sexta-feira, 16 de outubro de 2020

PB: Padre detido por pintar cruz pede afastamento de paróquia por ser hostilizado


Padre Luciano Gustavo Lustosa pediu afastamento da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Conde (PB), por estar sendo “hostilizado” após o episódio em que foi conduzido à delegacia depois de pintar um cruzeiro localizado em frente à Igreja.
O caso ocorreu em 3 de outubro, depois que o sacerdote pintou de marrom um cruzeiro que havia sido pintado de azul pela prefeitura de Conde.

Pe. Lustosa foi conduzido pela Guarda Municipal para a delegacia da cidade de Alhandra, para prestar esclarecimentos “sobre o dano causado ao patrimônio, conforme alegou a prefeita Márcia [Lucena, do PSB], uma vez que a Prefeitura havia feito um gesto para recuperar o Cruzeiro”, indicou ‘Paraíba Online’. O sacerdote, porém, declarou que o cruzeiro pertence à Paróquia.

Diante desses fatos, Pe. Lustosa informou por meio de uma nota publicada no Facebook da Paróquia Nossa Senhora da Conceição que pediu “a Arquidiocese um afastamento provisório da Paróquia”.

Trata-se de uma medida para se “resguardar”, explicou o sacerdote, acrescentando: “temo por minha integridade física, uma vez que eu estou sendo hostilizado por meio de discursos de ódio e ataques verbais dirigidos a mim através de redes sociais”.

“A referida salvaguarda de minha integridade física em nada prejudica todos os procedimentos administrativos, policiais e judiciais sobre os lamentáveis fatos ocorridos, inclusive a respeito de qualquer tipo de ameaça decorrente de posicionamentos divergentes e lamentáveis”, ressaltou.

Além disso, Pe. Lustosa recordou que o caso “está sendo devidamente acompanhado pela Arquidiocese da Paraíba, através do Arcebispo Metropolitano e da assessoria jurídica, buscando assim as elucidações dos fatos ocorridos”.

“Desta forma, vivendo em um estado democrático de direito e respeito as garantias fundamentais do cidadão, desejamos que a luz da justiça, da democracia e da verdade, se evite erros, tiranias e abusos porvindouros”, afirmou.

O sacerdote também agradeceu o apoio recebido por parte dos paroquianos e moradores de Conde, bem como de pessoas de outros locais que ficaram sabendo do ocorrido.

“Procuremos construir um mundo com base na solidariedade, buscando nas divergências o complemento e não o afastamento em convívio social, respeitando sempre o próximo naquilo que lhe seja de direito, buscando o diálogo, a serenidade e a paz”, concluiu.

Após a condução do sacerdote à delegacia, a Arquidiocese da Paraíba publicou uma nota no dia 7 de outubro, afirmando que “acompanha com indignação o episódio” e que “entende que se tratou de uma exposição desnecessária no contexto de um estado democrático de direito e respeito às garantias fundamentais do cidadão”.

“Reivindicamos que o caso seja acompanhado com o devido respeito às pessoas envolvidas e às instituições públicas e religiosa, que buscarão todos os meios para elucidar o caso, à luz da justiça, da democracia e da verdade, tudo a evitar qualquer espécie de abuso de autoridade posterior”, concluiu a Arquidiocese.

Entenda o Caso

Na tarde do sábado, 3 de outubro,  Padre Luciano Gustavo Lustosa da Silva foi conduzido à delegacia de Conde (PB), por ter pintado um cruzeiro localizado em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição; diante desse episódio, a Arquidiocese da Paraíba se disse indignada e pediu que “o caso seja acompanhado com o devido respeito”.

De acordo com o site ‘Paraíba Online’, o cruzeiro de arquitetura barroca tinha sido pintado de azul pela Prefeitura de Conde. O sacerdote, por sua vez, mudou a cor para marrom e declarou que o cruzeiro pertence à Paróquia.

No sábado, então, Pe. Lustosa foi conduzido pela Guarda Municipal para a delegacia da cidade de Alhandra, para prestar esclarecimentos “sobre o dano causado ao patrimônio, conforme alegou a prefeita Márcia [Lucena, do PSB], uma vez que a Prefeitura havia feito um gesto para recuperar o Cruzeiro”, indica ‘Paraíba Online’.

Em um vídeo gravado pelo portal ‘A Voz do Conde’, no momento em que estava sendo conduzido para a delegacia, o sacerdote classificou o ocorrido como um absurdo. “A prefeita mandou me prender porque eu troquei a pintura do Cruzeiro que é da Paróquia. É uma coisa absurda”.

“A gente fica de boca aberta diante dos desmandos, da arbitrariedade e do autoritarismo, mas também existe um viés comunista nisso, né? A gente sabe disso. Nós sabemos que quem é comunista odeia padre, odeia igreja, odeia tudo que é religioso, persegue, não tem caridade por ninguém. Eu estou no meu direito e vou à delegacia, comparecer diante das autoridades para conversar sobre isso”, acrescentou.

Por sua vez, a prefeita Márcia Lucena gravou um vídeo no qual declarou que não mandou prender o sacerdote. “Tudo isso será esclarecido pela Polícia Civil já que foram até a delegacia, pela própria Guarda Municipal, porque vamos cobrar esclarecimentos do comandante, e pela Arquidiocese, porque eu já foi informada de que a Arquidiocese está mandando o pessoal que faz isso lá para cá para checar tudo”, disse.

De acordo com ela, a prefeitura precisou trocar o cruzeiro, no marco zero do município, porque o anterior estava velho e desgastado. O cruzeiro novo teria sido pintado de azul, “porque remete ao barroco, que é a referência que a Igreja tem”.
Márcia Lucena disse que em julho Pe. Lustosa pediu que o cruzeiro fosse pintado de marrom para combinar com as portas da Igreja. Segundo ela, essa mudança de cor seria feita e estava prevista no cronograma, mas o correto seria retirar a pintura laqueada azul para depois colocar a tinta marrom, pois se fosse pintado por cima, iria descascar.

Diante do ocorrido, a Arquidiocese da Paraíba publicou uma nota na quarta-feira, 7 de outubro, afirmando que “acompanha com indignação o episódio ocorrido no último sábado”.

“A Arquidiocese entende que se tratou de uma exposição desnecessária no contexto de um estado democrático de direito e respeito às garantias fundamentais do cidadão”, afirmou.

Além disso, expressou que causa “estranheza que um sacerdote seja abordado por agentes públicos sob a alegação de que teria cometido um crime de desobediência, sem que os mesmos tenham uma determinação judicial que justificasse tal ato ou diante de um flagrante delito”.

Segundo a Arquidiocese, Pe Luciano Lustosa “está sendo devidamente assistido de modo institucional, jurídico e espiritual”.

“Reivindicamos que o caso seja acompanhado com o devido respeito às pessoas envolvidas e às instituições públicas e religiosa, que buscarão todos os meios para elucidar o caso, à luz da justiça, da democracia e da verdade, tudo a evitar qualquer espécie de abuso de autoridade posterior”, concluiu a nota.
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ACI Digital

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