segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Em Roma, há hierarcas que têm muito medo do Papa Francisco


Os Evangelhos nos dizem, repetidas vezes, que as pessoas que exerciam o máximo poder na sociedade judaica do tempo de Jesus, tinham medo (Mc 11,18; 12,12; Mt 14,5; 21,26.46; Lc 20,19; 22,2). Concretizando mais, aqueles que tinham medo eram os “sumos sacerdotes”, os “senadores” (“anciãos”) e os “escribas” ou mestres da Lei (Mt 21, 26. 46; Lc 20, 19; Mc 11, 18; Lc 22, 2). Ou seja, os assustados eram os homens do poder, aqueles que mandavam naquela sociedade.

E de quem tinham medo? Simplesmente do “povo” (Mc 11,18; Mt 21,26; Lc 20,6, etc.). Ou seja (segundo a expressão que os Evangelhos usam), aqueles que mandavam tinham medo do “óchlos”, da “multidão”, do povo simples, de condição modesta, aqueles que eram considerados ignorantes e até malditos (Jo 7,48). Dito com poucas palavras: os mais poderosos, entendidos e privilegiados tinham medo dos fracos, dos ignorantes e daqueles que eram vistos como gente indesejável.

Tudo isso é ainda mais estranho se considerarmos que aqueles governantes assustados não eram apenas governantes civis, mas, além disso, governantes também religiosos. Ou seja, concentravam todo o poder, toda a riqueza e todos os privilégios.

Então, por que tinham medo? Há uma diferença fundamental entre os governantes de agora e os daquela época. Agora, a diferença entre o poder civil e o poder religioso é suficientemente clara e bem delimitada. No tempo de Jesus – e concretamente na Palestina – o poder que mandava era, sobretudo, o poder “religioso”, o poder do Sinédrio. Os romanos encarregavam-se de modo especial das tarefas de impor a ordem civil e cobrar os impostos. Sendo assim, os “homens da religião” não queriam, de modo algum, dar pretexto para que houvesse tumultos populares. Porque Roma não o tolerava. Por isso, o Sinédrio decidiu finalmente que teria que matar Jesus (Jo 11,47-53). 

A paz que buscamos!


Este ano de 2015 foi proclamado como o Ano da Paz pela Conferência dos Bispos do Brasil. Creio que a busca da paz nunca deixou de estar presente no coração dos homens e mulheres de boa vontade na história da humanidade, mesmo convivendo com experiências de dor, de violência e de morte no itinerário da vida.

O Papa Francisco tem procurado, no seu ministério de pastor, ajudar os governantes das nações a serem construtores de pontes de diálogo que favoreçam a aproximação dos povos. Porém, diante do flagelo da violência e da guerra que atinge muitas nações, alguns governantes procuram solucionar o problema erguendo cercas e muros, para excluir as vítimas relegando-as à condição de pessoas sem pátria e sem direitos, “indesejadas”.

“É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta espiral de dor e de morte?”, nos interroga o Papa Francisco. O cristão, que tem consciência de que, em Cristo, foi agraciado com a paz, deve se tornar um reconciliador, um construtor de paz. “Não haverá paz na terra, enquanto perdurarem as opressões dos povos, as injustiças e os desequilíbrios econômicos que ainda existem. A paz exige quatro condições essenciais: verdade, justiça, amor e liberdade”, dizia o santo Papa João XXIII, retomadas por São João Paulo II.

Às vezes, podemos ser tocados pelo pecado da omissão e da indiferença, não nos envolvendo, achando que a violência só acontece lá longe ou na casa do vizinho, no bairro do lado e por isso não assumimos nenhuma ação que promova a paz e cuide da pessoa, da sua dignidade humana. “O que mais preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”, dizia Martin Luther King, baluarte da não violência. 

Bento Rodrigues: Ondas de lama


As ondas de lama vindas do desastre ambiental no arrasado Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, afetam não apenas pontos específicos dos estados diretamente atingidos. Atolam toda a sociedade. Uma tragédia anunciada que ultrapassa os limites do município de origem e as divisas do estado. Invade todo o ecossistema, sufoca a vida. A crueldade com que a natureza é atingida e, sobretudo, a dor dos pobres que perdem familiares e o pouco que têm, contracenam com a terrível destruição de casas e de outros cenários urbanos. 

Os desdobramentos dessa tragédia exigem repensar definitivamente a vocação e o destino das Minas Gerais, diante do risco de novas irresponsabilidades recaírem sobre a população em forma de desastres ainda mais graves. Impõe-se a necessidade de um direcionamento novo, fora dos parâmetros da ganância e até mesmo da justificativa de que a economia do Estado só se sustenta e avança por meio dessas atividades. Tarefa que deve ser assumida, com urgência, pelo Governo do Estado, prefeituras, Poder Legislativo e setores privados - especialmente o minerário - mas, principalmente, pelos órgãos de controle público. É indispensável que sejam ouvidas as vozes sensatas de igrejas e outros segmentos sérios e representativos da sociedade. 

Agir a partir de compreensão simplista sobre a geração de riquezas e empregos, sem considerar a complexidade da realidade, gera consequências devastadoras. É, incontestavelmente, “assinar atestado de incompetência”. É comodismo e falta de inventividade para a necessária produção de bens. 

No horizonte desenhado por essa tragédia, os representantes do povo no poder público têm o compromisso moral de redirecionar a história minerária do Estado de Minas Gerais. Uma história controversa. Para além da lucratividade e dos benefícios apresentados como decorrentes da mineração, exige-se um ordenamento jurídico novo, não apenas fundamentado no rigor das burocracias para licenciamentos, mas fruto de um entendimento que a lucidez da Carta Encíclica Laudato Si’ - sobre o cuidado da casa comum, do Papa Francisco, trata com inigualável propriedade. O documento traça o horizonte de transformações radicais e de mudanças urgentes em procedimentos e atividades, e no compromisso de consertar, no ambiente e na vida das pessoas, o que absurdamente já se tem produzido.  

O que é a Igreja Ortodoxa?


Na recente visita do nosso Papitcho à Terra Santa, um dos momentos mais marcantes foi o seu encontro com Bartolomeu, o Patriarca de Constantinopla, líder das Igrejas Ortodoxas orientais. Muita gente ficou boiando e não entendeu a importância do momento: o senhor de barba na foto aí em cima é nada mais, nada menos do que… o sucessor do Apóstolo André!

Se você não entende o que são as Igrejas Ortodoxas e qual a sua relação com a Igreja Católica Romana, este post é pra você!

O que é a Igreja Ortodoxa?

Antes de tudo, vamos lembrar que, conforme ensinam a Bíblia e a Tradição dos padres primitivos, Jesus fundou a Sua Igreja sobre Pedro (entenda aqui); ele é representante visível do Cristo invisível, o Deus que é a verdadeira Pedra angular da Igreja. Os demais apóstolos, por sua vez, foram instituídos como COLUNAS da Igreja, ou seja, aqueles que sustentam a Sagrada Tradição e a fé dos cristãos. Cada Apóstolo fundou uma igreja particular (também chamada de diocese), que era parte integrante da Igreja Católica, ou seja, da igreja universal.

Então, a Igreja Católica é um conjunto de igrejas particulares (dioceses) que estão em plena comunhão com Pedro. Exemplos de dioceses e de igrejas particulares católicas: a Arquidiocese de Olinda, a Arquidiocese de Nova York, a Arquidiocese de Tóquio, a Igreja Católica Copta, a Igreja Maronita de Antioquia, a Igreja Grego-Católica Melquita… e milhares de outras igrejas particulares pelo mundo!

Por sua vez, a Igreja Ortodoxa é o conjunto de igrejas orientais particulares que se desligou do corpo da Igreja Católica, ao rejeitar formalmente a primazia de Pedro, isto é, a autoridade máxima do bispo de Roma. Apesar desse Grande Cisma, que aconteceu no século XI, os patriarcas ortodoxos são legítimos sucessores dos Apóstolos. Portanto, os sacramentos concedidos pela Igreja Ortodoxa são todos válidos. O mesmo não ocorre com as igrejas evangélicas, pois nenhuma delas possui sucessão apostólica.

Pra ficar mais claro, propomos um rápido joguinho: trace os caminhos abaixo e descubra quais deles levam aos doze Apóstolos de Cristo!


domingo, 15 de novembro de 2015

Após Paris, Estado Islâmico promete atacar Roma, Washigton e Londres


Na noite de sexta-feira, 13 de novembro, cerca de três horas após os ataques que ceifaram a vida de dezenas de pessoas na capital francesa, o grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou a autoria do massacre e ameaçou fazer o mesmo em Washington, nos Estados Unidos, em Roma, na Itália e em Londres, no Reino Unido.

Os terroristas comemoraram na internet usando uma hashtag em árabe que traduzida significa 'Paris em Chamas'. Além de comemorar, o grupo avisa que os ataques foram uma 'lição' aos franceses. Nessa semana, caças do exército francês destruíram uma base de petróleo dominada pelo EI na Síria. Acredita-se que a 'lição' tenha relação com esse ocorrido e que tenha servido de represália.

Assim que o massacre começou, o presidente da França se encontrava no estádio de futebol da capital para acompanhar a partida amistosa entre a seleção da França e da Alemanha. Com as primeiras explosões o presidente foi retirado do local às presas. Imediatamente, ele mandou fechar todas as fronteiras da França, decretou estado de urgência e colocou o exército francês nas ruas.

Até o momento, sabe-se que mais de cem pessoas foram cruelmente executadas pelos terroristas. Mais centenas de outras pessoas estão feridas. Dentre os feridos encontram-se dois brasileiros, uma estudante que segundo a cônsul brasileira passa bem e um arquiteto que levou três tiros nas costas e que passa por uma cirurgia nessa madrugada. Seu estado é delicado e grave. 

Santiago Matamoros - 25 de julho


No mês passado (08/2012), O Catequista e eu estivemos na Catedral de Santiago de Compostela, na Galícia, um dos centros católicos de peregrinação mais importantes do mundo. Depois de rezar diante dos ossos do Apóstolo e de dar um abraço em sua estátua no altar-mor, fomos contemplar as demais maravilhas do templo.

Tava tudo lindo, até que nos deparamos com a grande e épica imagem de Santiago Matamoros, o padroeiro da Espanha medieval. Ficamos com a maior cara de bunda flácida ao notar que uma parte considerável da estátua foi propositalmente encoberta por um alto, espesso e safado arranjo de flores.

O que as plantas escondiam? O que os patrulheiros da ditadura do imbecilmente correto pretendem com isso? Parece que a cúria compostelana se envergonha do episódio em que São Tiago, de espada em punho, mandou pro além um grande número de invasores árabes que oprimiam os cristãos da Península Ibérica medieval.


Ninguém que seja minimamente sensível ao valor da vida humana pode simpatizar, à primeira vista, com a imagem de um santo matador. Porém, a segunda reação após o impacto negativo inicial é a de perguntar: “O que significa isso?”; “Por que uma igreja cristã abriga uma imagem tão violenta?”. E aí, se não for preguiçoso e buscar informações, o sujeito vai conhecer o sentido daquela iconografia, e poderá entender porque ela é tão importante para a história da Espanha e da Igreja Católica.

Sobre tiros, bombas, deuses e religiões




Os terroristas que assassinaram na França gritavam ao matar: Alah akibah - Deus é grande! O Deus dessa gente é apenas um deus, um ídolo maldito, simulacro que deforma a verdadeira face de Deus! O Deus verdadeiro é o Autor e Mantenedor de toda a vida, o Deus verdadeiro é Vivo e Vivificante!

Nenhuma religião verdadeiramente monoteísta - que confesse e adore ao Deus único, transcendente, santo, soberano, poderoso, infinito, misericordioso - pode reduzir o Deus verdadeiro a um idolozinho que se compraz com o derramamento de sangue: sangue por sangue, morte por morte, violência por violência!

Já deveríamos ter aprendido com a história de nossos erros que nunca se deve matar em nome de Deus - morrer sim, matar nunca! Quem grita "Deus é grande" deve testemunhar o que já dizia Santo Irineu no século II: "A glória de Deus é o homem vivo!". Qualquer crente que verdadeiramente tenha uma percepção da santidade e infinitude do Único pode e deve subscrever as comoventes palavras do Livro da Sabedoria:

"Teu grande poder está sempre ao Teu serviço,
e quem pode resistir à força do Teu braço?
O mundo inteiro está diante de Ti
como esse nada na balança,
como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra.
Mas Te compadeces de todos, pois tudo podes,
fechas os olhos diante dos pecados dos homens,
para que se arrependam.
Sim, Tu amas tudo o que criaste,
não Te aborreces com nada do que fizeste;
se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito.
E como poderia subsistir alguma coisa,
se não a tivesses querido?
Como conservaria sua existência, se não a tivesses chamado?
Mas, a todos poupas, porque são Teus:
Senhor, Amigo da vida!" (Sb 11,21-26)

Na verdade, não foi em Nome de Deus que esses assassinaram! Foi em nome de um fanatismo, de revertidas ideias totalitárias, que sempre matam, sejam em política - como na Coreia do Norte ou Cuba ou Venezuela -, seja em religião - como os fanáticos de quaisquer religiões -, seja em qualquer outro âmbito da existência.

As convicções que cada um tenha - e deva ter -, devem dar-se no limite da convivência respeitosa com os que pensam de modo diverso. Jamais se pode ferir a consciência de alguém, o direito à livre expressão das opiniões e a liberdade de ação, desde que dentro do respeito mútuo numa sociedade que se deseje realmente pluralista e democrática, na qual a pessoa seja o valor central.

A questão é: o Islã está preparado para isto?

A resposta, por enquanto, deveria ser clara, serena, respeitosa e realista: NÃO! O Islã ainda não está pronto para as liberdades democráticas e a liberdade religiosa! Enquanto o mundo ocidental tiver medo de enxergar e admitir isto claramente, estaremos todos em perigo! 

A profética voz de Bento XVI contra o extremismo islâmico



Enquanto a violência do autoproclamado Estado Islâmico volta-se contra os cristãos, os yazidis e outras minorias, muitas vozes se unem em condenação. Entre estas, destacam-se as do mundo muçulmano, dos líderes religiosos da Grã Bretanha, ou do King Abdullah Bin Abdulaziz International Centre for Interreligious and Intercultural Dialogue (KAICIID), com sede em Viena, passando pelos intelectuais e jornalistas de várias latitudes, até a comovente manifestação por parte das pessoas simples. A condenação é unânime. Os fanáticos manipulam o islã, transgridem o Alcorão e traem a religião que dizem professar. Isso faz lembrar o discurso do professor Ratzinger em Ratisbona.

No dia 12 de setembro de 2006, Joseph Ratzinger, atualmente Papa Emérito Bento XVI, visitou a Universidade de Ratisbona, onde havia sido professor. Ali pronunciou um memorável discurso que hoje ressoa com força. Falou da vocação natural das religiões à justiça e à paz, cuja realização depende da articulação correta entre a fé e a razão, um dos grandes tópicos da sua Teologia e do seu Magistério. Explicou que, quando falta o diálogo, apresentam-se as patologias da razão e da religião que fazem escorregar, ao extremo, rumo ao fanatismo. Diante do despertar da irracionalidade misturada ao fundamentalismo, lançou um desafio aos muçulmanos para condenar a violência como meio de impor a fé, sem aliviar também para os cristãos.

O Papa Emérito Bento XVI tinha colocado o dedo na ferida. Três lições devem ser lembradas. Por um lado, o mundo midiático e intelectual do Ocidente, que se diz expressão da tolerância e da liberdade, lançou-se com violência irracional contra Ratzinger, acusando-o de ser fanático e provocador, quando na verdade tinha convidado ao diálogo na razão. Por outro lado, muçulmanos também lançaram condenações. No fim, todos têm de dar razão a Ratzinger. Tanto um quanto o outro mostraram que sofrem das patologias descritas no discurso de Ratisbona.

A reação mais interessante e decisiva foi a do islã. Um grupo de líderes e intelectuais muçulmanos assinou uma carta na qual eles acolhiam o desafio do diálogo. O epicentro aconteceu no Reino da Jordânia, mas se estendeu rapidamente a várias latitudes. Nessa carta, apesar de algum desacordo com Ratzinger, foram condenados aqueles que pretendiam impor com a violência “sonhos utópicos nos quais o fim justifica os meios”.

É certo dizer que a aula e a carta não deram início ao diálogo entre os cristãos e os muçulmanos, mas sem dúvida foram um fator importante para promovê-lo a níveis nunca vistos antes. Hoje certamente este diálogo está dando frutos não apenas entre certas elites, mas também entre as pessoas comuns, que antes de aparecer estes fanáticos tinham feito a convivência interreligiosa como a maneira natural de ser e hoje protestam porque querem continuar a viver da mesma maneira. Esta é a voz mais forte entre aquelas que podem ser escutadas. O encontro entre o povo simples e a intelectualidade enche de esperança. Quando este relacionamento se alimenta de paciência e constância, gera movimentos culturais potentes.