sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Maria na Plenitude dos Tempos: A Encarnação


“Mas, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os súditos da lei e nós recebêssemos a condição de filhos de Deus” (Gl 4,4)

Esse texto está na Carta de São Paulo aos Gálatas. A Galácia, hoje Turquia, fazia parte do Império romano e tinha sido evangelizada por São Paulo. Sua carta é um alerta contra a influência dos cristãos judaizantes, que insistiam em obrigar os cristãos gálatas, não judeus, à observância da Torá, a começar da circuncisão. Isso criou divisão na Comunidade. Por isso, São Paulo faz a defesa de que a salvação vem pela graça de Jesus e não pela lei. Ele reafirma que o batismo e não a circuncisão era o sinal que marcava o discípulo de Jesus, independentemente de sua raça e origem. Ninguém compra a salvação com boas obras e ninguém pode tirar a libertação da lei dada por Jesus. A relação salvífica com Jesus e o amor fraterno oferecem o critério da liberdade cristã, que jamais pode ser sufocada por outras obrigações, impostas pelas tradições ou pelas leis. Por isso, o que importa é viver no Espírito, de quem brota a verdadeira liberdade. O cap. 4 fala exatamente da liberdade dos filhos de Deus, conquistada por Jesus. Somos todos herdeiros das promessas de Abraão, que são anteriores à Torá dos judeus. Contudo, porque éramos menores de idade, ficamos sujeitos a leis e a crenças, como escravos. Contudo, quando Deus envia seu Filho, n’Ele e por Ele, todos nós, judeus e não judeus, recebemos a dignidade de filhos de Deus e nos tornamos livres dessa escravidão. Essas afirmações de São Paulo são tão contundentes para a fé cristã, que ele se decepciona com os gálatas, que se deixavam enfeitiçar pelos judaizantes, chamando-os de insensatos (Gl 3,1) e se irrita fortemente com os pregadores judaizantes, que insistiam na lei da circuncisão, dizendo que eles deveriam se mutilar totalmente, e não só circuncidar-se (Gl 5,12).   

Vejamos, então, que horizonte esse texto da Carta aos Gálatas descortina para nós e o sentido das expressões “plenitude dos tempos” e “nascido de uma mulher” para este tempo de Natal.  

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natal: tristeza ou esperança?


Como todos lembram, em 2010, a solenidade do Natal foi celebrada num sábado. Portanto, dois dias seguidos de festas. E o que é que chamou a atenção de um site de Dourados, que acessei no final do dia 25? Eis as manchetes mais incisivas: “Véspera de natal termina com 47 mortos nas rodovias federais”. “Condutor embriagado é aprendido”. “Casal é vítima de tentativa de homicídio”. “Indígena é encontrada morta em aldeia”. “Homem assassina sogra e fere sogro”. “Mulher-bomba mata ao menos 41 em ataque no Paquistão”.

Por isso, talvez ninguém se admirou ou espantou ao se deparar, na segunda-feira, dia 27 de dezembro, com a manchete que um jornal da cidade encontrou para falar dos dois dias de festa: “Violência marca Natal em Dourados: polícia registrou seis tentativas de homicídio e o corpo de um jovem morto a tiros foi encontrado na Vila Valderez”.


No dia 12 de maio de 2007, Bento XVI visitou, em Guaratinguetá, a Fazenda da Esperança, uma organização presente em dezenas de países do mundo, a serviço da recuperação de dependentes químicos. Tocado pelo clima de serenidade e alegria que irradiava do rosto de milhares de jovens que se sentiam sanados pela comunhão fraterna que caracteriza as “Fazendas”, ele não hesitou em defini-los “embaixadores da esperança” num mundo que parece tê-la perdido. Significativo é que o Papa se dirige a pessoas que tinham acabado no fundo do poço. Mas, por acreditarem no amor de um Deus que é capaz de «mudar as pedras em filhos de Abraão» (Lc 3,8), eles se transformavam em embaixadores de uma esperança que não falha, porque alicerçada na «rocha, que é Cristo» (1Cor 10,4).

No dia anterior, durante o encontro com os bispos do Brasil na catedral de São Paulo, o Papa ressaltou a ligação profunda que existe entre a fé em Deus e a libertação humana: «Onde Deus e a sua vontade não são reconhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e na sua presença, falta também o essencial para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos». Assim falando, ele repisava o que escrevera na Encíclica “A Caridade na Verdade”, em 2009: «O ser humano se desenvolve quando cresce no espírito, quando sua alma se conhece a si mesma e aprende as verdades que Deus nela imprimiu em gérmen, quando dialoga consigo mesma e com o seu Criador. Longe de Deus, o homem é inquieto e doente. Não há desenvolvimento pleno nem bem comum universal sem o bem espiritual e moral das pessoas, consideradas na sua totalidade de alma e corpo».

Distanciando-se de Deus, o homem também se distancia da felicidade pessoal e do desenvolvimento social e econômico da sociedade. Não terá sido por isso que o mesmo site douradense, entre as manchetes do dia 25 de dezembro, afirmava que “o sentimento de tristeza no Natal não é algo fora da normalidade”?

Contudo, verdade seja dita, tristeza no Natal é algo fora da normalidade, sim! Se ela existe, é porque, não poucas vezes, a festa se reduz a compras, viagens, farras e comilanças, onde o amor e o serviço aos irmãos nada significam: «Quem ama o seu irmão está na luz e não corre perigo de tropeçar; mas quem deixa seu irmão de lado caminha nas trevas e não sabe para onde vai» (1Jo 2, 10-11).

Não se pode negar: para que sejamos sustentados pela esperança, pela paz e pela alegria, precisamos viver em “estado de conversão” permanente. Foi o que lembrou Bento XVI, no dia 23 de maio de 2010, solenidade de Pentecostes: «A chama do Espírito Santo deve consumir as escórias que dificultam e corrompem o homem em suas relações com Deus e com o próximo. Este fogo divino, porém, nos assusta: com medo do fogo, preferimos permanecer no estado em que estamos. Isso acontece porque, muitas vezes, a nossa vida é governada pela lógica do ter e do possuir, ao invés do doar-se. Há pessoas que creem em Deus e admiram a figura de Jesus Cristo, mas quando se pede que abandonem algo de si mesmas, o medo das exigências da fé as faz recuar. Temem ter que renunciar a algo de bonito, ao que estão apegadas; temem que, seguindo a Cristo, se privem da liberdade, de certas experiências, de uma parte de si mesmas. Querem ficar com Jesus e segui-lo de perto, mas têm medo das conseqüências que o fato comporta».

                                                                      Dom Redovino Rizzardo, cs

Bispo de Dourados - MS


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um novo Natal!


Para alguns pode parecer que a cada ano, os cristãos repetem os mesmos ritos, para relembrar um fato a primeira vista tão antigo, mas ao mesmo tempo tão novo, o nascimento do Emanuel, Deus conosco, Jesus de Nazaré, o Salvador!

Na verdade, não vivemos de uma recordação. Por incrível que pareça, a cada ano revivemos o que ocorreu no meio da noite, tornamo-nos contemporâneos, podemos aproximar-nos deste Menino na companhia dos pastores, alegrando-nos com José e Maria, sussurrando palavras cheias de emoção e alegria, pela chegada de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem!

A alegria deste fato que se irradia pelos séculos e que nos alcança hoje, no início de um Novo Milênio é o fato de que podemos ver a Deus! Deus tornou-se visível aos nossos olhos, Ele nos revelou a Sua Face, Ele deixou-nos penetrar no seu Mistério insondável. Podemos, como os pastores e os Magos do Oriente, que retornaram exultantes para suas casas dizer a todos que nós vemos o Senhor! Podemos ver a Face humana de Deus numa criança pequenina, recém-nascida, colocada sobre um presépio, que não tem para se aquecer senão algumas faixas e o hálito dos animais. Deus se fez um de nós!

Mas, se grande alegria é poder ver o Senhor, não é menor a de poder ouvi-Lo, pois “a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós.” (Bento XVI, Verbum Domini, 12). Cada vez que abrimos o Evangelho, revivendo os fatos e acolhendo as palavras, como um personagem à mais nas cenas, deixamos que a Palavra que se revelou no Natal ressoe em nossos corações!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Padre Pietro Messa explica as razões do nascimento do Menino Jesus



O nascimento do Menino Jesus realmente mudou a história da humanidade? É verdade que os potentes e o povo entenderam imediatamente a importância daquele nascimento? Por que contamos os dias desde aquele nascimento? Que sentido tem na vida de cada um fazer o presépio?

 ***
Qual é o significado na história e no presépio feito por São Francisco, da figura do Menino Jesus?

Pe. Pietro Messa: Sabemos que os primeiros cristãos, sendo todos de religião hebraica, guardavam o sábado, mas o dia seguinte, ou seja, o atual domingo, se reuniam para lembrar a Ressurreição. Então, a primeira festa celebrada e aquela por excelência é a Páscoa. Sucessivamente, começaram a celebrar outros acontecimentos da vida de Jesus, como o seu nascimento no dia 25 de dezembro, isto é, o dia em que anteriormente celebravam o Sol invictus, ou seja, que não foram vencidos pelas trevas; visto que passado o solstício de inverno, os dias começam a ser mais longos e a luz toma conta da escuridão da noite. Da celebração passamos para as representações e a peregrinação a Belém, cidade do rei Davi de cuja linhagem nasceu Jesus.

As peregrinações - ao mesmo tempo, expressão e incentivo de ligação com os lugares da vida terrena de Jesus - foram motivos propulsores para a narração e representação da humanidade de Jesus. Neste contexto está o desejo de frei Francisco de Assis manifestado ao povo de Greccio em 1223,  de ver "com os olhos do corpo", como o Menino Jesus estava deitado na manjedoura entre o boi e o jumento. E assim, na noite de Natal sobre a manjedoura onde estavam os dois tradicionais animais, foi celebrada a Eucaristia para que pudéssemos ver "com os olhos do corpo", o pão e o vinho consagrados, e acreditar, graças ao espírito Santo, na presença do Corpo e Sangue de Cristo (para aprofundar cfr U.Occhialini-P.Messa, O primeiro presépio do mundo, Ed.Porziuncula, Assis 2011).

Em um âmbito secularizado como este moderno, o nascimento de Jesus Menino é banalizado e colocado no contexto de um "mito" que apenas as crianças podem acreditar. Por que, segundo os cristãos, aquele nascimento mudou o mundo?

Pe.Pietro Messa: Mas talvez a pior desmistificação do Natal não seja a de acreditar em um mito, mas o reducionismo do mesmo para a festa de bondade, do altruísmo, de ajuda aos necessitados. Não que essas coisas não sejam importantes ou presentes no Evangelho, mas o centro é o fato de que Jesus vem a nós porque fez a opção pela nossa pobreza. Ele estende sua mão até o momento em que seu braço é estendido na cruz. Como nos disse a Clarissa, irmã Clara Tarcisia do Promnastero de Santa Clara de Assis nos últimos meses de sua existência: "O importante na vida é amar, e, sobretudo deixar-se amar!". E o Natal é o tempo propicio para deixar-se amar e isso não gera passividade porque Jesus nos ama como somos; mas não nos deixa como somos, ao contrário, nos transforma em capacidade de amar de modo criativo e eficaz. Desta forma, o encontro com a sua Presença muda e dá início a uma nova humanidade.

Os cristãos falam de Jesus como o Salvador, por quê?

Pe.Pietro Messa: Jesus de Nazaré - uma cidade que, de acordo com alguns, não poderia vir nada de bom - passou pela Palestina e, como para outras pessoas, também sobre ele perguntavam quem era. As respostas a essa pergunta foram as mais variadas, mas quem não se fecha em seus próprios esquemas, nota que toda resposta é inadequada, ou melhor, inesgotável. E assim, devagar, cada vez mais se reconhece a sua realidade de Messias, ou seja, ungido pelo Altíssimo e então o Salvador. Mas sobre a pessoa de Jesus, ainda que obtenhamos algumas certezas definidas pelos dogmas, questões ainda se abrem e, como nos mostram os santos, há sempre algo a se maravilhar, isto é, para parar e olhar com estupor para Ele.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Roteiro da Visita do Ministro Provincial


Após o capítulo dos frades capuchinhos, o Provincial, Frei Deusivan e sua equipe irão fazer visitas nas fraternidades dos frades do território provincial. Após as visitas o novo ministro deverá reunir-se com o definitório para só então publicar a lista com as transferências dos frades que ficarão nas devidas paróquias.

Regional Barra do Corda:

Tuntum: 20/12 (noite)
Barra do Corda: 21/12 (manhã)
Grajaú: 22/12 (manhã)
Trizidela do Vale/Igarapé Grande: 30/12 (tarde)

Regional de Imperatriz:

Porto Franco: 22/12 (noite)
Imperatriz: 23/12 (manhã)
Açailândia: 23/12 (tarde)
Conceição do Araguaia: 26/12 (tarde)
Marabá: 28/12 (tarde)


Regional de São Luís:

Cohab: 30/12 (manhã)
Anil: 30/12 (tarde)
Coroadinho: 31/12 (manhã)
Carmo: 31/12 (tarde)

Regional de Belém: 

Belém: 03-04 (manhã)
Macapá: 05/01 Mosteiro Santa Verônica Giuliana (manhã)
Santana: 07/01 (manhã)
Primavera/Quatipuru: 09/01 (manhã)
Peixe-Boi/Nova Timboteua: 09/01 (tarde)
Capanema: 10/01 (manhã)

Natal: tempo de Jesus em nossas vidas!


Em todos os lugares em que estivermos, realidades e sentimentos do Natal se fazem sempre novidade. Os sonhos são acordados e as memórias escondidas no tempo ganham espaço no coração das pessoas de “boa vontade”. Deus age em todos os tempos e lugares. Afinal, quais seriam o tempo e o lugar desconhecidos por Deus? Enquanto o Natal se faz advento de Deus em nossas vidas, brota de dentro de nós, como dom de Deus, o desejo de eternidade, de vida nova e de um mundo mais justo e fraterno.

O tempo presente é o lugar da manifestação de Jesus Cristo. Ele, desde a manjedoura, passando pela cruz e ressurreição revela a Sua grandeza na fragilidade humana. “Ele tem feito tudo bem; faz tanto os surdos ouvirem como os mudos falarem” (Mc 7, 37). Por ser Ele o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6), todos somos convidados a manifestar, no tempo presente, a Sua vontade, o Seu agir e o Seu falar. Jesus revela a todos nós o verdadeiramente humano.


Olhando cada dia para Jesus Cristo descobrimos sempre algo novo. Este novo não pode ser explicado, decodificado ou definido. Mesmo que a aventura das palavras tente definí-lo, sempre permanecerá um algo mais a ser expresso. Este novo que traz sentido para a existência humana é que se torna ação, testemunho de vida, alegria, entusiasmo, silêncio e esperança.

Enquanto os rumores do mercado de consumo tentam oferecer coisas materiais como sinônimos de felicidade, abramos o nosso coração para contemplar o cenário no qual Jesus nasceu, único capaz de trazer a alegria ao coração. Dos textos bíblicos que narram o momento do encontro de Deus com a nossa humanidade, surgirão muitas moções e inspirações capazes de trazer sentido para o nosso existir.

A novidade do Natal quebra a “rotina” do nosso “fazer humano” para dar espaço ao “fazer de Deus” em nós e para nós. Que esta novidade não passe despercebida e nem se torne uma rotina. É o tempo de Deus nas nossas vidas!

Tenhamos um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo com Jesus Cristo!

Dom Paulo De Conto

Bispo de Montenegro - RS


Apelo de Natal da Terra Santa


“Tornar-se pessoas que se perdoam, dentro da própria história, na busca de Deus": são os votos do Custódio da Terra Santa, Fr. Pierbattista Pizzaballa, contida na Mensagem de Natal divulgada na segunda-feira, 18 de dezembro, pela Custódia.

"O Natal – escreve o Custódio – é a história de um Deus que veio se esconder num campo em Belém. Natal é também a história de campos e tesouros, de homens que os encontram. Mas, ao possuir o tesouro, é preciso despojar-se de tudo."

Fr. Pizzaballa recorda que quem ama perde tudo, porque amar significa doar, como fez Cristo. E o homem, ao perder tudo, encontra Deus. "Assim, afirma o Custódio, o caminho do perder se transforma no caminho a encontrar. Quem o percorre, encontra Deus, o irmão e a si mesmo." E conclui:

"De fora, pode parecer que não muda nada, que a história, em especial a da Terra Santa, continua a ser a realidade dramática que vivemos: ódio, divisões, medos, desconfiança e preconceito. Mas dentro muda tudo! Muda o olhar sobre a vida porque esta vida não é somente um campo, mas é o campo que esconde o tesouro."
_____________________________
Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/noticias/8342-apelo-de-natal-da-terra-santa

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Educar os Jovens para a Justiça e a Paz


1. INÍCIO DE UM NOVO ANO, dom de Deus à humanidade, induz-me a desejar a todos, com grande confi ança e estima, de modo especial que este tempo, que se abre diante de nós, fi que marcado concretamente pela justiça e a paz.

Com qual atitude devemos olhar para o novo ano? No salmo 130, encontramos uma imagem muito bela. O salmista diz que o homem de fé aguarda pelo Senhor « mais do que a sentinela pela aurora »(v. 6), aguarda por Ele com firme esperança, porque sabe que trará luz, misericórdia, salvação. Esta expectativa nasce da experiência do povo eleito, que reconhece ter sido educado por Deus a olhar o mundo na sua verdade sem se deixar abater pelas tribulações.

Convido-vos a olhar o ano de 2012 com esta atitude confiante. É verdade que, no ano que termina, cresceu o sentido de frustração por causa da crise que aflige a sociedade, o mundo do trabalho e a economia; uma crise cujas raízes são primariamente culturais e antropológicas. Quase parece que um manto de escuridão teria descido sobre o nosso tempo, impedindo de ver com clareza a luz do dia. Mas, nesta escuridão, o coração do homem não cessa de aguardar pela aurora de que fala o salmista.

Esta expectativa mostra-se particularmente viva e visível nos jovens; e é por isso que o meu pensamento se volta para eles, considerando o contributo que podem e devem oferecer à sociedade. Queria, pois, revestir a Mensagem para o XLV Dia Mundial da Paz duma perspectiva educativa: « Educar os jovens para a justiça e a paz », convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo.

A minha Mensagem dirige-se também aos pais, às famílias, a todas as componentes educativas, formadoras, bem como aos responsáveis nos diversos âmbitos da vida religiosa, social, política, econômica, cultural e mediática. Prestar atenção ao mundo juvenil, saber escutá-lo e valorizá-lo para a construção dum futuro de justiça e de paz não é só uma oportunidade mas um dever primário de toda a sociedade.

Trata-se de comunicar aos jovens o apreço pelo valor positivo da vida, suscitando neles o desejo de consumá-la ao serviço do Bem. Esta é uma tarefa, na qual todos nós estamos, pessoalmente, comprometidos.

As preocupações manifestadas por muitos jovens nestes últimos tempos, em várias regiões do mundo, exprimem o desejo de poder olhar para o futuro com fundada esperança. Na hora atual, muitos são os aspectos que os trazem apreensivos: o desejo de receber uma formação que os prepare de maneira mais profunda para enfrentar a realidade, a dificuldade de formar uma família e encontrar um emprego estável, a capacidade efectiva de intervir no mundo da política, da cultura e da economia contribuindo para a construção duma sociedade de rosto mais
humano e solidário.

É importante que estes fermentos e o idealismo que encerram encontrem a devida atenção em todas as componentes da sociedade. A Igreja olha para os jovens com esperança, tem confiança neles e encoraja-os a procurarem a verdade, a defenderem o bem comum, a possuírem perspectivas abertas sobre o mundo e olhos capazes de ver « coisas novas » (Is 42, 9; 48, 6).

Os responsáveis da educação

2. A educação é a aventura mais fascinante e difícil da vida. Educar – na sua etimologia latina educere– significa conduzir para fora de si mesmo ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa. Este processo alimenta-se do encontro de duas liberdades: a do adulto e a do jovem. Isto exige a responsabilidade do discípulo, que deve estar disponível para se deixar guiar no conhecimento da realidade, e a do educador, que deve estar disposto a dar-se a si mesmo. Mas, para isso, não bastam meros dispensadores de regras e informações; são necessárias testemunhas autênticas, ou seja, testemunhas que saibam ver mais longe do que os outros, porque a sua vida abraça espaços mais amplos. A testemunha é alguém que vive, primeiro, o caminho que propõe.

E quais são os lugares onde amadurece uma verdadeira educação para a paz e a justiça? Antes de mais nada, a família, já que os pais são os primeiros educadores. A família é célula originária da sociedade. « É na família que os filhos aprendem os valores humanos e cristãos que permitem uma convivência construtiva e pacífica. É na família que aprendem a solidariedade entre as gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento do outro ». Esta é a primeira escola, onde se educa para a justiça e a paz.

Vivemos num mundo em que a família e até a própria vida se vêem constantemente ameaçadas e, não raro, destroçadas. Condições de trabalho frequentemente pouco compatíveis com as responsabilidades familiares, preocupações com o futuro, ritmos frenéticos de vida, emigração à procura dum adequado sustentamento se não mesmo da pura sobrevivência, acabam por tornar difícil a possibilidade de assegurar aos filhos um dos bens mais preciosos: a presença dos pais; uma presença, que permita compartilhar de forma cada vez mais profunda o caminho para se poder transmitir a experiência e as certezas adquiridas com os anos – o que só se torna viável com o tempo passado juntos. Queria aqui dizer aos pais para não desanimarem! Com o exemplo da sua vida, induzam os filhos a colocar a esperança antes de tudo em Deus, o único de quem surgem justiça e paz autênticas.

Quero dirigir-me também aos responsáveis das instituições com tarefas educativas: Velem, com grande sentido de responsabilidade, por que seja respeitada e valorizada em todas as circunstâncias a dignidade de cada pessoa. Tenham a peito que cada jovem possa descobrir a sua própria vocação, acompanhando-o para fazer frutificar os dons que o Senhor lhe concedeu. Assegurem às famílias que os seus filhos não terão um caminho formativo em contraste com a sua consciência e os seus princípios religiosos.

Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar ativamente na construção duma sociedade mais humana e fraterna.

Dirijo-me, depois, aos responsáveis políticos, pedindo-lhes que ajudem concretamente as famílias e as instituições educativas a exercerem o seu direito--dever de educar. Não deve jamais faltar um adequado apoio à maternidade e à paternidade. Atuem de modo que a ninguém seja negado o acesso à instrução e que as famílias possam escolher livremente as estruturas educativas consideradas mais idôneas para o bem dos seus filhos. Esforcem-se por favorecer a reunificação das famílias que estão separadas devido à necessidade de encontrar meios de subsistência.

Proporcionem aos jovens uma imagem transparente da política, como verdadeiro serviço para o bem de todos. Não posso deixar de fazer apelo ainda ao mundo dos media para que prestem a sua contribuição educativa. Na sociedade atual, os meios de comunicação de massa têm uma função particular: não só informam, mas também formam o espírito dos seus destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a educação dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre educação e comunicação: de fato, a educação realiza-se por meio da comunicação, que influi positiva ou negativamente na formação da pessoa.

Também os jovens devem ter a coragem de começar, eles mesmos, a viver aquilo que pedem a quantos os rodeiam. Que tenham a força de fazer um uso bom e consciente da liberdade, pois cabe-lhes em tudo isto uma grande responsabilidade: são responsáveis pela sua própria educação e formação para a justiça e a paz.

Educar para a verdade e a liberdade

3. Santo Agostinho perguntava-se: « Quid enim fortius desiderat anima quam veritatem – que deseja o homem mais intensamente do que a verdade? ». O rosto humano duma sociedade depende muito da contribuição da educação para manter viva esta questão inevitável. De fato, a educação diz respeito à formação integral da pessoa, incluindo a dimensão moral e espiritual do seu ser, tendo em vista o seu fim último e o bem da sociedade a que pertence.

Por isso, a fim de educar para a verdade, é preciso antes de mais nada saber que é a pessoa humana, conhecer a sua natureza. Olhando a realidade que o rodeava, o salmista pôs-se a pensar: « Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que Vós criastes: que é o homem para Vos lembrardes dele, o fi lho do homem para com ele Vos preocupardes? » (Sal 8, 4-5). Esta é a pergunta fundamental que nos devemos colocar: Que é o homem?

O homem é um ser que traz no coração uma sede de infinito, uma sede de verdade – não uma verdade parcial, mas capaz de explicar o sentido da vida –, porque foi criado à imagem e semelhança de Deus. Assim, o fato de reconhecer com gratidão a vida como dom inestimável leva a descobrir a dignidade profunda e a inviolabilidade própria de cada pessoa.

Por isso, a primeira educação consiste em aprender a reconhecer no homem a imagem do Criador e, consequentemente, a ter um profundo respeito por cada ser humano e ajudar os outros a realizarem uma vida conforme a esta sublime dignidade. É preciso não esquecer jamais que « o autêntico desenvolvimento do homem diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em todas as suas dimensões », incluindo a transcendente, e que não se pode sacrificar a pessoa para alcançar um bem particular, seja ele econômico ou social, individual ou coletivo.

Só na relação com Deus é que o homem compreende o significado da sua liberdade, sendo tarefa da educação formar para a liberdade autêntica. Esta não é a ausência de vínculos, nem o império do livre arbítrio; não é o absolutismo do eu. Quando o homem se crê um ser absoluto, que não depende de nada nem de ninguém e pode fazer tudo o que lhe apetece, acaba por contradizer a verdade do seu ser e perder a sua liberdade. De fato, o homem é precisamente o contrário: um ser relacional, que vive em relação com os outros e sobretudo com Deus. A liberdade autêntica não pode jamais ser alcançada, afastando-se d’Ele.

A liberdade é um valor precioso, mas delicado: pode ser mal entendida e usada mal. « Hoje um obstáculo particularmente insidioso à ação educativa é constituído pela presença maciça, na nossa sociedade e cultura, daquele relativismo que, nada reconhecendo como definitivo, deixa como última medida somente o próprio eu com os seus desejos e, sob a aparência da liberdade, torna-se para cada pessoa uma prisão, porque separa uns dos outros, reduzindo cada um a permanecer fechado dentro do próprio “eu”. Dentro de um horizonte relativista como este, não é possível, portanto, uma verdadeira educação: sem a luz da verdade, mais cedo ou mais tarde
cada pessoa está, de fato, condenada a duvidar da bondade da sua própria vida e das relações que a constituem, da validez do seu compromisso para construir com os outros algo em comum ». Por conseguinte o homem, para exercer a sua liberdade, deve superar o horizonte relativista e conhecer a verdade sobre si próprio e a verdade acerca do que é bem e do que é mal. No íntimo da consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer e cuja voz o chama a amar e fazer o bem e a fugir do mal, a assumir a responsabilidade do bem cumprido e do mal praticado. Por isso o exercício da liberdade está intimamente ligado com a lei moral natural, que tem caráter universal, exprime a dignidade de cada pessoa, coloca a base dos seus direitos e deveres fundamentais e, consequentemente, da convivência justa e pacífica entre as pessoas.

Assim o reto uso da liberdade é um ponto central na promoção da justiça e da paz, que exigem a cada um o respeito por si próprio e pelo outro, mesmo possuindo um modo de ser e viver distante do meu. Desta atitude derivam os elementos sem os quais paz e justiça permanecem palavras desprovidas de conteúdo: a confiança recíproca, a capacidade de encetar um diálogo construtivo, a possibilidade do perdão, que muitas vezes se quereria obter mas sente-se dificuldade em conceder, a caridade mútua, a compaixão para com os mais frágeis, e também a prontidão ao sacrifício.

Educar para a justiça

4. No nosso mundo, onde o valor da pessoa, da sua dignidade e dos seus direitos, não obstante as proclamações de intentos, está seriamente ameaçado pela tendência generalizada de recorrer exclusivamente aos critérios da utilidade, do lucro e do ter, é importante não separar das suas raízes transcendentes o conceito de justiça. De fato, a justiça não é uma simples convenção humana, pois o que é justo determina-se originariamente não pela lei positiva, mas pela identidade profunda do ser humano. É a visão integral do homem que impede de cair numa concepção contratualista da justiça e permite abrir também para ela o horizonte da solidariedade e do amor.

Não podemos ignorar que certas correntes da cultura moderna, apoiadas em princípios econômicos racionalistas e individualistas, alienaram das suas raízes transcendentes o conceito de justiça, separando-o da caridade e da solidariedade. Ora « a “cidade do homem” não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão. A caridade manifesta sempre, mesmo nas relações humanas, o amor de Deus; dá valor teologal e salvífico a todo o empenho de justiça no mundo ».

« Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados » (Mt 5, 6). Serão saciados, porque têm fome e sede de relações justas com Deus, consigo mesmo, com os seus irmãos e irmãs, com a criação inteira.

Educar para a paz

5. « A paz não é só ausência de guerra, nem se limita a assegurar o equilíbrio das forças adversas. A paz não é possível na terra sem a salvaguarda dos bens das pessoas, a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos e a prática assídua da fraternidade ». A paz é fruto da justiça e efeito da caridade. É, antes de mais nada, dom de Deus. Nós, os cristãos, acreditamos que a nossa verdadeira paz é Cristo: n’Ele, na sua Cruz, Deus reconciliou consigo o mundo e destruiu as barreiras que nos separavam uns dos outros (cf. Ef 2, 14-18); n’Ele, há uma única família reconciliada no amor.

A paz, porém, não é apenas dom a ser recebido, mas obra a ser construída. Para sermos verdadeiramente artífices de paz, devemos educar-nos para a compaixão, a solidariedade, a colaboração, a fraternidade, ser ativos dentro da comunidade e solícitos em despertar as consciências para as questões nacionais e internacionais e para a importância de procurar adequadas modalidades de redistribuição da riqueza, de promoção do crescimento, de cooperação para o desenvolvimento e de resolução dos conflitos.

« Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus » – diz Jesus no sermão da montanha (Mt 5, 9). A paz para todos nasce da justiça de cada um, e ninguém pode subtrair-se a este compromisso essencial de promover a justiça segundo as respectivas competências e responsabilidades. De forma particular convido os jovens, que conservam viva a tensão pelos ideais, a procurarem com paciência e tenacidade a justiça e a paz e a cultivarem o gosto pelo que é justo e verdadeiro, mesmo quando isso lhes possa exigir sacrifícios e obrigue a caminhar contracorrente.

Levantar os olhos para Deus

6. Perante o árduo desafi o de percorrer os caminhos da justiça e da paz, podemos ser tentados a interrogar-nos como o salmista: « Levanto os olhos para os montes, de onde me virá o auxílio? » (Sal 121, 1). A todos, particularmente aos jovens, quero bradar: « Não são as ideologias que salvam o mundo, mas unicamente o voltar-se para o Deus vivo, que é o nosso criador, o garante da nossa liberdade, o garante do que é deveras bom e verdadeiro (…), o voltar-se sem reservas para Deus, que é a medida do que é justo e, ao mesmo tempo, é o amor eterno. E que mais nos poderia salvar senão o amor? ». O amor rejubila com a verdade, é a força que torna capaz de comprometer-se pela verdade, pela justiça, pela paz, porque tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (cf. 1 Cor 13, 1-13).

Queridos jovens, vós sois um dom precioso para a sociedade. Diante das dificuldades, não vos deixeis invadir pelo desânimo nem vos abandoneis a falsas soluções, que frequentemente se apresentam como o caminho mais fácil para superar os problemas. Não tenhais medo de vos empenhar, de enfrentar a fadiga e o sacrifício, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação. Vivei com confiança a vossa juventude e os anseios profundos que sentis de felicidade, verdade, beleza e amor verdadeiro. Vivei intensamente esta fase da vida, tão rica e cheia de entusiasmo.

Sabei que vós mesmos servis de exemplo e estímulo para os adultos, e tanto mais o sereis quanto mais vos esforçardes por superar as injustiças e a corrupção, quanto mais desejardes um futuro melhor e vos comprometerdes a construí-lo. Cientes das vossas potencialidades, nunca vos fecheis em vós próprios, mas trabalhai por um futuro mais luminoso para todos. Nunca vos sintais sozinhos! A Igreja confia em vós, acompanha-vos, encoraja-vos e deseja oferecer-vos o que tem de mais precioso: a possibilidade de levantar os olhos para Deus, de encontrar Jesus Cristo – Ele que é a justiça e a paz.

Oh vós todos, homens e mulheres, que tendes a peito a causa da paz! Esta não é um bem já alcançado mas uma meta, à qual todos e cada um deve aspirar. Olhemos, pois, o futuro com maior esperança, encorajemo-nos mutuamente ao longo do nosso caminho, trabalhemos para dar ao nosso mundo um rosto mais humano e fraterno e sintamo-nos unidos na responsabilidade que temos para com as jovens gerações, presentes e futuras, nomeadamente quanto à sua educação para se tornarem pacíficas e pacificadoras! Apoiado em tal certeza, envio-vos estas reflexões que se fazem apelo: Unamos as nossas forças espirituais, morais e materiais, a fim de « educar os jovens para a justiça e a paz ».

Vaticano, 8 de dezembro de 2011.
Papa Bento XVI