Na
recente visita do nosso Papitcho à Terra Santa, um dos momentos mais marcantes
foi o seu encontro com Bartolomeu, o Patriarca de Constantinopla, líder das
Igrejas Ortodoxas orientais. Muita gente ficou boiando e não entendeu a
importância do momento: o senhor de barba na foto aí em cima é nada mais, nada
menos do que… o sucessor do Apóstolo André!
Se você
não entende o que são as Igrejas Ortodoxas e qual a sua relação com a Igreja
Católica Romana, este post é pra você!
O que é a Igreja Ortodoxa?
Antes de
tudo, vamos lembrar que, conforme ensinam a Bíblia e a Tradição dos padres
primitivos, Jesus fundou a Sua Igreja sobre Pedro (entenda aqui);
ele é representante visível do Cristo invisível, o Deus que é a verdadeira
Pedra angular da Igreja. Os demais apóstolos, por sua vez, foram instituídos
como COLUNAS da Igreja, ou seja, aqueles que sustentam a Sagrada Tradição e a
fé dos cristãos. Cada Apóstolo fundou uma igreja particular (também chamada de
diocese), que era parte integrante da Igreja Católica, ou seja, da igreja
universal.
Então, a
Igreja Católica é um conjunto de igrejas particulares (dioceses) que
estão em plena comunhão com Pedro. Exemplos de dioceses e de igrejas
particulares católicas: a Arquidiocese de Olinda, a Arquidiocese de Nova York,
a Arquidiocese de Tóquio, a Igreja Católica Copta, a Igreja Maronita de
Antioquia, a Igreja Grego-Católica Melquita… e milhares de outras igrejas particulares
pelo mundo!
Por sua
vez, a Igreja Ortodoxa é o conjunto de igrejas orientais particulares que se
desligou do corpo da Igreja Católica, ao rejeitar formalmente a primazia de
Pedro, isto é, a autoridade máxima do bispo de Roma. Apesar desse Grande
Cisma, que aconteceu no século XI, os patriarcas ortodoxos são legítimos
sucessores dos Apóstolos. Portanto, os sacramentos concedidos pela Igreja
Ortodoxa são todos válidos. O mesmo não ocorre com as igrejas evangélicas, pois
nenhuma delas possui sucessão apostólica.
Pra ficar
mais claro, propomos um rápido joguinho: trace os caminhos abaixo e descubra
quais deles levam aos doze Apóstolos de Cristo!
Como ocorreu o Grande Cisma?
Nos tempos do whatsapp – o popular zazápi – é difícil imaginar como era a vida nos séculos IV e V, quando uma carta poderia demorar até um ano para chegar ao seu destino. A distância, a precariedade dos meios de comunicação e as diferenças culturais impediam que Roma pudesse intervir de modo mais efetivo nas igrejas do Oriente. Os cinco patriarcas, que eram os mais importantes bispos da Igreja, viviam quase que isoladamente (saiba mais aqui sobre os cinco patriarcas).
Essa grande
autonomia, com o tempo, acabou por fazer o poder subir à cabeça dos patriarcas
orientais, que começaram a achar que já não tinham razões para se submeter ao
sucessor de Pedro. Agravaram-se os desacordos em questões pastorais,
doutrinárias e políticas. O bispo de Roma também vacilou, pois não soube lidar
sabiamente com a pendenga; enviou a Constantinopla seus representantes , o
chamado “legado papal”, que pelo visto eram uns sujeitos muito pouco
diplomáticos. O líder do legado simplesmente excomungou o patriarca de
Constantinopla; este, por sua vez, devolveu a “gentileza” e excomungou o legado
e o Papa.
A partir de
então, a comunhão entre as igrejas particulares do Oriente e a Igreja de Roma,
que já vinha sendo abalada ao longo dos séculos, foi completamente aniquilada.
E assim se deu o Grande Cisma: em 1054, os patriarcas orientais cismáticos
deixaram de ser membros da única Igreja fundada por Cristo. Ambos os lados
tiveram culpa nessa triste separação.
Graças a Deus,
em 1965, o Papa Paulo VI e o Patriarca de Constantinopla anularam as bulas de excomunhão
entre eles. Desde então, católicos e cristãos ortodoxos estão em
comunhão parcial.
Por que o nome
“Ortodoxa”?
O termo
“ortodoxia” significa fidelidade à verdadeira Tradição e à verdadeira doutrina.
Então, ao se separarem de Roma, os cismáticos orientais se declararam
“ortodoxos”, ou seja, aqueles que professam a doutrina correta. Com isso,
queriam indicar que a Igreja Católica era heterodoxa, ou seja, seguia uma
doutrina errada.
Esse é o mesmo
estratagema usado pelos protestantes, que passaram se declarar “evangélicos”;
com isso, querem indicar que os católicos não são seguidores do Evangelho, ou
seja, não são evangélicos. Não são uma gracinha?
Bem, mas não
vamos fazer picuinha por causa de nomenclaturas. Por amor ao diálogo entre os
irmãos que amam a Cristo e por uma questão de protocolo, os católicos concordam
em chamar os cristãos cismáticos do oriente de “ortodoxos”, e os protestantes
de “evangélicos”. Fazemos essa concessão, ainda que saibamos que somente a
Igreja Católica é realmente ortodoxa, e é também a única integralmente
evangélica.
Em que a Igreja
Ortodoxa se difere da Igreja Católica?
Os cristãos
ortodoxos negam o dogma da infalibilidade papal e, em relação à Santíssima
Trindade, creem que o Espírito Santo procede apenas de Pai, e não do Pai e do
Deus Filho, como creem os católicos romanos.
Nos templos
ortodoxos, não há estátuas de santos, somente aos ícones (pinturas).
Homens casados
podem ser ordenados padres ortodoxos, porém, aqueles ordenados como padres
celibatários não poderão mais se casar. Os bispos devem ser necessariamente
celibatários; assim, são escolhidos entre os monges (vejam bem: mesmo eles
reconhecem que a plenitude do sacerdócio só deve ser conferida aos
celibatários!).
Os sacramentos
na Igreja Ortodoxa são sete, e sua organização eclesiástica é quase igual à da
Igreja Católica. Por isso, em situações extremas, os católicos podem
receber os sacramentos na Igreja Ortodoxa. Essas situações extremas
podem ser a falta de uma Igreja Católica na região onde o fiel está morando ou
perigo morte iminente.
Enquanto na
maioria dos templos católicos do Ocidente segue-se o rito latino, o rito na
Igreja Ortodoxa é Bizantino, também chamado de rito grego. Algumas católicas
orientais também seguem esse rito.
O batismo
ortodoxo é por imersão, ou seja, é preciso afundar o corpo da pessoa
completamente na água. Na comunhão eucarística ortodoxa, os fiéis sempre
recebem o Pão e o Vinho, enquanto que, na Igreja Católica, recebem as duas
espécies somente algumas ocasiões especiais.
Por que deve-se
afirmar a primazia de Pedro?
Negar o primado
de Pedro é negar um dos aspectos mais importantes da Tradição cristã. Por
mais de mil anos, todas as igrejas particulares seguiam as diretrizes de Roma,
e mesmo as comunidades mais autônomas reconheciam ao menos formalmente a
primazia petrina.
A primeira sede
da Igreja foi em Jerusalém, depois Antioquia e, por fim, Roma, que foi o último
local onde Pedro atuou como bispo. A necessidade de fidelidade de todos os
cristãos à Roma está historicamente provada em diversos textos dos padres
primitivos. Destacamos aqui um deles, um escrito de Santo Ireneu de Lyon, que
viveu entre o ano 130 e 202:
“Mas visto que seria coisa bastante longa elencar (…) as
sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e
conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma,
pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo (…)
“Com efeito, deve necessariamente estar de
acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto
é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de
maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos.” - Ireneu de
Lyon, em Adv. Haer. Fonte: Veritatis Splendor
A esperança do
restabelecimento da comunhão plena entre católicos e ortodoxos se fortalece
cada vez mais. Os inimigos da cristandade estão altivos e violentos, e mais do
que nunca a unidade dos cristãos é uma necessidade. Oremos para que o abraço de
Pedro e André seja, em breve, a expressão de completa união, como nos tempos da
igreja primitiva!
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Título Original: Católicos
e ortodoxos: cada um na sua, mas com alguma coisa em comum
O Catequista
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