quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Urgências para a Igreja hoje


Fala-se tanto em missão – é um imperativo sempre presente, pois que mandato do próprio Senhor: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19s). O mandato é este, a ordem é clara, simples, direta, altiva, do Senhor nosso Deus, e ninguém pode muda-la, silenciá-la, amaciá-la, adulterá-la, deformá-la!

Mas, atenção: a missão é algo muito mais amplo e profundo que um qualquer programa com tempo e método determinados. A missão é uma constante, uma tensão, uma tendência, uma consciência, uma disponibilidade a compartilhar a alegria, a felicidade, a plenitude, a certeza e experiência de crer e viver no Senhor Jesus Cristo.: “Anunciamo-vos a Vida eterna, que estava voltada para o Pai e que nos apareceu! O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o Seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa” (1Jo 1,2b-4).

Sendo assim, antes que de missão no sentido de ir em busca dos distantes, de recuperar perdidos ou de fazer novos cristãos na nossa sociedade descristianizada, deveríamos nos perguntar pelo nosso modo de aderir e viver o Cristo como Igreja.

Isto posto, a verdadeira urgência hoje não é ir atrás dos distantes com palavras pomposas e análises tão vistosas e empoladas quanto artificiais e inúteis, com piruetas e cambalhotas, mas sim fortalecer nossa vivência, aprofundar nossa identidade, recuperar nossa mística, tomar a sério o desafio de santidade, estreitar nossos laços fraternos, corrigir os abusos tremendos na nossa liturgia, formar nosso padres e seminaristas, fazer voltar ao verdadeiro e simples radicalismo evangélico os nossos religiosos.

Como poderíamos encantar alguém para Cristo quando nossas comunidades são desencantadas e desencantadoras? Como poderíamos aquecer corações e atrair se nossas homilias são manifestos ideológicos, eivados de politicamente correto e modismos mundanos? Como ousamos pensar seriamente em missão aos distantes quando até mesmo os que nos procuram saem de nós decepcionados e os que são dos nossos nos deixam escandalizados?

Cardeal Sarah: “Alguns padres hoje tratam a Eucaristia com perfeito desdém”


Alguns padres hoje tratam a Eucaristia com perfeito desdém. Eles vêem a Missa como um banquete tagarela onde os cristãos que são fiéis aos ensinamentos de Jesus, os divorciados e recasados, homens e mulheres em situação de adultério e turistas não-batizados a participar em celebrações Eucarísticas de grandes multidões anônimas têm todos acesso ao Corpo e Sangue de Cristo, sem distinção.

A Igreja tem de examinar urgentemente a adequação eclesial e pastoral destas celebrações Eucarísticas enormes com milhares e milhares de participantes. Há aqui um grande perigo de tornar a Eucaristia, "o grande Mistério da Fé", numa festa vulgar e de profanar o Corpo e o precioso Sangue de Cristo. Os padres que distribuem as sagradas espécies sem conhecer ninguém, e que dão o Corpo de Jesus para todos, sem discernimento entre cristãos e não-cristãos, participam na profanação do Santo Sacrifício da Eucaristia.

Aqueles que exercem autoridade na Igreja tornam-se culpados, sob forma duma cumplicidade voluntária, de permitir sacrilégio e profanação do Corpo de Cristo que acontece nestas enormes e ridículas celebrações de si próprios, em que uma pessoa dificilmente percebe que "anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha." (1Cor 11, 26).

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Padres sinodais falam sobre a formação de leigos e sacerdotes na Amazônia


Na 3ª das Congregações Gerais do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, nesta terça-feira, 8 de outubro, os Padres sinodais discutiram sobre a formação cristã, tanto dos leigos como dos sacerdotes, entre os povos da Amazônia, e sobre a necessidade de novos caminhos dos ministérios.

Segundo indicou o Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, durante o encontro diário com jornalistas acreditados, nas diferentes intervenções deste dia "falou-se muito sobre a necessidade de formação para nutrir as comunidades eclesiais".

“Formação de leigos e também de sacerdotes. Trata-se de uma necessidade de formação inculturada”. Nesse sentido, "destacou-se o risco de que uma formação não inculturada leve a quem sente a vocação sacerdotal a abandonar o seminário”, pois a cultura contrasta com a que encontram no seminário.

Muito se falou sobre o papel dos leigos, assegurou Ruffini. “É necessário comprometer-se na formação dos fiéis leigos e compreender qual é o papel que eles podem desempenhar na divulgação do Evangelho. Também, segundo seus carismas, suas vocações que não são necessariamente aquelas do ministério ordenado, mas naturalmente também se falou do ministério ordenado, e dos novos caminhos para o ministério”.

Ruffini destacou que expressaram algumas preocupações "como que tipo de formação os leigos poderiam receber, que tipo de formação poderiam receber os sacerdotes, que tipo de formação poderiam receber os novos ministros”.

“Falou-se sobre a possibilidade de diáconos locais temporários, falou-se de como esse ministério pode acontecer a partir de religiosos consagrados. Foi dito que não se deve cair no erro de uma resposta meramente funcional a esse pedido de poder celebrar a Eucaristia. Seria um erro dar uma explicação funcionalista do sacerdócio”.

Quanto à proposta de instituir "novos ministérios, novos caminhos, enfatizou-se muito que nasce do risco de que existam cristãos de primeira e de segunda classe, aqueles que participam na cerimônia eucarística e podem receber a comunhão e aqueles que não”.

Portanto, “a pergunta é essa: Como levar a Eucaristia a essas populações que não são de segunda classe? Como fazer chegar a Palavra de Deus através da Eucaristia? Este pedido vem das comunidades que se encontram sem guia espiritual, sem possibilidade de celebrar a Eucaristia. Estas comunidades já propõem pessoas que ganharam o respeito por causa de sua vida moral ao serviço dos demais que poderiam acompanhar as populações em comunhão com a Igreja local”.

Os padres sinodais enfatizaram que, “se a Igreja vive da Eucaristia e a Eucaristia edifica a Igreja, são muitos os povos que reclamam a presença permanente e não só de visitantes. Estabeleceu-se a diferença entre uma Igreja visitante e uma Igreja permanente”.

Qual é a diferença entre um Sínodo e um Concílio?


Nos Atos dos Apóstolos, uma das primeiras questões que a Igreja teve de enfrentar foi a admissão de convertidos à fé cristã (cf. Atos 15). Havia opiniões diferentes sobre se os convertidos precisavam obedecer à lei de Moisés e ser circuncidados antes de se tornarem cristãos.

Os primeiros bispos da Igreja reuniram-se em Jerusalém para discutir o assunto. Uma decisão final foi tomada após muito debate e, como resultado, os convertidos gentios não precisavam mais ser circuncidados ou seguir vários aspectos da lei de Moisés.

Desde então, essa reunião de bispos foi chamada de “Concílio de Jerusalém” e foi vista como um protótipo para todas as reuniões de bispos em que as decisões tinham que ser tomadas para o benefício da Igreja. O último desses concílios foi o Concílio Vaticano II, realizado na década de 1960.

Mas, ao longo dos séculos, desenvolveram-se dois tipos distintos de reuniões de líderes da Igreja: os concílios e os sínodos.

Concílio

De acordo com a Catholic Encyclopedia, “os concílios são assembleias legalmente convocadas de dignitários eclesiásticos e especialistas em teologia com o objetivo de discutir e regular assuntos de doutrina e disciplina da Igreja”.

Em particular, “Concílios Ecumênicos são aqueles aos quais os bispos e outros com direito a voto são convocados de todo o mundo (oikoumene) sob a presidência do Papa ou de seus legados, e cujos decretos, tendo recebido a confirmação papal, vinculam todos os cristãos.”

Houve aproximadamente 21 concílios ecumênicos na história da Igreja. Esses concílios não são realizados regularmente e são convocados apenas quando há uma grande necessidade.

Um exemplo é o Primeiro Concílio de Nicéia (325), onde o Credo Niceno foi adotado pela primeira vez, esclarecendo a crença da Igreja sobre a natureza de Jesus Cristo. O Credo Niceno é a profissão de fé que ainda rezamos todos os domingos na missa.

Mais recentemente, o Concílio Vaticano II (1962-1965) foi convocado para discutir o mundo moderno e os muitos novos desafios que a Igreja teve que enfrentar.

Os resultados dessas reuniões são vinculativos e amplos, resolvendo questões que beneficiam a Igreja Católica.
Sínodo

Na história da Igreja, os sínodos eram normalmente realizados localmente, em várias regiões do mundo, para lidar com questões disciplinares locais. O Papa Paulo VI reviveu essa ideia e estabeleceu o Sínodo dos Bispos em 1965 com o Motu Proprio Apostolica Sollicitudo.

O atual Código de Direito Canônico detalha o propósito desse pequeno grupo de bispos que se reúne para discutir vários tópicos.

    O Sínodo dos Bispos é a assembleia dos Bispos escolhidos das diversas regiões do mundo, que em tempos estabelecidos se reúnem para fo- mentarem o estreitamento da união entre o Romano Pontífice e os Bispos, para prestarem a ajuda ao mesmo Romano Pontífice com os seus conselhos em ordem a preservar e consolidar a incolumidade e o incremento da fé e dos costumes, a observância da disciplina eclesiástica, e bem assim ponderar as questões atinentes à acção da Igreja no mundo.

Papa adverte que cristãos “com condições” podem cair em heresia


O Papa Francisco advertiu que os cristãos que vivem a fé “com condições” podem cair em heresia.

Durante a Missa celebrada nesta terça-feira, 8 de outubro, na Casa Santa Marta, o Santo Padre usou a figura bíblica de Jonas e sua discussão com Deus sobre os habitantes da cidade de Nínive, que ia ser destruída pelos pecados de seus cidadãos mas que finalmente Deus a perdoa ao ver seu arrependimento e conversão, para advertir contra os cristãos com condições.

Para o Santo Padre, Jonas e Deus provam ser "obstinados". "Jonas, obstinado com suas convicções de fé, e o Senhor obstinado em sua misericórdia: ele nunca nos abandona, sempre bate na porta do coração até o fim".

“Jonas, obstinado porque concebia a fé com condições; Jonas é o modelo daqueles cristãos ‘desde que’, cristãos com condições. ‘Eu sou cristão, mas desde que as coisas sejam feitas assim’. Não, não, essas atitudes não são cristãs. Isso é heresia. Isso não está certo... Cristãos que condicionam Deus, que condicionam a fé e a ação de Deus”.

O Pontífice reforçou que essa atitude de "eu sou cristão, desde que" faz com que tantos cristãos se fechem "nas próprias ideias e acabem na ideologia: é o mau caminho da fé para a ideologia". Nesse sentido, lamentou que "hoje existem tantos assim", cristãos que têm medo "de crescer, dos desafios da vida, dos desafios do Senhor, dos desafios da história".

Os cristãos se apegam "às suas convicções, às suas primeiras convicções, às suas próprias ideologias". Cristãos que "preferem a ideologia à fé", que "têm medo de se colocar nas mãos de Deus e preferem julgar tudo, mas a partir da pequenez do próprio coração".

“As duas figuras da Igreja, hoje: a Igreja daqueles ideólogos que se escondem em suas próprias ideologias, ali, e a Igreja que mostra o Senhor que se aproxima de todas as realidades, que não sente repugnância: as coisas não causam repugnância ao Senhor, os nossos pecados não lhe são repugnantes. Ele se aproxima para acariciar os leprosos, os doentes. Porque Ele veio para curar, veio para salvar, não para condenar”, concluiu.

A seguir, a leitura comentada pelo Papa Francisco:

Sínodo debate criação de rito amazônico católico e ordenação de homens casados


Os 176 padres sinodais que participaram da segunda congregação geral, na presença do Papa Francisco, discutiram a possibilidade de criar um rito amazônico católico e de ordenar sacerdotes homens virtuosos casados, os chamados viri probati.

Em uma síntese feita por Vatican News e divulgada pela Sala de Imprensa do Vaticano, informou-se que “houve espaço para a reflexão sobre os ritos indígenas: a Igreja – falou-se – considera com benevolência tudo aquilo que não é ligado a superstições, para que se possa harmonizar com o verdadeiro espírito litúrgico”.

“Daqui, a sugestão de iniciar na Amazônia um processo de compartilha das experiências daquelas comunidades indígenas que têm celebrações inculturadas para alguns sacramentos, como o batismo, o matrimônio ou a ordenação sacerdotal”, continua o texto.

Nesse sentido, “uma das propostas feitas foi  pensar em estabelecer – ad experimentum e segundo o justo discernimento teológico, litúrgico e pastoral – um rito amazônico católico para viver e celebrar a fé em Cristo. Foi ressaltado que, assim como existe um ecossistema ambiental, existe também um ecossistema eclesial”.

Da mesma forma, a síntese do Vatican News indica que “alguns pronunciamentos trataram a questão dos chamados viri probati, descrita pelo Documento de trabalho sinodal como uma das propostas para garantir frequentemente os Sacramentos onde existe carência de sacerdotes".

"Trata-se de uma necessidade legítima – falou-se na Sala – mas que não pode condicionar um repensamento substancial da natureza do sacerdócio e da sua relação com o celibato, previsto pela Igreja de rito latino", continua a síntese.

“Foi sugerida uma pastoral vocacional entre os jovens indígenas para favorecer a evangelização também em regiões mais remotas da Amazônia, para que não se criem ‘católicos de primeira classe’, que podem aceder facilmente à Eucaristia, e ‘católicos de segunda classe’, destinados a ficar sem o Pão de Vida por até dois anos seguidos”, conclui o texto do Vatican News.

Palavra de Vida: «Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que te foi confiado» (2 Tm 1,14).


«Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, 
o precioso bem que te foi confiado» (2 Tm 1, 14).

O apóstolo Paulo escreve a Timóteo, seu “filho na fé” (1)e seu companheiro na ação de evangelização, a quem confiou a comunidade de Éfeso.

Sentindo que o momento da morte estava prestes a chegar, Paulo encoraja-o nesta difícil tarefa de guia. É que, na verdade, Timóteo recebeu um “bem precioso”, isto é, o conteúdo da fé cristã, como os apóstolos o tinham transmitido, e tem agora, por seu lado, a responsabilidade de o comunicar fielmente às futuras gerações.

Ora, para Paulo, isso significa proteger e fazer resplandecer o tesouro recebido, na disposição de dar até a própria vida, para difundir a alegre notícia que é o Evangelho.


«Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, 
o precioso bem que te foi confiado» (2 Tm 1, 14).

Paulo e Timóteo receberam o Espírito Santo, qual luz e garantia para a sua insubstituível função de pastores e evangelizadores. Através do seu testemunho, e do testemunho dos seus sucessores, o anúncio do Evangelho chegou até nós.

Da mesma maneira, cada cristão tem uma “missão” na sua comunidade social e religiosa: construir uma família unida, educar os jovens, dedicar-se seriamente na política e na profissão, cuidar de pessoas frágeis, iluminar a cultura e a arte com a sabedoria do Evangelho vivido, consagrar a vida a Deus para o serviço dos irmãos.

Aliás, e de acordo com as palavras do Papa Francisco aos jovens, «[…] cada homem e cada mulher é uma missão […]» (2). O mês de outubro de 2019 foi proclamado pela Igreja Católica “Mês missionário extraordinário”. Isso pode ser para nós uma ocasião de renovar conscientemente o compromisso de testemunhar a nossa fé, com o coração aberto e dilatado pelo amor evangélico que gera acolhimento, encontro e diálogo (3).

As heresias do Instrumentum Laboris


Após ler todo o Documento de Trabalho do Sínodo para a Região Amazônica, queria fazer um resumo para quem não o leu ainda por falta de tempo ou outras atividades, ao mesmo tempo queria mostrar não as minhas opiniões, mas o texto em si. Tenho certeza de que o sentido sobrenatural da Fé encontrará a problemática deste Documento em pouco tempo. Lembro o leitor que este Documento não é Magistério da Igreja, pois é um texto de trabalho; o Sínodo não tem documento magisterial, pois ainda [está acontecendo,] em Roma.

Deixem-me sublinhar duas coisas positivas no Documento para que não se pense que eu só percebi o negativo e que sou pessimista. O n. 144 fala que é preciso purificar comportamentos indígenas contrários ao Evangelho, ou seja, é preciso, “também rever com consciência crítica uma série de comportamentos e realidades dos povos indígenas, que são contrários ao Evangelho”. A segunda coisa é a pequena observação contra o aborto que se encontra no número 146/e.

Contudo, os pontos positivos não compensam os inúmeros pontos negativos. Vejamo-lo:

O n. 14 afirma que a vida na Amazônia está ameaçada também pela “perda da sua cultura originária e de sua identidade (idiomas, práticas espirituais e costumes)”. Mais ainda, o Documento diz que as “práticas espirituais” são garantias de vida na Amazônia. Como se pode ver pelo restante do texto quando se trata do mesmo assunto em contextos semelhantes, tal afirmação significa defender o paganismo em detrimento do Cristianismo. A religião amazônica parece tão certa que nós é que vamos aprender dela:

    “O Sínodo da Amazônia se transforma assim em um sinal de esperança para o povo amazônico e para a humanidade inteira. Trata-se de uma grande oportunidade para que a Igreja possa descobrir a presença encarnada e ativa de Deus: nas mais diferentes manifestações da criação; na espiritualidade dos povos originários; nas expressões da religiosidade popular” (n. 33). A Igreja agora é “irmã e discípula” dos povos e da natureza (n. 92).

Por outro lado, o n. 25 parece dar a entender que a civilização ocidental é uma ameaça para a Amazônia, pois nestas terras ainda “não atingidas pelo influxo da civilização ocidental se reflete na crença e nos ritos sobre a atuação dos espíritos, da divindade – chamada de inúmeras maneiras – com e no território, com e em relação à natureza”. Mais ainda, as variadas religiões pagãs indígenas oferecem à Igreja uma nova vinda do Espírito Santo: “a diversidade original que oferece a região amazônica – biológica, religiosa e cultural – evoca um novo Pentecostes” (n. 30). Sendo assim, a colonização, e, porque não afirmá-lo, a mesma evangelização dos nossos antigos missionários, é valorizada negativamente no n. 76 como se tivesse feito a esses povos mais mal do que bem.

Aquela visão que a Igreja Católica é a única verdadeira se desmoronaria se esta outra fosse assegurada: “A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são destruidoras desde mesmo credo” (n. 39). E, contudo, essa maneira de pensar é coerente com a visão relativista do que significa o “converter-se a Cristo” do Documento; por exemplo, o n. 43 diz que no encontro com Cristo surgem processos de conversão e abrem-se caminhos para a existência de novos ministérios mais adequados a estes tempos. Impressionante: a conversão não é para Cristo, mas parte de Cristo rumo a alguma coisa não definida e é, nesse contexto a se definir, que surgem os novos ministérios. Aqui o objetivo não é Cristo, mas ele é apenas um ponto de partida. Então o que surgirá dependerá muitos dos tais “processos de conversão”, mas nada disso parece muito definido. Contudo, a experiência bimilenária da Igreja nos mostra várias definições indubitáveis.

Nos números 44, 84, 121, 146/d a expressão “Mãe Terra” aparece em maiúscula e plenamente assumido pelo documento. Afirma-se então que a Mãe Terra é agredida, mas também que a espiritualidade (pagã) desta região está ameaçada, que ir contra essa espiritualidade pagã afeta a vida da humanidade inteira. O n. 46 também dá apoio às espiritualidades indígenas. Espiritualidade e teologia dos povos indígenas devem ser transmitidas (cf. n. 50). Imaginem? Um missionário trabalhando, não para anunciar a doutrina católica, mas a espiritualidade e as teologias dos povos indígenas. Esse tema aparece de novo no n. 72 onde a metrópole não parece ser valorizada afirmativamente porque ela modificaria a religião dos índios. Dá a impressão que o Documento de Trabalho quer manter a religião dos índios a qualquer preço. No n. 75 há outra explicação das tradições familiares na qual sequer palpita certo valor negativo das crenças e do “diálogo com os espíritos” realizados pelos indígenas. No número 85, o Instrumento fala que “os rituais e as cerimônias indígenas são essenciais para a saúde integral, pois compõem os diferentes ciclos da vida humana e da natureza. (…) Protegem a vida contra os males que podem ser provocados tanto por seres humanos como por outros seres vivos. Ajudam a curar as doenças que prejudicam o meio ambiente, a vida humana e outros seres vivos”; semelhante valorização do rituais indígenas se encontra no n. 89. Mas, tudo isso não parece lembrar Maurice Strong e seu Culto da adoração da Terra naqueles 146 mil hectares norte-americanos que abriga templos de diversas religiões pagãs do mundo?

Para conseguir todo esse ambientalismo, há planos; por exemplo, o Documento propõe que entre na formação dos futuros padres a ecoteologia e a teologia indígena (cf. 99/b.1). Por outro lado, o que significa essa “reforma das estruturas dos seminários, para favorecer a integração dos candidatos ao sacerdócio nas comunidades” (n. 99/b.2)? Mais ainda, as pressas aparecem para conseguir os objetivos: “Exija-se o ensino da teologia indígena pan-amazônica em todas as instituições educativas” (n. 99/c.3). Além do mais valoriza-se a teologia da libertação em sua versão “teologia latino-americana” e “teologia índia” (n. 113).