O noticiário da semana que passou deu destaque às indulgências concedidas pelo Papa Francisco aos participantes da 28ª Jornada Mundial da Juventude - JMJ, que se realizará no Rio de Janeiro, de 22 a 28 de julho próximo. Mais uma vez se percebe, contudo, que não há clareza quanto ao significado da palavra “indulgência”. Foi comum ler notícias com um título mais ou menos assim: “Fiel terá pecado perdoado”; só que essa manchete não era uma referência ao sacramento da confissão (também chamado de sacramento da penitência ou sacramento da reconciliação), mas às indulgências que se poderão obter, cumpridas as condições estipuladas pelo Sumo Pontífice. Para alguns, essa palavra traz lembranças nada agradáveis porque, na Idade Média, fez-se um verdadeiro comércio em torno delas – um triste e desagradável comércio. Para a Igreja, no entanto, as indulgências constituem um dom, um benefício, uma graça que está à disposição dos fiéis. O Catecismo da Igreja Católica trata dessa questão no capítulo dedicado ao sacramento da Penitência, mesmo porque a doutrina e a prática das indulgências estão estreitamente ligadas aos efeitos desse sacramento (cf. nn. 1471-1479 e 1498). Já o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica dedica um número para apresentá-las: “As indulgências são a remissão diante de Deus da pena temporal merecida pelos pecados, já perdoados quanto à culpa, que o fiel, em determinadas condições, adquire para si mesmo ou para os defuntos, mediante o ministério da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos” (n. 312).
Quando se trata das indulgências, é preciso que fiquem claros quatro aspectos: 1ª) As indulgências não consistem no perdão dos pecados, o qual é dado por Deus ao pecador arrependido, por meio da absolvição, no sacramento da Reconciliação; 2ª) Recebido o perdão dos pecados, permanece ainda a “pena”, como consequência da culpa. Para melhor entender o que isso significa, tome-se o exemplo banal, mas expressivo, do prego na parede. Tirado o prego, permanece o buraco, que deve ser fechado, para que a parede fique perfeita novamente. Quando nos confessamos, se tivermos por Deus um amor sem reservas, e estivermos dispostos a uma conversão radical, juntamente com o perdão dos pecados recebemos o perdão da pena. Caso contrário, permanecem em nós as escórias do nosso egoísmo, da nossa preguiça espiritual; são as zonas de sombra e de imperfeição no nosso amor a Deus; é o nosso amor imperfeito, não radical. Fica, então, a necessidade de uma reparação pelas consequências de nossos pecados. A indulgência nos dá o perdão dessa pena, dessa reparação que teríamos que fazer; 3ª) Para se obter uma indulgência são necessárias algumas condições habituais: a confissão sacramental, a comunhão eucarística e uma oração nas intenções do Papa; 4ª) A indulgência não é uma remissão passiva ou automática de nossas penas; exige, como condição indispensável para se obtê-la, uma autêntica conversão do coração e da vida, a disposição de amar a Deus de todo o coração e o generoso propósito de fazer o bem ao próximo e de evitar todo e qualquer pecado. Como se vê, as indulgências estão longe de ser um incentivo à mediocridade espiritual; são, antes, um estímulo para buscarmos a santidade.
Voltemo-nos, agora, para as indulgências que os participantes poderão obter durante a JMJ do Rio: será concedida uma indulgência parcial aos que rezarem pelas intenções do Papa, completando as preces com a oração oficial da JMJ, a invocação a Nossa Senhora Aparecida e aos patronos da Jornada. Os participantes da JMJ e os que seguirem as celebrações pela televisão, rádio ou pelos novos meios de comunicação social poderão aplicar diariamente uma indulgência plenária em sufrágio das almas dos fieis defuntos.
Com a prática das indulgências na JMJ, a Igreja, além de estimular os jovens a se aprofundarem na fé, quer incentivá-los a buscar, daí por diante, uma vida santa, como autênticos discípulos de Jesus Cristo.
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