Vaticano II, fixou para alguns países (inclusive o Brasil) a festa no domingo.
mais próximo ao dia 29. Paulo teve a cabeça decepada e foi sepultado fora da
cidade de perto de onde; hoje se ergue a imponente Basílica de São Paulo , fora
dos muros.
Jesus resumiu ele mesmo a missão que destinava
aos Apóstolos, no dia da ascensão, na hora da despedida: “Toda a autoridade me
foi dada, no céu e na terra. Ide, ensinai a todas as nações, batizai-as em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo que vos
mandei. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”. (Mt
28,18-20).
Nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas do
próprio S. Paulo e também nos evangelhos é que vamos buscar as fontes da
conversão de S. Paulo.
O apóstolo Paulo é talvez o personagem do Novo
Testamento que melhor conhecemos, através de suas epístolas e dos Aos dos
Apóstolos, que se confirmam e se completam, apesar de alguns pormenores divergentes.
Assim é possível estabelecer uma cronologia da vida do apóstolo.
Nascido em Tarso, na Cilícia, pelo ano 10 de
nossa era, de uma família judaica da tribo de Benjamin, mas ao mesmo tempo
cidadão romano; recebeu, desde a infância, em Jerusalém, de Gamaliel, uma séria
formação religiosa segundo as doutrinas dos fariseus. Foi perseguidor da jovem
Igreja cristã e esteve presente na morte de Estevão. Teve uma conversão súbita
no caminho de Damasco, devido à aparição de Jesus ressuscitado, que lhe indicou
a sua missão especial de apóstolo dos gentios ou pagãos, ou seja dos
não-judeus. Esse fato se recorda no dia de hoje, dedicado à sua conversão (At
9,3-19;1,12.15ss; Ef 3,2s.).
A partir desse momento ele dedica toda a sua
vida ao serviço de Cristo. Depois de uma temporada na Arábia e do seu regresso
a Damasco, começa a pregar. Sobe a Jerusalém pelo ano 39, depois retira-se para
a Síria-Cilícia, de onde é reconduzido para Antioquia por Barnabé, com o qual
realiza a sua primeira missão apostólica, entre os anos 45 e 49, em Chipre,
Panfília, Pisídia e Licaônia. Foi então que começou a usar o nome grego de
Paulo, preferentemente ao judaico Saulo. No ano 49, 14 anos após a sua
conversão, vai a Jerusalém para participar do concílio apostólico, onde foi
aceita a tese de que a lei judaica não obrigava aos cristãos convertidos ao
paganismo. Sua morte se deu em Roma pelo ano 67.
O martírio de São Paulo é celebrado junto com
o de São Pedro, em 29 de junho, mas sua conversão tem tanta importância para a
história da Igreja que merece uma data à parte. Neste dia, no ano 1554, deu-se
também a fundação da que seria a maior cidade do Brasil, São Paulo, que ganhou
seu nome em homenagem a tão importante acontecimento.
Saulo, seu nome original, nasceu no ano 10 na
cidade de Tarso, na Cilícia, atual Turquia. À época era um pólo de
desenvolvimento financeiro e comercial, um populoso centro de cultura e
diversões mundanas, pouco comum nas províncias romanas do Oriente. Seu pai
Eliasar era fariseu e judeu descendente da tribo de Benjamim, e, também, um
homem forte, instruído, tecelão, comerciante e legionário do imperador Augusto.
Pelo mérito de seus serviços recebeu o título de Cidadão Romano, que por
tradição era legado aos filhos. Sua mãe uma dona de casa muito ocupada com a formação
e educação do filho.
Portanto, Saulo era um cidadão romano, fariseu
de linhagem nobre, bem situado financeiramente, religioso, inteligente,
estudioso e culto. Aos quinze anos foi para Jerusalém dar continuidade aos
estudos de latim, grego e hebraico, na conhecida Escola de Gamaliel, onde
recebia séria educação religiosa fundamentada na doutrina dos fariseus, pois
seus pais o queriam um grande Rabi, no futuro.
Parece que era mesmo esse o anseio daquele
jovem baixo, magro, de nariz aquilino, feições morenas de olhos negros, vivos e
expressivos. Saulo já nessa idade se destacava pela oratória fluente e
cativante marcada pela voz forte e agradável, ganhando as atenções dos colegas
e não passando despercebido ao exigente professor Gamaliel.
Saulo era totalmente contrário ao
cristianismo, combatia-o ferozmente, por isso tinha muitos adversários. Foi com
ele que Estêvão travou acirrado debate no templo judeu, chamado Sinédrio. Ele
tanto clamou contra Estevão que este acabou apedrejado e morto, iniciando-se
então uma incansável perseguição aos cristãos, com Saulo à frente com total
apoio dos sacerdotes do Sinédrio.
Um dia, às portas da cidade de Damasco, uma
luz, descrita nas Sagradas Escrituras como “mais forte e mais brilhante que a
luz do Sol”, desceu dos céus, assustando o cavalo e lançando ao chão Saulo , ao
mesmo tempo em que ouviu a voz de Jesus pedindo para que parasse de persegui-Lo
e aos seus e, ao contrário, se juntasse aos apóstolos que pregavam as
revelações de Sua vinda à Terra. Os acompanhantes que também tudo ouviram, mas
não viram quem falava, quando a luz desapareceu ajudaram Saulo a levantar pois
não conseguia mais enxergar. Saulo foi levado pela mão até a cidade de Damasco,
onde recebeu outra “visita” de Jesus que lhe disse que nessa cidade deveria
ficar alguns dias pois receberia uma revelação importante. A experiência o
transformou profundamente e ele permaneceu em Damasco por três dias sem
enxergar, e à seu pedido também sem comer e sem beber.
Depois Saulo teve uma visão com Ananias, um
velho e respeitado cristão da cidade, na qual ele o curava. Enquanto no mesmo
instante Ananias tinha a mesma visão em sua casa. Compreendendo sua missão, o
velho cristão foi ao seu encontro colocando as mãos sobre sua cabeça fez Saulo
voltar a enxergar, curando-o. A conversão se deu no mesmo instante pois ele
pediu para ser Batizado por Ananias. De Damasco saiu a pregar a palavra de
Deus, já com o nome de Paulo, como lhe ordenara Jesus, tornando-se Seu grande
apóstolo.
Sua conversão chamou a atenção de vários
círculos de cidadãos importantes e Paulo passou a viajar pelo mundo,
evangelizando e realizando centenas de conversões. Perseguido incansavelmente,
foi preso várias vezes e sofreu muito, sendo martirizado no ano 67, em Roma.
Suas relíquias se encontram na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na Itália,
festejada no dia de sua consagração em 18 de novembro.
O Senhor fez de Paulo seu grande apóstolo, o
apóstolo dos gentios, isto é, o evangelizador dos pagãos. Ele escreveu 14
cartas, expondo a mensagem de Jesus, que se transformaram numa verdadeira
“Teologia do Novo Testamento”. Também é o patrono das Congregações Paulinas que
continuam a sua obra de apóstolo, levando a mensagem do Cristianismo a todas as
partes do mundo, através dos meios de comunicação.
PARA REFLETIR
Celebramos hoje a festa da Conversão do
Apóstolo São Paulo. É um dia que nos faz refletir sobre a história que se
transforma graças a mudança de vida das pessoas.
A extraordinária figura de São Paulo pode ser
contemplada desde diversos ângulos. Meditar sobre sua conversão nos permite
descobrir como foi possível que um homem com tanto ódio ao cristianismo pudesse
se transformar no maior promotor da fé cristã. Existe um segredo na conversão
de São Paulo que pode iluminar nossos passos rumo a nova evangelização. Que
segredo é este?
Não há dúvidas de que ele era um escolhido por
Deus. Sem a intervenção de Cristo derrubando-lhe por terra não seria possível
que S. Paulo se levantasse um dia como o apóstolo dos gentios. Foi Cristo a dar
o primeiro passo. No entanto, Cristo não força nossa inteligência e muito menos
nossa vontade. O amor sem liberdade é escravidão, domínio e manipulação.
Existia em São Paulo uma condição de
possibilidade para que Cristo agisse através do amor. Era necessário um terreno
onde a semente da fé pudesse fazer brotar a graça da conversão e da adesão a
Cristo. Refletir sobre o aspecto humano da conversão do apóstolo é desvendar um
dos elementos importantes para que a mensagem de Cristo caia em solo fértil. Sobre
que bases a graça pousou?
A resposta não pode ser outra: sua alma era
dominada por uma sede insaciável de verdade. São Paulo era um fariseu zeloso,
conhecia de memória a lei e a palavra. Na fé judaica via a verdade que
preenchia seu coração, e por ela, era capaz de tudo. No entanto, a verdade de
Paulo não era plena. Antes da conversão, Saulo “respirava ameaças de morte
contra os discípulos do Senhor.” (Atos 9, 1). Seu ódio nascia do fato de que
seu coração ainda estava insatisfeito, era consciente de que algo faltava.
Na fé, São Paulo descobre que a verdade é uma
pessoa: Cristo. É quando sua vida se transforma e ele se converte aos desígnios
do Senhor.
É na verdade que o apóstolo desvenda o
profundo mistério da alegria e da felicidade plena. A fé em Cristo impede que a
razão se feche e se reduza apenas a realidades empíricas. A fé abre a razão,
enquanto a razão purifica a nossa vivência da fé de elementos que manchem o
nome de Cristo. Podemos com nossa inteligência chegar a uma definição, contudo,
a verdade plena não se reduz a um conceito. Só em Cristo encontramos “o
Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
É justamente no caminho de Damasco que Saulo
se encontra com “o Caminho”. É respirando ameaças de morte que ele descobre “a
Vida”, É na cegueira da luz terrena, que seu espírito se abre a plenitude “da
Verdade”.
Sem o terreno fértil da verdade, seria muito
difícil que Cristo conquistasse o coração de Saulo. É vendo em Cristo, como a
verdade plena, que muitos filósofos se converteram a fé cristã. É buscando a
verdade que Santo Agostinho foi conquistado por Cristo. É pela verdade que
tantos consagrados e leigos desgastam a própria vida pelo bem da humanidade. A
evangelização pela via da verdade é um elemento essencial para a conversão.
A grande crise que sofre a humanidade é uma
“crise de verdade”. O relativismo, o materialismo e o hedonismo são formas de
distrair o coração humano de sua sede incansável de infinito. Não podemos
permitir que estes obstáculos invadam nossas vidas. Ao mesmo tempo, devemos ser
conscientes de que é nesta cultura que devemos evangelizar. E só através da
verdade unida a fé e ao amor é que poderemos um dia dizer como S. Paulo: “Já
não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”. (Gal. 2,20).
Por isto, não tenhamos medo de conhecer nossa
fé, de interrogar sobre as razões de nossa esperança. Mas, sobretudo, não
tenhamos medo de deixar que Cristo entre em nossas vidas e mude nossos
esquemas. Aproximem-se Cristo, deixem que a verdade plena de seu amor invada
sua casa. Com certeza, a fé sairá fortalecida, pois - repetindo as palavras de
Santa Catarina de Siena - “se sois o que deveis ser, incendiareis o mundo
inteiro, porque o mundo tem necessidade de testemunhas”, testemunhas da
Verdade.
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