segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Homilética: 24º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "Um Deus de perdão e reconciliação".


“Não quero a morte do pecador, e, sim, que ele se converta e viva.” Essas palavras de Ezequiel (18,23) formam o pano de fundo (deixado na penumbra) da liturgia de hoje (cf. Lc 15,32).

A leitura do livro do Êxodo mostra-nos um Deus que volta atrás do seu projeto de rejeitar Israel, e o Evangelho apresenta as parábolas de Jesus a respeito de quem se perdeu e por Deus é reencontrado. Paulo entendia bem isso: na Primeira Carta a Timóteo, descreve como, de perseguidor, ele foi, pela abundante graça de Deus, levado à vida em Cristo. Jesus veio para salvar os pecadores, e Paulo foi o principal deles. Com isso, tornou-se exemplo daquilo que ele mesmo pregou: a reconciliação.

Em Lc 15, 1-32, na introdução, os fariseus criticam Cristo porque “acolhe gente de má fama e come com eles…”. Esta crítica provoca a resposta de Jesus com as três parábolas da misericórdia que ilustram a atitude misericordiosa de Deus para com os pecadores: a ovelha perdida; a moeda perdida; o filho pródigo (perdido). Em todas elas dá importância muito particular à ALEGRIA daquele que encontra o que tinha perdido. O pastor, depois de encontrar a ovelha, “coloca-a nos ombros com alegria”, regressa à casa e convoca os amigos e vizinhos para que se alegrem com ele. A mulher, depois de ter procurado por todos os recantos da casa, ao encontrar a moeda perdida, faz a mesma coisa: “alegrai-vos comigo, porque achei a moeda perdida!” Muito mais faz o pai ao ver ao longe o filho que volta e que há tanto tempo tinha abandonado a casa paterna; não pensa em recriminá-lo, mas em fazer uma festa!

Que pena! Os escribas e os fariseus não pensavam assim! Eles ficaram murmurando quando Jesus acolheu os pecadores. O filho mais velho, aquele que sempre estava na casa do pai, que ficou chateado quando o seu irmão voltou ao lar, representa não só cada fariseu triste pela atitude de Jesus, mas também representa a cada um de nós quando, vivendo há tantos anos na casa do Pai, na Igreja, perde a capacidade de admirar-se, surpreender-se e alegrar-se pela conversão de um novo adepto à causa de Deus.

O personagem central destas parábolas é o próprio Deus (que é PAI), que lança mão de todos os meios para recuperar os seus filhos feridos pelo pecado. “No seu grande amor pela humanidade, Deus vai atrás do homem, escreve Clemente de Alexandria, como a mãe voa sobre o passarinho quando este cai do ninho; e se a serpente começa a devorá-lo, esvoaça gemendo sobre os seus filhotes (Dt 32, 11). Assim Deus busca paternalmente a criatura, cura-a da sua queda, persegue a besta selvagem e recolhe o filho, animando-o a voltar, a voar para o ninho.”

“Assim haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15, 70). Isto não quer dizer que o Senhor não estime a perseverança dos justos, mas aqui se põe em realce o gozo de Deus e dos bem-aventurados diante do pecador que se converte. É um claro chamamento ao arrependimento e a não duvidar nunca do perdão de Deus.

O pecado, tão detalhadamente descrito na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu amor, no desejo tolo de viver fora do amparo de Deus, de emigrar para uma terra distante, longe da casa paterna. Como se passa mal quando se está longe de Deus! “Onde se passará bem sem Cristo – pergunta Santo Agostinho -, ou quando se poderá passar mal com Ele?”

“Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20). Acolhe-o como filho imediatamente! Estas são as palavras da Bíblia: cobriu-o de beijos, comia-o a beijos. Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos calar, e temos que dizer-Lhe, como São Paulo: “Abbá, Pai” (Rm 8,15). Quer que Lhe chamemos de Pai, que saboreemos essa palavra, deixando a alma inundar-se de alegria.

Essa parábola deve nos despertar para a beleza do sacramento da Reconciliação (confissão). Na Confissão, através do sacerdote, o Senhor devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em que estávamos anteriormente.

O pecado existe e todo o pecado é uma ofensa a Deus, porém a misericórdia de Deus é maior do que todos os nossos pecados. Contudo supõe uma atitude de retorno: CONVERSÃO.

O Pai é Deus, que tem sempre as mãos abertas, cheias de misericórdia. O filho mais novo é a imagem do pecador, que percebe que só pode ser feliz junto de Deus, nem que seja no último lugar, mas com o seu Pai-Deus. E o mais velho? É um homem trabalhador, que sempre serviu…; mas sem alegria. Serviu porque não tinha outra solução, e, com o tempo, o seu coração tornou-se pequeno. Foi perdendo o sentido da caridade enquanto servia. O seu irmão é já, para ele, “esse teu filho”. É a figura de todo aquele que esquece que estar com Deus, nas coisas grandes e nas coisas pequenas, é uma honra imerecida.

Deus espera de nós uma entrega alegre, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama aquele que dá com alegria (2 Cor 9, 7). “É uma doce alegria pensar que o Senhor é justo, que conhece perfeitamente a fragilidade da nossa natureza! Por que então temer? Ele que se dignou perdoar, com tanta misericórdia, as culpas do filho pródigo, não será também justo comigo, que estou sempre junto dEle?” (Santa Teresinha do Menino Jesus). Com alegria sirvamos ao Senhor nas coisas mais pequenas!
Comentários dos textos bíblicos

Leituras: Ex 32,7-11.13-14; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32

Caríssimos irmãos e irmãs,

Para este domingo a liturgia da Palavra propõe à nossa meditação o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, uma das páginas mais profundas e comoventes de toda Sagrada Escritura. É belo pensar que no mundo inteiro, onde a comunidade cristã se reúne para celebrar a Eucaristia dominical, ressoa neste dia esta Boa Nova de verdade e de salvação: Deus é amor misericordioso. O evangelista São Lucas recolheu neste capítulo três parábolas sobre a misericórdia divina: as duas mais breves são as parábolas da ovelha desgarrada e da moeda perdida (cf. Lc 15,1-10); a terceira, a mais longa, é a conhecida parábola do Pai misericordioso, também habitualmente chamada de parábola do filho pródigo.

O ponto de partida para a narração da Parábola é a murmuração dos fariseus e dos escribas, diante da cena onde publicanos e pecadores escutam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles” (v. 2), comentam.  O acolhimento dos publicanos e pecadores por parte de Jesus é algo escandaloso na perspectiva dos fariseus; comer com eles, estabelecer laços de familiaridade e de irmandade é algo abominável.  Na perspectiva da teologia da época, os pecadores não podiam aproximar-se de Deus. É neste contexto que Jesus apresenta a Parábola do filho pródigo, na qual encontramos três personagens de referência: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho.

O pai, na parábola, é aquele que sabe conjugar o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na emoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia, da ausência e da infidelidade do filho. O amor do pai aparece representado no abraço, no beijo, no anel, símbolo da autoridade e do poder (cf. Gn 41,42; Est 3,10; 8,2) e nas sandálias, calçado do homem livre (cf. Gl 5,1).

No início da parábola observa-se que o filho exige do pai tudo aquilo que ele tem direito. A lei judaica previa que o filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai (cf. Dt 21,15-17); mas, ainda que a divisão das propriedades pudesse fazer-se em vida do pai, os filhos não podiam tomar posse de seus bens, senão depois da morte do pai (cf. Eclo 33,20-24). O filho mais novo abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens colocados à sua disposição. É uma imagem de egoísmo, de orgulho e irresponsabilidade.   Após gastar tudo o que possuía, aquele que se tornara totalmente livre, torna-se agora escravo: guardador de porcos.  Para os judeus, o porco é um animal impuro – servir aos porcos é sinal de extrema alienação e de extrema miséria. O filho mais novo tornou-se um escravo miserável. Sem direito até mesmo de saciar a fome com o alimento oferecido aos porcos.   Neste momento, ele então percebe que está perdido.  Percebe que o seu nível de vida é inferior a dos porcos.  Sente um tédio e um vazio inquietador, de uma vida sem sentido e da qual ele só vê um iminente morrer de fome.

O filho mais novo ao partir para um país distante geograficamente, desejava uma mudança não só exterior, mas também interior, pois queria uma vida totalmente diversa. Seu desejo era viver a liberdade, fazer tudo o que desejava e ignorar as normas do Pai que ficara distante. Passa então a perceber que era muito mais livre quando estava na casa do seu pai, pois era também ele proprietário e contribuía para a edificação do lar. Ao “cair em si” inicia uma reflexão interior que o faz almejar um novo projeto de vida. A decisão pela concretização deste objetivo o leva a uma ação exterior: ele se levanta e direciona os seus passos para um encontro com o pai, com um propósito de recomeçar a sua vida, porque já compreendeu que o caminho por ele percorrido era o caminho errado. Ele quer começar de novo e sabe que perdeu o direito de ser filho e, por isto, está disposto a ser um dos empregados, pois, para ele o mais importante agora é estar na casa do pai, não importa como.

E é neste momento que ele “entra em si mesmo”, como diz o Evangelho (cf. Lc 15,17).  Podemos dizer que longe da casa do pai, em um país distante ele se afastou até de si mesmo.  Vivia longe da verdade de sua existência.  A sua mudança, a conversão, consiste em que ele reconhece que outrora partiu de si e agora ele regressa a si mesmo.  E é em si mesmo que ele encontra a indicação de um novo caminho: o caminho da casa do Pai.  As palavras que ele preparou para o seu regresso: “Pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho…” (Lc 15,18), nos permitem reconhecer a peregrinação interior que ele então realiza.

E, ao chegar à casa, recebe do pai o abraço e o beijo, sinal de reconciliação e perdão.  É oferecida uma festa e então ele percebe que a vida pode começar de novo. Regressa à casa paterna interiormente maduro e purificado: compreendeu o que é viver.  Mesmo diante de possíveis tentações futuras, estará ele plenamente consciente que uma vida longe da casa do Pai não funciona: falta o essencial, falta a luz, falta o sentido da vida.

Não podemos esquecer o início do Evangelho, quando a narrativa nos faz lembrar que Jesus aproximava-se dos publicanos e dos pecadores, chegando mesmo a fazer-se convidar por eles, o que o tornava impuro, aos olhos daqueles que se sentiam puros. Na Parábola, ao abraçar o filho que julgava perdido, cobrindo-o de beijos, o pai também se torna impuro, também pelo próprio ato de tocar este filho que regressava, depois de uma vida desordenada.  Como os fariseus e os escribas, o filho mais velho se recusa a entrar em comunhão com um pecador, pois se julga puro, incapaz se unir aos impuros.

O filho mais velho, cumpridor de todas as regras, sempre fez o que o pai mandou. Nunca pensou em deixar o espaço cômodo e acolhedor da casa do pai. No entanto, a sua lógica é a lógica da “justiça” e não a lógica do amor e da misericórdia. Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não compreende nem aceita que o pai exerça a misericórdia para com o filho rebelde. Semelhante à imagem dos fariseus e escribas, que interpelaram Jesus porque cumpriam rigorosamente as exigências da Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus.  Eles desconheciam o Deus misericordioso que acolhe o pecador e se alegra com o seu regresso.

Nesta parábola conhecemos a identidade de Deus: Deus é amor (cf. 1Jo 4,16).  Ele é o Pai misericordioso que em Jesus nos ama e nos perdoa. Os erros que cometemos, mesmo se grandes, não prejudicam a fidelidade do seu amor. Ele nos acolhe e nos restitui a dignidade de filhos. Com isto podemos redescobrir o Sacramento da Penitência e do Perdão, que faz brotar a alegria num coração renascido para uma vida nova.

Assim como o Filho Pródigo, hoje nós também somos convidados a percorrer um caminho interior, lançar um olhar para nós mesmos, para que possamos direcionar os nossos pensamentos e os nossos atos para a conversão que, antes de ser um esforço para mudar o nosso comportamento, é uma oportunidade para recomeçar, ou seja, abandonar o pecado e escolher voltar para Deus, para a casa do Pai.

O encanto deste texto esconde-se no verbo “splanchnizomaim”, uma palavra grega comumente traduzida como: “movido por compaixão”. Trata-se, na realidade, de um movimento visceral, como que de  um parto. O filho “que estava morto e voltou à vida”, renasce no abraço misericordioso do Pai. Por isso, o Pai exclama: “É preciso alegrar-se”. Esta é a grande proposta de cada cristão: renascer, voltar ao Pai como homem novo e aceitar o irmão exatamente como ele é, ou seja, com suas limitações; abraçá-lo quando vem ao nosso encontro, trazendo as suas cicatrizes e as suas fragilidades.

Assim como o filho pródigo, quantos de nós também estamos perdidos e somos convidados a percorrer um caminho interior, lançar um olhar para nós mesmos, para que possamos direcionar os nossos passos para o caminho da conversão que, antes de ser um esforço para mudar o nosso comportamento, é uma oportunidade para recomeçar, ou seja, abandonar o pecado e escolher voltar para Deus.  Possamos ser determinados em nossa decisão a deixar para trás uma vida de erro e de pecado, para irmos em direção à casa do Pai.  E ao chegarmos, queira esse Pai de misericórdia ter compaixão também de nós, que ele possa correr ao nosso encontro, a nos abraçar e a nos acolher de novo em sua casa.  Assim seja.


PARA REFLETIR

Na Solenidade do santo Natal, na segunda leitura da Missa da Aurora, a Igreja, olhando o Presépio, faz-nos escutar as palavras de São Paulo a Tito: “Manifestou-se a bondade de Deus nosso Salvador, e o seu amor pelos homens. Ele salvou-nos, não por causa dos atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia…” (Tt 3,4s). O Menino que veio viver entre nós, Jesus, nosso Senhor, é a bondade de Deus, é a sua salvação misericordiosa… Estas palavras são maravilhosamente ilustradas pela liturgia deste Domingo. Hoje, o Cristo nos é apresentado como a própria bondade, a própria ternura misericordiosa do Pai do céu, do nosso Deus. Aquilo que já fora prefigurado por Moisés, intercedendo pelo povo pecador, na primeira leitura; aquilo que, na segunda leitura, São Paulo pregou e experimentou na própria vida: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles!” – tudo isso nós tocamos nas três parábolas da misericórdia do Evangelho de São Lucas.

Sigamos a narrativa. Por que Jesus contou essas parábolas? Porque “os publicanos e pecadores aproximavam-se dele para o escutar. Os fariseus, porém, e os escribas criticavam Jesus: ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’.” Aqui está: Jesus era um fio de esperança para aqueles considerados perdidos, metidos no pecado, sem jeito nem solução… Os publicanos, as prostitutas, os ignorantes, os pequenos e desprezados, gente sem preparo e sem cultura teológica… estavam aproximando-se de Jesus para escutá-lo; viam nele a ternura e a misericórdia de Deus. Os escribas e fariseus – homens praticantes e doutores da Lei – criticavam Jesus por isso. Ele se misturava com os impuros, ele acolhia a gentalha e os pecadores. Pois bem, foi para esses doutores que Jesus contou as parábolas, para mostrar-lhes que o coração do Pai é ternura, é amor, é vida, é amplo como uma casa grande…

O Pai se alegra, porque Jesus, o Bom Pastor, era capaz de deixar noventa e nove ovelhas para ir atrás daquela que se perdera totalmente, até encontrá-la! O convite que Jesus estava fazendo aos escribas e fariseus era claro: “Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” Alegrai-vos, porque o coração do Pai está feliz: ele não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e tenha a vida! Do mesmo modo, na parábola da dracma perdida: Deus é como aquela mulher que acende a lâmpada e varre cuidadosamente a casa até encontrar sua moedinha. E não descansa até encontrá-la. Quando a encontra, como Deus, quando encontra o pecador, ela exclama: “Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que havia perdido!” O Deus que Jesus nos revela, o Deus a quem ele chamava de Pai é assim: bom, compassivo, misericordioso, preocupado conosco e com cada um de nós. Ele somente é glorificado quando estamos de pé, quando estamos bem, quando somos felizes. Mas, não há felicidade verdadeira para nós, a não ser juntinho dele, que é o Pai de Jesus e nosso Pai. É isso que Jesus inculca com a terceira parábola, a mais bela de todos: o Pai e os dois filhos.

“Um homem tinha dois filhos”. Este homem é o Pai do céu. “O filho mais novo disse ao pai: ‘Dá-me a parte da herança que me cabe’”. Esse moço quer ser feliz, deseja ser livre… e imagina que somente vai sê-lo longe do olhar do pai. Assim, sem juízo, como que mata o pai, pedindo-lhe logo a herança. “e partiu para um lugar distante”. Quanto mais longe do pai, melhor, mais livre. E aí dissipa tudo, numa terra pagã, longe do pai, longe de Deus. E termina na miséria, tendo esbanjado a vida, a felicidade, o futuro, o amor e o sexo… Vai pedir trabalho e dão-lhe o mais vergonhoso para um judeu: cuidar de porcos, animais impuros. E ele queria comer a lavagem dos porcos e não lha davam! Em que deu o sonho de autonomia, de liberdade, de felicidade longe do pai! Tudo não passara de ilusão! Mas, apesar de louco, o jovem era sincero: caiu em si, reconheceu que pecou. Não colocou a culpa no pai, nos outros, no mundo, no destino. Reconheceu-se culpado e recordou e confiou no amor do pai: “Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti!” E volta! O jovem era corajoso, generoso, era sincero! O que ele não sabia é o pai nunca o esquecera; esperava-o todos os dias, olhando ao longo do caminho. De longe o avistou e o reconheceu, apesar da miséria e da fome e das roupas maltrapilhas. E, cheio de compaixão – como o coração do Pai de Jesus – correu ao encontro do filho, cobriu-o de beijos e de vida, e restituiu-lhe a dignidade de filho. E deu uma festa! O Pai é assim: não quer ninguém fora de sua casa, de seu coração, da festa do seu amor, do banquete de sua eucaristia! Mas, havia ainda o filho mais velho. Este, como os escribas e os fariseus, jamais havia desobedecido ao pai; cumprira todos os seus preceitos. Por isso, ficou com raiva e não quis entrar na festa do pai: “O pai, saindo, insistia com ele…” Notem que o mesmo pai que saíra ao encontro do mais novo, saiu agora ao encontro do mais velho, que estava perdido no seu egoísmo, na sua raiva, fora da festa e do aconchego do pai! E o mais velho passou-lhe na cara: “Eu trabalho para ti há tantos anos… e tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos…” O pai respondeu: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu…” É que aquele filho nunca amara o pai de verdade: cumpria tudo, de tudo fazia conta… e, um dia, iria pedir o pagamento, a recompensa por tudo… Por isso nunca se sentiu íntimo do pai, por isso não sentia que tudo quanto era do pai era dele também! Pode-se estar junto do pai e nunca o conhecê-lo de verdade! Não era esta a situação daqueles escribas e fariseus? Interessante que Jesus não diz se o filho entrou na festa do pai e na alegria do irmão ou se, ao contrário, ficou fora, onde somente há choro e ranger de dentes.

Pois bem, o Senhor nos convida hoje a acolher em Jesus a misericórdia incansável de Deus para conosco, um Deus que não sossega até nos encontrar… Mas, nos convida também a ser misericordioso para com os outros. É triste quando experimentamos que somos pecadores, experimentamos a bondade acolhedora de Deus para com nossos pecados e, depois, somos duros, insensíveis e exigentes em relação aos irmãos. Que o Senhor nos dê um coração como o coração de Cristo, imagem do coração do Pai, capaz de acolher o perdão e a misericórdia de Deus e transbordar esse perdão e essa misericórdia para com os outros. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário